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No grande espectro de FPFs, de diferentes geometrias, compreendeu-se, com o tempo, que a espessura das camadas não tem que ser constante. Esta pode variar de três maneiras: de forma localizada, apenas no forelimb das camadas dobradas (em modelos com traços axiais fixos) (Jamison 1987 e Suppe & Medwedeff 1990), de forma mais distribuída, em todo o pacote de camadas dobradas (Jabbour et al. 2012) ou afetando as camadas de forma diferenciada, da base para o topo (Mitra 1990). Por fim, Chester & Chester (1990) ainda observaram que o mergulho das camadas no backlimb da dobra não é obrigatoriamente paralelo ao plano da falha, como assumido, até então.

O primeiro modelo cinemático das FPFs foi consolidado por Williams & Chapman (1983). Concebido para deformações sem mudança de áreas, ficou conhecido como método slip/propagation (rejeito/propagação) (S/P). A técnica possibilita relacionar o rejeito da falha à sua propagação e ao

strain interno e, assim, calcular a taxa de encurtamento das camadas. Além disto, auxilia na construção

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Para os autores, a deformação do bloco do teto de uma FPF ocorre por cisalhamento puro e homogêneo, com encurtamento axial paralelo ao plano de falha (layer-parallel shortening). Conforme mostra a figura 2.38A, o modelo se baseia na determinação de distâncias, sobre o traço da falha: uma, entre um ponto de referência, R, e as superfícies de topo e de base da camada analisada (p1 e p2)

(medidas relativas à propagação da falha), e, a outra, relativa aos respectivos rejeitos (d1 e d2). Os

dados são lançados em um gráfico deslocamento versus distância (a propagação) (Fig. 2.38B) e comparados ao gráfico gerado por Williams & Chapman (1983) (Fig. 2.38C), que fornece a taxa de encurtamento.

Suppe & Medwedeff (1984) e Suppe (1985) descrevem o processo de kink folding para FPFs.

Segundo os autores, o processo se inicia a partir do instante no qual a falha começa a subir a estratigrafia. Neste momento formam-se dois flancos kink delimitadas pelos traços axiais B’ e B e A e A’ (Fig. 2.39A). O encurtamento progressivo causa a ascensão das camadas, que migram ao longo da falha e através do traço axial B, que é fixo no início da rampa (observar as bolinhas cinzas no interior de uma das camadas brancas na figura 2.39). B’ e A (e a união dos dois traços) sobem juntamente com as camadas (Fig. 2.39B) à medida que a deformação progride, enquanto o anticlinal cresce em amplitude, sempre com a mesma geometria, dando á FPF a sua forma característica. O traço A’, posicionado (e fixo) na terminação da rampa, sobe a estratigrafia à medida que a falha cresce. Ao mesmo tempo, as camadas migram através do traço A’. O mecanismo cessa quando não há mais movimento sobre a falha (Fig. 2.39C). Da mesma forma como para o modelo das FBFs, este é também referido como kink band migration model ou active-hinge folding.

Neste modelo, assumem-se a conservação de área e linhas, no perfil da estrutura, e espessura das camadas uniforme. O modelo prevê que o ângulo de mergulho da rampa, θ, é relacionado a metade do ângulo interflanquial interno da dobra (γ*), isto é, do ângulo da dobra abaixo da união entre B’ e A, e que a forma da dobra não muda durante a deformação progressiva. Assim, ficou conhecido como

self-similar model. Os autores advogam que o dobramento ocorra pelo mecanismo de deslizamento

flexural.

Trata-se de um modelo geométrico relativamente simples que permitiu o seu uso em modelagens computacionais, e, em função de uma série de adaptações, permitiu um grande avanço no conhecimento das possíveis geometrias das FPFs.

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Figura 2.38- Método slip/propagation (S/P) de Williams & Chapman (1983): (A) Exemplo de uma FPF com

indicação das distancias usadas para o cálculo da taxa de encurtamento: p1 e p2 = distâncias entre um ponto de referencia, R, e as superfícies de topo e de base de uma camada (entender como medidas da propagação da falha); d1 e d2 = rejeitos das superfícies de topo e de base; (B) Gráfico rejeito versus propagação da falha, para o exemplo mostrado em A; (C) Gráfico rejeito versus propagação da falha com curvas de taxa de encurtamento; (D) Aplicação do método slip/propagation na reconstrução da secção da FPF de Torquay, Inglaterra, através das medidas de d1, d2, p1 e p2, tendo como referência os pontos R e T (modificado de Williams & Chapman 1983, p.566 e 567).

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Figura 2.39- Modelo estrutural balanceado apresentando o desenvolvimento progressivo de uma FPF,

construída pelo método kink (espessura constante) (reproduzido de Suppe 1985, p. 351).

Como já citado acima, Jamison (1987) discute a variação de espessura do forelimb das dobras-falhas através de cálculos trigonométricos baseados no ângulo interflanquial, interno (2γ*) e no ângulo da rampa (θ). Um gráfico do autor, da relação θ versus 2γ*, relativo ás FPFs, com curvas de espessamento e afinamento, em porcentagem, é apresentado na figura 2.40. Mostra que, para θ igual a 25 ͦ, constante, o ângulo interflanquial, 2γ*, varia de 25° a 105°. Neste intervalo, um alto ângulo interflanquial (85°, no exemplo do gráfico) produziria um espessamento do forelimb, e, um baixo ângulo 2γ* (49°, no exemplo do gráfico), um afinamento.

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Figura 2.40- (A) Gráfico para a análise geométrica das FPFs. As curvas relacionam o ângulo da rampa (θ) ao

ângulo interflanquial 2γ* para diferentes magnitudes de espessamento e afinamento (em porcentagem) do forelimb da dobra. A linha vermelha mostra as situações das FPFs ao lado: (B) se θ = 25 ͦ e a espessura das camadas não variar, então o ângulo interflanquial interno será de 67°; (C) se ocorreu 25% de espessamento, então 2γ* = 85 ͦ e, (D) no caso de 35% de afinamento, 2γ* será de 49 ͦ (modificado de Jamison 1987, p. 209).

Mitra (1990) propôs uma nova análise da FPF ao perceber a limitação dos modelos mais

antigos para situações cinemáticas onde o ângulo interflanquial interno (2γ*) muda durante o seu desenvolvimento, em geral de ângulos abertos para fechados, com variação na espessura das camadas. Mais tarde, Jabor et al. (2012) se refere a este modelo como o time-variant model, em contraposição ao modelo de Suppe (1983), de ângulo interflanquial constante, sem rotação do forelimb e espessuras constantes, o self-similar model.

No modelo de Mitra (1990), diferente do modelo de Jamison (1987), a mudança de espessura das camadas é prevista não apenas para o forelimb da dobra, mas para camadas inteiras, isto é, o cisalhamento afetaria todo o pacote estratigráfico. Para Mitra (1990), a mudança localizada da espessura, descrita por Jamison (1987), representaria uma componente do caso geral.

Além de permitir variações progressivas no ângulo 2γ*, o modelo de Mitra (1990), conhecido como area-balanced model, se diferencia daquele de Suppe (1985) e Suppe & Medwedeff (1984) pela maneira que assume o balanceamento de área. Suppe (1985) e Suppe & Medwedeff (1984) sugerem que a área encurtada equivale àquela que ascendeu em relação ao datum regional, enquanto Mitra (1990) admite uma mudança na espessura das camadas durante a deformação progressiva.

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A figura 2.41 apresenta o modelo de Mitra (1990) por meio de três situações de FPFs, com ângulos de mergulho da rampa (θ) iguais e ângulos interflanquiais (2γ*) distintos. A figura do meio, (B), mostra o modelo de Suppe (1985) e Suppe & Medwedeff (1984), para comparação, nas quais as relações angulares ideais (ângulo θ versus ângulo 2γ*) permitiram a construção de uma dobra com espessura constante (com balanceamento de área e linhas). Em (A), o ângulo 2γ* elevado produziu um maior encurtamento das unidades basais e, em (C), o ângulo 2γ* baixo, um maior encurtamento das unidades superiores. Para se obter o balanceamento de área nos perfis (A) e (C), estes demandaram uma variação diferencial de espessuras conforme mostrado pela linha BC, nas duas figuras. Segundo o autor, o fato implica em um cisalhamento considerável a ser transmitido através da estrutura.

Figura 2.41- Fault-propagation folds com ângulo θ = 23,50° constante e ângulo 2γ*(interno) variável. Somente

o perfil (B) não apresenta uma variação na espessura das camadas. (A) e (C) requerem espessamento diferenciado de camadas para o balanceamento de áreas, conforme mostra a linha BC. Em (A), o espessamento teve que ser maior nas camadas superiores do que nas inferiores; em (C), o contrário (imagens de Mitra 1990, p.925).

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A evolução de uma FPF, área-balanceada, de Mitra (1990) com 2γ* = 57° e θ = 23,5°, constantes, mas com o encurtamento variável, é apresentada na figura 2.42. Para o balanceamento de áreas, as duas unidades basais foram progressivamente espessadas enquanto a camada superior, a princípio, aparece com a espessura original (porque não é afetada pela rampa). Conforme mostram as figuras 2.42A, B e C, a camada superior, no entanto, pode também sofrer espessamento, e, então, ser área-balanceada se deformar por cisalhamento puro ou por falhamento. Na lateral das figuras é representada a magnitude do encurtamento sem a variação da espessura (áreas tracejadas) e com variação (áreas em branco), no caso por espessamento diferencial das camadas. A situação sem a variação de espessura representaria a condição não balanceada do perfil, assim, o espessamento, por encurtamento adicional, visava o balanceamento de área.

Figura 2.42- (A) e (B) Dois estágios de evolução progressiva de uma FPF, com ângulo 2γ* (interno) constante e

cujas camadas inferiores sofreram variação de espessura para o balanceamento de área. Os campos tracejados correspondem a magnitude do encurtamento sem a variação da espessura. Em (C), é apresentada a FPF da situação em (A), mas cuja camada superior (mais escura) também foi espessada, por deformação penetrativa (cisalhamento puro) e por falhamento (reproduzido de Mitra 1990, p.926).

Finalmente, uma deformação progressiva das FPFs, área-balanceadas, na qual 2γ* varia com o tempo, no caso decrescendo, é apresentada na figura 2.43. As áreas tracejadas à direita de cada figura apresentam, novamente, o encurtamento sem variação de espessura (portanto, a situação não- balanceada em área) e, a área em branco, o encurtamento relativo adicional visando o balanceamento de área por espessamento diferencial.

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Figura 2.43- A deformação progressiva de uma FPF área-balanceada, na qual 2γ* decresce com o tempo. As

áreas tracejadas representam o encurtamento sem variação de espessura, enquanto que a área em branco corresponde ao encurtamento relativo adicional visando o balanceamento de área por espessamento diferencial (reproduzido de Mitra 1990, p.928).

Chester & Chester (1990) apresentam um novo modelo cinemático após observarem que em

alguns FPFs, naturais, as camadas, no backlimb da dobra, não apresentam um mergulho constante (comparar as FPFs das figuras 2.44A e B). Para os autores, as FPFs cujas camadas, no backlimb, não têm mergulho constante, não estariam relacionadas à formação contemporânea de rampa e dobra, isto é, a flexura não seria o resultado do deslocamento da falha, conforme o princípio básico proposto por Suppe (1983, 1985; Suppe & Medwedeff 1984), mas a uma falha preexistente (Fig. 2.43B). A FPF se formaria com as camadas do backlimb de mergulho variável quando a falha encontrar uma mudança

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na estratigrafia mecânica das rochas, por exemplo, um contato entre uma unidade maciça, isotrópica e rúptil e outra anisotrópica, finamente laminada.

Figura 2.44- Comparação entre (A) a FPF simples (simple-step fault propagation fold), no qual o dobramento é

contemporâneo à formação da rampa, e (B) a FPF do modelo de Chester & Chester (1990), associado à falha preexistente. Em B, a contínua propagação da falha preexistente resulta no surgimento de novas bandas kink, responsáveis pela mudança no ângulo do backlimb (modificado de Chester & Chester 1990, p.903 e 904).

De maneira similar à Jamison (1987), os autores apresentam gráficos que definem uma relação entre o ângulo interflanquial da dobra e o ângulo de mergulho da rampa, para diferentes espessuras do

forelimb e, também, para variações no ângulo de mergulho do backlimb. A título de exemplo,

apresentam a reconstrução de uma FPF (localizada no Plateau de Cumberland, Tennessee, E.U.) a partir do modelo cinemático (Fig. 2.45).

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Figura 2.45- Reconstrução de uma FPF do Plateau de Cumberland, Tennessee (E.U.), pelo modelo de Chester &

Chester (1990). As linhas finas representam o acamamento, linhas grossas, a falha e linhas intermediárias, a geometria determinada para o FPF (imagem de Chester & Chester 1990, p. 907).

No ano de 1990, Suppe & Medwedeff apresentaram um novo trabalho sobre as FPFs, no qual estas são descritas por meio de complexas análises quantitativas, cinemáticas e geométricas. Os autores descrevem dois tipos de simple-step FPFs (Suppe 1984, Suppe & Medwedeff 1984) assim como um tipo de FPF que envolve a contínua propagação da rampa, denominado breaking through.

Os dois modelos do simple-step FPFs, à semelhança do modelo das FBFs, relacionam a geometria da falha com a forma da dobra. Além disto, as dobras não mudam de forma durante a sua evolução (constitundo o self-similar growth), apenas crescem em tamanho à medida que a deformação evolui. Um dos modelos se baseia na conservação de espessura e comprimento das camadas, enquanto o outro admite ocorrer espessamento ou afinamento do forelimb (Fig. 2.46) (feição também discutido por Jamison (1987) e por Mitra (1990), que, no entanto, sugeriu uma variação de espessura distribuída). A variação da espessura do forelimb só ocorre quando o traço axial, A, do anticlinal, for fixo em relação à rocha.

Figura 2.46- Comparação entre as FPFs (A) de espessura constante e superfície axial móvel e (B) de espessura

variável: com afinamento no forelimb e superfície axial fixa; em ambas as figuras θ = 55° (modificado de Mosar & Suppe 1992, p. 128).

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De acordo com Suppe & Medwedeff (1990), existem várias situações que podem causar a interrupção do processo de dobramento enquanto a falha continua ativa, gerando uma FPF do tipo

breaking through (Fig. 2.47). No caso do decollement breakthrough (Fig. 2.47A), os autores sugerem

que a falha pode ter encontrado uma camada dúctil, que paralisou o processo normal de dobramento- falhamento, contemporâneo. Desta forma, somente o falhamento continuaria. Este formaria um segmento horizontal que transportaria, junto, a dobra previamente formada. Em outros casos, a falha pode ter encontrada uma camada que não se dobra ou se dobra pouco, de maneira que, com a deformação progressiva, as tensões locais crescentes apenas causariam o fraturamento. Formariam-se, então, os synclinal, anticlinal e steep-limb breakthrough (Figs. 2.47B e C). Nestas situações, a falha ou se estende ao longo da superfície axial do sinclinal (A’) ou do anticlinal (A e AB’), ou é gerado um novo segmento de falha próximo aos flancos de altos ou baixos ângulos da sinclinal (Figs. 2.47D e F).

Figura 2.47- Alguns tipos de breakingthrough FPFs. (A) decollement breakthrough; (B) synclinal e anticlinal

breakthrough e (C) breakthrough complexos, de alto e baixo ângulo (reproduzido de Suppe & Medwedeff 1990, p. 420 e 421).

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Ao final do estudo, os autores discutem o problema da aplicação dos modelos geométrico e cinemático que, muitas vezes, esbarra na dificuldade de se encontrar estruturas preservadas o suficiente para se obter todos os parâmetros angulares necessários.

Dando continuidade, Mosar & Suppe (1992) analisaram o efeito de um cisalhamento do tipo

layer-parallel shear sobre a forma das FPFs do tipo simple-step (isto é, sobre os seus ângulos

interflanquiais). Nesta análise, consideraram os dois modelos de Suppe & Medwedeff (1990), o de espessura constante e o com afinamento/espessamento no forelimb, e registraram para ambos os casos, uma grande variedade de formas possíveis. Enquanto para o caso das FPFs sem layer-parallel shear, se assume que a forma da dobra é controlada pelo ângulo de mergulho da falha e pela magnitude do encurtamento (Suppe 1983), os autores mostram que, quando há layer-parallel shear, a forma das dobras, além de depender do ângulo de mergulho da falha (θ), passa a ser controlada pelo ângulo de cisalhamento (η). Esta relação é expressa nos gráficos da figura 2.48, para os dois modelos, de espessuras constante e variável (superfície axial fixa). No segundo caso, os autores incluíram a variação da espessura, pela relação Te/Ti, onde Te corresponde a espessura da camada no backlimb e Ti

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Figura 2.48- Gráficos que fornecem a metade do ângulo interflanquial interno γ*, como função da magnitude do

cisalhamento, expresso por S = tg η ou pelo ângulo de cisalhamento, η, e do ângulo de mergulho da rampa, θ, para os dois modelos das FPFs do tipo simple-step. (A) FPF de espessura constante e (B) FPF de espessura variável e superfície axial fixa; Te/Ti, expressa a variação da espessura no segundo modelo, onde Te corresponde a espessura da camada no backlimb e Ti àquela do forelimb (reproduzido de Mosar & Suppe 1992, p.129).

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Os esquemas da figura 2.49 exemplificam a variação da geometria dos dois modelos das FPFs do tipo simple-step em função da variação da magnitude do cisalhamento, S (sendo S = tg η).

Figura 2.49- Esquemas apresentando a influência do ângulo de cisalhamento na forma das dobras, mantendo-se

constantes a altura e o ângulo de mergulho da rampa; o ângulo de cisalhamento não é igual para os dois modelos, mas sempre decresce do primeiro ao último esquema; S = tg η, η = ângulo de cisalhamento; Te/Ti, expressa a variação da espessura no segundo modelo, onde Te corresponde à espessura da camada no backlimb e Ti àquela do forelimb (reproduzido de Mosar & Suppe 1992, p. 128).

Mercier et al. (1997) analisaram mais uma vez as FPFs transportadas e as breaking through

FPFs, pelo fato de constituírem estruturas muito comuns em sistemas compressivos. Empregaram um programa de computador para modelar as feições geométricas das dobras durante a propagação tardia da falha.

A figura 2.50 apresenta um perfil das Montanhas Atlas, da Algéria, que os autores usaram para exemplificar o estudo. Para a construção do perfil, era conhecida a geometria de duas dobras, uma FPF transportada (ao longo de um patamar) e, a outra, uma FPF do tipo breakthrough (com formação de

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uma nova rampa), além da profundidade do descolamento basal, posição, altura e ângulo de mergulho da falha de empurrão assim como posição e ângulo de mergulho da segunda rampa.

Figura 2.50- (A) Localização do perfil estudado, no mapa geológico das Montanhas Atlas, Algeria, Norte da

África; (B) dados de superfície e subsuperfície; e (C) a reconstrução da evolução cinemática das FPFs por meio do programa computacional (imagens de Mercier et al. 1997, p. 192).

Nas duas últimas décadas, diversos autores continuaram se dedicando ao estudo das FPFs, muitos, apenas, reformulando teorias antigas, mas, outros, desenvolvendo seu próprio modelo e/ou análise. Entre estes, os mais importantes, ainda serão tratados abaixo.

Salvini & Storti (2001) discutiram a distribuição e a intensidade da deformação nos diferentes

domínios estruturais (flancos e zonas de charneira) de dobras-falhas (FPF e FBF). Recordaram que, há dobras nas quais a deformação se concentra na zona de charneira e os flancos rotacionam em torno de uma superfície axial fixa, assim, constituindo o fixed-hinge folding. Em outras, a active-hinge folding, que envolve a migração lateral de superfícies axiais, a deformação estaria concentrado nos flancos da dobra (Fig. 2.51A), como descrito por Suppe (1983), para os modelos kink style.

Para FPF associados a rampas de baixo ângulo, os autores demonstraram que a deformação seria mais intensa na transição entre a zona de charneira e o forelimb (Fig. 2.52B). Assim, sugerem que, quando esta zona de transição está intensamente deformada, a FPF é desenvolvida sobre rampas de baixo mergulho (abaixo de 30°), que podem explicar a ocorrência de anticlinais breakthroughs com preservação do sinclinal no bloco do muro da falha, comuns em cinturões de dobras e falhas (Fig. 2.52).

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Figura 2.51- Evolução de uma FPF ao longo de uma rampa de ângulo relativamente (A) elevado e (B) suave,

com indicação dos domínios mais deformados (reproduzido de Salvini & Storti 2001, p. 27).

Figura 2.52- Uma anticlinal breakthrough com o segundo segmento da falha (região de cor preta), disposta ao

longo da transição, intensamente deformada, entre o domínio da zona de charneira e do forelimb, no interior da dobra. A intensidade do sombreamento é proporcional à magnitude da deformação (reproduzido de Storti & Salvani 2001, p.29).

Tavani et al. (2006) apresentaram um novo modelo cinemático e geométrico para as FPFs,

baseado no fato, anteriormente já reconhecido por Chester & Chester (1990), que, em muitas dobras, as camadas do backlimb não apresentam o mesmo mergulho que o da rampa (Fig. 2.53). O modelo, denominado double-edge fault-propagation folding, prevê a nucleação da rampa de empurrão no interior de um pacote multicamadas (Fig. 2.54) e não na terminação do descolamento basal, horizontal, como todos os outros modelos sugerem. Além disto, presume que a geometria da dobra seja influenciada pela razão S/P (a razão entre o rejeito e a propagação da falha), nas duas terminações da rampa, e pelo comprimento inicial desta.

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Figura 2.53- Exemplos de fault-propagation fold com backlimb não-paralelo à rampa da falha (reproduzido de

Tavani et al. 2006, p. 20).

Figura 2.54- Desenvolvimento de uma fault-propagation fold segundo o modelo double-edge fault-propagation

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Este modelo, no qual a forma da dobra é influenciada pelo local da nucleação e do comprimento da rampa, assim como pelos valores da relação S/P, considera, como a maioria dos autores, a deformação por deslizamento flexural e conservação da espessura das camadas. É apresentado para dobras, com zona de charneira tanto circular (Tavani et al. 2005) quanto angular (por exemplo, Suppe 1983), e o deslocamento da falha é particionado entre o rejeito ao longo da falha, dobramento e layer-parallel shear. Nos modelos computacionais, o layer-parallel shear pode ocorrer de forma exagerada, o que, segundo os autores, deve ser compensado pela introdução, no perfil, de dobras ou falhas de segunda ordem.

Tavani et al. (2006) usaram o modelo do double-edge fault-propagation folding para analisar a Bacia Maracaibo (Venezuela), para a qual Apotria & Wilkerson (2002) sugeriram uma rampa de falha nucleada a partir do descolamento superior, crescendo no sentido do descolamento inferior. A modelagem permitiu reconstruir a trajetória evolutiva da estrutura como proposto por Apotria & Wilkerson (2002) e mostrado na figura 2.55, revelando uma rampa bastante longa.

Figura 2.55- (A) Seção sísmica esquemática da Bacia Maracaibo (Venezuela) e (B) Estágios evolutivos da FPF

segundo o modelo de Tavani et al. (2006) de double-edge fault-propagation folding (reproduzido de Tavani et al. 2006, p.29).

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Jabor et al. (2012) modificaram o modelo de Mitra (1990) por apresentar uma solução para as

FPFs de ângulos interflanquiais variáveis, na qual a geometria da dobra e a variação progressiva da espessura se baseiam em parâmetros que não podem ser medidos de forma direta. Os autores desenvolveram um programa de computador para a reconstrução geométrica e temporal das FPFs a partir de apenas quatro parâmetros: amplitude e comprimento de onda da dobra e ângulo de mergulho de forelimb e backlimb. O programa permite calcular a magnitude do encurtamento, a altura da rampa e a profundidade do descolamento basal. Os resultados confirmaram o modelo de Suppe (1985), da propagação da rampa no sentido ascendente, induzindo ao crescimento de amplitude e comprimento de onda da dobra. Mostraram que, durante o dobramento, o espessamento e afinamento do forelimb são mais pronunciados para ângulos de rampa, baixos e altos, respectivamente. Além disto, ângulos de mergulho baixo (por exemplo, θ = 15°) e alto (por exemplo, θ = 35°) produzem anticlinais abertos (amplitudes pequenas e comprimentos de onda grandes) e fechados (amplitudes grandes e comprimentos de onda pequenos), respectivamente (Fig. 2.56).

Segundo os autores, a principal vantagem do modelo é que este a construção baseia-se no modelo kink-fold e permite explicar a grande variedade de FPFs, tanto os modelos conhecidos por

time-variant model quanto os self-similar model, e possibilita rápidos procedimentos de

balanceamento e restauração de seções. É interessante também por permite incluir dobras abertas melhor explicadas pelo modelo trishear.

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Figura 2.56- Comparação entre as FPFs formadas sob rampa com diferentes ângulos. Quanto maior o ângulo da

rampa, menor será o ângulo interflanquial e, consequentemente, mais apertada será a dobra (maior amplitude e menor comprimento de onda) (reproduzido de Jabor et al. 2012, p. 217). Legenda: 2α - ângulo interflanco; θ - ângulo da rampa; TR - razão entre espessura da camada no forelimb (Tf) e no backlimb (Ti); A - amplitude da dobra; L - comprimento de onda.