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KMCA.

O KMCA é uma metodologia de avaliação de gestão do conhecimento que dispõe de medidas que permitem capturar com precisão a habilidade da organização na gestão do conhecimento. (KULKARNI; FREEZE, 2004, p.657)

Para a criação do KMCA, Kulkarni e Freeze adaptaram a estrutura do CMM –

Capability Maturity Model, que será apresentado resumidamente agora.

Segundo Rocha et al. (2001, p.22), o CMM foi desenvolvido pelo SEI –

Software Engeneering Institute, ligado à CMU – Carnegie Mellon University, com o

objetivo de se estabelecer um padrão de qualidade para desenvolvimento de

software para as Forças Armadas e está baseado na idéia de que “a implantação de

sistemas de qualidade em empresas segue um amadurecimento gradativo” (TINGEY, apud ROCHA et al., 2001, p.23). Nele, “foram estabelecidos níveis

9 Stock Price – Preço de ações; PER – Price Earnings Ratio – Índice de Rentabilidade; R&D

expenditure – Índice de Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento.

P – é o nível de significância, ou seja, a probabilidade máxima com que se deseja arriscar rejeitar

50 referentes à maturidade que a organização possui para desenvolver software: inicial, repetível, definido, gerenciado e otimizado” (PAULK, apud ROCHA et al., 2001, p.24). Cada nível de maturidade está dividido em áreas-chave de processo (KPA -

Key Process Area), que estabelecem grandes temas a serem abordados, totalizando

18 (dezoito) áreas-chave, às quais estão relacionadas as práticas-chave, que são os requisitos a serem cumpridos na implantação do modelo. O CMM possui ao todo 316 (trezentas e dezesseis) práticas-chave.

As organizações classificadas no nível 1 do CMM (Inicial) dependem fundamentalmente das pessoas, sendo o processo de desenvolvimento uma caixa preta para o gerente, não existindo áreas-chave nesse nível.

Nas organizações do nível 2 (Repetível), os resultados obtidos em um projeto podem ser repetidos em outros projetos e existe um sistema de gerenciamento em vigor, que garante o cumprimento de custos e prazos. As seis áreas-chave desse nível, segundo Rocha et al. (2001, p.25), são: gerenciamento de requisitos; planejamento de projeto de software; acompanhamento de projeto de software; gerenciamento de sub-contrato de software; garantia de qualidade de software e gerenciamento da configuração de software.

Nas do nível 3 (Definido), um processo de desenvolvimento de software é definido, documentado e compreendido. As sete áreas-chave desse nível são, segundo Rocha et al. (2001, p.25): enfoque no processo da organização; definição do processo da organização; programa de treinamento; gerenciamento integrado de

software; engenharia de produto de software; coordenação intergrupos e as revisões

(peer reviews).

Nas do nível 4 (Gerenciado), a gerência tem bases objetivas para a tomada de decisão, porque o processo é medido e gerenciado quantitativamente, e é possível prever o desempenho dentro de limites quantificados. Segundo Rocha et al. (2001, p.25), as duas áreas chave desse nível são: gerenciamento quantitativo do processo e gerenciamento da qualidade de software.

As do nível 5 (Otimizado) focam a melhoria contínua do processo, na qual a mudança de tecnologia e as mudanças do próprio processo são gerenciadas. Segundo Rocha et al. (2001, p.25), as três áreas chave desse nível são: prevenção de defeito; gerenciamento de mudança tecnológica e gerenciamento da mudança no processo.

51 Comparavelmente às áreas-chave de processos definidas no CMM, as KPA´s – Knowledge Process Areas, no KMCA são definidas as áreas de capacitação em conhecimento, as KCA´s – Knowledge Capability Areas: especialização, lições aprendidas, documentos do conhecimento e dados, que, de acordo com Kulkarni e Freeze (2004, p.658), “representam o conhecimento na maioria das organizações”.

A especialização é entendida como o conhecimento que pode ser obtido por meio de experiência e educação formal.

As lições aprendidas são sucessos e fracassos de projetos similares passados, algumas vezes e referidas como melhores práticas.

Os documentos do conhecimento são conhecimento explícito codificado para uso futuro. Esses documentos incluem tanto documentos baseados em textos como relatórios de projetos, relatórios técnicos, políticas, etc, quanto diagramas, arquivos de áudio, de vídeo, etc.

Os dados incluem os fatos ou estimativas obtidas originalmente de operações e armazenados em bancos de dados e repositórios de dados multidimensionais e correspondem a dados históricos que podem ser sumarizados e usados para construção de modelos, mineração de dados, pesquisa de padrões, elaboração de inferências, etc.

Outra similaridade com o CMM é a existência de metas genéricas que devem ser alcançadas para evidenciar cada nível de capacitação. As metas genéricas do KMCA foram detalhadas em uma ou mais metas específicas, que, por sua vez, foram mapeadas em um ou mais itens do questionário de avaliação.

Um importante aspecto do design do KMCA ressaltado por Kulkarni e Freeze (2004, p.659) é que as metas de cada nível são distintas e as metas de um nível inferior são mais fáceis de serem alcançadas que as de um nível superior, e que essa progressão (do fácil para o difícil) fornece ao questionário de avaliação o potencial para distinguir o nível de capacitação da organização em Gestão do Conhecimento mais apuradamente.

A estrutura conceitual hierárquica do modelo do KMCA é apresentada na Figura 11.

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Figura 11 - Estrutura conceitual hierárquica do modelo do KMCA.

Fonte: Freeze; Kulkarni (2004, p.660)

O quadro 4 apresenta as metas genéricas de cada nível de capacitação dispostos em duas colunas, uma relativa à “percepção do comportamento dos empregados e outra relativa à disponibilidade de conhecimento e infra-estrutura para compartilhá-lo dentro da organização” (KULKARNI; FREEZE, 2004, p.659)

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Quadro 4 - Metas genéricas dos níveis de capacitação do KMCA.

Fonte: Kulkarni e Freeze (2004, p.661)

O questionário de avaliação do KMCA é composto de aproximadamente 100 (cem) questões agrupadas em cinco temas: cultura, lições aprendidas, especialização, dados e documentos do conhecimento, e foi desenvolvido com base nos itens de escala e níveis de capacitação constantes no anexo 1.

Assim como no CMM, os níveis de capacitação são crescentes (KULKARNI. FREEZE, 2004, p.659): Nível 0 – Not Possible; Nível 1 – Possible; Nível 2 –

Encouraged; Nível 3 – Encouraged/Practiced e Nível 5 – Continuously improved.

O nível 0 descreve uma condição em que a cultura organizacional desencoraja o compartilhamento do conhecimento.

O nível 1 é atingido se os empregados estão desejosos de compartilhar conhecimento, a existência de recursos de conhecimento é reconhecida, e aqueles que entendem o valor do conhecimento realmente participam do compartilhamento.

54 O nível 2 caracteriza uma cultura organizacional que realmente encoraja o compartilhamento, possivelmente com recompensas e reconhecimento. Recursos do conhecimento não são apenas reconhecidos, mas armazenados ou recuperados de algum modo.

O nível 3 é atingido se os empregados praticam de fato o compartilhamento do conhecimento, e distingue-se do nível 2 quando fazem parte das práticas normais do trabalho. Nesse caso, tecnologias habilitadoras na forma de sistemas e ferramentas de GC, repositórios diferentes relativos a diversos tipos de conhecimento e recursos do conhecimento com taxonomia específica ao contexto estão disponíveis.

O nível 4 representa a condição na qual a organização monitora a extensão até onde o compartilhamento ocorre. Os empregados, além de praticar o compartilhamento do conhecimento, têm grande expectativa de localizar facilmente o conhecimento necessário, e os sistemas relacionados a GC são de fácil uso e suportados por treinamentos formais.

O nível 5 é alcançado se uma organização, além de monitorar o desempenho das suas tarefas relativas a GC, também se empenha em aprimorá-las; os sistemas de GC estão periodicamente revistos para possibilitar expansões e os processos de negócios intensivos em conhecimento são revistos e redefinidos para fazer a captura, a transferência e o reuso mais efetivos do conhecimento.

Para validação empírica do KMCA, ele foi aplicado em duas unidades de negócios independentes de uma grande indústria de semicondutores, abrangendo uma população de 1.000 (hum mil) funcionários da primeira unidade e de 700 (setecentos) funcionários da segunda, tendo os índices de participação na avaliação atingido 37% (trinta e sete por cento) e 56% (cinqüenta e seis por cento) dos funcionários de cada unidade, respectivamente, e os dados daí originados foram usados para sua validação.

Segundo Kulkarni e Freeze, (2004, p.667), o KMCA foi submetido a dois tipos de testes de validação, um de validação e tradução de conceitos e um de validação relativa a critérios.

O teste de validação de tradução de conceitos consistiu em submeter o questionário de avaliação a seis professores especialistas em Gestão do Conhecimento, que já tivessem lecionado, pesquisado e/ou publicado artigos na área de GC. O objetivo do teste era verificar a consistência da tradução de conceitos

55 de GC nas perguntas do questionário, e, também, classificar individualmente as questões quanto aos níveis de maturidade, de acordo com as metas genéricas constantes no quadro 4.

O resultado dos testes indicou a consistência na tradução dos conceitos de GC para a estrutura do KMCA, e também confirmou a distinção dos níveis de capacitação relacionados a cada questão.

O teste de validação relativa a critérios compreendeu dois outros testes: um teste absoluto e um teste relativo.

O objetivo do teste absoluto era validar a escala crescente dos níveis de maturidade, mostrando que atingir um nível de maturidade menor era pré-requisito para se atingir o nível seguinte. Essa condição é verificada checando o número de questões de cada nível que foram positivamente respondidas10. Para se atingir um nível de capacitação n em uma KCA qualquer, segundo Kulkarni e Freeze (2004, p.665), de acordo com esse teste, todas as questões dos níveis n e níveis inferiores (níveis n, n-1, n-2, ...) devem ser positivamente respondidas e, em nenhum dos níveis superiores (níveis n+1, n+2,...), todas as questões podem ser respondidas positivamente.

Ao todo foram realizados 8 (oito) testes absolutos, um para cada KCA de cada uma das BU – Business Unit, e todos eles foram positivos no sentido de validar a escala crescente do KMCA.

A Tabela 3 exemplifica essa validação apresentando as respostas da KCA lições aprendidas da Business Unit 1 da indústria de semicondutores onde os testes foram realizados.

10 Positivamente respondidas – significa que mais de 50% dos respondentes assinalaram concordo

plenamente ou concordo para aquela questão (KULKARNI; FREEZE, 2004, p.665). Por essa explicação, pode-se inferir que foi usada uma escala likert de 5 (cinco) níveis.

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Tabela 3 - Lições aprendidas – Percentual de respostas BU1.

Fonte: Kulkarni e Freeze (2004, p.665)

De acordo com esses resultados a BU1 estaria classificada no nível de capacitação 2 (e não no nível 3) porque todas as questões do nível 2 da KCA foram positivamente respondidas, mas nem todas as questões do nível 3 assim o foram.

O objetivo do teste relativo era indicar quanto dentro de uma área de capacitação havia sido atingido e quanto faltava atingir para obter a capacitação naquele nível. Para tanto, segundo Kulkarni e Freeze (2004, p.665) foi definida uma escala intermediária de três níveis (ie. 2, 2+, 2++, 3, etc) na qual cada incremento corresponde ao alcance de 1/3 do nível de capacitação em relação ao próximo nível. Tomando-se a Tabela 3 como exemplo, verifica-se que: 1) todas as questões do nível 2 foram positivamente respondidas; 2) o mesmo ocorreu com mais de 1/3 das questões do nível 3; e que nenhuma das questões do nível 4 foi assim respondida.

57 Nesse caso, o nível de capacitação da KCA Lições Aprendidas da BU1 seria estimado em 2+.

Ao todo foram realizados 16 (dezesseis) testes relativos, sendo seis testes de comparação entre as KCA´s combinadas duas a duas por BU, totalizando 12 (doze) testes, e 04 (quatro) testes de comparação das KCA´s de uma BU com as correspondentes da outra, todos eles apoiados por técnicas estatísticas. Os resultados de 11 (onze) desses testes foram positivos.

Em decorrência dos resultados alcançados, para Kulkarni e Freeze (2004, p.667), “os dois testes tomados conjuntamente comprovam satisfatoriamente a validação relativa a critérios”.

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