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A biografia de Krzysztof Wodiczko, polonês, nascido em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, é indissociável de sua obra. O artista passou a infância e a adolescência testemunhando a ocupação de seu país pela União Soviética, sendo que essa vivência se revelou uma forte influência em todo o seu trabalho. Em 1977, imigrou para o Canadá e, seis anos depois, para os Estados Unidos, onde desenvolveu projetos que apresentam suas reflexões e apontam para questões diretamente ligadas à xenofobia, ao preconceito e à normalização da violência. Sua formação em desenho industrial permitiu que ele trabalhasse com propostas que se cruzam nos campos da arte com a tecnologia. As referências de Wodiczko para esta pesquisa estão diretamente relacionadas ao seu trabalho com projeções de slides e vídeos em grande formato, em fachadas de monumentos e edifícios, combinadas a ações públicas, políticas e efêmeras. Atualmente, o artista vive e trabalha em Nova Iorque, onde atua como professor residente da disciplina Art, Design and

Public Domain, na Universidade de Harvard.

Destaca-se aqui três projetos de sua autoria que envolvem projeções em grande escala realizadas para espaços públicos: Hiroshima Projection (Figura 7), obra realizada pelo artista na cidade de Hiroshima, no Japão, em 1999, como parte do aniversário do bombardeio da cidade durante a Segunda Guerra Mundial; Tijuana Projection (Figura 8), que tem como tema a violência contra mulheres em uma região de fronteira entre o México e os Estados Unidos, e

Homeless: Place des Arts Montreal, obra mais recente do artista, realizada em Quebec, no

Fonte: https://art21.org/read/krzysztof-wodiczko-hiroshima-projection/.

Figura 8. Tijuana Projection,Tijuana, México (2001)

Fonte: https://www.krzysztofwodiczko.com.

2.1.1- Hiroshima Projection

Para a produção desse trabalho, Wodiczko se aproximou de grupos de sobreviventes da segunda guerra e de seus familiares. Seu processo partiu de uma escuta atenta de relatos pessoais de testemunhas que viveram os horrores cometidos durante aquele período. A partir desses relatos, o artista procura conectar, em Hiroshima Projection, as impressões de indivíduos de diversas gerações com relação às experiências de cada um com os desdobramentos da tragédia.

Wodiczko relata que, quando começou a conversar com os sobreviventes do atentado, encontrou, além de japoneses, muitos coreanos - trabalhadores escravos que foram bombardeados junto com seus mestres em Hiroshima, mas que nunca foram ouvidos como iguais: “eram uma espécie de vítimas de terceira ou segunda categoria” (ART 21, 2011, n. p., tradução nossa). Assim, na projeção, sua proposta incluiu oferecer esse espaço para que esses indivíduos pudessem trazer suas próprias experiências e reflexões sobre a maneira como foram tratados pelas autoridades no Japão.

A projeção no Memorial da Paz de Hiroshima, conhecido como Atomic Bomb Dome ou A-Bomb Dome, envolve uma característica que potencializa a imagem: a visibilidade da textura da superfície é incorporada às figuras.

Existe uma imagem; existe um prédio. Existe um corpo da pessoa, projetado; e há um corpo do edifício ou o monumento, animado. Mas é também a pele do edifício, a superfície, que é vista como algo entre os dois. E essa é uma camada protetora muito importante - que separa o aspecto excessivamente confessional do discurso daqueles que animam o edifício e nossa abordagem excessivamente empática em relação aos falantes. (ART 21, 2011, n.p., tradução nossa).

Isso é importante, segundo Wodiczko, para reconhecer que entre eles, os entrevistados, e nós há uma parede. Qualquer tentativa de se identificar com a pessoa é um perigo. Não é possível dizer “entendo o que você passou”. Segundo Wodiczko, o mais apropriado seria: "eu nunca vou entender o que você passou".

O artista relata ainda que, quando conheceu os coreanos, de alguma forma, eles lembravam-no de sua mãe e que essa relação de proximidade com sua própria história ajudou a estabelecer entre as partes uma troca, baseada na confiança, essencial para o desenvolvimento do seu trabalho.

Confiança é o ponto de partida. As pessoas que são participantes - que se tornam co- artistas - devem sentir que alguém no comando está do seu lado, em um sentido mais profundo. Este é o pano de fundo da projeção de Hiroshima (ART 21, 2011, n.p., tradução nossa).

Nessa projeção, o testemunho só acontece com o consentimento de um grupo de pessoas dispostas a participar da proposta do artista. É com essa participação de forma generosa, disposta a expor dores individuais de graves causas e efeitos com desdobramentos sociais, que o conteúdo ganha amplitude.

É na recepção pública da obra que dialoga diretamente com o entorno - o Memorial da Paz, também conhecido como A-Bomb Dome, localizado na beira do rio Ota - que a imagem emerge com a força de sua potência: foi ali, nas águas do rio, que muitas pessoas feridas se jogaram em busca de alívio e acabaram morrendo.

O projeto foi desenvolvido como parte do aniversário do bombardeio da cidade, que, na Segunda Guerra Mundial, sofreu o primeiro ataque nuclear da história.

2.1.2 - Tijuana Projection

Em Tijuana Projection, obra realizada no ano seguinte ao Hiroshima Projection para a mostra inSITE 200030, na cidade de Tijuana, México; o processo de pesquisa e produção do

conteúdo a ser projetado foi similar: o artista também se aproximou das comunidades locais para estabelecer uma relação de confiança antes de abordar temas diretamente relacionados àquela região de fronteira: violência, classe, gênero, preconceito. O processo exigiu tempo. Antes que se estabelecesse aproximação e confiança, Wodiczko entrevistou diversas mulheres vítimas de incesto, estupro e abusos domésticos e trabalhistas. Após as gravações, o artista mostrou as entrevistas às protagonistas e foi nesse processo que elas se fortaleceram para contribuírem com seus depoimentos na projeção de suas falas, captadas em tempo real por um dispositivo que o próprio artista desenvolveu em suas pesquisas no MIT. Para obter o efeito da projeção realizada no Centro Cultural Tijuana (CECUT), Wodiczko também utilizou vídeo-projetores de alta definição e grande potência que eram controlados por sistemas que permitiam a alternância entre projeção ao vivo e os depoimentos pré-gravados. De acordo com os artistas responsáveis pela execução do projeto, Krzysztof Wodiczko, Adam Whiton e Sung Ho Kim:

The purpose was to use progressive technology to give voice and visibility to the women who work in the "maquiladora" industry in Tijuana. We designed a headset that integrated a camera and a microphone allowing the wearer to move while keeping the transmitted image in focus. The headset was connected to two projectors and loudspeakers that transmitted the testimonies live. The women's testimonies focused on a variety of issues including work related abuse, sexual abuse, family disintegration, alcoholism, and domestic violence. These problems were shared live by the participants, in a public plaza on two consecutive nights, for an audience of more than 1,500. Projections on the 60-foot diameter facade of the Omnimax Theater at the Centro Cultural Tijuana (CECUT). The headset was connected to two projectors and loudspeakers that transmitted the testimonies live. The women's testimonies focused on a variety of issues including work related abuse, sexual abuse, family disintegration, alcoholism, and domestic violence.31

30O projeto convidou artistas internacionais para desenvolver, ao longo de vários meses de trabalho, proposições para

as mais diferentes situações nas cidades de San Diego (EUA) e de Tijuana (México).

31“O objetivo era usar tecnologia progressiva para dar voz e visibilidade às mulheres que trabalham nas indústrias maquiladoras de Tijuana. Projetamos um headset que integrava uma câmera e um microfone, permitindo que o

usuário se movesse enquanto mantinha a imagem transmitida em foco. O fone de ouvido estava conectado a dois projetores e alto-falantes que transmitiam os depoimentos ao vivo. Os testemunhos das mulheres enfocaram uma variedade de questões, incluindo abuso relacionado ao trabalho, abuso sexual, desintegração familiar, alcoolismo e violência doméstica. Esses problemas foram compartilhados ao vivo pelos participantes, em uma praça pública em duas noites consecutivas, para um público de mais de 1.500 pessoas. Projeções na fachada de 60 pés de diâmetro do Teatro Omnimax no Centro Cultural de Tijuana (CECUT). O fone de ouvido estava conectado a dois projetores e alto-falantes que transmitiam os depoimentos ao vivo. Os testemunhos das mulheres enfocaram uma variedade de questões, incluindo abuso relacionado ao trabalho, abuso sexual, desintegração familiar, alcoolismo e violência

A forma esférica que dá suporte à projeção valoriza e potencializa a fala daquelas mulheres que expõem não só seus rostos mas também histórias invisibilizadas de violência e dor.

2.1.3 - Homeless Projection

Em Homeless Projection,32 realizada em 2014 na cidade de Montréal, Canadá, Wodiczko buscou, assim como em Hiroshima Projection e em Tijuana Projection, integrar-se com os/as entrevistado/as - pessoas em situação de vulnerabilidade - através de organizações da comunidade local. A partir daí, foi proposto que eles/elas criassem suas próprias performances para a câmera: falas, música, figurinos, ação. O vídeo, com 14 minutos de duração, reúne cerca de 20 homens e mulheres desabrigados que vivem na cidade de Montreal, no Canadá.

Sua projeção dialoga diretamente com a arquitetura do Place des Arts, abrindo um espaço para a fala e para a escuta. O local potencializa as imagens e as vozes de cidadãos marginalizados: sem-teto, imigrantes, sobreviventes de violência doméstica e veteranos de guerra expõem seus corpos e suas vozes no Théâtre Maisonneuve. Trabalhando em estreita colaboração com a Missão de São Miguel e outras organizações comunitárias, Wodiczko oferece aos sem-teto um espaço para que narrem suas experiências, histórias e expressem seus medos e desejos. A fala permite um retrato mais íntimo da falta de moradia e de outros problemas enfrentados por essa população.

A projeção encenada em um teatro também coloca os participantes como atores, atuando em seu teatro, seguindo seu próprio roteiro de vida.

2.2 - Roberta Carvalho

Graduada em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA), a artista visual Roberta Carvalho vive atualmente em São Paulo, onde me recebeu para uma conversa. Na ocasião, pedi que falasse sobre seu processo de criação em quatro projetos que envolvem projeções em espaços públicos. Pretérito do Presente (Figura 10), uma série de intervenções urbanas realizadas no centro

doméstica.” (WODICZKO; WHITON; KIM, s. d., tradução nossa). Disponível em:

http://web.mit.edu/idg/cecut.html.

histórico de Belém-PA em 2005, desenvolvido a partir de uma provocação: quais pretéritos que ainda permanecem no presente?; Symbiosis (Figura 11), apresentado pela primeira vez em 2007 como uma combinação de projeção de vídeo e fotografia, um mix de imagens de moradores de comunidades ribeirinhas do Pará projetadas em copas das árvores; Mauá Remixes (Figuras 12 e 13), desenvolvido para o festival “Visualismo – Arte, Tecnologia, Cidade”, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 2015, e Teia (Figura 13), uma intervenção realizada na cidade de Lençóis, na Bahia, também em 2015 e apresentada como resultado da residência artística MOLA - Mostra Osso Latino

Americana de Performances Urbanas.

2.2.1 Pretérito do Presente

Pretérito do Presente (Figura 10), intervenção realizada em 2006, é resultado de uma

pesquisa da artista realizada com uma bolsa de pesquisa do Instituto de Artes do Pará. Carvalho experimenta ações de projeção de curta duração nas fachadas de alguns pontos estratégicos da Cidade Velha. A artista revela que essa série de imagens é retirada de matrizes, de dentro da própria cidade, e de fragmentos de uma cidade antiga, documentada em jornais e postais antigos. O material é tratado e as projeções iluminam fachadas de prédios em estado de abandono.

(...) a proposta era falar um pouquinho das camadas de tempo, de Belém, trazendo sobreposições ou ressaltando elementos porque, por exemplo, as casas antigas - em Belém tem muitas abandonadas - todas tem um mega cadeado na frente, trancando, pra ninguém entrar, ninguém faz nada e a casa fica lá caindo (...) e aqui era uma mera sobreposição de tempo mesmo porque essa casa existia aqui neste lugar, e esse prédio, ele sofreu um incêndio mas não esse aqui, esse aqui já é um prédio dos anos 70, 80 que destruíram pra construir um prédio que é bem ruim assim, que nem tem uma altura adequada, tipo, meio que desfigurou essa paisagem, então era meio uma crítica também pra mostrar o que existia antes desse prédio (CARVALHO, 2018).33

33 Entrevista concedida pela artista Roberta Carvalho à pesquisadora, Cristina Barretto de Menezes Lopes, em fevereiro de 2018. Transcrição no Apêndice 4. Entrevista concedida para elaboração da tese de doutorado da entrevistadora. São Paulo, 2018. [00:11:42 à 00:12:50].

Figura 10. "Pretérito do Presente" – Belém-PA (2005)

Fonte: https://www.robertacarvalho.art.br/.

Nessa proposta, as janelas do prédio foram utilizadas como telas para a projeção de camadas de passado que dialogam com o tempo presente através de sobreposições imagéticas.

2.2.2. Symbiosis

Dois anos depois, em 2007, Roberta começa suas experimentações com Symbiosis (Figura 11) e passa a utilizar outras superfícies para suas projeções com vídeos e fotos: copas de árvores e vegetação nativa presentes em diversos espaços de cidades, comunidades, áreas verdes e florestas.

Sobre essa experiência, a artista comenta:

[e] aí eu comecei esse projeto em 2007, quando eu experimentei a primeira vez fazer projeção nesse suporte, árvore. E até então era um exercício de suporte mesmo, da relação do corpo, da forma do corpo com a forma desse elemento verde, das árvores, então até então era muito essa relação entre essa árvore tem relação com esse rosto, essa forma tem relação com esse corpo; até que em 2011, eu fui fazer, ministrar uma oficinas na Ilha do Combu, que é uma ilha do outro lado de Belém, uma ilha de ribeirinhos, que a gente cresce olhando para aquele outro lado, mas até então não era um lugar que as pessoas iam, trafegavam, hoje até tá virando um lugar turístico assim, principalmente a parte mais não tão profundo lá no Combu, mais pra dentro, mas a parte mais pra frente, mais pra

Belém (...) então a gente cresce olhando aquilo, não sabe quem são aquelas pessoas, não sabe que dali que sai uma parte importante do açaí que a gente consome... e aí eu me propus a fazer essa oficina lá nessa comunidade, pras crianças… e a partir dessas oficinas que eu fiz com as crianças eu me propus a criar as projeções lá, pra serem projetadas lá também, na Ilha do Combu. E as crianças me conectaram aos adultos… me conectaram aos seus avós, pais… e a gente foi filmando, conversando com essas pessoas e tal até que num certo dia, lá já no final nessas atividades, já tinha uma quantidade interessante de imagens e aí a gente fez uma projeção, uma noite de projeção, e aí essa noite, tem essa imagem aqui que pra mim é a mais emblemática (...), então, aí quando eu atravessei pra ilha e fiz essa oficina, fiz essa primeira projeção lá, com os ribeirinhos, aí eu percebi que o projeto ele de fato estava nascendo ali quantos anos depois? 2007, oito, nove, dez, onze - quatro anos depois, né? - até então eu estava gestando ele, experimentando comigo, com pessoas próximas, até cheguei a expor ele nessa versão anterior, mas quando eu fui pra Ilha do Combu eu entendi que aquilo ali era o projeto, que ele tinha relação com aquele lugar, com aquelas pessoas e também, tipo, além dessa questão, tem também uma questão de como eu montei esse projeto, como eles ajudaram, como eles se veem ali, como eles se sentem parte disso, sabe? então tem todas essas questões que para mim são muito valiosas assim, nessa proposta, porque senão fica somente a árvore como um suporte, que isso aí hoje já não é mais uma novidade, né, não é uma coisa… então eu acho que a alma desse projeto é isso, sabe, é essa relação com essas pessoas.

Figura 11. "Symbiosis" - 1a experiência Symbiosis (2007)

Fonte: https://www.robertacarvalho.art.br/.

A simbiose entre paisagem e imagem marca a singularidade desse trabalho, presente nos detalhes - não se trata apenas de se utilizar a superfície árvore para as projeções. O processo inclui a observação do espaço urbano e sua paisagem arbórea, a compreensão da presença e do

fluxo das pessoas que habitam aquele lugar, a habilidade no uso da técnica e na escolha das imagens projetadas. O termo simbiose é proveniente da ecologia.

Grande parte das imagens projetadas são rostos em primeiro plano que ocupam a maior parte da projeção. Filmadas com a câmera estática, confundem-se com fotografias que se revelam vídeos pelos movimentos dos olhos ou da cabeça: o rosto ganha tridimensionalidade em contato com a vegetação e passa a fazer parte da paisagem local. A proposta deste projeto vai muito além da utilização da árvore como um suporte para a projeção de uma imagem, propõe-se fazer uma simbiose com o local - margens de rios de comunidades ribeirinhas amazônicas no Estado do Pará, da ilha do Combu, Murutucu e proximidades. É o corpo se adequando ao espaço da natureza e em simbiose, formando um só organismo. O resultado provoca reflexões acerca da nossa relação de identidade com a natureza e vice-versa.

Eu testei, testei colorido, testei várias coisas pra poder entender. Porque é meio que o pensamento do pontilhismo, né, se tu tem um ponto muito grande fica mais difícil de entender a imagem. Então claro, isso tem relação também com a escala da imagem, então dependendo do tipo de vegetação, pode não dar uma leitura tão interessante, sabe, tem isso também (Roberta Carvalho).

2.2.3 Mauá Remixes

Em 2015, com Mauá Remixes (Figuras 12 e 13), projetado no festival Visualismo –

Arte, Tecnologia, Cidade, no Rio de Janeiro, e Teia, intervenção realizada em Lençóis, na Bahia,

resultado da residência artística MOLA (Mostra Osso Latino Americana de Performances Urbanas), Carvalho cria uma atmosfera sonora trazendo mais uma camada de informação para seus trabalhos que mixam memória e paisagem: o som. Com esses dois projetos, rostos e corpos projetados ganham voz e a cidade reconhece sua história.

(...) [E] eu fui convidada a participar do Visualismo, que é um festival, e eu me propus a fazer um trabalho que tivesse relação com o entorno, não só criar uma projeção para esse prédio que poderia ser interessante, mas criar uma projeção que tivesse, que fizesse com que esse prédio contasse histórias ali do entorno e aí eu fui entrevistar algumas pessoas em áudio, e fiz fotografias delas, frame a frame, não é vídeo, se transforma num vídeo no final, mas o processo foi feito com fotografia, e aí a gente conversa um pouco sobre a história ali da região da Praça Mauá que hoje é um região super gentrificada, com a chegada lá do Museu do Amanhã, do MAR e não é só, na verdade, não é culpa dos Museus, é culpa na verdade, das obras desse tal de Porto Maravilha, os Museus na verdade fazem parte, acho que eles são a parte boa inclusive, e tentam fazer uma interface com o bairro, eu sempre vejo as ações do MAR principalmente… mas enfim, com a história desse porto que destruiu a área perimetral que existia ali, nessa região próxima

da Praça Mauá, as pessoas que moram nesse lugar, ou que moravam nesse lugar, elas começaram a não dar conta de morar nesse lugar, porque começou a ficar tudo muito caro, as pressões pra que elas saíssem das casas que elas alugavam, que elas próprias tinham a casa lá, foram muito grandes e muitas tiveram que vender a casa, porque era um grana interessante, mas não era tão interessante assim, no fundo, imediatismo, e foram morar em bairros mais distantes porque enfim, as pessoas precisam de dinheiro e tal e quem pagava aluguel ali não conseguia mais pagar. E existiam camelôs também nessa ruazinha aqui em frente o morro é, esse morro aqui acho que é o morro da providência (...) então existia uma passagenzinha que dava entrada pra esse morro e lá tinha vários camelôs (...) e eu comecei a conversar com eles e no terceiro dia de trabalho aconteceu a remoção deles (...) e aí eles me pediam muito pra falar, pra gravar, eles sabiam que eu tava gravando, e aí nessa dia eles queriam muito falar, eles falaram várias coisas, com raiva, chorando sabe e aí tem um coisa mais histórica, quando eu converso com moradores bem antigos do bairro, falando a história do lugar e tem essa coisa do agora, que são as pessoas sendo removidas, expulsas do local. Mauá remixes porque tem o remix, tem uma linguagem de meio que de misturar mesmo, de mixar e remixar as falas

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