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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

2.1 LÍNGUA PORTUGUESA: PONTO DE CONTA(C)TO ENTRE BRASIL E PORTUGAL

colonizador, o outro, a colônia. Embora estejam geograficamente distantes, até os dias de hoje preservam uma estreita relação e têm em comum a língua oficial, isto é, a Língua Portuguesa. Essa é a língua materna de ambos, fator que contribuiu para que a presente pesquisa fosse realizada nos dois países, pois é assumida como “ponto de conta(c)to1” entre Brasil e Portugal. Um pouco da sua história será apresentada na seção 2.1.

O fato de Portugal ter buscado soluções para melhorar a qualidade do ensino despertou o interesse para a investigação com alunos que frequentam o 9º ano do Ensino Fundamental (assim denominado no Brasil) ou do Ensino Básico (assim denominado em Portugal). A seção 2.2 apresenta o cenário da Educação Básica/Ensino Básico, os últimos números sobre a educação brasileira – apontados pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) –, os resultados das provas de aferição da educação portuguesa, além dos resultados apontados nas avaliações externas à escola no que se refere ao desempenho dos estudantes em Língua Portuguesa – principalmente em relação à letura e à compreensão –, as provas aplicadas nos dois países (como SAEB, Prova Brasil, Prova de aferição e PISA) e os resultados obtidos pelos estudantes nos últimos anos.

O PISA 2015 apontou que houve melhora nos índices de sucesso escolar em leitura de alunos do 9º ano de escolaridade. Talvez ações adotadas por Portugal tenham ajudado a melhorar os números nas avaliações e, por esse motivo, pela necessidade de o Brasil também melhorar seus resultados nas avaliações e tentando entender os cenários em que se apresentam a educação nesses dois países, a seção 2.3 apresenta as constatações em relação aos hábitos de leitura de brasileiros e de portugueses e os planos adotados de incentivo à leitura nos dois países.

2.1 LÍNGUA PORTUGUESA: PONTO DE CONTA(C)TO ENTRE BRASIL E PORTUGAL

A Língua Portuguesa, aprendida no berço por portugueses, brasileiros, muitos africanos e alguns asiáticos, é reconhecida por patrimônio nacional e utilizada como instrumento de comunicação, quer dentro da sua comunidade, quer no relacionamento com as outras comunidades lusofalantes.

Atualmente é a língua oficial em dez países, oito deles membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), mais a Guiné Equatorial, que a oficializou em 2011 ao lado da língua espanhola e da língua francesa, e da China, ou mais exatamente da RAEM (Região Administrativa Especial de Macau), onde é cooficial ao mandarim até o ano de 2049 (OLIVEIRA, 2013).

Possui de 221 a 245 milhões de falantes como primeira ou como segunda língua em variados graus de proficiência, número que cresce em velocidade moderada, com grandes variações entre os continentes: crescimento baixo na Europa e na Ásia, médio na América do Sul e grande na África Meridional. Ocupa, oficialmente, 10,7 milhões de km2 e está presente na América, África, Europa e Ásia (nesta ordem em termos demolinguísticos). Conforme Oliveira (2013, p.411),

Entre 7 e 9 milhões de falantes da língua portuguesa estão nas Diásporas, especialmente nos Estados Unidos da América e no Canadá, em diferentes países europeus, no Japão, na África do Sul, no Paraguai e na Venezuela. Estas bases geográficas são pontos de apoio e de criação de interesse para a manutenção e o ensino da língua de herança no exterior e importante razão para o intercâmbio comercial e cultural com aqueles países. [...] O português acompanha o intenso processo de emigração que faz com que hoje mais de 190 milhões de pessoas vivam fora dos seus países de origem.

Na seção Breve Sumário da História da Língua Portuguesa (CASTRO, s/d), o autor escreve que, embora seja a língua oficial de vastos territórios separados, em vários continentes, não é privativa de uma comunidade. É sentida como sua, por igual, em comunidades distanciadas. Por esse motivo, apresenta grande diversidade interna, conforme as regiões e os grupos que a usam e é uma das principais línguas do mundo. Castro afirma que é possível ter percepções diferentes quanto à unidade ou diversidade internas do português, conforme a perspectiva do observador: aquele que se concentra na língua dos escritores e da escola tem uma sensação de unidade, aquele que compara a língua falada de duas regiões ou grupos sociais pode ter uma sensação de diversidade.

A língua é parte da herança cultural de um povo. É portadora de longa história, serve de matéria-prima e é produto de literaturas, instrumento de afirmação mundial das sociedades. Ela não se esgota na descrição do seu sistema linguístico: ela vive na história, na sociedade e no mundo. Ela tem uma existência que é motivada e condicionada pelos grandes movimentos humanos e, imediatamente, pela existência dos grupos que a falam.

Isso significa que o português falado em Portugal, no Brasil e na África pode continuar a ser sentido como uma única língua enquanto os povos dos vários países lusofalantes sentirem necessidade de laços que os unam. A língua é, porventura, o mais poderoso desses laços. A esse respeito diz o linguista português Raposo (1984, p.592):

A realidade da noção de língua portuguesa, aquilo que lhe dá uma dimensão qualitativa para além de um mero estatuto de repositório de variantes, pertence, mais do que ao domínio linguístico, ao domínio da história, da cultura e, em última instância, da política. Na medida em que a percepção destas realidades for variando com o decorrer dos tempos e das gerações, será certamente de esperar, concomitantemente, que a extensão da noção de língua portuguesa varie também.

A diversidade linguística que a Língua Portuguesa apresenta através do seu enorme espaço pluricontinental é, inevitavelmente, muito grande e certamente vai aumentar com o tempo. Os linguistas encontram-se divididos a esse respeito: alguns acreditam que, já neste momento, o português de Portugal e o português do Brasil são línguas diferentes; outros, que constituem variedades bastante distanciadas dentro de uma mesma língua (CASTRO, s/d).

Na área vasta e descontínua em que é falado, o português apresenta-se, como qualquer língua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, à gramática e ao vocabulário. Tal diferenciação, entretanto, não compromete a unidade do idioma: apesar da acidentada história da sua expansão na Europa e, principalmente, fora dela, a Língua Portuguesa conseguiu manter até hoje apreciável coesão entre as suas variedades.

Embora essas variedades disponham de diferenças nos significados de palavras, na pronúncia e nas construções de algumas frases, no que diz respeito à importância da língua na vida das pessoas, ao lugar que ocupa e como ela é

trabalhada na escola, tanto no Brasil quanto em Portugal, existe uma preocupação com o ensino e com a aprendizagem da mesma. Isso porque tanto alunos portugueses quanto alunos brasileiros apresentam dificuldades em relação à leitura e à compreensão de textos, mas ainda não se sabe se “por causa da” ou “apesar da” Língua Portuguesa.

Assim sendo, quer seja no Brasil, quer seja em Portugal, é tempo de entender a leitura como uma atividade complexa, que exige do leitor processamentos especializados, e a compreensão como resultado dos conhecimentos sobre a língua (fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos) e sobre o mundo em que vive o leitor colocados em “jogo” no momento da leitura. Então, uma vez conhecedores desse “enigma” em que se constitui a Língua Portuguesa, será possível encontrar um meio de a compreensão ser satisfatória em todos os âmbitos, para além da vida escolar. É no Ensino Fundamental da Educação Básica (brasileira), ou no Ensino Básico (português), que a aprendizagem sistemática sobre a língua se inicia e se consolida, período esse que merece destaque e será apresentado no próximo tópico, tamanha a sua importância no desenvolvimento dos sujeitos.

2.2 CENÁRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL E DO ENSINO BÁSICO EM