LEVANTAMENTO, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

equivalente a aproximadamente 90 minutos. Os instrumentos foram aplicados todos em um único dia.

4.6 LEVANTAMENTO, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Para atingir os objetivos do estudo e responder às questões de pesquisa formuladas, foi realizado o levantamento e a organização dos dados que receberam um tratamento quantitativo e qualitativo de análise. Para descrever, contrastar dados, correlacionar, identificar relações foi realizada uma análise estatística, com recurso ao Statistical Package for Social Sciences (SPSS) e ao Excel.

Os procedimentos estatísticos utilizados tornaram possível a generalização dos resultados à população, como, por exemplo, análise da covariância ou técnicas de correspondência de sujeitos com vista a reduzir substancialmente eventuais diferenças pré-existentes entre os grupos. O esquema 5 apresenta o modo como foram analisados os dados obtidos por meio dos instrumentos, cujas respostas foram qualificadas e quantificadas, conforme descrição a seguir.

Esquema 5 – Parâmetros para análise dos dados obtidos por meio dos instrumentos

4.6.1 Questionário para traçar o perfil dos alunos e seus hábitos de leitura (Apêndices C e J)

O questionário para traçar o perfil dos alunos e seus hábitos de leitura foi criado ad hoc pela pesquisadora, inspirado nos questionários aplicados pelo PISA para traçar o perfil dos alunos (tipo de leitores, repetente ou não do ano ciclo, familiaridade com materiais escritos, hábitos de leitura, etc.). Está constituído por 15 (quinze) itens: 8 (oito) de marcar “não” ou “sim” e especificar a resposta, 5 (cinco) de marcar apenas um “xis” e 2 (duas) de responder por extenso.

Do total de 102 (cento e dois) alunos que fazem parte do corpus dessa pesquisa, mais da metade tinha 15 anos de idade (58,5%) no momento da coleta dos dados. Praticamente metade eram meninas (50,5%; no grupo português, 55,9% e, no grupo brasileiro, 48,1%). Muitos frequentaram o Jardim de Infância (86,4%; no grupo português 73,3% e, no grupo brasileiro, 81,8%). Uma quantidade pequena repetiu algum ano letivo (27,9%; dos alunos do grupo português, 38,2% e, dos alunos do grupo brasileiro, 23,3%).

No geral, são pessoas que gostam de ler (62,1%; no grupo português, 70,5% e, no grupo brasileiro, 40,6%); têm em casa algum familiar que gosta de ler (80,2%; no grupo português, 83,3% e, no grupo brasileiro, 69,3%); procuram respostas para as dúvidas através da leitura (65,8%), no grupo português, 58,8% e, no grupo brasileiro, 68,8%); leem com mais frequência recados no WhatsApp (60,3 %; no grupo português, 44,1% e, no grupo brasileiro, 67,5%), e mensagens no Facebook (54%; no grupo português, 67,6% e, no grupo brasileiro, 48%).

Apenas alguns usam 30 (trinta) minutos ou menos do seu tempo para a leitura por prazer (20,7%; no grupo português, 20,5% e, no grupo brasileiro, 20,7%), isso porque muitos revelaram que não leem por prazer (29,7%; no grupo português, 35,3% e, no grupo brasileiro, 27,2%). Mas quando leem é com o objetivo de aprender ou porque são as leituras obrigatórias para a escola. Eles preferem livros (56,7%; no grupo português, 58,8%, o mesmo número no grupo brasileiro). E quando perguntados sobre compreensão da leitura: poucos responderam que “compreende sempre o que lê” (18%; no grupo português, 20,6% e, no grupo brasileiro, 16,9%),

enquanto a maioria disse que “geralmente compreende o que lê” (52%; no grupo português, 67,6% e, no grupo brasileiro, 45,5%).

4.6.2 Avaliação da Compreensão Leitora I – Resumo elaborado (CLR) – (Apêndices E e L)

O instrumento “Avaliação da Compreensão Leitora I – Resumo elaborado (CLR)” corresponde à atividade de resumir o texto selecionado pela pesquisadora, chamado “Paixão à primeira vista”, de Alice Vieira (in Pezinhos de coentrada. Pequenas histórias. Alfragide: Casa das Letras, 2006. Apêndices D e K). Todas as atividades foram realizadas com base nesse texto.

Para avaliar os resumos que foram elaborados pelos alunos, foi necessário estabelecer, a partir da análise de conteúdo, alguns critérios para a correção que podem ser observados nos quadros 9 e 10. Esses critérios foram pensados e respeitados pelos avaliadores, um grupo de professores de Língua Portuguesa portugueses e brasileiros.

Quadro 9 – Critérios para avaliação dos resumos – TÓPICOS PRINCIPAIS

TÓPICOS PRINCIPAIS

1 O texto conta a história de uma menina chamada Beatriz que se apaixonou pela senhora de um retrato, a quem nomeia Eglantina, que se encontrava na papelaria

Celeste (do bairro).

2 A senhora do retrato estava em um longo vestido preto de gola de renda branca, segurando as rédeas de uma carrocinha marrom, diante de um campo de trigo. 3 A menina desejava muito uma bisavó e quando chegou à casa disse aos pais que

havia visto o retrato de sua bisavó e que pretendia levá-lo para casa. Os pais não concordaram com a ideia.

4 A mãe achava que a menina já tinha muitas tralhas no quarto e o retrato seria mais uma delas; e o pai, que nem lembrava o nome da bisavó que morrera há muitos anos,

não entendia o motivo de a menina desejar uma bisavó.

5 No dia seguinte, Beatriz não deu ouvidos aos pais e foi buscar o retrato da bisavó e colocou-o na mesa de cabeceira do seu quarto.

6 Quando o sono custa a chegar e a mãe não lhe dá boa noite, a menina olha para a bisavó e ela lá está, muito direita, e a menina sorri, não se sente sozinha e adormece.

Quadro 10 – Critérios para avaliação dos resumos – TÓPICOS SECUNDÁRIOS

TÓPICOS SECUNDÁRIOS

1 A senhora do retrato estava com ar de quem acabou de dizer para o marido que era hora da ceifa.

2 Beatriz ficou muito tempo olhando para a senhora pensando por que razão o bisavô não a acompanhava, decerto tinha muitos afazeres.

3 A menina viu a bisavó piscar-lhe o olho, mas pensou ser um engano, pois não piscaria o olho para a primeira bisneta que lhe aparecesse pela frente.

4 A menina largou a mochila e falou que a da bisavó estaria cheia de saudades dela (a menina).

5 A mãe engasgou-se, como sempre faz quando alguém fala da família. Para ela, família deve-se amar de longe.

6 A mãe disse que a bisavó da menina se chamava Maria das Dores e que o único campo que conhecia era o quintal onde estendia as roupas que lavava para outras pessoas. 7 O pai sempre é econômico com as palavras.

8 Beatriz trincou um gomo de laranja e disse que seu quarto era grande, e uma bisavó além de ocupar pouco espaço, fazia sempre muito jeito numa casa.

9 A mãe sempre preocupada com a desarrumação do quarto da menina não percebia por que razões ela se sentia bem no meio de bonecadas, ursos, peixinhos e fotografias. 10 O pai achava que a menina tinha mania de grandezas, e ter um retrato de uma bisavó

seria mais uma dessas manias.

11 No dia seguinte, Beatriz jogou todas as moedas que levava na mochila no balcão da Papelaria Celeste e guiou a bisavó Eglantina, com as mãos arrastando atrás de si a carrocinha de madeira, em direção à moldura do quarto.

12 A bisavó estava com ar de quem acabara de dizer ao marido que era hora da ceifa e esperava que ele se resolvesse finalmente a entrar para o retrato.

Fonte: A autora (2019).

As ideias sugeridas pelo texto foram nomeadas “tópicos”. Foram elencadas quais seriam as principais ideias que não poderiam faltar nos resumos elaborados pelos alunos e que deveriam ser pontuadas nas análises – as quais receberam a nomenclatura “tópicos principais”. Foram acordadas quais ideias apresentadas no texto original não poderiam aparecer no resumo dos sujeitos, já que não seriam ideias essenciais para a compreensão – as quais foram chamadas de “tópicos secundários”. E para as possíveis ideias sugeridas pelos sujeitos, mas que não fazem parte do texto, foi reservada uma categoria, a que se nomeou “tópicos inapropriados”. Esses dois últimos tópicos acarretariam em desconto de pontos dos sujeitos.

Assim, a partir da análise de conteúdo e das leituras muito atentas do grupo de professores e de posse dos resumos elaborados pelos alunos, foram realizadas as

avaliações, com base nos parâmetros para pontuação de resumos (quadros 9, 10 e 11), elaborados pela autora.

Não foi avaliado se o sujeito detinha ou não as técnicas da elaboração de resumo, pois esse objetivo não fazia parte da pesquisa. No 9º ano, resumir faz parte das atividades de ensino com ações praticadas em sala de aula. Assim sendo, os sujeitos foram instruídos a lerem atentamente o cabeçalho quando na aplicação do instrumento. O que realmente foi considerado é se eles compreenderam ou não o texto lido, se identificaram as ideias principais e conseguiram registrar no papel os seus textos (resumos) de forma coesa e coerente.

Quadro 11 – Modelo para correção do instrumento de Avaliação da Compreensão Leitora I – Resumo elaborado (CLR)

TÓPICOS (nº de ideias)

SUJEITOS PRINCIPAIS SECUNDÁRIOS INAPROPRIADOS