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Fonte: adaptado do mapa de línguas em perigo no Brasil www.unesco.org.

No mapa (10), apresento: a língua waiwai (em situação de vulnerabilidade); as línguas tapajós-arapiuns (extintas); a língua kayapo (em situação de vulnerabilidade); a língua suruí-aikewara (em situação de vulnerabilidade); as línguas parkatêjê e kyikatêjê (seriamente em perigo de extinção); a língua

tembé/tenetehar falada no rio Gurupi e no rio Guamá (seriamente em perigo de extinção).

A partir do conhecimento do grau de comprometimento de vulnerabilidade ou de extinção em que estão suas línguas nativas, as sete comunidades indígenas que apresento no mapa (10) – e descritas em seus aspectos sócio-comunicativos neste capítulo – passaram a empreender esforços no sentido de preservar as línguas que ainda são transmitidas de pai para filho e que são faladas cotidianamente nas aldeias. Quanto às línguas que não estão mais sendo transmitidas de pai para filho e nem estão sendo mais faladas entre adultos, jovens e crianças nas aldeias, observa- se um esforço das comunidades indígenas no sentido de tentar, ainda assim, revitalizá-las.

A seguir, apresento uma descrição de como esse processo de preservação e revitalização de línguas indígenas está ocorrendo nas sete comunidades apresentadas no mapa (10).

 Língua waiwai: aldeia Mapuera

Os indígenas da aldeia Mapuera, mesmo sabendo que o risco de perda de sua língua ainda parece estar distante (a língua waiwai ainda é falada pela maioria da população), empenham-se em sua preservação. Os professores indígenas Waiwai trabalham com afinco na organização de uma documentação extensiva da estrutura da língua waiwai e no registro de histórias sobre a cultura e as tradições de seu povo. Esses indígenas, principalmente aqueles que já estão cursando o ensino superior (temática que é abordada no capítulo 3), estão documentando e registrando a língua, aspectos da geografia, da história, da matemática, da medicina tradicional, entre outros aspectos de sua cultura imaterial e material por meio de seus trabalhos de conclusão de curso; objetivam revertê-los em cartilhas e livros a fim de serem utilizados como material didático nas escolas da aldeia. Ainda, em virtude de a língua portuguesa já estar sendo ensinada nas escolas da aldeia Mapuera, a alfabetização das crianças é realizada somente em língua waiwai. Esse fato propicia a manutenção da língua waiwai por meio de sua organização e divulgação não apenas somente através da oralidade, mas sendo inserida através da escrita. Os jovens waiwai só têm acesso à língua portuguesa no ensino fundamental e médio; logo o português é aprendido como segunda língua na área.

 Língua kayapo

A língua kayapo é falada e transmitida de pais para filhos no cotidiano das aldeias kayapo, localizadas nos municípios de Cumaru do Norte, Bannach, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu no sul do Pará. Em janeiro de 2016, registrei uma conversa informal com um professor indígena Kayapo. Na ocasião o professor relatou-me que, a fim de preservarem a língua, a alfabetização das crianças nas escolas kayapo estava sendo realizada por meio da disciplina “Língua Indígena Kayapó”, ofertada para as primeiras quatro séries iniciais de escolarização e para o ensino fundamental. O professor kayapo relatou-me ainda que esse método de alfabetização está sendo priorizado em razão da vulnerabilidade da língua kayapo diante da interferência da língua portuguesa. Segundo o professor, os kayapo já atestam o uso de algumas palavras emprestadas do português na língua kayapo, principalmente na fala de indígenas que frequentam mais assiduamente as cidades mais próximas das aldeias. Quanto ao ensino do português, segundo o professor kayapo, seu ensino nas escolas da área é realizado como segunda língua. Os professores kayapo que estão cursando o ensino superior também estão priorizando a documentação e registros da língua e da cultura kayapo a partir da elaboração de material didático para fins de utilização nas escolas de suas aldeias. Como já mencionado, a educação em área indígena no Pará é apresentada no próximo capítulo.

 Língua suruí-aikewara

Os indígenas Suruí-Aikewara das aldeias que compõem a Terra Indígena Sororó têm contato com a língua portuguesa desde os anos 60 e 70, quando foram contatados e posteriormente usados pelos militares como linha de frente na Guerrilha do Araguaia como já apontado acima. Entretanto, também como já apontado acima, mesmo após terem enfrentado uma série de dificuldades, os Suruí- Aikewara conseguiram preservar a sua língua que ainda é falada fluentemente por seis idosos. Atualmente, os Suruí-Aikewara também estão empenhados em registrar sua língua materna e as histórias sobre a cultura e as tradições de seu povo por meio de cartilhas, livros, áudios e vídeos que são utilizados como material didático nas escolas da aldeia na disciplina “Língua Indígena”, ministrada por professores

indígenas bilíngues em suruí-aikewara e português. Essa estratégia de revitalização da língua suruí-aikewara envolve crianças e jovens da etnia que desde cedo mantêm contato com a língua portuguesa na escola.

 Línguas das diferentes etnias que compõem a área tapajós-arapiuns No caso das comunidades tapajós-arapiuns, observa-se a situação de monolinguísmo em língua portuguesa entre os falantes da área, como mencionado acima; as línguas arapium, tapajó, borari, jaraqui e tupinambá, originárias das etnias dessa área, já estão extintas. Entretanto, os indígenas que se auto declaram Munduruku (que vivem nas aldeias Taquara, Bragança e Marituba) iniciaram, em maio de 1988, um processo de “resgate” de suas tradições a partir da inserção de rituais, pinturas corporais e festas que têm sido atribuídas à cultura munduruku. Um fato muito interessante, no entanto, é que esse grupo assumiu a língua nheengatu como sua língua – ver Iores (2010: 246-247).

Importante notar, no que concerne à língua nheengatu, é que estudiosos apontam apenas como área de fala do nheengatu “atual” a região do alto rio negro, noroeste da Amazônia, entre os povos Baré, Baniwa e Warekena – ver, entre outros, da Cruz (2011: 11-14) e Argolo (2016: 47). No entanto, como apontado acima, o grupo Munduruku que vive nas imediações da Reserva Extrativista Tapajós- Arapiuns, na fronteira entre os Estados do Pará e do Amazonas, também pode ser incluído na área de fala dessa língua, embora não se tenha estudos, até onde se saiba, sobre as possíveis diferenças entre o nheengatu falado no alto rio Negro, no Amazonas, e o falado entre os Munduruku da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns no Pará – para maiores detalhes sobre a língua nheengatu e ainda acerca desta língua estar inserida dentro da Linguística de Contato, ver Oliveira, Zanoli & Módolo (2019).

No mapa (11), represento a distância do grupo Munduruku que vive na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, na divisa entre o Estado do Pará e o Estado do Amazonas, em relação ao município de São Gabriel da Cachoeira (AM) local em que vivem grupos indígenas que falam a língua nheengatu no norte do Brasil.