• Nenhum resultado encontrado

2 NOTAS TEÓRICAS PARA ORIENTAÇÃO DO TRABALHO

2.2 Pensar o presente com os pés no passado: sobre o tema da formação em

2.2.1 O laço entre o debate sobre formação em Adorno e aquele específico sobre a

O conceito de formação cultural em Adorno é de tal profundidade que permite, além de tudo, que se reflita sobre a formação do professor. Adorno (1995d), no texto intitulado

Tabus acerca do magistério, diz que socialmente o professor cumpre uma função de agente

do processo civilizatório, que o professor deve perceber/compreender/refletir o quanto esta função encontra eco em si mesmo efetivamente e a qual potencial responde quando assume a função de agente civilizatório.

Adorno dá a contrapartida de como as relações/estruturação social encontram eco no sujeito, mobilizam nele afetos (sentimentos). Isto não representa, contudo, umaculpabilização do sujeito individualmente/pelo social, algo muito presente nos dizeres como: basta que cada um faça sua parte.

O fato é que Adorno faz operar aí a contradição indivíduo/sujeito e sociedade. Declina de uma análise a partir da sociedade de classes da qual o professor /trabalhador seria vítima desta sociedade e agente da transformação, para uma posição na qual, sem prescindir desta análise, colocará o professor numa posição de quem contribui para a adaptação dos sujeitos/indivíduos à ordem social. O professor precisa ver-se também como aquele que promove a integração social. Assim não encontramos em Adorno um discurso laudatório com relação ao professor, mas, sim, o exercício da dialética em toda sua negatividade: nesta não há sínteses, não há equilíbrio; há o desvendamento do realem toda sua crueza e potencialidade.

Pensar o professor como agente do processo civilizatório representa “Uma crítica à hostilidade contra a inteligência” (informação verbal)31. Hostilidade que está representada na forma superficial com que é tratada a questão da educação/formação. Enquanto a ênfase nos problemas educacionais concentrar-se nos métodos e conteúdos novos apregoados pelas reformas pedagógicas, organizadas em cartilhas a serem cumpridas, permanecerá inquestionada a origem, como expresso na reincidência das mesmas questões na educação.

Formação para Adorno é posicionar-se na contramão do próprio processo (de)formativo pelo qual passa e vive a humanidade, que tem como resultado a barbárie, que cresce avassaladora como possibilidade de relação entre os homens. Neste sentido o conceito de formação cultural se amplia, se identifica como utopia, mas como utopia realizada ou a realizar-se pelo homem a partir da interpretação da história como tragédia em contraposição à história celebrativa.

É significativa a referência do projeto formativo de Adorno para pensar a formação do professor, em especial neste trabalho do professor de Educação Física. O que nos diz o professor acerca de sua formação que indica um caminho para pensá-la além do registro prescritivo, utilitário, receituário, mas sim no registro da educação crítica como sugere Maar (1995, p 27): “A educação crítica é tendencialmente subversiva. É preciso romper com a educação como mera apropriação de instrumental técnico e receituário para a eficiência,

31 Tomo emprestada esta expressão do Prof. Dr. Alexandre Fernandez Vaz, utilizada no debate em aula, do

insistindo no aprendizado aberto à elaboração histórica e ao contato com o outro não idêntico, o diferenciado.”

Assim o sentido da formação expressa-se na afirmação do sujeito enquanto potencialidade: imaginativa, simbólica, lingüística, bem como no seu oposto, atestado por Adorno, como evidência, no mundo atual, do declínio da experiência e do trabalho do conceito, bem como da autonomia,sendo estes os sentidos que orientam este trabalho.

Este contexto nos convida a pensar sobre a seguinte questão: É possível formar o

professor?32 De fato, a partir das reflexões que Adorno propõe sobre a formação cultural, eu afirmo que não é possível formar o professor. Num primeiro momento isso significa admitir um caráter não prescritivo para a atividade de formação que associa a esta uma função pragmática que, nas palavras de Adorno (1995a, p. 69): “[...] é a ruptura entre aquilo que constitui o objeto de elaboração [...] e os sujeitos vivos”. Ele vê nesta relação o caráter instrumental da formação. A ruptura de que fala Adorno se estabelece pela relação útil com o conhecimento, este só é válido enquanto utilidade pragmático/técnica, entra então o valor da técnica como apropriação necessária para tornar possível esta relação útil com o conhecimento. É negligenciada nesta relação sujeito e objeto não só o aspecto de dominação do sujeito sobre o objeto, mas que este sujeito também se modifica ao modificar/dominar o objeto. Esta dimensão é negligenciada, o sujeito, sua subjetividade está inscrita neste movimento de dominação - na construção de uma personalidade totalitária. E, num segundo momento, admitir como possibilidade o abrir-se a escuta de como a formação em suas mais diversas formas tem-se constituído.

Para finalizar, diria que Adorno propõe/elabora/discute um conceito de formação cultural, e a educação como caminho para emancipação. Maar nos diz (1995, p.15): “Em Adorno a teoria social é na realidade uma abordagem formativa, e a reflexão educacional constitui uma focalização político-social. Uma educação política”. Uma formação cultural que tenha como utopia o sujeito emancipado. Emancipação esta que não está lançada para um futuro ideal mas enraizada nas condições da sociedade atual. Por isto a negatividade como método, a radicalização da negatividade, a opção por não indicar saídas fáceis. É preciso no movimento negativo contraditório da sociedade que o sujeito se inscreva num movimento de emancipação. É preciso saber o que esta formação social não é – radicalmente – para pensar/debater/indicar o que pode vir a ser.

32 Pergunta feita pelo Prof. Dr. Marcus A. Taborda de Oliveira, nas considerações elaboradas no parecer da