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Capítulo 6 Programa de Febre Amarela na Colômbia: Laboratório da

6.3 Laboratório da Sección de Estudios Especiales (LSEE) Colômbia (1938-

Depois dos avanços na vacina de febre amarela conquistados pelo laboratório em Nova Iorque em 1936178 (Theiler e Smith, 1937) segundo a própria fundação, as reações observadas em relação à vacina 17D foram tão insignificantes e os resultados tão favoráveis que se decidiram por continuar as experiências na América do Sul (Smith, 1939, p. 15-18). Deste modo, elaboraram esboços preliminares de um prédio onde se localizaria o novo Laboratório de la Sección de Estudios Especiales (LSEE), situado nos terrenos do Instituto 178Em 1936 as atividades da Fundação Rockfeller na Colômbia podem ser distinguidas de três maneiras.

Na investigação de febre amarela e malária, a fim de procurar métodos fatíveis de controle; na manutenção de um laboratório de saúde pública em Barranquilla, na costa do Caribe; e no oferecimento de duas bolsas, uma para Ernesto Osorno a fim de se aperfeiçoar como entomólogo no EUA, e a segunda para Andrés Soriano, para estudar procedimentos laboratoriais e, em seguida, para se dedicar ao Instituto Nacional de Higiene (INH). Report: Annual Report of the Cooperative Activities of the Rockefeller Foundation in Colombia. RG 5 (FA115), Series 3, Box 132, Folder 1557. RFA.

Capítulo 6. Programa de Febre Amarela na Colômbia: LSEE (1938-1948) 188 Nacional de Higiene (INH)179 na cidade de Bogotá, capital da Colômbia. O objetivo da IHD era estabelecer um Laboratório Central que estivesse dotado de aparatos necessários para a preparação da vacina em larga escala180. De modo que, em 1937, os estudos de malária foram encerrados e iniciou-se uma nova fase de atividades dedicadas principalmente aos estudos da febre amarela sob a supervisão de John Austin Kerr181.

Em 22 de fevereiro de 1939 foi entregue o novo prédio construído a fim de instalar os escritórios administrativos e o Laboratório Central da SEE (ver figura 45). A construção do prédio foi iniciada em fevereiro de 1938 e o custo foi de US$ 95,160.64, dos quais o governo colombiano contribuiu com US$ 62,584.64 e a fundação US$ 32,576.00. A inauguração ocorreu em 1 de junho de 1939 e contou com a presença do Presidente da República da Colômbia, Eduardo Santos (1938-1942)182, de representantes de distintas instituições do governo, da Faculdade de Medicina, da Academia de Medicina e da Embaixada dos Estados Unidos (ver figura 46)183.

Anteriormente, o laboratório de Bogotá da SEE estava limitado à reprodução de ratos (cobaias), provas de vacinação e patologia, todas estas atividades faziam parte do programa mundial da IHD de identificação e distribuição da imunidade de febre amarela. No entanto, a equipe da IHD decidiu que este laboratório deixaria de ser um laboratório de campo e se tornaria um laboratório central a fim de operar para toda uma região. O novo programa de febre amarela na Colômbia, em 1939, estaria vinculado na organização e administração ao Serviço de Viscerotomia, da vacinação, dos estudos epidemiológicos do campo e do 179Report: Annual report of the cooperative Activities of the Rockefeller Foundation in Colombia. RG 5

(FA115), Series 3, Box 132, Folder 1557. RFA.

180Kerr, Resumen de las labores del Departamento Nacional de Higiene de Colombia relativas a la fiebre

amarilla durante los años transcurridos entre 1934 y 1938. Informe anual de las labores de la Sección de Estudios Especiales, 1938. Biblioteca del Instituto Nacional Salud. Bogotá-Colombia.

181“John Austin Kerr, was a physician who joined the staff of the International Health Division of the

Rockefeller Foundation in 1926. He was involved in many campaigns to improve public health in general and to eradicate malaria and yellow fever in particular. His job took him all over the world. He lived and worked in Brazil from 1933 to 1938; in Colombia from 1938 to 1940; again, in Brazil as Director of the Serviço de Estudos e Pesquisas sobre a Febre Amarela (Yellow Fever Research Service) from 1940 to 1943; in Egypt, where he succeeded in eliminating the malarial mosquito, from 1943 to 1946; and in Sardinia as Regional Director in the campaign against malarial mosquitoes from 1946 to 1947. After his retirement from the Rockefeller Foundation he served as a consultant to the World Health Organization. He also joined the U.S. Agency for International Development in the Philippines, where he lived from 1965 to 1966 ” (Beolens et al., 2009, p. 223)

182“Eduardo Santos Montejo (1888-1974). Presidente de la República de Colombia (1938 -1942).

Historiador y periodista. Trabajo en el periódico El Tiempo, diario que compró en 1913. Algunos de los cargos públicos que desempeñó fueron: Jefe del Archivo diplomático consular, Ministro de relaciones exteriores, delegado de Colombia ante la Asamblea de la Sociedad de Naciones y agente especial con carácter de enviado extraordinario y plenipotenciario de Colombia ante los gobiernos de Europa” (Gomez, 1998, p. 104-107)

183Informe anual de las labores de la Sección de Estudios Especiales, 1939: p 8. Biblioteca del Instituto

Figura 45: Prédio novo da Sección de Estudios Especiales - Bogotá (1939). Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

Figura 46: Inauguração do novo prédio do Laboratório da SEE na Colômbia (1939). Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

Capítulo 6. Programa de Febre Amarela na Colômbia: LSEE (1938-1948) 190 trabalho no laboratório184.

O Serviço de Viscerotomia que permitiu a obtenção de informação de grande valor, como já foi dito na seção 3.3, começou suas atividades em 1930 no Brasil e confirmou a existência de febre amarela em regiões insuspeitas. Além disso, permitiu conhecer a distribuição de outras doenças como a malária, esquistossomose e leishmaniose (Soper, 1934). Com o surto urbano da febre amarela em 1929 na cidade de Socorro (Peña Chavarria et al., 1930), e os casos suspeito na área de Muzo em 1931, além dos casos perto da cidade de Caparrapí em 1933 (ver figura 43), chamaram a atenção da IHD para conhecer o terreno e obter mais informação sobre a distribuição da doença na Colômbia. Em 1934, a fim de descobrir tais focos de febre amarela escondidos, foi introduzido o serviço de viscerotomia ao país. Para isso a IHD enviou à Colômbia Paulo Antunes, membro experiente da equipe da SFA no Brasil com a tarefa de iniciar o Serviço de Viscerotomia (Gast-Galvis, 1941, p. 87-88). Do mesmo modo, sob a liderança do Departamento Nacional de Higiene (DNH), a Colômbia resolveu estabelecer o Decreto n.º 1750 de 1934185, que consistia na nomeação de representantes locais, onde se acreditava exercer vigilância sobre possíveis casos de febre amarela. Conforme previsto pelo decreto, ninguém podia ser sepultado sem licença de inumação aprovado pelo viscerotomista. Todas as amostras coletadas na Colômbia através do Serviço Viscerotomia antes de janeiro de 1936, foram enviados para o Laboratório do Brasil, no entanto, a partir de 1936 quando a Colômbia se torna em um local atrativo para IHD como centro de operações, as amostras começaram a ser examinadas no próprio laboratório de Bogotá (Gast-Galvis, 1941, p. 87-88).

Por outro lado, no mesmo ano de instauração dos postos de viscerotomia um surto ocorreu nas imediações da cidade de Restrepo, e em 1935 perto desta área, a febre amarela apareceu no entorno das cidades de Villavicencio e Acacias, no Departamento do Meta. Mas nos meses de 1936 e início de 1937, os casos de febre amarela foram ainda maiores nessa região. Na época os médicos locais não encontraram uma explicação satisfatória para os surtos. Era evidente que a infecção atacava preferencialmente os operários que trabalhavam no bosque. Em nenhum lugar em toda a região foi possível encontrar larvas ou adultos de Aedes aegypti (Bugher, J. C. and Boshell-manrique, J. and Roca-Garcia,

184Kerr, Resumen de las labores del departamento nacional de Higiene de Colombia relativas a la fiebre

amarilla durante los años transcurridos entre 1934 y 1938. Informe anual de las labores de la Sección de Estudios Especiales, 1938: p 6-7. Biblioteca del Instituto Nacional Salud. Bogotá-Colombia; Report: Progress Report in the Yellow Fever Investigations in Colombia (september 1938 - january 1939). RG 5 (FA115), Series 4, Box 36, Folder 404. RFA.

185República de Colombia. Decreto Número1750 de 1934, por la cual se establece la viscerotomía como

medio de investigación para la fiebre amarilla: Diario Oficial. Año LXX. N. 22690. 20, agosto, 1934. Pág. 1. Disponivel em: http://www.suin-juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1555603. Acessado em: 16/11/2016.

Figura 47: Laboratório de febre amarela em Villavicencio - Colômbia (1938). Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

M. and Osorno-mesa, E., 1944). Todos esses fatores determinaram a instalação de um laboratório em Villavicencio, local perfeito para instaurar o laboratório de campo na Colômbia. O prédio começou a ser construído em agosto de 1937 e foi concluído em março de 1938 (ver figura 47).

Durante o primeiro ano do laboratório de Villavicencio, grande parte do tempo foram dedicados aos trabalhos de campo experimentais. O objetivo era delimitar com precisão as linhas de ataque mais favoráveis para resolver o problema da febre amarela. O programa de investigação neste laboratório foi dividido em duas partes: o primeiro, direcionado ao estudo do comportamento do vírus da febre amarela em vertebrados metazoários; e o segundo, na investigação em artrópodes186. O propósito principal era estudar a reação dos animais silvestres ao vírus da febre amarela e determinar a capacidade dos insetos silvestres em abrigar e transmitir o vírus. Assim, o laboratório foi dividido nas seguintes seções: estudo sobre a susceptibilidade dos animais; entomologia, teste de proteção em camundongos e criação de animais para experimentação187. Apesar de ser cadastrado como um laboratório de campo, muitas vezes realizou atividades de laboratório central. Suas pesquisas no campo da epidemiologia da doença foram tão relevantes que permitiram explicar o ciclo da febre amarela selvagem. Além disso, também a suscetibilidade de 186Kerr, Resumen de las labores del departamento nacional de Higiene de Colombia relativas a la fiebre

amarilla durante los años transcurridos entre 1934 y 1938. Informe anual de las labores de la Sección de Estudios Especiales, 1938: p 3-5. Biblioteca del Instituto Nacional Salud. Bogotá-Colombia.

187Informe anual de las labores de la Sección de Estudios Especiales, 1938: p 1-2. Biblioteca del Instituto

Capítulo 6. Programa de Febre Amarela na Colômbia: LSEE (1938-1948) 192

Figura 48: John Bugher e Ferd Soper - Villavicencio - Colômbia (1938). Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

várias espécies marsupiais e o papel destes animais na manutenção do vírus na natureza (Bugher, J. C., 1941).

Uma das principais atividades do laboratório de Bogotá era a produção de vacina. Depois de sete meses de estudo no Brasil, a IHD tomou medidas para continuar as experiências da vacina na Colômbia, em junho de 1937 foi iniciado o serviço de vacinação estabelecendo duas unidades, na área de Muzo e em Barrancabermeja188. Em outubro deste mesmo ano, foram aplicadas doses em um grupo de 342 pessoas em Landazuri (departamento de Santander), onde havia acontecido um surto de febre amarela silvestre,

sendo essa é a primeira vez que a vacina 17D era usada com a intenção de controlar um surto da doença (Smith, 1939, p. 15-18). Em 1939, uma vez que foi instaurado o novo laboratório central de febre amarela, a vacina começou a ser produzida neste recinto, e até 31 de dezembro de 1942, o Serviço de Vacinação havia aplicado doses em 605,781 pessoas na Colômbia. O interessante deste serviço foram os dados gerados. Graças a este serviço, a IHD tinha um censo completo da população rural que vacinavam: nome, idade, sexo, endereço, ocupação e detalhes da vacinação, eram registrados. O Serviço de Vacinação, além de aplicar a vacina permitia conhecer o estado da população, por exemplo nas regiões onde existiam grandes cultivos de café, o número de habitantes de uma área dada durante a época da colheita (que podia exceder significativamente os números normais do censo oficial), além obter também informação sobre os casos de febre amarela, posteriormente corroborados por exames de laboratório, como exame histopatológico, isolamento de vírus e provas de proteção (Bugher, J. C. and Gast-Galvis, A., 1944).

188Report: Progress Report in the Yellow Fever Investigations in Colombia (September 1938 - January

Figura 49: Augusto Gast Galvis - terno branco - transporta a vacina de febre amarela e equipamentos através do Rio Zulia, Colômbia (1939). Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

Durante o ano de 1944, o LSEE passou a ser chamado de Instituto de Estudios Especiales “Carlos Finlay”, ano em que se instalou um laboratório temporal de campo em Volcanes. O objetivo era obter informação dos casos descobertos de febre amarela189, mas em 1945, a IHD começou a preparar sua retirada do trabalho da febre amarela na Colômbia. Depois de 11 anos atuando no estudo da febre amarela neste país, o objetivo do trabalho na Colômbia havia sido cumprido. As principais descobertas em relação à epidemiologia da febre amarela selvagem eram devidas aos trabalhos realizados na Colômbia. Foi neste país que se corroborou o papel desempenhado pelo mosquito Haemagogus na transmissão da doença, estudos profundos sobre a biologia e comportamento do vetor, sobre a suscetibilidade de diversos animais ao vírus da febre amarela e onde havia se conseguido um aperfeiçoamento nos métodos usados no laboratório. Ao finalizar o ano de 1945, perto de um milhão de pessoas tinham sido vacinadas contra a febre amarela. Segundo o relatório de 1945, os casos fatais de febre amarela diminuíram consideravelmente em toda a Colômbia, portanto, comprovando que a vacinação era o único meio de controle confiável da febre amarela. A fim de que a produção da vacina estivesse totalmente isolada de outros labores, foi construído um terceiro andar no prédio do instituto. No entanto, a ideia era de se deixar um maior espaço para a realização de pesquisas sobre doenças produzidas por outros vírus, que já tinha sido coletados durante a pesquisa da febre amarela190.

Embora tenham sido feitos planos para transferir a direção do Instituto ao governo co- 189Informe del Instituto de Estudios Especiales Carlos Finlay, 1944: p 63. Biblioteca del Instituto

Nacional Salud. Bogotá-Colombia.

190Informe del Instituto de Estudios Especiales Carlos Finlay, 1945: p 3-4. Biblioteca del Instituto

Capítulo 6. Programa de Febre Amarela na Colômbia: LSEE (1938-1948) 194

Figura 50: Manuel Roca Garcia - 1938. Fonte: Bugher. Photographs. (FA438), Series 1011-1081, Box 51. RFA.

lombiano, a IHD continuou seu trabalho durante o ano de 1946 e finalizou sua permanência em 1947191. Entre os resultados que a IHD obteve na Colômbia, destaca-se a descoberta de três novos tipos de vírus pelo médico colombiano Manuel Roca Garcia (ver figura 50). Uma vez sem a IHD, foi nomeado diretor do Instituto Carlos Finlay. Roca, especialista em epidemiologia, durante o curso dos estudos da febre amarela na selva no oriente da Colômbia, capturou um grande número de mosquitos da selva, a fim de isolar o vírus da febre amarela, obteve sucesso em isolar três vírus que demonstraram ser imunologicamente distintos da febre amarela. Esses vírus foram nomeados “Anopheles A virus”; “Anopheles B virus”; “Wyeomyia virus”, de acordo com a origem dos mosquitos (Roca-Garcia, 1945).

Como foi dito, a IHD permaneceu na Colômbia até 1947. Durante os anos de 1948-1949, o instituto funcionou como entidade autônoma, dependente exclusivamente do recém-criado Ministerio de Salud Pública. A partir de 1950, se estabeleceu um novo convenio entre o Ministerio de Salud Pública e a Organização Pan-americana da Saúde (OPS) para dar prosseguimento aos trabalhos com doenças infecciosas. O novo programa se baseou em quatro pontos:

a) Mantenimiento de un servicio de viscerotomía para el descubrimiento de focos de fiebre amarilla en todo el país;

b) Producción, distribución y aplicación de vacuna contra la fiebre amarilla;

c) Realización de estudios epidemiológicos sobre la fiebre amarilla, de preferencia (en zonas en donde los primates silvestres son muy escasos o no existen (por ejemplo, en 191Informe del Instituto de Estudios Especiales Carlos Finlay, 1946. Biblioteca del Instituto Nacional

ciertas zonas del valle del Magdalena),

d) Estudios de laboratorio y sobre el terreno de otras enfermedades virales trasmitidas por artrópodo (arhorvirus) (Gast-Galvis, 1961, p. 44).

Com a campanha mundial contra o Aedes Aegypi organizada pela OMS, o Instituto foi o responsável por administrar a campanha na Colômbia. Durante os anos de 1952 a 1956, a administração do Instituto passo ao Servicio Cooperativo InterAmericano (Gast-Galvis, 1961, p. 45). Em 1961, houve a fusão do Instituto Finlay com o Instituto Nacional de Higiene Samper Martínez e com o Parque de Vacunación, para constituir o que atualmente se conhece como lnstituto Nacional de Salud192 (Groot, 1999, p. 271).

6.4 Administração e pessoal do laboratório da

Sección

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