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O laboratório é um espaço didático destinado, no ensino de Ciências/Biologia, a diversas finalidades. Como aponta Krasilchik (2004), ele pode despertar o interesse pela Ciência, envolver os estudantes em investigações, na resolução de problemas, na compreensão de conceitos e no desenvolvimento de habilidade dos estudantes, seja na Educação Superior ou na Educação Básica.

No entanto, antes de descrevermos algumas reflexões sobre o Laboratório de Ciências/Biologia, faz-se necessário definir algumas terminologias utilizadas em muitos trabalhos na área, como Laboratório de Ensino/Didático, Laboratório de Ciências e Laboratório de Biologia.

Laboratório é uma sala ou espaço físico devidamente equipado com instrumentos de medida próprios para a realização de experimentos e pesquisas científicas diversas, dependendo do ramo da ciência para o qual foi planejado (AURÉLIO, 2018).

Laboratório de Ensino/Didático é destinado ao desenvolvimento de atividades

acadêmicas de professores e estudantes da Educação Superior (BARBIERI, 2002). Nesse espaço podem ser realizadas pesquisas acadêmicas, oficinas e cursos, acompanhamento de aulas, monitorias, dentre outros. Para isso, esses laboratórios possuem materiais que aproximam o licenciando para a Educação Básica e que podem oportunizar aos estudantes o contato com materiais pedagógicos, a confecção de recursos didáticos e a vivência de atividades práticas para o ensino de Ciências Naturais e Biologia.

O laboratório didático ajuda na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade, já que permite desenvolver vários campos, testar e comprovar diversos conceitos, favorecendo a capacidade de abstração do aluno. Além disso, auxilia na resolução de situações-problema do cotidiano, permite a construção de conhecimentos e a reflexão sobre diversos aspectos, levando-o a fazer inter-relações. Isso o capacita a desenvolver as competências, as atitudes e os valores que proporcionam maior conhecimento e destaque no cenário sociocultural (CRUZ, 2009, p. 22).

Neste contexto, o Laboratório de Ensino/Didático pode facilitar a aproximação dos conteúdos de Biologia ensinados na escola formal e os conhecimentos adquiridos através do cotidiano dos estudantes. Isso pode contribuir para uma mudança da percepção pelos estudantes da significação que a Biologia tem em suas vidas e sua prática pedagógica.

Brodin (1978, p.10) destaca que o laboratório “[...] é o elo que falta entre o mundo abstrato dos pensamentos e ideias e o mundo concreto das realidades físicas. O papel do laboratório é, portanto, o de conectar dois mundos, o da teoria e o da prática”. O autor nos remete a identificar o laboratório como espaço no qual é possível atribuir significados e potencializar o conhecimento teórico e ajudar na formação o futuro professor.

Acredita-se, também, que o Laboratório de Ensino pode propiciar, dentre outras coisas, uma melhor relação interpessoal professor-estudante, gerando um ambiente mais interativo caracterizado por uma maior dinâmica do ensino, maior afetividade, motivação, participação, interação social e respeito pelos colegas, tornando mais contextualizados o ensino e a aprendizagem de Ciências e Biologia.

Laboratório de Ciências, conhecido também como Laboratório de Ciências da

Natureza, geralmente envolve atividades relacionadas às disciplinas de Física, Química e Biologia, e tem como finalidade propiciar a construção de conhecimento de fenômenos naturais, sua origem, mediante a observação e formulação de hipóteses que expliquem o observado.

Dentro desse conceito amplo, a experimentação ganha papel de destaque e é, geralmente, por meio dela que acontece sua utilização. Assim, o laboratório é o lugar da experimentação. Esse conceito pode ser encontrado na visão de autores como Cruz (2009) e Paraná (2013). Em relação à sua aplicabilidade no ensino, Paraná (2013, p. 10) declara:

Quanto aos aspectos pedagógicos associados às atividades experimentais realizadas no laboratório escolar de Ciências da Natureza, vários pontos suscitam questionamentos e discussões, como aos relacionados à concepção de ensino, à natureza da Ciência ou ao método científico. Estas questões são abordadas nas Diretrizes Curriculares Estaduais das disciplinas de Biologia, Ciências, Química e Física [...]

É um ambiente com atividades práticas onde conceitos científicos podem ser testados, argumentados, compreendidos e ampliados. É uma forma dos estudantes começarem a ter contato com as Ciências, podendo interagir com os materiais da escola e com os outros sujeitos da escola.

[...] o experimento, por si só não garante a aprendizagem, pois não é suficiente para modificar a forma de pensar dos alunos, o que exige acompanhamento constante do professor, que devem pesquisar quais são as explicações apresentadas pelos alunos para os resultados encontrados e propor se necessário, uma nova situação de desafio.

Como já discutimos no capítulo anterior, não há dúvidas de que o Ensino das Ciências/Biologia precisa superar a “receita de bolo” e pode ocorrer de maneira integrada com as atividades de laboratório, pois sabemos que o experimento/aula prática pode ser a ferramenta mais adequada à construção do conhecimento. O investimento em tempo e energia, o custo de se providenciar espaço para laboratórios especializados, equipamentos e materiais de consumo são totalmente justificados quando observamos a importância do trabalho científico e os bons resultados que são construídos e, muitas vezes, apresentados em Feiras de Ciências.

No entanto, devemos ter uma interpretação mais ampla do trabalho prático que não pode estar limitado ao estudo no laboratório, pois a possibilidade de melhorias do ensino por meio da experimentação significa não só uma ruptura com as metodologias “tradicionais”, como também uma estratégia para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro (MARANDINO et al., 2009).

Segundo Cruz (2009), o trabalho no laboratório pode ser desenvolvido visando vários objetivos, dentre eles: demonstrar um fenômeno; ilustrar um princípio teórico; coletar dados; testar uma hipótese; desenvolver habilidades básicas de observação ou medida; propiciar a familiarização com os instrumentos; propiciar experiências com a luz e o som, e conhecer os hábitos alimentares e o modo de vida de determinadas espécies. Nesse sentido:

As atividades práticas desenvolvidas como investigação podem aproximar o ensino de Ciências do trabalho científico, integrando, além da parte experimental, outros aspectos próprios das ciências, em que teoria e prática constituem algo que se complementa (MORAES, 2000, p. 205).

Há uma infinidade de ações e procedimentos a serem desenvolvidos em um laboratório, não apenas a observação em microscópios ou a mistura de reagentes químicos, mas para isso é necessário que o professor oportunize o uso e a troca de experiências.

Laboratório de Biologia, no entendimento de Cruz (2009), se diferencia do

Laboratório de Ciências quanto aos seus objetivos: a Ciência é um conceito amplo, enquanto a Biologia se restringe ao conhecimento ligado à vida em todas as suas dimensões.

O ensino de biologia deve garantir ao aluno o acesso e a compreensão que leva ao conhecimento biológico, graças à utilização dos métodos de investigação, especialmente os de caráter científico, e à análise dos aspectos sociais, políticos e econômicos envolvidos na produção, na divulgação e na aplicação de tais

conhecimentos. Dessa maneira, espera-se que o aluno possa assumir uma postura mais crítica e transformadora do mundo (CRUZ, 2009, p. 51).

O professor que desenvolve aulas em laboratórios deve lembrar que o ambiente em que os estudantes realizam as atividades oferece elementos sobre o tipo de proposta praticada nos processos de ensino e de aprendizagem (KRASILCHIK, 1987; WEISSMANN, 1998). Esses autores dizem que ambientes com carteiras e mesas fixas voltadas para a mesa do professor propiciam o trabalho individual baseado na transmissão de informações no sentido professor-estudantes.

Em contraposição ao modelo tradicional, no laboratório de Biologia, como em qualquer outro, o professor pode não ocupar uma posição dominante no conjunto formado por mesas e carteiras móveis que podem ser combinadas de várias formas adequadas ao trabalho individual ou em grupo mostrando, assim, uma proposta didática diferente que estimula as interações professor-estudante e estudante-estudante.

Krasilchik (2004) se refere às aulas práticas como aquelas que permitem aos estudantes terem contato direto com os fenômenos, manipulando os materiais e equipamentos e observando organismos, em geral envolvendo a experimentação. Ou seja, essas aulas possuem atividades práticas e o Laboratório de Biologia pode apresentar diversos equipamentos para observação e análise de material biológico, como microrganismos, células, tecidos e outras estruturas animais e vegetais, além de modelos de estruturas biológicas.

O ensino de Biologia deve garantir ao estudante o acesso e a compreensão que leva ao conhecimento biológico graças a utilização dos métodos de investigação, especialmente os de caráter científico, e a análise dos aspectos sociais, políticos e econômicos envolvidos na produção, divulgação e aplicação de tais conhecimentos. Dessa maneira, espera-se que o estudante possa assumir uma postura mais crítica e transformadora do mundo. Segundo Krasilchik (2004), a chance da aula prática incentivar a criatividade do estudante muitas vezes é perdida quando a aula é organizada de modo que o estudante siga instruções detalhadas para encontrar as respostas certas e não para resolver problemas, reduzindo o trabalho de laboratório a uma simples atividade manual e/ou transcrição do livro didático.

Nesse sentido é preciso, portanto, selecionar conteúdos e escolher metodologias coerentes com nossas intenções educativas. Usando da interdisciplinaridade, relacionar o conhecimento das diversas disciplinas para o entendimento de fatos ou processos biológicos. Nesse espaço, podemos descrever os processos e características do ambiente ou de seres vivos observados em microscópio ou a olho nu e, assim, surgem algumas inquietações, entre elas:

será possível realizar experimentos dentro do campo do ensino de Biologia nos Laboratórios de ensino básico?

Cabe ao estudante e professor trabalharem de forma integrada para que o universo a ser explorado, no ensino de Biologia, seja mais instigante, pois podemos pesquisar plantas, animais e analisar os sistemas, os órgãos e os tecidos até chegarmos ao interior das células, além de outras experiências para enriquecer as aprendizagens na área. Portanto, é possível, sim, a experimentação no ensino de Biologia por intermédio da utilização do laboratório.