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5.1 A ESCOLA PÚBLICA VISTA PELO VIÉS DO ENSINO DE QUÍMICA

5.1.2 Laboratório de química

Essa subcategoria é de importância capital para o ensino da Química porque é também no Laboratório de Química (LQ) que é possível estabelecer a transição e a relação entre os três níveis de representação. Em especial, o nível macroscópico pode ser explorado facilmente, o que não ocorre numa sala de aula. A combustão, por exemplo, pode ser facilmente visualizada no LQ, considerando existir toda uma estrutura que permite a reconstrução de evidências com toda segurança para os professores e estudantes.

A estrutura física do LQ já foi descrita no item 4.4 e, na opinião dos professores participantes da pesquisa, o laboratório é grande e devidamente equipado com uma quantidade suficiente de reagentes. O professor Beta diz que é bom levar os estudantes para o LQ, porque lá eles conseguem visualizar os fenômenos químicos e ressalta que não é mais trabalhoso promover aulas práticas66, é apenas necessário mais tempo para poder alinhar aulas teóricas e práticas.

Entretanto, para o professor Gama, não tem como interagir com 35 estudantes (as turmas têm em média essa quantidade de estudantes) no LQ, mas seria viável com a metade da turma, ou seja, com 17 estudantes. Contudo, como isso não é possível, quando leva os estudantes para o LQ, faz aulas demonstrativas. Gama menciona algumas deficiências relacionadas à falta de inspeção no LQ e aponta a necessidade de ter um auxiliar de laboratório para otimizar o tempo.

Já o professor Alfa relata que a estrutura física do LQ era excelente, mas, como a escola tem 45 anos de existência, e os encanamentos de água e gás nunca foram substituídos, há agora a necessidade de inspeção e manutenção. Além disso, ele afirma que, conforme a nova legislação, as escolas necessitam de uma autorização da Prefeitura Municipal para que o

LQ esteja apto a ceder aulas práticas, isso devido à legislação ligada ao meio ambiente, mais especificamente para controlar o descarte de resíduos químicos. Cabe ressaltar que a escola ainda não tem essa autorização.

Nesse sentido, o professor Alfa diz que o LQ é usado esporadicamente para fazer o básico da Química, como reações químicas, preparo de soluções, titulações e determinação do pH67. E o uso do LQ se resume a isso, em média os estudantes utilizam-no duas ou três vezes ao ano. Lamentavelmente, a baixa incidência de aulas práticas no ensino de Química não é novidade, Axt (1991) já alertara sobre a ausência de experimentação nas escolas da rede pública, mesmo sendo a Química uma ciência de natureza experimental.

Num estudo recente foi destacada a importância da correlação entre aulas teóricas e práticas como um meio de potencializar o ensino de Química. Pauletti frisa:

A aula prática consiste no manuseio e na transformação de substâncias no laboratório da escola, isso em nível macroscópico, isto é, visível. Já a teoria para o ensino da Química compõe-se de nível microscópico, ou seja, é o estudo da matéria e suas transformações em estado não observável. Fica evidente que a ciência é uma troca irredutível entre a teoria e a prática, e com isso a separação de ambas não é possível nem desejável quando se deseja promover o ensino de Química (2012, p. 99).

A comunhão entre aulas teóricas e práticas poderia ser um meio de diluir uma dificuldade que Pozo e Crespo (2009, p. 144) consideram um sério impeditivo para a aprendizagem em Química, a saber, a natureza corpuscular da matéria e a conservação de suas propriedades: “[...] é necessário compreender a conservação de propriedades não observáveis da matéria e concebê-la como um complexo sistema em equilíbrio”. A realização de aulas práticas no LQ também vem sendo apontada como um meio de envolver os estudantes com suas aprendizagens e despertar maior interesse e motivação. Para Romanelli e Justi (1997), as aulas experimentais podem despertar o estudante para o descobrimento da Química por meio de atividades que mantenham uma relação constante com fenômenos corriqueiros. Oliveira, Filho e Andrade (2011), a partir da perspectiva de estudantes que haviam participado de uma aula experimental, constataram que as aulas práticas costumam ser mais atraentes e motivadoras (se comparadas a aulas teóricas) em função do experimento de laboratório ser um instrumento motivador.

Em um estudo recente, foi apontada (mais uma vez) a relevância da motivação para melhorar o processo de aprendizagem em Química. A motivação influencia diretamente o

67 O pH é uma grandeza empregada na Química para indicar a acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma

envolvimento do estudante nas atividades propostas pelo professor, ou seja, a motivação favorece determinadas escolhas e melhora o avanço do estudante nas atividades ou desafios que são propostos (SCHVANTES; PAULETTI, 2012). Com isso, o maior ganho de trabalhar no LQ é o caráter motivacional da experimentação (OLIVEIRA; FILHO; ANDRADE, 2011).

Dessa forma, duas variáveis se sobressaem na experimentação para o ensino de Química. Na primeira, a visualização de um fenômeno químico a olho nu pode facilitar a aprendizagem ou compreensão do fenômeno estudado de um ponto de vista macroscópico. Na segunda, de caráter mais subjetivo, a motivação derivada da visualização do experimento pode despertar o estudante, comprometendo-o ainda mais com sua aprendizagem. Um estudo realizado por Santos e Schnetzler (1996) com professores de Química obteve como principal resultado a importância da inclusão da experimentação, a fim de legitimar o caráter investigativo dessa ciência e a própria função pedagógica que desempenha no auxílio ao estudante na compreensão dos fenômenos químicos.

Em virtude dessas considerações, julgamos relevante uma abordagem em que coexistam aulas teóricas e práticas como meio de promover a compreensão dos conteúdos químicos, pois, como Giordan (1999) assinala, essa pode ser uma forma dinâmica para tornar o próprio ensino de Química mais atraente. Esse ensino deve despertar o interesse dos estudantes, deve ser motivador, lúdico e inicialmente ligado aos sentidos. Deveríamos nos tornar protagonistas de um ensino que privilegie a fusão de aulas teóricas e práticas para a potencialização do processo de ensino e de aprendizagem em Química, promovendo assim a transição entre os três níveis essenciais para a compreensão do conhecimento químico.

5.2 AS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE OS NÍVEIS DE