• Nenhum resultado encontrado

Imagens com Atividades

Editor 2: Lafayette Megale (editor de História da Atual-Saraiva).

1. Há quanto tempo você trabalha no setor de editoração de livros didáticos? Desde 1971, com curtas interrupções:

71-72 – Abril na Divisão de Educação 73-75 – Editora FTD

75-79 – apenas como autor de livros de Inglês e Português 80-2010 – Editora FTD

2010 – Contrato de um ano para projeto de regionais na Ed. Moderna 2011-hoje – Editora Atual/Saraiva

2. Quais as principais mudanças que o PNLD representou para o livro didático de História para o Ensino Médio:

É bom frisar que o PNLD não criou regulamentos ou normas, fez, ao contrário, grandes exigências no que se refere a conceitos, a processo histórico, a atividades que, não se propondo apenas cobrar o exposto, leve a classe à análise dos acontecimentos históricos. Insiste muito ainda nos seguintes tópicos: o recurso a fontes primárias, o estudo de documentos e imagens, às relações entre passado e presente, à interdisciplinaridade ao longo das narrativas históricas, à seleção de conteúdos, à inclusão de temas antes tratados apenas ocasionalmente, como indígenas, negros, afrodescendentes, história da África e da Ásia, presença feminina ao longo da História nas diversas civilizações. São enormes ainda, as exigências na confecção do Manual para uso exclusivo do Professor. Deve orientá-lo detalhadamente no uso do livro, com oferta de recursos opcionais, fundamentos teóricos, textos complementares, respostas das atividades, e vários outros apoios a seu trabalho na adoção da obra.

Para seguir esses parâmetros, autores e editoras passaram a selecionar melhor os conteúdos, a desenvolvê-los dentro dessa visão, a se distanciar do simples factual, a levar o aluno à reflexão mais que à pura informação enciclopédica... e a trabalhá-los num visual que atraia os alunos.

Ficam assim prejudicadas as respostas que seriam dadas a cada tópico a seguir, pedidos na pesquisa:

Na diagramação;

No miolo do texto;

Nos boxes;

Nas atividades com imagem;

Nas atividades com texto.

3. Qual o impacto que o PNLD representou para a publicação de livros paradidáticos de História do Ensino Médio?

Ultrapassar o campo da informação pura e simples, que exigiria mera memorização dos fatos marcantes é um mandato que dá trabalho para ser cumprido. Em consequência disso, o peso que passou, nos editoriais, a ser dado às análises dos textos autorais, a seleção das imagens que complementem o conteúdo e o constituam como textos que são, a criação de mapas que elucidem a marcha dos processos históricos na formação das nações atuais e a muitos outros detalhes são fatores que causaram grande impacto no trabalho das numerosas equipes que passam meses, quando não anos, na produção detalhada dos livros didáticos.

A meu ver, o peso que se deu em anos anteriores a um grande número de PARADIDÁTICOS de História se voltou para o didático em si mesmo, incorporando a ele o que antes se encontrava no paradidático. Note que, em geral, os paradidáticos de História eram como que monografias ilustradas, com conteúdo apresentado de modo mais atraente, às vezes até lúdico, de temas selecionados da disciplina.

4. Quem escolhe as imagens e os textos dos boxes no livro didático?

Raramente o autor se responsabiliza pelas imagens. Algumas são sugeridas por ele. A maioria das editoras tem um setor específico – a Iconografia – que se encarrega dessa seleção que é submetida ao editor e ao autor para aplicação na obra. As editoras se

responsabilizam pela escolha final e pelo aluguel, encomenda, compra e autorização de uso de todas as imagens.

Os boxes, em princípio, são componentes do conteúdo e deveriam ser sempre apresentados pelo autor. Mas o editor colabora muito com o autor no texto-base, nos boxes e nas atividades propostas aos alunos.

5. Houve mudanças no livro didático de História para o Ensino Médio, do PNLD de 2007 para o de 2011?

A editora procura aprimorar as obras a cada PNLD, mesmo que o MEC não faça novas imposições. Há muitas pesquisas historiográficas, releituras das interpretações dos fatos, novos recursos visuais que são implantados sempre que os novos textos comportam mais que o tradicional.

6. É possível estabelecer uma relação do crescimento editorial didático com a maior universalização do PNLD? E as editoras estrangeiras, também entram nessa relação?

Crescimento quantitativo é inegável. Crescimento econômico- financeiro não devido ao gap existente entre os investimentos de cada PNLD e o retorno pago pelo MEC.

Não tenho informações sobre as estrangeiras. Não considero mais Leya, Moderna, SM como estrangeiras. Diria que são multinacionais com filiais no Brasil. Reservo pessoalmente, até que se implantem de modo mais independente, essa qualificação para editoras como Longman, Oxford, Macmillan...

7. Recursos de multimídia, som, imagem etc. podem comprometer a sobrevivência do livro didático?

Não vejo assim. Haverá, mas talvez um pouco mais tarde do que se pensa, um acréscimo sem substituição total, uma superposição desses recursos ao livro impresso. Mas enquanto houver escola, será necessário um MATERIAL DIDÁTICO EDITADO, impresso ou multimídia, não interessa. Esse material sujeito sempre a uma edição e

utilizado pelo professor em sala de aula, é que faz com que perdure o livro didático seja qual for o formato em que ele se apresente.

8. A sua editora investe nessas mídias? Cite alguns exemplos. Não há necessidade de exemplos.

Em todas as editoras, é cada ano mais raro o livro impresso que não é acompanhado de texto legível em tablets, computadores, e outros gadgets. Por enquanto o e-book tem pouquíssima diferença com o livro impresso. Não está longe o dia em que ele incorporará muitos recursos disponíveis e de ampla utilização dos jovens para outros fins, distanciando-se aos poucos como um veículo de conhecimento com vida própria, desligada do material impresso que cumprirá outros objetivos.

9. Recentemente, o ministério da educação voltou a criticar a extensão de conteúdo das disciplinas para o Ensino Médio, defendendo a condensação das mesmas em áreas para promover, entre outras questões, uma maior interdisciplinaridade. Qual a posição da editora sobre isso?

Concordamos que há exagero. Talvez sejamos o país com currículos mais abrangentes e com maior número de capítulos até dispensáveis em várias disciplinas. Não será fácil mudar essa realidade, mas não é impossível. Teríamos de começar por experiências em escolas que tenham um corpo docente disposto a sair de seus feudos e se unir, efetuando a convergência de conteúdos e vivências. Do mesmo modo como foi possível reunir esses dois elementos no ENEM, será possível unir o leque das disciplinas afins na hora de ensiná-las. O PROGRAMA ENSINO MÉDIO INOVADOR-DOCUMENTO ORIENTADOR foi criado nessa linha. A ver como reagirão a Academia e as escolas. A universidade orientará seus cursos de modo a preparar professores para aplicá-la? Os professores em exercício sacrificariam sua habitual autonomia para trabalhar em equipe? Caberá às editoras responder com novos materiais adequados às mudanças quando sentirem “firmeza” nesses novos rumos. Não dá para trabalhar separadamente quando o objetivo é unir: universidade, professores atuais, órgãos de governo federal e estadual, autores e editoras.

O exagero na extensão do conteúdo de nossos currículos (sic) e livros didáticos está sendo enfrentado com dois recursos:

a) A integração das ciências que pertencem à mesma área, algo difícil de realizar tanto no material de ensino como na prática escolar, uma vez que a formação dos professores e a realidade da sala de aula não estão estruturadas para essa confluência, como comentamos acima.

b) A redução de páginas dos livros de cada disciplina de modo a compatibilizar os conteúdos com o tempo letivo. A redução de páginas para algumas disciplinas não é obrigatoriamente a redução de conteúdo. Trata-se, sim, da adequação do volume de conteúdo que compõe cada obra ao tempo dedicado à disciplina na grade escolar. É impraticável a aquisição de grandes tratados para disciplinas com apenas duas ou três aulinhas por semana. Mesmo com a redução, com minha prática escolar, percebo que os livros ainda continuarão muito volumosos para professores que os utilizarem página a páginas nas poucas aulas reservadas à sua disciplina. Muito depende do tipo de uso que o professor faz do livro, às vezes se escravizando a ele e não se servindo dele dentro dos limites impostos pela realidade de sua classe. Por exemplo, solicitando apenas a leitura em casa de partes do livro, com explanação rápida em classe para enfatizar o que ele selecionou como essencial.

10. Supondo essa condensação em áreas, você acha que existem disciplinas com mais facilidade de transitar com as demais, para promover um aprendizado interdisciplinar? Quais seriam?

O saber de cada um de nós é, a meu ver, monobloco. Todo conhecimento faz a gente crescer, se soma ao que já temos, se aglutina a ele, forma uma simbiose em nosso cérebro. Nós convivemos com nossos repertórios e não os desconexamos como se fossem livros distintos numa prateleira. Não somos arquivo morto de documentos avulsos. Tudo é interdisciplinar, mesmo que o conteúdo, o objeto específico de estudo de cada ciência e seu método de domínio

sejam próprios a cada área do saber. As áreas são múltiplas. Mas elas se somam, se “entreesclarecem” e juntas formam nosso acervo cultural pessoal. Ao perpassar por elas, a mente do “conhecedor de todas elas” permanece única e as soma, fazendo de cada um, em certo grau, uma pessoa mais ou menos culta, mais ou menos informada sobre todos os objetos de estudo, até atingir o saber, a sabedoria, o entendimento do universal, objetivo último do esforço que fazemos para compreender o mundo estudando-o por intermédio de várias ciências.

Respondendo burocraticamente: O MEC indicou elos interdisciplinares entre as ciências ao ajuntá-las no Ensino Médio em três grandes áreas. Em cada área se encontram as disciplinas que teriam mais facilidade de intercâmbio interdisciplinar. Sem mistério.