• Nenhum resultado encontrado

ARTICLE II. Each state retains its sovereignty, freedom and

Artículo 3.- Las autoridades que ejercen el Gobierno federal residen

en la Ciudad de Buenos Aires, que se declara Capital de la Confederación por una ley especial160.

O lugar da soberania foi finalmente imputado à nação e o estado argentino pôde começar a se constituir efetivamente e a partir de um governo central que, nesse processo mesmo de consolidação, tendeu desde logo a considerar as experiências federalistas anteriores ao estado nacional como movimentos separatistas, usurpadores de um poder soberano em Buenos Aires, existente desde 1810. As províncias confederadas, portanto, foram vistas desde então como parte de uma nação preexistente e não como estados soberanos que eram. A forma como essas unidades confederadas admitiram a criação de um estado central soberano só pode ser compreendida por uma mudança de orientação política que quarenta anos de luta política e militar acabaram por determinar.

Assim, o que foi designado como federação na Argentina no início do século XIX estaria muito mais próximo dos artigos de Confederação norte-americana do que da Constituição federal, de 1787. A inadequação desta forma de organização para a consolidação de uma nação norteamericana foi percebida e substituída por uma forma federal que desse conta de criar um Estado nacional unido e forte. A mesma mudança pode ser observada no percurso que se fez entre as Provincías Unidas e a nação Argentina.

O leque de possibilidades políticas, aberto pela transferência da soberania aos povos no Rio da Prata tornou esse espaço um campo empírico de experimentação de novas fórmulas institucionais e políticas. Tornou-o espaço concreto “para novas e inesperadas experiências, através das quais os homens iam construindo novos conceitos,

vocábulos e soluções voltadas para as situações então vivenciadas”161. A luta para determinar o lócus de poder, ou seja, definir de onde, de fato, emanava a soberania nos territórios independentes caracteriza os rumos tomados no processo de conformação dos Estados nacionais. Sem a compreensão da constituição dessa nova forma política, ou mesmo cultura política, é impossível entender porque após a vitória dos projetos centralizadores e unificadores, ainda não se pôde visualizar nações consolidadas e unificadas. O problema, para François-Xavier Guerra, coerente com a tese de Chiaramonte que vimos no primeiro capítulo, se traduz da seguinte forma:

(…) a la independencia de la América hipánica, como a la de las 13 colonias británicas unas décadas antes, no puede aplicarse el esquema de las nacionalidades (...) De ahí surge buena parte de las incertitumbres de los nacientes Estados hispanoamericanos: ¿sobre qué identidades colectivas apoyarse para fundar la nación?162.

Dessa ausência de uma nacionalidade anterior ao Estado na América, decorre também a importância das chamadas narrativas fundacionais, que surgiram com força na América durante todo o século XIX e que buscaram a partir das diferenças culturais, geográficas, econômicas e sociais internas àquelas sociedades e a partir da história, construir uma linha comum entre corpos políticos que parecem tão distintos. Essas narrativas buscaram enquadrar em uma história nacional comum os processos que levaram a guerras civis que se deram justamente em torno da disputa por poder interno. A formação desses estados nacionais, que se mostram consolidados apenas após a segunda metade do século XIX, nos demonstra não apenas que ainda há muito para ser esmiuçado, mas também a importância de pensarmos os discursos e seus conceitos e os embates vividos nas últimas décadas do século XVIII e inicio do XIX163. Nos demonstra como, a partir de uma escrita baseada em diagnósticos dos problemas relacionados à construção nacional e a busca por soluções para estes problemas, essas narrativas trilharam um pathway rumo a uma história unificada. A mudança nos rumos políticos e a vitória dos projetos nacionais unificadores foram a base para a produção de narrativas do tipo “ficções-diretrizes” nas quais a nação é concebida a partir de um projeto político específico em que todo o espaço nacional foi colocado sob um mesmo

161 GOUVÊA, 1997, p.01 162 GUERRA, 2003b, p.187 163 NETO, 2006, p.190

escopo político. Assim, diante das importantes diferenças internas, “naturais” ou não, as áreas consideradas marginais ao projeto nacional, como o oeste americano ou o “deserto” argentino, foram inseridas em uma história nacional. Os autores aqui analisados, Domingo F. Sarmiento e Frederick Jackson Turner, produzem, portanto, narrativas atreladas a projetos nacionais específicos, mas não podem ser considerados baluartes da construção nacional. Suas narrativas inserem-se em um contexto e perspectiva muito particulares e estavam longe de serem unanimidade. Pelo contrário, como veremos no próximo capítulo, são narrativas que, apesar de buscarem elementos de unidade para os espaços nacionais foram extremamente excludentes, principalmente no que se refere hoje ao que chamaríamos de “minorias”, como as populações indígenas e defensores do avanço de uma suposta “civilização”, notadamente branca, urbana e masculina.

A solução federativa encontrada nos Estados Unidos e na Argentina foi uma solução empírica para resolver questões relativas à definição do alcance do estado. Essa solução, a da coexistência das soberanias estatais (ou provinciais) e a soberania nacional em oposição às primeiras tentativas confederais, torna possível então uma comparação entre Argentina e Estados Unidos, na qual Chiaramonte afirma haver muita analogia, mas não identidade. Para ele, o pacto entre as partes contratantes era a base dessas confederações, compostas por entidades jurídicas que, portanto, tinham poder e capacidade de se obrigarem e delegarem voluntariamente a uma autoridade comum, ou seja, a um Estado nacional. Essa capacidade, baseada no direito natural e das gentes e no princípio do consentimento permitiu a essas unidades políticas imporem e optarem por fazer parte de um corpo político mais amplo, levando-os, em um primeiro momento a optarem pelas soluções federais ou confederais como forma de se alcançar as liberdades e exercer a soberania a que tinham direito. Isso, da mesma forma que puderam, a partir dessa mesma soberania, delegar parte dela ao Estado nacional, aceitando-a finalmente como uma fonte legítima de poder. Ainda assim, após o pacto firmado, restava o problema de inserir em um mesmo escopo político, cultural e histórico unidades antes separadas, inserir áreas consideradas “marginais” a esse projeto centralizador, numa mesma história.