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Ao se fazer uma comparação da END com o LBDN, observa-se um caráter complementar entre os dois documentos.

A END trata de questões políticas e institucionais decisivas para a defesa do País, como os objetivos da sua grande estratégia e os meios para fazer com que a Nação participe da Defesa. Além disso, aborda problemas propriamente militares, derivados da influência dessa grande estratégia na orientação e nas práticas operacionais das três Forças (BRASIL, 2008).

O LBDN procura explicar de forma clara todo o arcabouço conceitual (administração, ciência e tecnologia, política de recursos humanos, política de ensino, orçamento, logística dentre outros) e legal que posiciona a Defesa em um contexto mais amplo do Estado brasileiro (JOBIM, 2011 apud CASTANHEIRO, 2011).

O LBDN por ser um documento aberto é, sobretudo, um instrumento que visa a conferir transparência à política de defesa do nosso país. Resultado de amplo debate, promovido pelo MD, entre diferentes setores da sociedade, o LBDN deve ser de conhecimento de todos os brasileiros (JOBIM, 2011 apud CASTANHEIRO, 2011).

No que se refere ao Exército Brasileiro, tanto a END e suas Diretrizes quanto o LBDN explicitam a necessidade de que haja uma transformação na Força Terrestre capaz de fazer frente aos desafios do tempo moderno. Da análise dos dois documentos em questão, observa- se que existe uma série de pontos afetos ao Exército e que serão apresentados a seguir.

A END estabelece o setor cibernético como estratégico, elencando uma série de prioridades que visam fortalecê-lo para assegurar o atendimento do conceito de flexibilidade. Além disso, permitirá que o país não dependa de tecnologia estrangeira. No LBDN, a questão é tratada de forma sucinta e de forma ampla.

O Serviço Obrigatório Militar (SMO), na END, está inserido na necessidade do desenvolvimento do potencial, de mobilização militar e nacional de forma bem resumida. O tema também é tratado no LBDN, tendo em vista sua importância. No entanto, em face dos avanços tecnológicos, o LBDN não aborda como resolver a seguinte questão: o SMO é composto de, na sua maioria, jovens sem qualificação e a crescente complexidade tecnológica dos armamentos gera uma demanda cada vez maior sobre o pessoal militar, o que reflete a necessidade de as Forças Armadas serem compostas por homens e mulheres com alta qualificação educacional.

Ao falar da vigilância das fronteiras, a END estabelece que se tenha a capacidade de dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, o que requer um Exército pronto para combater. Além disso, este marco legal indica a obrigação de adensar a presença das Forças Armadas nas fronteiras e priorizar a Amazônia. A presença não significa onipresença, pois ganha efetividade em função da sua relação com monitoramento/controle e com mobilidade. O LBDN, por seu turno, apresenta, de forma mais concreta, as ações já relacionadas em relação a estes pontos, como o SISFRON (Programa Amazônia Protegida), bem como os prazos e orçamentos dos diversos projetos relacionados.

Na parte específica sobre o EB, o LBDN aborda vários aspectos e das diretrizes da END e que originaram a Estratégia Braço Forte do Exército. Portanto, conforme o LBDN, na elaboração da EBF, considerou-se as seguintes premissas estabelecidas na END (BRASIL, 2012a, pp. 122-123):

- o Exército será organizado sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença;

- deverá possuir mobilidade estratégica, para responder prontamente a qualquer ameaça ou agressão;

- deverá articular suas reservas estratégicas para permitir a rápida concentração e emprego de Forças;

- adensará a presença de suas unidades nas fronteiras;

- a Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa e deverá ser mantida em elevada prioridade para a articulação e o equipamento das tropas;

- deverá desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramento/controle, mobilidade e presença, o conceito de flexibilidade em combate; e

- deverá desenvolver o imperativo da elasticidade, que é a capacidade de aumentar rapidamente o dimensionamento de suas tropas.

Outro ponto de enlace entre a END e o LBDN e que impacta o EB é o processo de transformação do Exército, que demanda não só a compra de equipamentos como também a realização de projetos importantes e de quebra de paradigmas. O PAED representa a consolidação das demandas necessárias envolvendo inclusive previsão de para o atendimento da END.

O uso das Forças Armadas para as situações da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), prevista na END, é tratada LBDN de forma a ressaltar o caráter excepcional da medida e que normalmente, o emprego das Forças Armadas deve ocorrer em articulação com órgãos de segurança pública federais, estaduais e municipais.

Um dos pontos importantes no que tange a END e abordado pelo LBDN é a busca pela interoperabilidade entre as Forças. Tendo em vista que dentro de um Teatro de Operações (TO) coexistem várias Forças Componentes (Força Naval, Terrestre e Aérea) que compartilham os ambientes marítimo, terrestre e aéreo de modo coordenado, realizando ações para o cumprimento de uma determinada missão é imperioso que as Forças Armadas devem compartilhar espaços e realizar ações com objetivo único, o que requer um alto grau de interoperabilidade. O LBDN mostra um organograma das Forças no TO, indicando como é a estrutura que se deseja em caso de atuação militar.

A END cita diretamente o Projeto Calha Norte no contexto da promoção das ações na região Amazônica. O LBDN traz um enfoque sobre este e outros Programas como Soldado Cidadão e Projeto Rondon no sentido de que eles contribuem para que a sociedade civil participe dos assuntos de Defesa e Segurança. Estes programas são importantes, pois se constituindo em uma interface das Forças e do Exército com uma parcela da sociedade (normalmente jovens).

A END representou um grande avanço no trato do tema Defesa. Decorridos quatro anos, o LBDN expõe para a sociedade brasileira um documento que apresenta várias faces do tema Defesa do nosso país, retratando as demandas e necessidades das Forças para se alcançar os objetivos traçados pelo MD.

No que se refere ao Exército, tanto a END quanto o LBDN indicam a necessidade de transformação da Força Terrestre. O Exército Brasileiro, desde 2009, primeiramente por meio da EBF e depois por meio do Projeto de Transformação do Exército, elaborou o planejamento para a aquisição de novas capacidades e a adoção de novas estratégias que proporcionarão o salto estratégico necessário.

A expectativa gerada por todo esse processo de elaboração do LBDN revigorou, no âmbito não só do Exército, como nas demais Forças, a motivação pela transformação do instrumento militar, passando-o da era industrial para a era do conhecimento, com todas as consequências que advém desse processo. As transformações são fundamentais para adaptar a Defesa do país aos novos desafios e às incertezas do mundo contemporâneo.

5 IMPLICAÇÕES PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO

Neste capítulo serão apresentadas as implicações da END para o Exército Brasileiro. Em especial, serão detalhados e analisados os documentos relacionados ao EB decorrentes das diretrizes da END.

A aprovação da Estratégia Nacional de Defesa (END - 2008) estimulou novas abordagens e demandas sobre questões ligadas à Defesa. Este importante documento estabelece, dentre outras orientações, os princípios, os eixos estruturantes e as diretrizes, que norteiam o planejamento das Forças Armadas, no sentido de conceber novas formulações de articulação e equipamentos.

A partir da divulgação da END, em dezembro de 2008, o Comandante do Exército Brasileiro (EB) expediu, no início de 2009, diretrizes visando nortear os programas, projetos e processos do EB. Estas diretrizes buscam alinhar às ações do EB aos preceitos da END, explicitadas da seguinte forma:

“1. Identificação da alteração do conceito da dimensão e da importância do Exército para a nação;

2. Oportunidade para obtenção e alocação de recursos para prosseguimento de projetos relevantes;

3. Estabelecimento da possibilidade para uso de recursos advindos da exploração econômica de Bens da União para investimentos;

4. Reorganização espacial da distribuição das Organizações Militares no Território Nacional conforme diretrizes END;

5. Valorização da profissão militar perante a sociedade civil;

6. Estímulo à participação de integrantes oriundos de todas as classes e regiões nas Forças Armadas;

7. Alteração do processo de seleção do Serviço Militar, privilegiando a capacidade em detrimento do voluntariado;

8. Desenvolvimento prioritário da capacidade de atuação conjunta com as demais Forças;

9. Necessidade de desenvolver capacidade de elasticidade e de flexibilidade para a Força Terrestre;

10. Prioridade para a Região Amazônica;

11. Participação junto ao Ministério da Defesa (MD) para oferecer subsídios de Ciência e Tecnologia (C&T) para a Indústria Nacional de Defesa;

12. Realização de parcerias estratégicas com nações amigas; 13. Planejamento operacional conforme diretrizes da END;

14. Cooperação com o MD no planejamento da Estrutura do Serviço Militar e do Serviço Civil;

15. Adequação da estrutura de Ensino Militar às diretrizes da END; 16. Aquisição de produtos de defesa conforme orientado na END; e

17. Adequação da estrutura logística do Exército para atuar dentro das condicionantes da END” (BRASIL, 2009).

Em decorrência destas diretrizes, o Estado-Maior do Exército (EME) elaborou dois documentos: a Estratégia Braço Forte e o Processo de Transformação do Exército Brasileiro, sendo este último baseado nas transformações ocorridas nos Exércitos de outros países,

particularmente, os Exércitos da Espanha e o do Chile. A seguir, serão abordados estes dois documentos.