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3.3 A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA

3.3.5 O serviço militar obrigatório

A mobilização nacional, instituto presente na carta magna brasileira de 1988 e na LC Nº 11.631/2007, é um conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, complementando a logística nacional, para capacitar o País a realizar ações estratégicas no campo da defesa nacional, diante de agressão estrangeira.

Sendo assim, cabe ao Sistema Nacional de Mobilização - SINAMOB, composto por diversos órgãos e ministérios e tendo o Ministério da Defesa - MD como órgão central, atuar ordenada e integradamente no planejamento e na execução da mobilização e da desmobilização nacionais. Seu funcionamento ocorre desde o tempo de paz, quando, por meio de políticas e programas são realizadas as atividades de preparo visando à defesa nacional.

O texto na Constituição Federal de 1988 não é muito pródigo no tocante à Mobilização Nacional, pois limita-se a definir a atribuição de competência à União para legislar sobre a matéria (artigo 22, XXVIII) e a manutenção do Serviço Militar obrigatório (artigo 143).

Em relação ao SMO, não é de hoje que existe um debate sobre a validade de sua obrigatoriedade. O General Enzo Martins Peri, Comandante do EB, assim se expressou sobre os fins do Serviço Militar Obrigatório no Brasil:

“O recrutamento pelo serviço militar obrigatório é mais democrático, universal e, socialmente, mais justo e eqüitativo. Além disso, ajuda a moldar o caráter do cidadão e desenvolve o espírito da prevalência do coletivo sobre o individual, do cumprimento da missão, do serviço público, do dever para com a comunidade e do patriotismo” (NOTICIÁRIO DO EB nº 10.534, de 10 dezembro de 2008, p. 3)

Neste sentido, Leal (2008) observa que o SMO também é democrático, pois acolhe representantes de todos os estratos econômicos, políticos, sociais e raciais da população; está fundamentado em sólida e concatenada legislação e é operacionalizado por uma estrutura, com amplitude nacional, apoiada por meios informatizados, que tem se mostrado, ano após ano, capaz de processar os dados de expressivo contingente de brasileiros e selecionar o efetivo para atender às necessidades das Forças; homens que, depois de instruídos e adestrados, virão a constituir importante reserva mobilizável.

Leal (2008) observa que o SMO possui algumas vantagens, dentre elas:

- é altamente democrático, pois é dever e direito de todo cidadão brasileiro, sem qualquer distinção;

- o afluxo anual de um contingente de 50 a 70 mil jovens exige permanente preparação e atualização dos quadros das Forças encarregadas de sua formação e qualificação, tanto militar quanto profissional;

- renovação dos contingentes contribui para aumentar a identificação da Força Terrestre com a Nação e previne a segregação do estamento militar;

- é a alternativa de menor custo econômico, uma vez que o recruta percebe menores vencimentos, não é movimentado, não pode possuir dependente e não gera encargos previdenciários.

Verificando-se o que acontece em outros países, observa-se que dos 140 países com Forças Armadas organizadas, 83 adotam o sistema de conscrição obrigatória (LEAL, 2008).

Alsina Jr. (2010) observa que no presente, o SMO continua a ser a forma mais difundida de recrutamento. No entanto, especialmente nas nações desenvolvidas, existe uma tendência no sentido de profissionalizar este serviço, gerando o Serviço Militar Voluntário (SMV). Já nos países em desenvolvimento prevalece o SMO - concebido como alternativa menos onerosa à manutenção dos exércitos nacionais.

O discurso favorável à manutenção, ou mesmo ao aprofundamento, do SMO universal no Brasil tem no EB seu principal baluarte. Segundo Alsina Junior (2010), dada a falta de debate público sobre o tema, a perspectiva sustentada pela força terrestre é incorporada de modo acrítico pelas autoridades direta ou indiretamente responsáveis pela condução da política de defesa.

Alsina Junior (2010), ao criticar o SMO, observa que:

“[...] valeria fazer uma consideração de caráter genérico sobre as razões que mantêm o Brasil atolado no que se poderia chamar de círculo vicioso do subdesenvolvimento aplicado ao universo castrense. De maneira perfunctória, pode-se sustentar a existência de um sistema que se retroalimenta: a cultura particularista favorece a manutenção da forma de recrutamento atual, baseada no conceito napoleônico de

levée en masse, cuja origem data do final do século XVIII, que, a seu turno, torna

materialmente impraticável uma modernização abrangente da força terrestre, que, por sua vez, crescentemente se conforma em exercer funções assistencialistas/para policiais - em vista da aparente impossibilidade de o poder político incorporar o fortalecimento do poder militar nacional às suas prioridades efetivas” (ALSINA JR, 2010, p. 482).

O autor observa que deveria haver uma transição do presente sistema para um serviço militar misto, capaz de garantir a incorporação de recrutas de níveis educacional e cognitivo muito mais elevados do que os atuais (para assegurar a atuação do EB em um campo de batalha tecnologicamente avançado) e de permitir a necessária elasticidade da força terrestre em um (improvável) contexto de guerra de resistência na Região Amazônica. Além disso, deveria haver um mix de soldados profissionais e de recrutas, prevalecendo os profissionais. Os soldados voluntários seriam incorporados em todo o Brasil, à exceção da Amazônia, onde o SMO continuaria a existir em seus moldes atuais.

Segundo Alsina Jr. (2010, p. 488), “o aprofundamento do modelo do SMO brasileiro representa um dos pontos mais vulneráveis da END”. Além disso, o autor observa que há a necessidade de diminuição de efetivos, aumento dos gastos com equipamento, adestramento, P&D militar e mesmo com pessoal - tendo em vista a necessidade de melhorar substancialmente a remuneração dos soldados voluntários, de molde a atrair indivíduos de boa qualificação intelectual.

De fato, o EB necessita não só racionalizar seus recursos como também modernizar sua estrutura e processos na busca pela eficiência. Ao se analisar o EB percebe-se que existem aspectos que precisam ser corrigidos como: o emprego da unidade só após alguns meses de incorporação; maior desgaste do material em razão do manuseio, a cada ano, por elementos inexperientes; grandes contingentes, mas de reduzida eficiência; vulnerabilidade que ocorre na época de licenciamento.

O SMO é um ponto da END que realmente necessita ser repensado e que talvez, precise ser levado para discussão nacional. Uma opção seria realizar uma reforma radical neste serviço. No entanto, a quebra abrupta de certos paradigmas poderia gerar efeitos imprevisíveis. O ideal é que seja feita uma transformação gradativa, podendo-se iniciar as mudanças com o Serviço Militar Voluntariado em um grande Centro e verificar quais seriam as falhas e os acertos. Seria indicado que o SMO permanecesse na Amazônia em face do vazio demográfico e do número elevado de organizações militares.