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Capítulo II – Origens da estratégia de desenvolvimento rural da UE e evolução da abordagem

3) O LEADER em Portugal

No que toca à implementação do LEADER em Portugal, Lopes (2012) salienta que o programa foi apresentado numa fase de grandes expetativas de desenvolvimento económico e social, uma vez que o país tinha aderido recentemente à CEE e era particularmente esperada uma estratégia para as áreas rurais, visto que, conforme lembra o autor, as políticas de desenvolvimento dirigidas a esses territórios eram muito escassas. De acordo com Moreno (2007), o programa foi bem recebido pelo governo em geral, mas alguns responsáveis técnicos e

políticos (do Ministério do Planeamento, da Direção Geral do Desenvolvimento Regional e de algumas autarquias) mostraram desagrado, pela sua habituação à centralização dos poderes e ao modo de funcionamento a ela associado.

Salientemos que os GAL em Portugal corresponderam maioritariamente a ADL, como referido antes, com as entidades envolvidas a corresponderem sobretudo a “autarquias, associações profissionais ou recreativas” (Lopes, 2012: 43). De acordo com Moreno (2007), no LEADER I estava previsto que fossem apresentadas em Portugal 10 a 12 candidaturas a projetos de ação local; contudo verificaram-se 49, excedendo muito as expetativas. No entanto, segundo o mesmo autor, que refere o Relatório Final do PIC LEADER do extinto Instituto de Estruturas Agrárias e Desenvolvimento Rural, apenas 20 foram aprovados e reconhecidos como GAL, dada a limitação de recursos, que obrigou a adequar as estratégias e as delimitações dos territórios de intervenção propostos aos recursos disponíveis.

Conforme referem Diniz e Nogueira (2000), 19 dos 20 GAL concentravam-se em Portugal Continental (quatro em Entre Douro e Minho, três em Trás-os-Montes, quatro na Beira Litoral, três na Beira Interior, dois no Ribatejo e Oeste, dois no Alentejo e um no Algarve) e o restante na Região Autónoma da Madeira. Segundo Moreno (2007) os territórios abrangidos pelos GAL correspondiam a 37% do território nacional, totalizando 1293 freguesias, incluindo freguesias classificadas como mediamente urbanas e urbanas (o autor lembra que foram incluídas freguesias com estas classificações por haver porções das mesmas com caraterísticas rurais), abrangendo cerca de 14% da população do país. Diniz e Nogueira (2000) acrescentam que para Portugal estavam programados, para o LEADER I, cerca de 83,7 milhões de ECUs, tendo sido executados pouco mais de 86 milhões. Houve uma clara preferência pela Medida 3 do programa, designada por “Turismo em Espaço Rural”, com 57% do investimento realizado nesse âmbito. No total foram concretizados 2193 projetos, foram criados 2037 empregos e mantidos 1490 (Minha Terra, 2016).

Diniz e Nogueira (2000), mostram-nos que no LEADER II o número de GAL passou para 48, com a criação / reconhecimento de 28 novos, ou 29 segundo Moreno (2007), que contou com a substituição formal de um dos GAL do LEADER I que fracassou e não teve continuidade. Surgiram quatro em Entre Douro e Minho, três em Trás-os-Montes, cinco na Beira Litoral, três na Beira Interior, dois no Ribatejo e Oeste, quatro no Alentejo, um no Algarve, um na Madeira e quatro nos Açores, onde não havia nenhum (Diniz e Nogueira, 2000).

Ao mesmo tempo, o número de freguesias abrangidas passou para as 2914, um aumento de 125%, compreendendo a quase totalidade do território rural do país, e a população abrangida aumentou para os 32,6% do total nacional. Deste período de programação destacou- se a diminuição da aposta nos projetos de turismo, que passaram a representar apenas 26,5% do investimento previsto, pouco mais de metade do que havia ocorrido no LEADER I, tendo, por outro lado, crescido o investimento em “Outras medidas” (Moreno, 2007, usando unicamente dados referentes ao Continente). De acordo com a Federação Minha Terra (2016) foram investidos 218 milhões de euros, executados 6930 projetos (+216% face ao LEADER I), criados 3926 (+93%) postos de trabalho e 1133 (-24%) foram garantidos.

Em relação ao LEADER+, que sucedeu ao LEADER II, corresponderia à última fase do LEADER enquanto programa, terminando em 2006. O PIC dividia-se, nesta altura, em três vetores, “Estratégias territoriais de desenvolvimento rural, integradas e de carácter piloto”, “Apoio à cooperação entre territórios rurais” e Colocação em rede” (Lei n.º 109-A/2001 (1.ª Parte)). De acordo com Rover e Henriques (2006), o número de GAL reconhecidos em Portugal nesta fase ascendeu aos 52, com a criação de quatro novos, todos em Portugal Continental e na sua metade Sul, segundo a cartografia apresentada por Moreno (2007). O surgimento de três destes novos GAL deveu-se, sobretudo, a alterações / reajustes nos territórios de intervenção dos GAL já existentes no Sul do país, enquanto que o quarto restante correspondeu ao aparecimento de um GAL no território rural da Península de Setúbal, área geográfica até então à margem da iniciativa LEADER. Os territórios de intervenção dos 52 GAL passaram a abranger 87,5% do total do território nacional segundo a Federação Minha Terra (2016). A última fase do PIC LEADER terminou com 7101 projetos executados (+2%), 2549 empregos criados (-35%) e 5944 postos de trabalho mantidos (+425%), totalizando um investimento de 302 milhões de euros.

Em 2007-2013, com o LEADER enquanto abordagem e não programa autónomo, incluído nos PDR - PRODER, no caso do Continente, PRORURAL no caso da Região Autónoma dos Açores e PRODERAM, no caso da Região Autónoma da Madeira - o número de GAL reconhecidos em Portugal subiu para 53, passando os seus territórios de intervenção a abranger 91% do território nacional. De acordo com a Minha Terra (2016) o investimento de 820 milhões de euros permitiu o desenvolvimento de 6224 projetos (-12%), geradores de 7335 novos empregos (+188%). Segundo o Relatório de Encerramento do PRODER os 47 GAL reconhecidos em Portugal Continental, mais um que o pretendido, financiaram 4927 projetos, metade dos planeados, no âmbito das Ações incluídas nas Medidas 3.1 (“Diversificação da Economia e Criação de Emprego”) e 3.2 (“Melhoria da Qualidade de Vida”), incorporadas na

Medida 3.3 de “Implementação de Estratégias Locais de Desenvolvimento” pelos GAL, do Subprograma 3, designado por “Dinamização das Zonas Rurais”, envolvendo uma despesa pública total de cerca de 328,8 milhões de euros, 276,9 dos quais provenientes do FEADER, valores ligeiramente inferiores aos definidos como metas e resultando na criação de 4494 empregos, menos de metade dos pretendidos.

Em relação aos Açores, o Relatório de Execução do PRORURAL de 2015, que serve de Relatório de Encerramento mostrou que entre 2007 e 2015 a implementação das ELD pelos 4 GAL reconhecidos no arquipélago, no âmbito das submedidas 3.1 e 3.2, incorporadas na Medida 4.1 da Abordagem LEADER, designada “Execução de Estratégias Locais de Desenvolvimento” resultou em 465 projetos aprovados, envolvendo uma despesa pública de cerca de 19,4 milhões de euros, 16,5 dos quais apoiados através do FEADER, valores inferiores às metas estabelecidas, resultando em 174 empregos criados, bastante menos que os 300 a 450 pretendidos.

Já no caso da Madeira, de acordo com o Relatório de Execução de 2015, o último referente ao período 2007-2013, os 2 GAL reconhecidos no território da Região Autónoma apoiaram 167 projetos - através das Medidas LEADER 3.1 (“Diversificação das Economias Rurais”), 3.2 (“Serviços Básicos para a População Rural”) e 3.3 (“Conservação e Valorização do Património Rural”), incorporadas no Eixo 4 da “Abordagem LEADER”. Tratou-se de menos de um quarto da meta, envolvendo uma despesa pública de cerca de 8,2 milhões de euros, 7,8 dos quais provenientes do FEADER, e permitiram a criação de 58 empregos, menos de 20% dos que se pretendiam. De notar que estes valores oficiais dos relatórios dos três PDR totalizam valores distintos dos apresentados pela Minha Terra (2016). No atual período de programação estão reconhecidos em Portugal 60 GAL rurais, geridos por 58 ADL.