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2. MODELO DE GESTÃO DE EMPREENDIMENTO

3.7. Níveis de aplicação do IPD

3.7.3. Lean no IPD

O conceito de lean foi desenvolvido com base no Lean manufacturing (manufatura enxuta) (GAO; LOW, 2014a). É também designado sistema de produção da Toyota, conhecida como uma filosofia de gestão que procura potencializar a produção ao mesmo tempo que elimina desperdícios (GAO; LOW, 2014a). Na construção civil, o lean é mencionado pelo Lean

Construction Institute como uma abordagem nova de produção voltada à gestão de

empreendimentos complexos, incertos e rápidos (GAO; LOW, 2014a; RAHMAN et al., 2012). Nesse caso, o lean age de forma eficiente na produção, com ênfase na maior quantidade e qualidade, e menos tempo de produção, minimizando desperdícios de recursos e enaltecendo o valor do produto (BALLARD; HOWELL, 1998; KOSKELA et al., 2002).

A filosofia lean atendem cinco critérios que necessitam de uma comunicação aberta eficiente entre todas as partes interessadas (AZIZ, HAFEZ, 2013). Tais critérios são definidos como (AZIZ, HAFEZ, 2013; MOHAMMAD et al., 2016):

 Specify Value – atende a definição do que representa valor para o cliente para gerar produto consoante metas, como o caso de tempo, preço e qualidade.  Identify the value stream) – visa na otimização do processo, o fluxo do valor

representa todas as ações específicas e necessárias para desenvolver o produto, podendo ser um processo subdividido em design, planejamento e fabricação;

 Flow – atende a necessidade do mapeamento e otimização da cadeia de valor para reduzir desperdícios, e posteriormente implementar o planejado, de modo que haja retorno na eficiência tanto do serviço como o produto;

 Pull - desenvolvido para evitar desperdícios e maior logística na produção, neste caso evita-se que as atividades se iniciem sem a confirmação de que todos os pré-requisitos foram atendidos;

 Perfection – enaltece o atendimento das metas de acordo com as expetativas do proprietário.

Quando aplicado em empreendimentos, o lean causa mudanças na forma de produção a partir de técnicas inovadoras, o que resulta na colaboração e interação das equipes, e auxilia no cumprimento dos seus princípios (TOOLANEN, 2007). No entanto, o empreendimento com adoção do lean não se limita apenas no alcance das expetativas do cliente, mas também no entendimento do propósito e valor, e consequentemente as restrições que se conciliam com as alternativas apropriadas (SARKAR; MANGROLA, 2016). Assim, durante a produção do empreendimento com aplicação do lean há aprimoramento da colaboração entre as partes interessadas e promoção de melhorias contínuas (RAHMAN et al., 2012).

De certo que com a aplicação do lean ocorre um grande diferencial em relação à estrutura das fases do empreendimento, bem como na relação entre as partes interessadas quando comparado com processo de produção tradicional (BALLARD; HOWELL, 2003). Em geral, o lean causa mudanças de paradigma e enaltece maior esforço organizacional, tanto conceitual, quanto prático, e age a partir de resultados mais previsíveis, proporcionando novas oportunidades de melhorias da produção e desempenho das equipes (KOSKELA et al., 2002; SARKAR; MANGROLA, 2016).

O lean é geralmente vinculado ao IPD com atribuição de terminologias como Lean

Integrated Project Delivery ou Lean IPD, como forma de demonstrar a correlação da

implementação dos princípios do lean no IPD (PEASE, 2018). Neste contexto, observa-se que o lean é adequado para efetivar os princípios do IPD, para maximizar o valor da estrutura do contrato e para aplicação de uma nova filosofia focada em eficiência e confiabilidade (PEASE, 2018).

A incorporação do lean ao IPD supre a necessidade do domínio operacional que o sistema não apresenta (DARRINGTON et al., 2009). O lean requer uma cultura colaborativa

intensa e oferece flexibilidade adicional para o cliente na descentralização da tomada de decisões que pode facilitar a implementação de conceitos e comportamentos inovadores (SARKAR; MANGROLA, 2016; ASHCRAFT Jr., 2014). Além disso, por conter princípios inovadores, o lean torna o processo de produção diferenciado e procura satisfazer os requisitos específicos do cliente em relação ao produto (AZIZ; HAFEZ, 2013), e pode proporcionar um grande diferencial no fluxo e eficiência do trabalho por meio de um planejamento enriquecido pelas as necessidades do empreendimento e do cliente (ASHCRAFT Jr., 2014).

O Lean apresenta três domínios práticos bastante recomendados no IPD designados

last planner system, target value design, e set-based design (THOMSEN et al. 2009;

ALARCÓN; MESA; HOWELL, 2013). Estes domínios auxiliam no desenvolvimento de planejamentos detalhados, facilitam interações, avaliação do custo e valor do empreendimento, e enaltecem o comprometimento entre os participantes (HALL, 2017).

O last planner age de forma proativa, identificando riscos e possíveis desperdícios que podem ser eliminados desde o início (RACHED et al., 2014). Consiste principalmente na adequação do cronograma das fases do empreendimento, na precisão dos trabalhos semanais e planejamento antecipado de todas as necessidades do empreendimento (LEE et al., 2014). Desse modo, o last planner melhora a confiabilidade do fluxo do trabalho e consequentemente proporciona qualidade da coordenação, sequência e atribuição das tarefas (BALLARD; HOWELL, 1998). Por essa razão, o last planner exige controle de fluxo de trabalho e fluxo do provisionamento ao longo de todas as unidades de produção (AZIZ; HAFEZ, 2013).

O target value design é um método de gerenciamento que busca a partir das restrições do projeto e financeiras, melhorar a avaliação da viabilidade do empreendimento como forma de maximizar o valor do cliente e do produto final (BALLARD, 2011). Dentro do IPD, o target value design auxilia na redução de riscos e de possíveis extrapolações de custos com base nas metas do empreendimento (LEE et al., 2014). Nesse caso, como há necessidade de não exceder o valor disponível para o empreendimento, é possível aplicar técnicas como o caso da “engenharia de valor”10 ou “target costing” para definição do empreendimento dentro

dos limites orçamentais disponíveis (HALL, 2017).

10 A engenharia de valor insere-se na abordagem proativa do target costing, baseada na busca pelo

Target costing é definida como a técnica de modelagem de custos aplicada na fase

de concepção e do projeto para definição do produto a partir do custo permissível (COOPER; SLAGMULDER, 1997; GRANJA et al., 2011). Baseia-se na ideia de que a qualidade, a funcionalidade e o custo de um produto são determinados em grande parte durante o estágio de projeto do ciclo de vida do produto, e pouco pode ser feito para melhorar esses elementos quando o design do produto for definido (AX et al., 2008). No entanto, o processo de desenvolvimento de produto é caracterizado por múltiplos objetivos, e possivelmente conflitantes, como a obtenção de custo otimizado, alta qualidade e satisfação do cliente (COOPER; CHEW, 1996).

O processo de target costing inicia com a pesquisa do mercado e a compreensão do que os clientes pagariam para que suas necessidades fossem atendidas, designado “target price” (COOPER; CHEW, 1996; ELLRAM, 2002). Depois avalia-se o target price a partir de metas do empreendimento, do valor percebido do produto para o cliente, o ciclo de vida do produto e o mercado desejado, tudo isso para determinar o target profit (margem de lucro desejada) (AX et al., 2008). Consequentemente o target costing é igual à diferença entre target price e target

profit, que representa o custo que deve ser atendido para obter o lucro desejado (DEKKERA;

SMIDT, 2002). Entender o target costing é um passo essencial para saber como o target value

design funciona, uma vez que este utiliza o target costing para desenvolver o empreendimento

com ênfase no valor do produto (ORIHUELA et al., 2015).

Por outro lado, o set-based design é uma ferramenta que permite que as partes interessadas avaliem todas as possíveis soluções de forma integrada, considerando alternativas viáveis, e almejando sempre a melhor opção (LEE et al., 2014). Este método auxilia as equipes a terem maior controle no processo de tomada de decisão, uma vez que tem um impacto maior sobre os resultados do empreendimento (SEED, 2014).