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Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo / USP

LEGADOS E INOVAÇÕES NAS OBRAS SUSTENTÁVEIS

A julgar pelos trabalhos apresentados no Seminário, a susten- tabilidade relacionada a obras de arquitetura e engenharia vem recebendo atenção crescente no Brasil, tanto por parte de agên- cias governamentais como pelo setor privado, inclusive na me- dida em que os “selos verdes” estão sendo vistos como agrega-

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do de valor nas construções diretamente dirigidas ao mercado imobiliário.

As certificações como LEED, ÁQUA e outras que vêm se popu- larizando no país atestam a preocupação com soluções tecno- lógicas voltadas à eficiência energética, com impactos positi- vos sobre os custos operacionais nas edificações, à economia no uso da água, e aos custos de manutenção, principalmente. A atenção vem também crescendo com relação ao uso de ma- teriais locais que possam evitar custos elevados de transporte e emissões de gases que contribuem com o efeito estufa e as mudanças climáticas que preocupam as governanças locais em face às proposições de ordem mundial que circulam no país.

Um campo de interesse crescente à pesquisa tecnológica em âmbito acadêmico como as próprias práticas profissionais, a sustentabilidade aplicada em projetos e obras não poderia estar ausente das preocupações com as grandes realizações de ar- quitetura e engenharia que caracterizam os megaeventos, pela necessidade de se abrigarem espectadores em grande escala e garantir seu transporte desde seus países de origem até o local dos jogos, com permanência no país anfitrião do evento e mo- bilidade com segurança nos espaços públicos das cidades-sede. Nas apresentações sobre edificações para a Copa do Mundo, com especial ênfase nos próprios estádios de futebol (Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza), destacaram-se algumas questões significativas para um debate ampliado sobre legados tecno- lógicos dos megaeventos: adequação aos rigorosos padrões

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da FIFA (os três estádios citados); a busca de certificações am- bientais, especialmente o LEED (os três estádios solicitaram reconhecimentos, sendo que o de Belo Horizonte atingiu o ní- vel Platinum e o de Fortaleza, o Bronze, enquanto Brasília ain- da espera sua certificação LEED Platinum); a utilização parcial de estruturas dos antigos estádios no local da construção dos mesmos (Belo Horizonte e Fortaleza); e minimização de de- molições (Belo Horizonte).

Adicionalmente foram também relevantes as seguintes inda- gações: necessidade de demolição parcial das estruturas pré -existentes (Fortaleza); necessidade de demolição total das es- truturas pré-existentes (Brasília); utilização de estruturas em aço, complementando as estruturas existentes ou as novas (os três estádios), especialmente para a sustentação das novas co- berturas, de acordo com o padrão FIFA, para o melhor confor- to dos espectadores; utilização de inovações tecnológicas para diversas aplicações, como no uso de cabos de aço tencionando membranas translúcidas para as coberturas, como o PTFE – Politetrafluoretileno (conhecido comercialmente como Teflon), com autolimpeza leves e, no entanto, altamente resistentes ao uso (os três estádios) e gramas especiais para os gramados como Bermuda Tifton, variedade Celebration, com plantio exe- cutado no próprio local (Fortaleza); reciclagem de entulho dos estádios oriundo de demolições (os três estádios).

Com relação ao projeto para o novo estádio em Brasília, seu autor, o arquiteto Eduardo Castro Mello, enfatizou a sua exten- sa experiência anterior em projetos semelhantes, focalizando

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sobretudo a questão de ter que projetar numa cidade tomba- da pelo patrimônio, diante da dificuldade para a adequação de um estádio de 40 anos para os padrões da FIFA. Este problema acabou assumindo uma solução radical: um diálogo com a ar- quitetura palaciana de Brasília na obra de Oscar Niemeyer, com a grande varanda externa de um edifício de uso público, como se pode apreciar na apresentação CASTRO MELLO, 2014 por meio do link http://www.usp.br/nutau/anais_nutau2014/con- ferencistas.html.

Já Bruno Campos, autor do projeto para a reforma do ‘Mineirão’ em Belo Horizonte, destacou outros aspectos para ele relevan- tes para o foco do evento, já que sem “os olhos do mundo em cima de nós, certos saltos qualitativos raramente teriam a opor- tunidade de se materializar”. E na medida em que “não devemos buscar aqui Jogos mais ‘impressionantes’ do que Pequim, ou mais ‘sustentáveis’ do que Londres, cada cidade (e país), assim como cada atleta, tem suas características e condições próprias”. Neste contexto, foi posta em realce a transformação do Minei- rão em um equipamento multifuncional (“serviços de lazer, co- mércio, cultura e entretenimento para a cidade”), sua integra- ção à paisagem local (do Parque Modernista da Pampulha) e a manutenção de grande parte da estrutura existente (a facha- da sendo tombada pelo patrimônio). Significativamente, o novo complexo multiuso em Belo Horizonte foi inclusive o segundo a receber o certificado LEED Platinum no mundo (ver no link cita- do anteriormente a contribuição CAMPOS, 2014).

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Em Fortaleza, lidando com a modernização do estádio do ‘Castelão’, o arquiteto uruguaio residente no Brasil, Héctor Vigliecca, destacou a relação harmoniosa entre o velho e o novo, na transformação do estádio com base nos seguintes aspectos: concepção da arena como espaço para eventos ur- banos com a supressão dos estacionamentos e criação de uma praça para diversos usos provisórios, uso de parte do entorno para o edifício da Secretaria de Esportes do Estado do Ceará e outros serviços, reutilização dos “gigantes de con- creto” (pilares existentes) e instalação de 60 pilares metálicos servindo como “atenuador de vibrações nas arquibancadas e sustentação para a cobertura.” Vigliecca destacou também as vantagens construtivas da instalação de uma cobertura (que cobre 100% dos espectadores) montada em peças indepen- dentes que exigiu apenas o uso de guindastes e não gruas. Foi o primeiro estádio a ser terminado para a Copa 2014 e o único com custo inferior ao previsto (ver no link citado a apresentação de VIGLIECCA, 2014).

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