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Universidade Estácio de Sá UNES A/ Petrópolis IOC Selection Committee Member

PARA MEGACIDADES OLÍMPICAS

A tendência de cidades globais – em igualdade com tendências dos Jogos Olímpicos – pode ser também analisada pelo viés de seus fundamentos. Neste sentido, cidades globais são concen- trações urbanas com “uma rede internacionalizada de localiza- ções que estão se tornando crescentemente ligadas entre si e interdependentes” (Brenner & Keil, 2006). Os mesmos autores definem uma cidade global como “um centro local dominante no interior de uma economia regional de grande escala ou liga- da a áreas urbanizadas” (Ibid p. 11). Além desta caracterização, os fundamentos da cidade global tornam-se mais relevantes pelas suas funções com bases na Tecnologia de Informação (TI)

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aliadas a intercâmbios internacionais – cultura, finanças, turis- mo etc – do que por população ou por tamanho.

Certamente, cidades globais são produtos finais da crescente expansão da urbanização em qualquer país, agora alcançando mais de 80% da população mundial (Ibid p. 4 – 5). Tal tendência planetária não tem sido todavia considerada de modo explícito pelo COI nas licitações para escolha das cidades anfitriãs dos Jogos Olímpicos, porém situa-se neste estudo como referência para uma experimentação de benchlearning (saberes comparti- lhados por meio de comparações de observações e indicadores). Com esta opção metodológica pretende-se aqui comparar re- centes escolhas de cidades-sede com o significado de “legado” diante dos novos contextos de sustentabilidade previstos pela Agenda Olímpica 2020.

Nessas circunstâncias, este estudo parte de tendências atuais das cidades globais e se dirige à crescente adoção da sustenta- bilidade como um componente contrafatual, esboçando-se as- sim uma tendência de pesquisas (mainstream) na qual se pode inserir a cidade do Rio de Janeiro e de seu entorno urbanizado como cenário para se testar oposições entre as tendências ora identificadas. O resultado esperado deste exercício será uma discussão sobre as novas abordagens sobre legados dos Jogos Olímpicos à luz do desenvolvimento sustentável (econômico, so- cial e ambiental em mútuo equilíbrio entre suas relações). Para este exercício comparativo importa considerar o grupo inicial das três cidades finalistas para a candidatura dos Jogos Olímpicos 2020, em conjunto com Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016

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ambas já antes selecionadas. Esta agregação de cidades fina- listas constitui a base da hipótese do presente estudo como se verifica a seguir.

Tendo o Global Cities Index desenvolvido por A. T. Kearney Con- sulting (2014) como base de indicadores para o pretendido ben-

chlearning, Londres situa-se na 2ª. posição entre 84 cidades

globais – consolidadas e emergentes - , um total que reflete tendências abrangentes da intensa urbanização hoje em pro- gresso nos cinco continentes. O Index também inclui o Rio de Janeiro na 56ª. posição, porém se fazendo uma associação com São Paulo em face à amplamente reconhecida mega região São Paulo-Rio, esta última classificação pode se alterar para 34ª. posição, referente à cidade de São Paulo. Nesta listagem, Tó- quio aparece em 4ª. e Madri em 15a., com Istambul alcançando 28a. depois de estar em 41a. no ano de 2010. Em termos de conjunto e de abordagem de benchlearning as cidades olímpicas Londres e Rio de Janeiro em adição às três cidades candida- tas aos Jogos Olímpicos de 2020, estão todas hipoteticamente mantendo seus status ou procurando uma melhor posição en- tre as cidades globais.

Nesta agregação, qualquer escolha para sede dos Jogos 2020 compreende um ciclo de tempo válido para comparações de 15 anos, partindo da seleção de Londres em 2015 até a abertura dos Jogos de Tóquio de 2020. Em termos metodológicos esta delimitação de tempo ultrapassa aproximadamente o período estimado para a realização das investigações relacionadas ao levantamento chamado Olympic Games Impact (OGI) promovi-

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do pelo COI nas cidades-sede dos Jogos e que abrange até 12 anos (máximo). Como o OGI – atuando sobre 120 indicadores no caso de Londres – observa necessariamente impactos que ultrapassam os limites da cidade sede tem havido uma aceita- ção de fato de regiões de mais de uma cidade nos Jogos Olím- picos de passado recente. Portanto, a agregação das cinco ci- dades envolvidas com candidaturas dos últimos anos revela a coincidência de terem ou buscarem influência global. Em suma, esta coincidência pode ser entendida também pelo fato ampla- mente reconhecido das cidades globais estarem sobrepujando os países em que se situam como antes assinalado por Bren- ner & Keil (2006, p. 3-14).

Essas evidências confirmam por comparações a existência de uma sobreposição de tendências globais com os excessos dos Jogos Olímpicos, os quais agora estão sendo abordados em tese pelas recomendações da Agenda Olímpica 2020. Nestas condi- ções, um teste de validação de tais relações incide sobre a ob- servação das mudanças climáticas associadas à gestão de risco que são inerentes à sustentabilidade. Isto posto, importa relatar os resultados do projeto SAM RIO desenvolvido por DaCosta e associados (2011) que teve como objetivo identificar relações entre a cidade global e sua governança segundo os preceitos da sustentabilidade. Como uma pesquisa independente, o levan- tamento (survey) SAM RIO foi contextualizado no processo de- cisório para a implementação dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro e fases posteriores. A sigla SAM RIO representa a relação sinergética da cidade de São Paulo (SA) com a região vizinha do Estado de Minas Gerais (M) e o Estado do Rio de Ja-

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neiro (RIO). Esta aglomeração urbana (cluster) forma um colar de cidades intermediárias de tamanhos diversos ligadas por corre- dores de transporte existentes ou planejados (auto-estradas, ferrovias, ponte aérea, trem de alta velocidade etc.), tributários naturais dos megaeventos tais como a Copa do Mundo de Fu- tebol 2014, Jogos Olímpicos 2016 e subsequentes.

A região SAM RIO tem 46,8 milhões de habitantes distribuí- dos em corredores típicos consistindo o primeiro em agregados industriais e de serviços - incluindo tecnologias – e os demais em três áreas longitudinais com montanhas e florestas em que ocorrem frequentemente acidentes ambientais (deslizamentos e enchentes). Esta combinação de áreas verdes, comunidades residenciais (pobres e remediadas) e locais de trabalho implica no desafio de se ter governança ambiental que possa combinar mudanças climáticas com requisitos de sustentabilidade além do controle de impactos negativos. Assim a pesquisa de DaCosta et al. de 2011 focalizou a distribuição da população com emprego e oportunidades de ciência e tecnologia usando o Geographic In- formation System – GIS (dados espaciais coletados por satéli- tes), método que identificou uma área com extensão de 700km lineares que delimitou a mega cidade SAM RIO, correspondendo outrossim à área previsível de alavancagem dos Jogos Olímpicos de 2016. Embora não sendo uma área de reconhecimento oficial, a identificação da conurbação SAM RIO representa uma moldura teórica para a observação das relações entre cidade global e ci- dade olímpica, tendo a gestão sustentável incluído dados sobre alterações de clima e respectivos riscos.

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CIDADES GLOBAIS OLÍMPICAS

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