• Nenhum resultado encontrado

Legislação acerca do Direito Social à alimentação no Brasil

Com vistas a garantir uma alimentação adequada e saudável, a Constituição Federal de 1988 incorporou uma série de direitos que versavam sobre o caráter cidadão brasileiro a partir dos princípios

fundamentais presentes nos artigos 1º ao 4º, as garantias fundamentais no art. 5º, os direitos sociais, art. 6º e os direitos políticos no art. 14.

No entanto, o direito à alimentação ainda não tinha sido abor- dado de forma mais minuciosa como podemos observar no artigo 6º da Constituição de 1988:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimen- tação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988).

Nesse sentido, com vistas a exigir uma melhor distribuição ali- mentar no país com o intento de erradicar a pobreza, a sociedade civil, juntamente com organizações, movimentos sociais, órgãos públicos e privados se mobilizaram por todo o Brasil através da campanha: “Alimentação: direito de todos”. Em decorrência dessa atitude, o judiciário entendeu a necessidade de assegurar esse direito de forma mais explícita e correspondente à realidade social do Brasil.

Para melhorar essa situação, no dia 04 de Fevereiro de 2010 foi publicada, no Diário Oficial, a Emenda Constitucional nº 64/2010 que modificou o art. 6º no tocante a garantia de uma alimentação saudável a todo brasileiro, a qual passou a vigorar com o seguinte texto:

São direitos sociais a educação, a saúde, o traba- lho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 2012, p. 338) (Grifo

Essas modificações têm origem na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 47 do senado, em 2003, sob a autoria do senador sergipano Antônio Carlos Valarades. De modo que, o novo texto constitucional prevê como direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdên- cia social, a proteção à maternidade, à infância e a assistência aos desamparados.

A PEC que hoje está como Emenda nº 64/2010 almeja aten- der aos tratados internacionais assinados pelo Brasil com a intenção de propor melhorias de acesso à alimentação saudável que possi- bilitem ações de combate à fome e à miséria através de políticas públicas que apoiem a população mais carente.

Além do art. 6º da Constituição Federal, esse direito humano também está previsto no art. 227, definido pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), que prevê a instituição do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). Este deve ser composto por conferências nacionais, estaduais e municipais através de conselhos de participação social (COSEAs), bem como de participações governamentais interseccionais da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).

A partir da sanção da lei nº 11.346, a principal mudança se fez na institucionalização do SAN como órgão responsável por deman- dar ações de políticas públicas que articulem diferentes setores, conduzindo assim, programas e iniciativas relacionadas com a ques- tão alimentar.

Nesse sentido, notamos um grande passo com a entrada em vigor da lei nº 11.346 de 15 de Setembro de 2006 ao “criar no sis- tema jurídico brasileiro um mecanismo formal de consagração do direito humano a alimentação adequada”. (COLICCI; TONIN, 2012, p. 326).

Com relação aos avanços da questão alimentar, a Lei Orgânica de Segurança Alimentar (LOSAN) defende a formulação e imple- mentação de políticas, planos, programas e ações com vistas a assegurar o direito humano a uma alimentação adequada em quantidade suficiente, tendo como base práticas alimentares pro- motoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável. (Art. 3º). Além dessas finalidades, a lei abrange os seguintes aspectos em seu art. 4º:

I – ampliação das condições de acesso aos ali- mentos por meio da produção, em especial da agricultura tradicional e familiar, do processa- mento, da industrialização, da comercialização, incluindo-se os acordos internacionais, do abaste- cimento e da distribuição dos alimentos, incluindo a água, bem como da geração de emprego e da redistribuição de renda;

II – conservação da biodiversidade e utilização sustentável dos recursos;

III – a promoção da saúde, da nutrição e da ali- mentação da população, incluindo-se grupos populacionais específicos e populações em situa- ção de vulnerabilidade social;

IV – a garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos, bem como seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que res- peitem a diversidade étnica e racial e cultural da população;

V – a produção de conhecimento e o acesso à informação;

VI – a implementação de políticas públicas e estratégias sustentáveis e participativas de pro- dução, comercialização e consumo de alimentos, respeitando- se as múltiplas características cultu- rais do País. (BRASIL, 2006)

A lei também abrange a noção de soberania alimentar ao defen- der que cada país pode definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população (soberania alimentar), respeitando as especificidades culturais de sua nação.

Dessa forma, através dessa lei, observamos que a alimentação passa a ser vista no ordenamento jurídico brasileiro com uma “ema- nação da dignidade da pessoa humana” (COLICCI; TONIN, 2012, p. 328) e que são essenciais para os demais direitos fundamentais. De modo que, a segurança alimentar e nutricional não pode com- prometer outras necessidades como, por exemplo: a moradia, a educação, a saúde, o lazer, o vestuário, a higiene, dentre outras.

Apesar dessa conquista, temos muito ainda a percorrer para que a falta de informação por parte de população e a concentração de renda nas mãos de poucos possam deixar de limitá-las a uma ali- mentação digna e assim possamos cobrar do Estado através dos seus poderes, o cumprimento desse direito fundamental para assim, vencermos a fome, a desnutrição e outras tantas mazelas que ainda envergonham o país e têm refletido bastante nos elevados índices de violência e exclusão social.