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O Programa Restaurante Popular em Campina Grande (PB)

O programa Restaurante Popular promovido pelo Governo Federal, na cidade de Campina Grande, funciona e atende a estu- dantes, trabalhadores do comércio, moto-taxistas, aposentados e pessoas mais carentes.

Tal unidade, em funcionamento no centro da cidade, conta com uma equipe de nutricionistas, gastrônomos, cozinheiras, dentre outros profissionais vinculados à área alimentar. Hoje sobrecar- regado, o restaurante popular, sob a responsabilidade do Estado, encontra-se assim em virtude do fechamento do restaurante

popular que era de responsabilidade da prefeitura. Enquanto estava em pleno funcionamento, até 2012, a unidade já era insuficiente para atender a demanda da população campinense, principalmente a que dependia do serviço, como os trabalhadores do distrito indus- trial, por exemplo, que distantes, não tinham tempo hábil para se deslocarem até o restaurante localizado no centro da cidade, no shopping Edson Diniz.

À época, mais precisamente em 2009, para facilitar essa mobili- dade do trabalhador e dos demais usuários do serviço, a prefeitura, em parceria com o MDS instalou, no Distrito dos Mecânicos, a 71º unidade do país, mas atualmente, também encontra-se fechado. As vantagens do programa eram expansivas não apenas a quem precisava se alimentar, todos os hortifrutigranjeiros utilizados nas refeições eram adquiridos dos agricultores familiares por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que beneficiava um total de 300 agricultores de Campina Grande e região, o que acarre- tou num prejuízo ainda maior.

Além desses, a cidade não se limitava a dois restaurantes popu- lares de responsabilidade de manutenção da prefeitura, mas possuía cozinhas comunitárias que, assim como os restaurantes, primavam pela complementação alimentar e melhora das condições de vida de famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutri- cional. Essas unidades, que almejavam atingir comunidades mais carentes e que não dispunham de renda adequada para se deslocar ao restaurante popular do centro e o do Distrito dos Mecânicos, localizavam-se nos bairros de José Pinheiro, Malvinas, Galante, Bodocongó, Liberdade, São José da Mata e Pedregal. Tais unidades também foram fechadas no início do ano de 2013.

Constatou-se que apenas a segunda unidade instalada no cen- tro está em pleno funcionamento, visto que, a administração atual da prefeitura alegou não ter como arcar com as despesas desse

programa e que culminou com o fechamento dos restaurantes do Shopping Edson Diniz, no Centro, o dos Distritos dos Mecânicos, além das Cozinhas Comunitárias. Atualmente, a unidade do Centro está sob a responsabilidade do governo do estado através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano. Tal descaso com a assistência alimentar por parte dos governantes tem prejudicado a população, principalmente a mais carente que necessita deste ser- viço. Evidenciando assim, que o direito à alimentação não tem sido garantido através do citado programa.

Com base nas observações feitas e, a partir da coleta de dados, serão propostas medidas que contribuam para a melhoria do pro- grama Restaurante Popular na cidade de Campina Grande, Paraíba.

Entrevista realizada no restaurante popular do centro de Campina Grande (PB)

Essa etapa da pesquisa ocorreu mediante entrevista que contou com a utilização de um questionário fechado pré-determinado rea- lizada na fila do restaurante popular do Centro de Campina Grande, Paraíba, no dia 26 de Agosto de 2013. 100 pessoas responderam o questionário do qual foram obtidos os seguintes dados: 55% dos entrevistados eram do sexo feminino e 45% do sexo masculino (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Gênero dos usuários do restaurante popular em Campina Grande, Paraíba

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Com relação à situação profissional atual, detectou-se uma incongruência, a maior parcela afirmou trabalhar formalmente, totalizando 75% dos entrevistados, em oposição à 5% de aposen- tados e 5% de desempregados, conforme apresentado no gráfico a seguir:

Gráfico 2 - Situação profissional dos usuários do restaurante popular

A partir dos dados acima explicitados, podemos depreender que há uma divergência naquilo que é proposto pelo programa, o de alcançar a população carente. Note-se que 75% dos usuários do res- taurante têm emprego fixo, o que também não é uma proibição, mas o fato, de uma minoria necessitada, sem renda fixa não se utilizar do programa pode ser interpretado de duas maneiras: ou estando sem trabalho formal, não querem se deslocar para o centro da cidade, por falta de dinheiro para o transporte ou, não conseguiram ficha, já que o número é limitado.

Gráfico 3- Percentual da frequência de utilização do Restaurante popular dos entrevistados, por semana

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Sobre esses dados podemos compreender que há, em média, uma utilização do restaurante.

Os dados apresentados no gráfico a seguir figuram a renda men- sal dos usuários do serviço. (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Percentual da média salarial dos usuários de restaurante popular

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Diante dos resultados, foi possível compreender que o perfil encontrado sobre o público frequentador do restaurante popular, não corresponde às expectativas inicialmente traçadas no ordena- mento jurídico, nem pelo Governo Federal, porque infelizmente, existe dificuldade em inserir baixa renda, de fato, não tendo condições de se alimentar de forma devida e dignamente, uma incongruência.

Alie-se o fato de 90% dos usuários do serviço não serem cadas- trados em nenhum programa assistencial do governo, conforme apresentado no Gráfico 5:

Gráfico 5 – Percentual de participação dos usuários de restaurante popular em algum benefício social do governo

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Tal dado só ratifica a ideia de que não há efetivação do pro- grama no que tange a dar subsídio aos menos favorecidos, aos de risco alimentar.

Sobre o nível de satisfação, 25% o definiram como ótimo, 50% como bom, 20% como regular, 5% como péssimo e ninguém o definiu como ruim (Gráfico 6). Vale ressaltar que além dos dados coletados todos os que mostraram satisfação com o serviço, elogia- ram o cardápio e os alimentos servidos.

Gráfico 6 - Nível de satisfação dos usuários de Restaurante Popular do Centro de Campina Grande, Paraíba

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

Esses dados podem revelar que um dos fatores da insatisfação dos usuários pode estar a associado à quantidade de refeições ofe- recidas diariamente, que é de mil no horário de almoço, quando a procura é maior, o que é considerando insuficiente para a popula- ção de Campina Grande que possui 385.276 habitantes, segundo dados do IBGE (2010). Além desse aspecto, a partir da presente pesquisa foi possível constatar que no dia em que realizamos a apli- cação do questionário algumas pessoas não conseguiram almoçar no restaurante, pois, o atendimento acontece mediante a compra de fichas. Em decorrência de o número limite ter acabado, muitos não chegaram a fazer a sua refeição naquele local.

Outro agravante observado, está no fechamento dos outros dois restaurantes populares e das cozinhas comunitárias que estavam sob a coordenação da administração municipal, o que contribuiu para que a demanda do restaurante do centro, que atualmente é de responsabilidade do governo do estado através da Secretaria

de Estado de Desenvolvimento Humano, aumentasse, prejudicando moradores e trabalhadores de bairros mais afastados do centro da cidade e restringindo esse serviço apenas à população que trabalha ou estuda nas imediações daquele local, o que é injusto, já que as comunidades carentes mais afastadas e os demais trabalhadores do distrito industrial e dos mecânicos ficaram sem acesso ao programa. Em decorrência da distância do centro em relação aos bairros pobres, as pessoas que neles residem não têm uma renda fixa que viabilize o custeio de passagens que o desloquem diariamente ao restaurante, o que as deixa desamparadas do programa que eviden- cia em sua finalidade a assistência a quem está em situação de risco alimentar.

No tocante à raça ou cor, 30% definiram-se como brancos, 15% como negros, 0% dos entrevistados considerou-se como indígena, 40% pardos e 15% como outro aspecto étnico (Gráfico 7).

Gráfico 7- Raça ou cor dos usuários de restaurante popular, em percentual

Além desses critérios, observamos o grau de escolaridade, no qual foi possível constatar uma divergência, no que tange a assisten- cialismo às camadas mais pobres. Vejamos o gráfico a seguir:

Gráfico 8 - Grau de escolaridade dos usuários de restaurante popular, em percentual.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013

A partir desses dos dados, bem como com base nos teóricos estudados para a fundamentação dessa pesquisa, foi possível obser- var que o programa Restaurante Popular ainda não atinge a maior parcela de sua população alvo, conforme definido em sua proposta de atuação no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Governo Federal, assim como também, na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN). Embora esse programa se destine a pessoas em situação de risco alimentar, a maioria dos voluntários que responderam ao questionário ale- gou estar no mercado de trabalho formal, ou ter uma escolaridade satisfatória para poder exercer atividade remunerada, o que nos leva

a perceber que aqueles que necessitam desse benefício com uma maior urgência, não estão sendo devidamente assistidos, conforme discorre o ordenamento jurídico.

Reflexões sobre a efetivação do direito à