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3 DIREITO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

3.3 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

De acordo com Barsano, Barbosa e Ibrahin (2014, p. 13), sobre a legislação ambiental brasileira:

A legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais bem elaboradas e completas do mundo, graças às leis, aos decretos, às resoluções e aos demais regulamentos que tratam do assunto. Existe um apanhado bastante completo de leis e outras normas que definem as obrigações, responsabilidades e atribuições tanto dos empregadores e empregados quanto do Poder Público, nas várias esferas: federal, estadual e municipal.

Os autores, elevam a legislação ambiental brasileira, pela sua fartura de regulamentações espalhadas nos diversos dispositivos encontrados nas normas do direito brasileiro. De acordo com os autores, todo corpo jurídico disponível está voltado a proteção da flora, a fauna, das reservas minerais, do solo, do ar e da água subterrâneas e superficiais.

3.3.1 Lei 6.938/1981. Política Nacional do Meio Ambiente

A política ambiental implantada nos governos, segundo Barsano, Barbosa e Ibrahin (2014, p. 118), segue a linha de um modelo de representação, utilizado pelos governos e empresas para tomar decisões e ações em relação as questões ambientais e aos recursos naturais. O autor garante que no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente surgiu como base para consolidar discussões que a anos estavam sendo deixadas de lado, em um passado pouco explorado na dialética ambiental.

A Política Nacional do Meio Ambiente possui em seus princípios:

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio- econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas; (BRASIL, Lei nº 6.938, 2020).

Na continuidade da referida lei, temos os seguintes princípios:

Art. 2º [...]

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. (BRASIL, Lei nº 6.938, 2020).

Assim, a Educação Ambiental obtém empenho e apreciação, onde ganha a importância devida na presente Política Nacional do Meio Ambiente. Podemos associar ainda, que diante desses princípios foram necessários instrumentos jurídicos que efetivariam a aplicação da referida Lei.

Sendo assim, Barsano, Barbosa e Ibrahin (2014, p. 121), demonstra tais instrumentos expressos no artigo 9º da Lei, como o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, incentivos à produção, à instalação de equipamentos e criação de tecnologias novas, a criação de espaços territoriais, a criação do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente, formação do Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental (CTF/ AIDA).

O autor afirma que vários instrumentos jurídicos, aqui citados, foram adotados em estados e municípios, cada qual com sua parcela de participação, como o Código Florestal, no próprio Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), e outras normas e leis, todas, em acordo com as Diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente.

3.3.2 Lei 10.257/2001. Estatuto da Cidade

Tendo em vista que as cidades são uma das formas de meio ambiente, fica regulamentado através da Constituição Federal (1988), em seu artigo182, deixa a cargo dos órgãos públicos municipais, a execução da política de desenvolvimento urbano, que objetiva garantir o bem-estar dos cidadãos através do repleto desenvolvimento das atribuições sociais da cidade.

Barsano, Barbosa e Ibrahin (2014, p. 74), lembra que o meio ambiente urbano, se caracteriza como um conjunto de edificação e equipamentos públicos que definem os espaços urbanos fechados e espaços urbanos abertos. Portanto, segundo o autor, demonstra-se grande importância em relação a eficácia de um plano diretor voltado ao pleno desenvolvimento do meio ambiente através da garantia da qualidade de vida e com o respeito aos micros ecossistemas naturais, e a preocupação com a saúde através do saneamento básico.

Dentre as características mais relevantes da Lei, encontra-se a preocupação com a forma de utilização do solo dentro do ambiente urbano, que em seu texto define:

Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: [...]

VI - ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

g) a poluição e a degradação ambiental. (BRASIL, Lei nº 10.257, 2020).

Tais medidas visam garantir a adequada utilização do espaço urbano, juntamente com observância dos excessos que podem gerar poluição e degradação ambiental no meio ambiente imediato e de convívio social do cidadão.

E talvez, o que mereça mais destaque, seria aquele que dá participação ao cidadão atuar nas causas ambientais urbanas:

Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: [...]

XIII - audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; (BRASIL, Lei nº 10.257, 2020).

O inciso que trata essa premissa, configura objeto de extrema relevância no exercício da cidadania ambiental, diante do favorecimento da participação popular nas decisões sobre os efeitos depauperadores ao meio ambiente. Como resultado, o cidadão se introduz instrumento de efetividade ao referido artigo, objetivando a plena força da Lei na execução do Estatuto da Cidade.

3.3.3 Lei 9.605/1998, Lei dos Crimes Ambientais

Dentre as leis ambientais que regem as obrigações com o meio ambiente, destaca-se a Lei dos crimes ambientais, Lei 9.605/1998, que certamente

configurou grande valia ao ordenamento brasileiro, como diz o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF, 2020, on-line): “Trata das questões penais e administrativas no que diz respeito às ações nocivas ao meio ambiente, concedendo aos órgãos ambientais mecanismos para punição de infratores, como em caso de crimes ambientais praticados por organizações”.

Trata-se então, segundo autor, da penalização que pode chegar ao fim da atividade da empresa, que se comprovado autoria ou coautoria, se observado que a finalidade era mascarar crime ambiental. A punição pode ser suprimida caso o dano ambiental seja comprovadamente reparado.

Leite (2000, p.140), aponta que a Lei de crimes ambientais trouxe aperfeiçoamento a intervenção do Estado com o poder de validar tanto civil como administrativa e penalmente, e buscou aumentar o empenho na esfera da responsabilidade civil nas questões ambientais. Para o autor, em resumo, não se trata apenas do caráter criminal, obteve especial atenção a aplicação da reparação do dano ambiental.

3.3.4 Lei 6.902/1981 - Área de Proteção Ambiental

A Lei que regula a Área de Proteção Ambiental, a Lei 6.902/1981, se faz a luz da Política Nacional do Meio Ambiente, afirma Silva (2004, p. 242). Nesse sentido o autor garante que essas áreas são relativamente extensas, que abrigam grande variedade biótica, abiótica, tanto como atributos estéticos e culturais com certa concentração humana a sua totalidade.

A Lei segundo o autor, tem como objetivo básico a proteção da diversidade biológica e garantir regras no processo de ocupação para assegurar a aplicação correta das práticas sustentáveis ao meio ambiente.

Em seu artigo 9º, a referida Lei estabelece:

Art. 9º Em cada Área de Proteção Ambiental, dentro dos princípios constitucionais que regem o exercício do direito de propriedade, o Poder Executivo estabelecerá normas, limitando ou proibindo:

a) a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras, capazes de afetar mananciais de água;

b) a realização de obras de terraplenagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em sensível alteração das condições ecológicas locais;

c) o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado assoreamento das coleções hídricas;

d) o exercício de atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies raras da biota regional. (BRASIL, Lei nº 6.902, 2020).

Assim, fica claro que o referido artigo precisa ser fiscalizado não somente pelo poder Executivo, mas toda a coletividade deve participar da fiscalização utilizando os instrumentos processuais necessários e cobrando do executivo a perfeita execução da Lei na medida em que se observa o erro e o descaso com as áreas de proteção.

3.3.5 Lei 9.795/1999.Política Nacional da Educação ambiental

A cidadania ambiental, além de ser um conceito conhecido no meio da doutrina jurídica, remete em sua globalidade em sua fase holística, o fator da consciência ambiental, que por vez utiliza-se da Educação Ambiental em seu processo de aplicação, afirma Sirviskas (2009, p. 6-7).

O autor garante que grande foi o passo dado ao se regulamentar o art. 225 da CF § 1º, VI pela Lei, a Política Nacional da Educação Ambiental, que propõe a execução da Educação Ambiental em todos os níveis escolares, assim como a conscientização coletiva para os problemas do meio ambiente.

Sirvinskas (2009, p.10), afirma que a consciência ambiental a ser despertada pela Educação Ambiental, trata-se da melhor racionalização dos recursos naturais em torno das práticas da sociedade. No texto constitucional o art. 225 da CF § 1º, VI expressa “preservação do meio ambiente”, enquanto a Lei 9.795/1999 fala em “conservação do meio ambiente”. Para o autor, os dois termos são sinônimos, porém, para o estudo proposto, preservar, significa proibir que recursos naturais sejam explorados economicamente e, conservar, significa que é permitido a exploração econômica, mais de forma racional e visando eliminar desperdícios.

O artigo 4º da Lei 9.795/1999, dispõe:

Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque

humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,

multi e transdisciplinar idade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. (BRASIL, Lei nº 9.795, 2020).

De maneira que se atenda a consciência ambiental tanto na esfera formal quanto na informal dentro da sociedade, esta Lei traz e seus princípios básicos, a visão do cidadão ambiental a luz dos objetivos que este artigo estabelece.

Sendo assim, a cidadania ambiental se trabalha na escola, na comunidade, em casa e sempre em troca de relações de acordo com a realidade de cada cidadão, com diz o inciso VII – “a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais”, e o inciso VIII do art.3º da referida lei,- “o reconhecimento e o respeito à pluralidade e a diversidade individual e cultural”, pois a realidade de um cidadão não é a mesma do outro, onde fatores ambientais e socioculturais influenciam na metodologia aplicada.

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