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DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA AMBIENTAL NA ESPANHA

2.5 Legislação ambiental da União Europeia e o Estado Autonômico

De grande importância do estudo da proteção ao meio ambiente na ordem jurídica espanhola constitui certamente na influência da legislação da União Europeia sobre essa legislação interna.

É valido dizer que a proteção ao meio ambiente se efetua em um primeiro momento pela Constituição nacional, e pela ordem jurídica interna que desenvolve a legislação infraconstitucional referente a essa matéria. De fato, quando Espanha tornou-se um Estado-membro da União Europeia100, tenha ocorrido um salto no incremento legislativo e protetivo em matéria ambiental. Assim, em grande proporção, pelas próprias origens do direito ao meio ambiente, por tratados e pactos internacionais, principalmente a partir da década de 1970, no qual a Europa não somente foi uma das protagonistas, mas também a fonte de muitas dessas medidas protetivas ambientais101.

100 Assinatura da Ata de Adesão, em 12 de junho de 1985, quando Espanha tornou-se um Estado-membro da União Europeia.

101 ALMEIDA CAMARGO, Nilo Marcelo de. A resolução de conflitos competências ambientais entre União e Estados membros no Brasil: aportes comparados com Espanha e União Europeia. (Tesis Doctoral Inédita) Sevilha: Universidad de Sevilha. Sevilha: 2017. Disponível em: <https://idus.us.es/xmlui/handle/11441/61111> Acesso em: 13 de maio 2019. p. 455

54 Outrossim, destaca-se que a legislação da União Europeia pode ser composta de Regramentos e Diretivas, estas últimas dando uma margem de conformação aos Estados-membros quanto a sua aplicação, enquanto aqueles podendo ser aplicados diretamente.

Sobre esse contexto esclarece Andrés Rodrigues102:

A influência da legislação da União Europeia, assim, é significativa. No entanto, um dos problemas consiste justamente na transposição dessa regulação no âmbito interno. Os principais problemas referem-se (1) à incorporação pelo Estado, ou pelas Comunidades Autônomas, especificamente quanto aos limites do básico; (2) ao título competencial escolhido para efetuar-se a transposição, o que afeta também a quem detém essa titularidade (Estado ou Comunidade Autônoma), e (3) à natureza do ato legislativo que incorpora essa legislação europeia.

Em relação ao primeiro enfoque, Nilo de Almeida Camargo103 aponta que o TC já se posicionou (STC 102/95, FJ 14) no sentido de que, embora as diretivas tenham o intuito de homogeneizar e aproximar ordenamentos jurídicos distintos, inclusive em alguns casos com possibilidade de aplicação direta, isso não significa que a legislação que as adapte ao ordenamento espanhol deva ser considerada necessariamente como básica.

Além disso, o referido Autor faz a seguinte narrativa104:

Outro aspecto a ser ressaltado é que as Comunidades Autônomas podem executar diretamente o direito da União Europeia, de acordo com a STC 31/210, FJ 123:

“De acuerdo con una reiterada y conocida doctrina constitucional (STC 148/1998, de 2 de julio, FJ 4), no existe razón alguna para objetar que la Comunidad Autónoma ejecute el Derecho de la Unión Europea en el ámbito de sus competencias, tal como dispone con carácter general el art.189.1 EAC, y, en consecuencia, tampoco, en principio, para que pueda adoptar, cuando ello sea posible, legislación de desarrollo a partir de una legislación europea que sustituya a la normativa básica del Estado en una materia. Ahora bien, una concepción constitucionalmente adecuada del precepto

102 RODRIGUES, Andrés Betancor. Instituciones de Derecho Ambiental. Madrid: La Ley, 2001. p. 454

103 ALMEIDA CAMARGO, p. 455

104 Idem p. 457 apud NOGUEIRA LÓPEZ, Alba. La transposición de directivas ambientales en el Estado Autonómico.

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implica siempre la salvaguarda de la competencia básica del Estado en su caso concernida, que no resulta desplazada ni eliminada por la normativa europea, de modo que el Estado puede dictar futuras

normas básicas en el ejercicio de una competencia

constitucionalmente reservada.”

De forma conclusiva, Nilo de Almeida Camargo diz que a legislação comunitária exerce poderosa influência sobre o ordenamento jurídico interno espanhol em matéria ambiental, e que sua transposição acarreta algumas discussões de índole competencial, principalmente essa acomodação das Comunidades Autônomas na relação existente entre Estado e Comunidade Europeia105.

É preciso, então, reforçar os aspectos do veículo legislativo utilizado, a questão da possibilidade de execução e desenvolvimento diretamente pela Comunidade Autônoma, sem prejuízo de o Estado editar legislação básica posteriormente, e a delimitação do título competencial que fundamenta a transposição da normativa comunitária.

Não se pode esquecer que faz parte da evolução da Comunidade Econômica Europeia (Tratado de Maastrich), sendo considerado o documento mais importante que adota o princípio da subsidiariedade. Com destaque Maria Sylvia Zanella Di Pietro106 quando cita o art. 3º-B do Tratado da União Europeia como exemplo contemporâneo da aplicação do princípio da subsidiariedade, conforme segue:

A comunidade age nos limites das competências que lhe são conferidas e dos fins que lhe são assinalados pelo presente. Nas matérias que não são de sua exclusiva competência, intervém, conforme o princípio da subsidiariedade, somente se e na medida em que os objetivos das ações previstas não podem ser suficientemente realizados pelos Estados membros.

105 Idem p. 457

106 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública: concessão, permissão, terceirização, parceria público-privada e outras formas. 5. ed. 2. reimpressão. São Paulo: Atlas, 2006. p. 34.

56 Vale dizer que o sistema comparado espanhol, onde a legislação conformadora de princípios de proteção ambiental é feita pelo próprio Estado, deixando as medidas mais específicas para as leis das Comunidades Autônomas, sobre isso, com precisão, leciona Leme Machado107 “Neste sistema não é permitido que as Comunidades Autônomas sejam mais brandas em relação à proteção já fixada pelo Estado, pois aí seria caso de violação do princípio da subsidiariedade”.

Segundo Almeida Camargo108 estabelece-se um diálogo não somente entre a União Europeia e os parlamentos nacionais, mas também com os parlamentos regionais, cujo objetivo é permitir maior concretização do princípio da subsidiariedade, e garantir a participação na elaboração da legislação europeia.

Da mesma forma, não se pode esquecer que o princípio da proporcionalidade, por sua vez, tem sido largamente empregado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, incorporando a doutrina alemã (três subprincípios: adequação, necessidade, proporcionalidade stricto sensu).

Assevera-se que poderiam ser investigados várias abordagens sobre o tema, no entanto, o objetivo é fornecer algumas noções acerca dessa influência nas principais questões sobre a legislação ambiental entre a União Europeia e o Estado Autonômico.

107 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 5 ed. Revista, Atualizada e Ampliada. São Paulo: Malheiros Editores, 1995.

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