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2 – OS JARDINS ZOOLÓGICOS E A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

2.2. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE ZOOLÓGICOS

A fauna brasileira silvestre é propriedade do Estado e protegida por lei. Entre os diversos instrumentos legais que tratam da matéria, a Lei Nº 5197, de 3 de janeiro de 1967, dispõe sobre a proteção à fauna, a ninhos, abrigos e criadouros naturais caracterizando-os como propriedade do Estado e proibindo sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (BRASIL, 1967). A Constituição de 1988 estabelece em seu Art. 225 que todos tem direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e cabe ao Poder Público garantir este direito (BRASIL, 1988). A legislação que rege o funcionamento dos jardins zoológicos brasileiros é, portanto, federal e a manutenção de coleções de animais silvestres vivos em cativeiro uma concessão do Estado.

O funcionamento dos jardins zoológicos brasileiros é regulamentado pela Lei nº 7.173 de 14 de dezembro de 1983 que define “zoológico” em seu Art. 1º como “qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à visitação pública” (BRASIL, 1983). O legislador autoriza o poder executivo dos diversos níveis da administração pública a instalar zoológicos, desde que cumpridas as disposições legais, e considera “excepcionalmente” a possibilidade de “pessoas jurídicas ou físicas” também atuarem nessa atividade7. Não é, portanto, apenas uma coincidência que a grande maioria dos jardins zoológicos

brasileiros sejam instituições públicas vinculadas ao Governo Federal – como o Museu Emílio Goeldi em Belém do Pará – ou a governos estaduais, municipais e, no caso do JZB, distrital.

Dessa maneira, a contratação e alocação de pessoal para esses jardins zoológicos, bem como a arrecadação e utilização de recursos, estão vinculadas à legislação comum ao serviço público ou à legislação especifica. Os jardins zoológicos brasileiros em sua maioria usufruem das vantagens e desvantagens deste regime jurídico. A contratação de pessoal, por exemplo, depende de concurso público, do livre provimento de cargos e, em escala menor, de convênios e de voluntariado. Quanto ao suprimento de recursos financeiros e materiais a legislação prevê a cobrança de ingressos, venda de objetos, de exemplares da fauna alienígena e de excedentes da fauna indígena – na dependência de autorização prévia – e o recebimento de multas8. O recolhimento desses recursos diretamente ao

7 Reza a Lei nº 7.173:

Art. 2º - Para atender a finalidades sócio-culturais e objetivos científicos, o Poder Público Federal poderá manter ou autorizar instalação e o funcionamento de jardins zoológicos.

§ 1º - Os Governos dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão instalar e manter jardins zoológicos, desde que seja cumprido o que nesta lei se dispõe.

§ 2º - Excepcionalmente, uma vez cumpridas as exigências estabelecidas nesta lei e em regulamentações complementares, poderão funcionar jardins zoológicos pertencentes a pessoas jurídicas ou físicas.

jardim zoológico depende de lei específica como é o caso do JZB, favorecido por lei distrital de 1997 (Câmara Legislativa do Distrito Federal, 1997a).

Até a promulgação da Lei 7.153, de 14 de dezembro de 1983, os jardins zoológicos brasileiros careciam de definição quanto a sua existência e finalidades. Este instrumento legal atribuiu ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) a concessão de registros, de “habite-se”, de licença prévia para a aquisição e coleta de animais da fauna indígena, de autorização para a venda de excedentes e de realizar a classificação hierárquica dos zoológicos e sua revisão, bem como determinar as exigências para quarentena de animais e credenciar instituições para este fim (BRASIL, 1983).

A Portaria Nº 283/P, do IBAMA, de 18 e maio de 1989 regulamentou a obtenção de registro pelos zoológicos e os classificou em três categorias denominadas “A”, “B” e “C”, em ordem crescente de exigências. Criou uma comissão paritária constituída por dois técnicos do IBAMA, dois técnicos pertencentes ao quadro permanente da SZB indicados por sua diretoria e por dois membros indicados por entidades conservacionistas ou protetoras de animais. Estabeleceu a obrigação de os zoológicos manterem um livro de registro para a entrada e saída de animais, por quaisquer motivos, inclusive nascimentos e óbitos; de que os zoológicos realizem necropsias em todos os animais e enviearem ao IBAMA as fichas de registros destas necropsias a cada três meses, e; de os jardins zoológicos elaborarem relatórios anuais nos quais devem constar “a relação do acervo vivo, todos os dados relativos às entradas e saídas de animais, assim como das pesquisas e atividades culturais realizadas no período”. A portaria estabeleceu, ainda, que os zoológicos teriam o prazo de uma ano, a contar da data de sua publicação, para obter registro de atendimento das exigências por ela formulada (BRASIL, 1989a; BRASIL, 1998b). Esta portaria foi modificada pela Portaria Nº 99, do IBAMA, de 26 de setembro de 1994 que revogou a exigência de comprovação de filiação à SZB para a obtenção de registro e as penalidades para o não cumprimento de normas técnicas (BRASIL, 1994b).

Ainda em 1989, a Instrução Normativa Nº 001/89-P, do IBAMA, de 19 de outubro, estabeleceu os requisitos recomendáveis para a ocupação de alojamentos em jardins zoológicos. Foram definidos,

Art. 15 – Os jardins zoológicos poderão cobrar ingressos dos visitantes, bem como auferir renda de venda de objetos, respeitadas as disposições vigentes.

Art. 16 – É permitida aos jardins zoológicos a venda de seus exemplares da fauna alienígena, vedadas quaisquer transações com espécies da fauna indígena.

§ 1º - A título excepcional e sempre dependendo de autorização prévia do IBDF poderá ser colocada à venda o excedente de animais pertencentes à fauna indígena que tiver comprovadamente nascido em cativeiro nas instalações do jardim zoológico.

...

Art. 17 – Fica permitida aos jardins zoológicos a cobrança de multas administrativas de até um salário mínimo mensal local, por danos causados pelos visitantes aos animais.

para os diversos grupos taxonômicos, a densidade e a composição da ocupação de cada recinto, suas dimensões mínimas, inclusive de abrigo e maternidade, tipo de piso, sombreamento e vegetação, fornecimento de água e distância para o afastamento do público. Foram também estabelecidos os níveis de segurança que regulam a forma de acesso dos tratadores aos recintos (BRASIL, 1989c). A Portaria nº 029, do IBAMA, de 24 de março de 1994, normatizou a importação e exportação de animais da fauna silvestre brasileira e da fauna silvestre exótica tornando obrigatório o atendimento de normas internacionais reconhecidas pelo governo brasileiro através da assinatura de acordos internacionais como a Convenção Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) e da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Em um anexo, a Portaria nº 029 lista a fauna considerada doméstica (BRASIL, 1994d).

No ano de 1996 existiam no Brasil 91 zoológicos abrigando mais de 39 mil indivíduos de espécies silvestres nativas e exóticas (BRASIL, 1998a). TINÔCO (1999) constatou que de acordo com o IBAMA existiam em 1998 cento e quinze zoológicos no Brasil e 95 deles estavam registrados junto à SZB. Dos 115 zoológicos considerados pelo IBAMA, 17,39% eram totalmente ilegais, sem preencher as condições mínimas para licenciamento; os demais, 82,61%, obedeciam a legislação federal mas apenas 28,69% já haviam obtido a licença formal para funcionamento. Os Jardins Zoológicos brasileiros estavam divididos em 1998 em dois grupos principais: aqueles de natureza privada e os de administração pública (Quadro 2.1).

Quadro 2.1 – Situação legal dos zoológicos brasileiros em 1998 (TINÔCO, 1999).

Tipo de instituição Total de zoológicos Não licenciados Licenciados Registrados Não registrados

IBAMA 115 20 33 62 Privada 17 Pública 3 SZB 95 88 07 Privada 02 15 Pública 05 73

O Brasil é também signatário de diversos acordos internacionais que regulam as relações com a fauna e flora e que serão tratados no item a seguir.