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Legislação e administração referentes ao recurso em análise

2. A APA SÃO JOSÉ

2.2. Legislação e administração referentes ao recurso em análise

Em 1981, o Decreto n.º 21.308, do Estado de Minas Gerais, transformou a Serra de São José em uma Área de Proteção Especial (APE), visando à sua conservação através da preservação de seus mananciais e do seu patrimônio histórico e paisagístico.

No ano de 1990, o Decreto n.º 30.934, do governo do Estado de Minas Gerais, criou a Área de Proteção Ambiental São José, seguindo a cópia fiel da APE, mas aumentando a proteção do referido ativo, que passa a ser fundamentada também na preservação da fauna e flora locais. Nesse decreto, foram explicitadas as normas de implantação e funcionamento da APA instaurada, assim como as atividades proibidas e restringidas em sua área, de acordo com o conceito de Área de Proteção Ambiental já apresentado anteriormente. Instituiu-se também a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) como órgão responsável pela administração da APA em análise, embora na atualidade tal função venha sendo exercida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) (FABRANDT, 2000).

Por meio do Decreto n.º 43.908, de 5 de novembro de 2004, o governo do Estado de Minas Gerais delimitou uma área de 3.717 ha, dentro da APA São José, destinada à unidade de preservação integral, denominada Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, nos Municípios de Tiradentes, Santa Cruz de Minas13, São João del Rei, Coronel Xavier Chaves e Prados. A criação do refúgio aumentou a restrição das atividades econômicas, inclusive visitação.

De acordo com Beghini (2005), o IEF pretende ampliar a área do refúgio e transformar a região em um parque estadual. Se isso ocorrer, diferentemente do que é praticado em uma APA, o governo do Estado terá que desapropriar as suas terras e indenizar os proprietários, embora o turismo possa continuar a ser desenvolvido na

Serra de São José, respeitados os preceitos ambientais de sustentabilidade e preservação. A referida proposta do IEF foi motivada pelas ameaças humanas crescentes, já citadas anteriormente, que vem provocando perda de espécies e alterações na paisagem da APA São José.

Apesar de toda a legislação e preocupação de algumas entidades e órgãos públicos envolvendo a área da Serra de São José e seu entorno, a sua APA ainda não foi efetivamente implantada, existindo apenas os seus limites em documentos cartográficos, sem qualquer delimitação física concreta. Tal situação se deve ao fato de que até o presente momento, por razões políticas, não foi formalizado o Conselho Consultivo da APA São José, embora duas propostas já tenham sido encaminhadas para aprovação pela Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD-MG). Esse sistema de gestão, instituído em 1996 pelo Decreto n.º 38.18214, do governo do Estado de Minas Gerais, tem como objetivo permitir com que os órgão públicos, setores produtivos e associações civis interessados, participem de maneira atuante da administração de determinada APA, auxiliando o IEF – cujo representante seria o presidente do conselho – na promoção da proteção efetiva e do desenvolvimento sustentável em territórios de proteção ambiental.

A não-existência de um Conselho Consultivo da APA São José dificulta as ações do IEF, pois se torna inviável para que esse último praticamente sozinho exerça, de maneira efetiva e completa, a supervisão, fiscalização e planejamento do referido recurso ambiental, dada a sua grande extensão. Além disso, tal situação impede a implantação do Zoneamento Ecológico-Econômico na área da APA – embora já exista um estudo a esse respeito, feito em 2000, pela Fundação Alexander Brandt (FABRANDT) – e, conseqüentemente, a elaboração completa e a execução de um Plano de Manejo para a referida unidade de conservação.

O Zoneamento Ecológico-Econômico é definido conforme Fabrandt (2000), como uma técnica prevista na legislação específica do planejamento de uma APA que, a partir da consideração dos atributos biológicos, físicos e socioeconômicos existentes

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Esse decreto sofreu pequena alteração pelo Decreto Estadual n.º 38.627, de 1997, que transformou a representação dos órgãos, setores e entidades no Conselho Consultivo de paritária para proporcional, com no máximo três membros efetivos e três suplentes.

em seu território, divide-a em setores ou zonas de acordo com a sua vocação e aptidões locais, de forma a garantir a proteção do ativo ambiental, assim como o seu uso sustentável para fins econômicos.

Já o Plano de Manejo caracteriza-se como um projeto dinâmico que se utiliza de técnicas de planejamento ecológico, com o objetivo de estabelecer diretrizes básicas para o manejo da unidade de conservação de acordo com os diagnósticos do Zoneamento Ecológico-Econômico, que se constitui na primeira fase do referido planejamento. O Plano de Manejo engloba ainda a monitoria e avaliação de seus resultados por parte dos gestores da unidade de conservação, a fim de se verificar a necessidade de alterações na sua consecução de acordo com os novos conhecimentos adquiridos ou em virtude da não-obtenção de resultados satisfatórios quanto à preservação e, ou, utilização sustentável do ativo ambiental em questão (CEM/UFPR, 2005).

A não-implementação do Zoneamento Ecológico-Econômico e, por conseguinte, do Plano de Manejo, na área do ativo analisado, torna impraticável a implantação efetiva e sustentável da APA São José que, existindo somente em legislação, não se tem mostrado capaz de evitar a degradação crescente causada por ações antrópicas na área da Serra de São José e seu entorno. Nesse sentido, torna-se fundamental que as populações dos municípios que compreendem o referido ativo ambiental se organizem no sentido de pressionar as autoridades para que a APA São José seja realmente implementada, a fim de que se possa garantir a preservação de seu patrimônio natural remanescente, assim como a exploração racional de suas potencialidades.