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De maneira geral, de acordo com Marques e Comune (1996), podem-se distinguir, dentro da economia, três correntes distintas que procuram valorar bens ambientais: economia do meio ambiente e dos recursos naturais, que se fundamenta na teoria neoclássica; economia ecológica, baseada nos fluxos de energia líquida dos ecossistemas e nas leis da termodinâmica; e economia institucionalista, que trata o problema da valoração através dos custos de transação incorridos pelos agentes sociais, visando alcançar determinado padrão ambiental.

No presente estudo, seguiram-se os conceitos de valoração ambiental propostos pela teoria neoclássica, por serem esses os mais aplicados atualmente em termos práticos. Tal situação se deve não somente ao desenvolvimento e aprofundamento de conceitos e métodos voltados para a valoração ambiental realizados pela economia do meio ambiente e dos recursos naturais, como também à derivação por parte desta de importantes instrumentos de política16 voltados para o gerenciamento do meio ambiente17.

A partir desse ponto do trabalho, todas as discussões referentes à valoração ambiental dizem respeito aos conceitos neoclássicos. Nesse sentido, segundo Seroa da Motta (1998), valorar economicamente um ativo ambiental consiste em determinar como se processam variações no bem-estar das pessoas, em virtude de mudanças nos bens e serviços ambientais, seja na apropriação por uso ou não – pressupondo-se hipóteses sobre o comportamento do indivíduo consumidor – ou sobre o efeito do consumo ambiental em setores diversos da economia.

Pearce (1992) destacou algumas razões para se justificar a importância de se valorarem bens e serviços ambientais, as quais ultrapassam a simples determinação de uma quantia monetária que expresse o valor destes últimos.

A primeira diz respeito ao fato de que a valoração permitiria incluir no sistema de contas nacionais o valor do estoque de recursos ambientais, assim como o fluxo de

16 Dentre esses instrumentos, podem-se citar: imposto pigouviano, leilão de licenças para poluir, subsídios,

quotas, taxas, regulamentos e padrões fixados para o gerenciamento ambiental, entre outros.

suas amenidades geradas. Nesse sentido, danos ambientais reduziriam o Produto Interno Bruto (PIB) de determinado país, refletindo, de maneira mais abrangente, o conjunto de bens e serviços gerados em certo fluxo de tempo. Tal situação reforçaria a concepção de que degradações do meio ambiente afetam o bem-estar dos indivíduos, e que medidas devem ser tomadas para conservá-lo, a fim de que se tenha uma utilização sustentável de suas potencialidades. Conforme destacou Seroa da Motta (1998), diminuições na renda agregada de um país poderiam ser indicadores adequados para a análise de investimentos federais necessários para a conservação ambiental, com vistas à consecução de um desenvolvimento sustentável para a nação como um todo.

A segunda, conforme destacado anteriormente, deve-se à importância da valoração como instrumento direto de auxílio para o poder público na gestão de ativos ambientais. Ou seja, a estimativa de fluxos de amenidades fornecidas por esses últimos poderia ser usada em análises de custo–benefício de projetos localizados voltados para a conservação e melhoria do meio ambiente, assim como em outras questões, como a possibilidade de substituição de espaços naturais por empreendimentos econômicos. No mesmo sentido, a valoração poderia ser utilizada pela iniciativa privada para análise da viabilidade de uma utilização sustentável das potencialidades econômicas de determinados ativos ambientais.

Por fim, a valoração tende a enfatizar a importância dos recursos ambientais18, auxiliando a consecução de um desenvolvimento sustentável.

Conforme enfatizou Seroa da Motta (1998), embora os recursos ambientais, por serem bens públicos, não apresentem um preço definido pelo mercado, eles possuem valor econômico, já que a sua disponibilidade altera o nível de produção e bem-estar da sociedade. Além disso, o referido autor destacou ainda que tal valor engloba todos os atributos do ativo em análise, estando estes relacionados ou não com a sua apropriação. Dessa forma, de acordo com a taxonomia proposta por Pearce e Turner (1990), pode-se subdividir o valor econômico de um recurso ambiental (VERA) em três parcelas: valor de uso, valor de opção e valor de existência.

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Isso porque o ser humano tende a usar, de maneira racional, somente aquilo que apresenta um valor monetário (preço) positivo.

A primeira refere-se ao valor que os indivíduos atribuem ao uso atual de forma direta ou indireta de bens e serviços ambientais. O uso direto relaciona-se com a apropriação propriamente dita, a exemplo da extração de recursos ou visitação19. Quanto ao uso indireto, este se deriva das funções ecossistêmicas do meio ambiente, como a proteção do solo e a estabilidade climática fornecidas pela conservação das florestas.

A segunda diz respeito à disposição a pagar dos agentes para conservar recursos ambientais para uso futuro próprio ou para gerações subseqüentes, já que a substituição desses recursos seria difícil ou impossível. Um exemplo seria a preservação da Floresta Amazônica, visando à exploração futura da potencialidade medicinal de suas ervas e plantas.

Já a terceira engloba o valor que a sociedade atribui a determinada amenidade ou ativo pelo simples fato de ela existir, sem que haja intenção de apreciá-la ou usá-la de alguma forma, representando puramente um consumo ambiental. Exemplo seria a preservação de espécies animais – como baleias e mico-leões dourados – em regiões de difícil acesso, as quais a maioria das pessoas dificilmente visitará. Mesmo assim, por razões morais, culturais ou altruísticas relacionadas ao direito de existência desses animais, as pessoas lhes atribuem valor.

Conforme destacou Brugnaro (2000), a dificuldade de se valorarem bens ambientais tem motivado, principalmente a partir da década de 1970 e com elevado avanço metodológico nas décadas seguintes, um grande número de pesquisas e ensaios sobre metodologia e técnicas de estimação de tais valores. Maiores discussões acerca de tais métodos e das inovações realizadas na área da valoração ambiental podem ser obtidas em Mitchell e Carson (1989), Freeman III (1993), Seroa da Motta (1998) e Silva (2003).

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