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Legislação e princípios voltados ao meio ambiente

A legislação ambiental com seus princípios constitui instrumentos basilares de qualquer processo de gestão ambiental. Na visão de Moura (2009) o texto constitucional brasileiro é um dos mais avançados do mundo em matéria ambiental. As normas ambientais da CF/88 são solidificadas pelas disposições das constituições estaduais, assim como pelas leis orgânicas dos municípios que proporcionam proteção ao patrimônio natural do Brasil.

A Constituição Federal de 1988 não é clara no que concerne as distribuições de competências, em matéria ambiental, entre os entes federados. Essa ambiguidade no que tange a competência de cada ente tem gerado dificuldades no planejamento e gestão das questões ambientais, fato que acaba comprometendo o desenvolvimento de práticas mais efetivas.

Sobre o tema, o art. 23, VI, da CF/88 dispõe que: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer uma de suas formas”. Ou seja, todos os entes federados são responsáveis pela proteção do meio ambiente e pelo combate a quaisquer formas de poluição. Um direito constitucional que merece destaque e que mantém uma relação muito próxima com o meio ambiente é o direito à saúde, preconizado no art. 32 da CF/88. Fiorillo e Ferreira (2015) fazem uma abordagem deste direito personalíssimo dentro da perspectiva da promoção de condições a um ambiente saudável.

O processo de gestão ambiental pode colaborar com a referida promoção, o art. 225 da CF/88, constante na epígrafe deste trabalho, expõe muito bem isto: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O poder público a que se refere é aquele exercido pelos entes federados. Por exemplo, enquanto os Estados têm suas constituições estaduais, os municípios possuem suas leis orgânicas, sendo as aludidas leis responsáveis por regular as especificidades locais.

Como exemplo de disposição normativa que tem expressiva relevância pode-se citar a Lei Federal nº 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA), onde se trata da preservação, recuperação e melhoria da qualidade ambiental propícia à vida, onde também são abordados temas como a gestão pública das cidades, a questão ambiental e a qualidade de vida.

Com relação aos direitos, Fiorillo e Ferreira (2015) apresentam considerações sobre a conceituação unitária de meio ambiente como interesse difuso. É considerado difuso porque não se refere, exclusivamente e integralmente, a um sujeito público ou privado e, sim um interesse sem dono definido, não se podendo determinar o titular deste direito.

Os referidos autores salientam que a escolha pela centralidade do sujeito explica sua proximidade como campo do direito ambiental. Isto é necessário para averiguar, em que medida o estabelecimento de sujeitos de direitos é capaz de direcionar a elaboração de políticas legislativas que favoreçam estratégias de sustentabilidade.

Milaré (2009) enfatiza o meio ambiente, como fator inteiramente implicado no bem- estar da coletividade e alerta que deve ser resguardado dos excessos quantitativos e qualitativos da produção econômica que comprometem a sustentabilidade, assim como deve- se ficar atento aos possíveis abusos no uso das liberdades conferida aos empreendedores. Por isso, a aplicação da legislação e dos princípios ambientais é o principal instrumento de controle destes abusos.

Neste sentido, o objetivo da PNMA encontra-se contido no seu art. 2º, onde versa que é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia a vida, objetivando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses na segurança nacional e ao amparo da dignidade da vida humana. Ou seja, a qualidade ambiental é algo que deve ser perseguido para que a qualidade de vida seja promovida. A dignidade da vida pressupõe o respeito as condições mínimas de sobrevivência.

Dentre as legislações que tratam da questão ambiental, direta ou indiretamente, à luz daquelas citadas por Milaré (2009) destacam-se as seguintes: Lei n° 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente); a Lei nº 7.735/1989 (Cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama); a Lei nº 8.746/1993 (Cria o Ministério do Meio Ambiente); a Lei nº 9.795/1999 (Trata da Política Nacional de Educação Ambiental); a Lei nº 9.985/2000 (Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza); a Lei nº 11.105/2005 (Lei da biossegurança); a Lei n° 11.284/2006 (Dispõe sobre a gestão das florestas públicas para a produção sustentável); a Lei nº 11.445/2007 (Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico); dentre outras.

A Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) no seu art. 40 destaca que aprovado por lei municipal, o “Plano Diretor”, é um instrumento basilar da política de desenvolvimento e expansão urbana, constituindo um elemento integrante do processo de planejamento municipal. Através da colocação em prática das ações previstas no seu plano diretor o município pode melhorar a qualidade de vida dos munícipes.

A Lei n° 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB), apesar de não tratar especificamente de questões ambientais, apresenta que a educação ambiental deve ser entendida e trabalhada na educação fundamental como tema transversal, como proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ou seja, propõe uma abrangência e importância maior a educação ambiental.

No que concerne, ao princípio da participação comunitária Milaré (2009) salienta que, o referido princípio encontra fundamento no art. 125, da constituição de 1988. Segundo o autor ele impõe à coletividade a necessidade de zelar pelo equilíbrio ecológico do planeta. Observa-se que, o princípio em tela aponta para a obrigação do constante diálogo entre o Estado, a sociedade e os demais segmentos sociais sobre a preservação do meio ambiente.

A legislação ambiental serve como o instrumento fundamental para orientar e legitimar as ações ambientais. Os princípios ambientais, também, são importantes mecanismos para oportunizar soluções aos problemas ambientais, eles são considerados os eixos norteadores do direito ambiental que protegem os direitos difusos.

Como exibido por Milaré (2009), as principais normas ambientais são as leis do tipo ordinária, a exemplo, a Lei nº 6.938/1981 e a Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais - LCA). As alegadas leis são exemplos clássicos de normas que regulam a relação do homem com a natureza.

Além destas, também, é necessário citar o Decreto nº 99.733/1998, que dispõe sobre a inclusão no orçamento de projetos e obras federais, de recursos com a finalidade de serem utilizados na prevenção ou reparo dos prejuízos de natureza ambiental e social proveniente da execução desses projetos e obras.

Com base no que preconiza a legislação ambiental, Philippi Jr et al (2004) destacam que o processo de gestão urbana engloba o planejamento dos procedimentos a serem seguidos, sua implementação e acompanhamento para reorientar os procedimentos na procura de alcançar os fins previamente estabelecidos.

Ao estudar o meio ambiente e os desafios da contemporaneidade, no contexto do direito ambiental, os coordenadores da obra Farias e Coutinho (2010) reconhecem os bens ambientais como bens de interesse comum da humanidade. Também enfatizam que, os princípios têm ganhado destaque dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Pois, nasce uma nova concepção de princípios lastreada não mais pela normatividade nula e pelo caráter abstrato e abrangente.

Para Farias e Coutinho (2010), a citada questão ambiental tem sido institucionalizada, fato que tem facilitado a solução dos conflitos entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, uma vez que, os debates sobre as questões ambientais perpassam por várias áreas da nossa vida. Para os coordenadores da obra, a política ambiental no nosso país vem sendo desenvolvida de modo que, a regulação proveniente das normas jurídicas tem por fito controlar o acesso e o uso dos recursos naturais.

Contudo, não basta criar as normas ambientais faz-se necessário o estabelecimento de mecanismos que facilitem a aplicação das previsões contidas nas referidas normas. É necessário definir de quem é a atribuição, com relação este ou aquele tema. Farias e Coutinho (2010) salientam que o princípio federativo de previsão constitucional tem sido mitigado pela atribuição de competências concorrentes e comuns a todos os entes federados. Neste sentido, o que deve predominar no âmbito municipal é o interesse local, é importante alertar que não se deve confundir com o interesse do município. Para estes autores, o meio ambiente foi recepcionado pela CF/88 como bem difuso, ou seja, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, vez que é imposto ao poder público e a coletividade o dever de protegê-lo.

Deste modo, para o Farias e Coutinho (2010), o princípio democrático assegura aos cidadãos o direito de, na forma da lei ou regulamento, participar das discussões para a elaboração das políticas públicas ambientais e de obter informações dos órgãos públicos sobre matéria referente à defesa do meio ambiente.

Os citados autores defendem o envolvimento e a participação ativa da população na preservação do meio ambiente. Pois, o poder público não tem condições de sem a colaboração da sociedade zelar pela aplicação do direito ambiental.

Farias e Coutinho (2010) definem o direito ambiental como um conjunto de normas que com base no elemento ambiental e no valor ético ambiental, institui os instrumentos normativos capazes de disciplinar as atividades humanas em relação ao meio ambiente.

Como exibido, o direito ambiental é ramo do direito que engendra um sistema de dispositivos legais voltado a regular casuísticas relacionadas as questões ambientais. Neste sentido, o citado ramo do direito tem um importante papel para garantir a qualidade ambiental para as presentes e futuras gerações.

Na visão de Santos (2013), o meio natural generalizado era utilizado pela humanidade sem significativas transformações. Nos dias atuais, para a convivência harmônica necessita-se de mecanismos de controle, sendo o principal deles a legislação.

Nessa linha de raciocínio, Farias e Coutinho (2010) apresentam o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), como um exemplo de um instrumento que pode colaborar com a referida harmonização. O citado TAC, também conhecido por Compromisso de Ajustamento de Conduta, tem ganhado destaque como um mecanismo de resolução negociada de conflitos envolvendo direitos difusos e coletivos.

A CF/88 apresenta o meio ambiente como um bem de uso comum, com a responsabilidade em buscar alternativas para um meio ambiente equilibrado é, tanto do poder público como da coletividade. Deste modo, Milaré (2009) assegura a reciprocidade entre direito e dever dos envolvidos, pois as possibilidades de se desfrutar de um mundo plenamente habitável não é apenas direito, é dever precípuo do poder público e da sociedade. Neste sentido, ao direito de gozar corresponde o direito de zelar.

Dentro desta relação de direito e dever, Calixto (2008) considera o “Estatuto da Cidade”, instituído pela Lei nº 10.257/2001, como um dos principais documentos para redefinição do espaço urbano. A autora expõe que o citado estatuto regulamenta a política urbana, como consta na CF/88 e, além disso, funda diretrizes gerais da referida política.

Bueno e Cymbalista (2007) ressaltam com o advento da CF/88 e com o Estatuto da Cidade, o plano diretor ganhou destaque, enquanto instrumento de política urbana. De modo que passa a ser considerado um fundamental instrumento de política de desenvolvimento e expansão urbana. Além disso, o plano diretor assume o papel de definir o conteúdo da função social da propriedade.

Dentro do contexto da relação entre direito e meio ambiente, Bueno e Cymbalista (2007) salientam o papel do plano diretor. Segundo os referidos autores, é notório que o texto do plano em tela deve ser reavaliado periodicamente, com a finalidade de compatibilizar as disposições do aludido texto com a realidade social vigente, de modo, a atender as reais necessidades da municipalidade na promoção do bem-estar.

Como exemplo de legislação voltada para a promoção de qualidade de vida destaca-se a Lei nº 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS). Pois, dentre as disposições contidas na alegada política ressaltam-se aquelas que versam sobre a política pública de coleta seletiva. A problemática decorrente do trato com os resíduos sólidos tem sido um dos grandes desafios do poder público.

De acordo com Silva et al (2010) para o êxito de um programa de coleta seletiva é imprescindível a sensibilização e conscientização de todos os atores envolvidos (comunidade local, poder público, setor empresarial) por meio de campanhas de educação ambiental, objetivando alertar a todos sobre o seu papel de cada um como gerador de resíduos. Ainda conforme os autores, ao considerar a dimensão social, o processo de coleta seletiva, de modo geral, é um meio de sobrevivência para muitas famílias envolvidas diretamente com a aludida coleta ou indiretamente nas empresas que negociam os produtos reciclados.

Para Silva et al (2010), os catadores que atuam nos lixões e realizando a coleta nas ruas são responsáveis por 90% dos materiais recicláveis que abastecem as indústrias de reciclagem no Brasil. Como o crescimento das cidades e o apelo midiático pelo consumo tem crescido a produção de resíduos sólidos, que impõe desafios a vida em sociedade e a relação homem e natureza.

A conjuntura atual requer a ampliação do espaço de debates sobre o respeito aos direitos da coletividade, como é o do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por isso, a legislação ambiental, por exemplo, deve ser de conhecimento tanto do poder público como da sociedade, para que a população possa colaborar para a implementação da política ambiental.

É necessário que os gestores tenham a liberdade necessária para que tecnicamente possam elaborar o planejamento ambiental, amparado na política ambiental (legislação e princípios ambientais) e que disponha dos meios necessários para que promova a efetividade do gerenciamento ambiental, com foco no atendimento das demandas impostas ao poder público na busca pela qualidade de vida. Daí a necessidade de se refletir sobre a relação entre o planejamento urbano e o meio ambiente.

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