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2.6. Equipamentos Elétricos e Eletrónicos

2.6.1. Legislação em Matéria de REEE

A UE desde cedo tem presente a necessidade da criação de medidas em relação a este fluxo específico de resíduos. A Diretiva 75/442/CEE do Conselho, de 15 de Julho de 1975, é um bom exemplo disso que previu que havia condições para o estabelecimento, a partir de diretivas específicas, regras para os casos especiais ou em complemento das previstas na Diretiva 75/442/CEE quanto à gestão de determinadas categorias de resíduos. Em 1996, o Parlamento Europeu solicitou à Comissão que apresentasse propostas de diretivas relativas a vários fluxos de resíduos prioritários, incluindo os REEE. Em Junho de 2000, foi publicada a Diretiva COD 2000/0158, relativa aos REEE e a Diretiva 2000/0159, referente à restrição do uso de determinadas substâncias perigosas em EEE (Carvalho, 2008). Em 2003, são publicadas as Diretivas 2002/95/CE (Diretiva RoHS (Restriction of Certain Hazardous Substances)) do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Janeiro, relativa ao uso de determinadas substâncias perigosas em EEE e a Diretiva 2002/96/CE (Diretiva REEE) do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Janeiro, alusiva aos REEE.

Diretiva REEE

A Diretiva 2002/96/CE foi reformulada dando origem à Diretiva 2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de Julho. Os objetivos da política ambiental da União são, em especial, a preservação, proteção e melhoria da qualidade do ambiente, a proteção da saúde humana e a utilização prudente e racional dos recursos naturais. Esta política baseia-se no princípio da precaução e nos princípios da ação preventiva, da correção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e do poluidor-pagador.

Ao prever a responsabilidade do produtor, a diretiva incentiva a conceção e fabrico dos EEE que facilitem a reparação, a eventual atualização, reutilização, desmontagem e reciclagem dos REEE.

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A presente Diretiva inclui os EEE utilizados pelos consumidores, mas também os EEE utilizados a nível profissional. É incluído nesta mesma Diretiva encontram-se requisitos de conceção ecológica que facilitam a reutilização, o desmantelamento e a valorização dos REEE.

A recolha seletiva é uma condição prévia para assegurar um tratamento e reciclagem dos REEE que é necessária para atingir o nível desejado de proteção da saúde humana e do Ambiente da UE. O símbolo que indica a recolha seletiva de EEE é constituído por um contentor de lixo barrado com uma cruz. O símbolo deve ser impresso de forma visível, legível e indelével (Figura 4).

Figura 4: Símbolo para marcação dos EEE.

Por outro lado, a Diretiva tem o objetivo de evitar as transferências indesejadas de EEE que não funcionem para países em desenvolvimento.

O tratamento dos REEE, segundo a Diretiva, deverá ser específico para este fluxo específico de resíduos, com a finalidade de evitar a dispersão de poluentes no material reciclado ou no fluxo de resíduos. Os estabelecimentos ou empresas que efetuem operações de recolha, reciclagem ou tratamento deverão cumprir normas mínimas para prevenir os impactes negativos associados ao tratamento de REEE. Deverão se utilizar as MTD (Melhores Técnicas Disponíveis) de tratamento, valorização e reciclagem, desde que se assegurem a proteção da saúde humana e uma elevada proteção do ambiente.

A recolha, o armazenamento, o transporte, o tratamento e a reciclagem de REEE deverão ser realizados de acordo com uma abordagem orientada para a proteção do ambiente e da saúde humana e a preservação das matérias-primas. Em complemento, deverão ter por objetivo a reciclagem de recursos valiosos contidos nos EEE com vista a assegurar um melhor fornecimento de mercadorias na UE.

A Diretiva apresenta os objetivos mínimos de valorização e reciclagem bem como metas de valorização e reciclagem (Tabela 4, Tabela 5 e Tabela 6). Para facilitar a gestão, e em especial o tratamento e a valorização ou reciclagem dos REEE, é importante que os produtores

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forneçam informações sobre a identificação dos componentes e materiais presentes neste tipo de resíduos.

Tabela 4:Objetivos Mínimos, por Categoria do anexo I (Categorias de EEE) da Diretiva 2012/19/UE, de Valorização, Reciclagem e Reutilização entre 13 de Agosto de 2012 até 14 de Agosto de 2018.

Tabela 5: Objetivos Mínimos, por Categoria do anexo III da Diretiva 2012/19/UE, de Valorização, Reciclagem e Reutilização a partir de 15 de Agosto de 2018.

Categorias Valorização Reciclagem e Reutilização

1 85% 80%

2 80% 70%

3 --- 80% devem ser reciclados

4 85% 80%

5 75% 55%

6 75% 55%

Os objetivos definidos na Tabela 5 retratam uma diferente categorização dos resíduos. Na Tabela 6 são definidos os equipamentos pertencentes à categoria apresentada na tabela anterior. Categorias Entre 13 de Agosto de 2012 e 14 de Agosto de 2015 Entre 15 de Agosto de 2015 e 14 de Agosto de 2018

Valorização Reciclagem Valorização Reciclagem e Reutilização 1 80% 75% 85% 80% 2 70% 50% 75% 55% 3 75% 65% 80% 70% 4 75% 65% 80% 70% 5 70% 50% 75% 55% 6 70% 50% 75% 55% 7 70% 50% 75% 55% 8 70% 50% 75% 55% 9 70% 50% 75% 55% 10 80% 75% 85% 80% Lâmpadas de descarga de gás --- 80% --- 80% devem ser reciclados

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Tabela 6:Categorias de EEE abrangidos pela Diretiva 2012/19/UE.

Categorias

1 Equipamentos de regulação de temperatura.

2 Ecrãs, monitores e equipamentos com ecrãs de superfície superior a 100m2.

3 Lâmpadas.

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Equipamentos de grandes dimensões (com qualquer dimensão externa superior a 50 cm), incluindo, mas não limitados a: Eletrodomésticos; equipamentos informáticos e de

telecomunicações; equipamentos de consumo; aparelhos de iluminação; equipamento para reproduzir sons ou imagens, equipamento musical; ferramentas elétricas e eletrónicas; brinquedos e equipamento de desporto e lazer; dispositivos médicos; instrumentos de monitorização e controlo; distribuidores automáticos; equipamento para geração de corrente elétrica. Não se incluem nesta categoria os equipamentos abrangidos pelas categorias 1 a 3.

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Equipamentos de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50 cm), incluindo, mas não limitados a: Eletrodomésticos; equipamentos de consumo; aparelhos de iluminação; equipamento para reproduzir sons ou imagens, equipamento musical; ferramentas elétricas e eletrónicas; brinquedos e equipamento de desporto e lazer; dispositivos médicos; instrumentos de monitorização e controlo; distribuidores automáticos; equipamento para geração de corrente elétrica. Não se incluem nesta categoria os equipamentos abrangidos pelas categorias 1 a 3 e 6.

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Equipamentos informáticos e de telecomunicações de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a

50 cm).

Os EM (Estados Membros) deverão prever sanções efetivas, proporcionadas e dissuasivas a aplicar às pessoas singulares e coletivas responsáveis pela gestão de resíduos que infrinjam o disposto na presente Diretiva. Para o acompanhamento da concretização dos objetivos da presente diretiva são necessárias informações sobre o peso dos EEE colocados no mercado na UE e sobre as taxas de recolha, preparação para a reutilização, incluindo, na medida do possível, a preparação para a reutilização de aparelhos inteiros, a valorização ou a reciclagem e a exportação de REEE recolhidos nos termos da presente Diretiva.

Os processos de valorização têm um grande impacto positivo em relação dos impactes económicos e ambientais. O Gráfico 1 mostra a distribuição dos impactes económicos das diferentes etapas do sistema de gestão de REEE.

Gráfico 1:Distribuição dos Impactes Económicos ao longo da cadeia operacional dos REEE (Adaptado de Ferreira, 2009).

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O Gráfico 1 indica que o impacte económico dos processos de valorização tem influencia positiva no sistema de gestão de REEE. Por outro lado, todas as outras etapas do sistema acarretam despesas à entidade gestora, mas a etapa que mais influência negativa tem é a etapa de fragmentação, triagem, desmantelamento e pré-tratamento, seguida da recolha e transporte.

O Gráfico 2 mostra a distribuição dos impactes ambientais das diferentes etapas do sistema integrado de REEE.

Gráfico 2:Distribuição dos impactes ambientais ao longo da cadeia operacional dos REEE (Adaptado de Ferreira, 2009).

O Gráfico 2 denota que os processos de reciclagem e os processos de valorização são etapas que têm influência positiva no sistema de gestão de REEE, com a etapa de valorização a ser a etapa que mais influencia positivamente o sistema. Por outro lado, as etapas que afetam negativamente o sistema de gestão de REEE são as etapas de recolha e transporte, emissões antes e durante o pré-tratamento e a as etapas de incineração e aterro.

Diretiva RoHS

A Diretiva 2002/95/CE, de 27 de Janeiro (Diretiva RoHS) promulgada pela Diretiva 2011/65/UE visa reduzir o impacte ambiental dos EEE quando atingem o fim de vida útil. Para isso, a Diretiva estabelece regras em relação à restrição da utilização de substâncias perigosas em EEE, tendo em vista contribuir para a proteção da saúde humana e do ambiente, incluindo uma valorização e uma eliminação, ecologicamente corretas, dos REEE.

As medidas previstas na presente Diretiva deverão ter em conta as orientações e recomendações internacionais existentes e deverão basear-se na avaliação da informação

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científica e técnica disponível. Estas medidas são necessárias para atingir o nível escolhido de proteção da saúde humana e do ambiente, tendo em conta o princípio da precaução, ponderados os riscos que poderiam decorrer para a União Europeia da não adoção de quaisquer medidas. No Anexo V estão presentes os equipamentos a que não se aplica esta Diretiva.

Diretiva EuP

A Diretiva EuP (Energy using Products) ou Diretiva 2009/125/CE, de 6 de Julho, é referente à criação de um quadro que define os requisitos de conceção ecológica dos produtos que consomem energia. Esta Diretiva altera a Diretiva 2005/32/CE do Parlamento Europeu e do Conselho e tem como objeto assegurar o livre movimento desses produtos no mercado interno da UE.

Os produtos dependentes de energia representam uma grande proporção no consumo de recursos naturais e de energia. Eles também têm inúmeros impactes ambientais. Para a grande maioria de categorias de produtos disponíveis no mercado da Comunidade Europeia, diferentes graus de impacte ambiental podem-se assinalar ainda que forneçam performances similares. Tendo em vista o desenvolvimento sustentável, a melhoria contínua do impacte no meio ambiente desses produtos deve ser incentivado, nomeadamente pela identificação das principais fontes de impactes ambientais negativos e evitar a transferência de poluição, quando essa melhoria não implica custos excessivos.

A conceção ecológica dos produtos é um fator crucial na Estratégia Comunitária na Política Integrada do Produto. Como uma abordagem preventiva, que visa a otimização da performance ambiental dos produtos, mantendo as suas qualidades funcionais, apresentando novas oportunidades para os fabricantes, consumidores e sociedade como um todo.

Transposição das Diretivas Comunitárias

Anteriormente à publicação das Diretivas Comunitárias relativas aos REEE (Diretiva nº 2002/95/CE e 2002/96/CE), vigorava em Portugal o Decreto-Lei nº 20/2002, de 30 de Janeiro, o qual estabeleceu um conjunto de regras de gestão de REEE primordiais mas que, na prática, não surtiram grande aplicabilidade (Carvalho, 2008).

A publicação das Diretivas europeias, nomeadamente a Diretiva 2002/95/CE e 2002/96/CE, tiveram de ser transpostas para a legislação nacional dos EM da UE, e Portugal não foi exceção. Portugal criou o Decreto-Lei nº230/2004, de 10 de Janeiro, incluindo ambas as diretivas europeias descritas acima. Este decreto veio assim substituir o anterior Decreto-Lei

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nº 20/2002. O Anexo VI demonstra a transposição e implementação dos requisitos da Diretiva REEE 2002/96/CE no Decreto-Lei nº230/2004.

O Decreto-Lei nº230/2004 já foi revisto várias vezes, dando lugar ao Decretos-Lei nº174/2005, de 25 de Outubro, Decreto-Lei nº178/2006, de 5 de Setembro, Decreto-Lei nº132/2010, de 17 de Dezembro e por fim o Decreto-Lei nº73/2011, de 17 de Junho.

O Decreto-Lei nº132/2010 reforça o dever de informação dos produtores sobre os REEE, na medida em que estabelece o dever de registo das quantidades de REEE, dos respetivos componentes, materiais e substâncias que entrem ou saiam de tratamento ou que entrem em valorização ou reciclagem. Com este reforço do sistema de informação e reporte potencia-se uma gestão dos REEE mais consciente e rigorosa. Além disso, esclarece-se que os produtores que forneçam EEE através de venda por comunicação à distância, também estão abrangidos pelo regime previsto no Decreto-Lei nº 230/2004. A fim de maximizar os benefícios ambientais a partir de um design melhorado, pode ser necessário informar os consumidores sobre as características e performance ambientais do produtos dependentes de energia e para aconselhar como utilizar os produtos de uma forma amiga do ambiente.