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2.2 LOGÍSTICA PARA GESTÃO DE LODOS DE ETES

2.2.2 Legislação Normas Internacionais

Em termos globais, as exigências legais para a reciclagem de biossólidos na agricultura têm abordado de forma integrada: condições mínimas das áreas de aplicação e os critérios de tratamento, transporte, armazenamento e aplicação aos solos de lodos brutos ou tratados. Mesclam-se assim, exigências relativas às diferentes etapas do processo de valorização agrícola do lodo, desde a geração e tratamento do produto ao nível da ETE até especificações segundo as condições do ambiente, forma de aplicação e monitoramentos complementares (BONNET, 1995 apud PEGORINI, 2002).

Segundo Pegorini, 2002, embora a valorização agrícola do lodo seja crescente no mundo toda, e em especial nos EUA e CEE, as normatizações nestas regiões apresentam grandes contrastes em função da abordagem utilizada na avaliação de riscos da atividade. No entanto são bastante coerentes com relação aos fatores controlados. Os parâmetros enfatizados mundialmente tem sido (USEPA, 1997; EPS, 1984; EU86/278/EEC; SANTOS, 2001; BUNDGAARD E SAAYBE, 1992):

• Qualidade do lodo de esgoto: conteúdo de nutrientes, conteúdo de poluentes (metais pesados e compostos orgânicos), redução de patógenos

• Quantidade máxima de poluentes que pode ser aplicada nos solos

• Limitações para a área de aplicação: declividade, culturas, proximidade a corpos d'água; épocas de aplicação

• Dosagens de aplicação: baseadas na necessidade agronômica ou alterações de características do solo.

• Instruções de manejo do resíduo • Monitoramento

Segundo Santos (2001), citado em Pegorini (2002) há uma tendência mundial na exigência pelas normatizações de maiores níveis de qualidade para sua reciclagem agrícola, o que se refletirá em menor contaminação dos biossólidos produzidos. Esta tendência responde parcialmente às pressões ambientais, que em muitos locais questionam a prática de reciclagem agrícola e representam maior garantia de segurança da prática.

Um aspecto importante a ser levantado é a característica dinâmica das readequações das legislações a nível mundial. Alguns grupos de países estabeleceram regras básicas unificadas, como a Diretiva da Comunidade Econômica Européia, e algumas regulamentações são desenvolvidas no âmbito de cada país, com níveis diferenciados de exigências e especificidade. Na América do Norte, uma extensiva e dinâmica linha de regulamentações de razoável especificação é elaborada e constantemente revista pela EPA, para o assunto - ainda assim, normas complementares são estabelecidas em cada Estado. No Canadá, o EPS exerce uma normatização mais abrangente usada como base para a elaboração de regulamentações específicas pelos órgãos de agricultura e proteção ambiental de cada jurisdição (BONNET, 1995).

Entre os diversos contaminantes incluídos no documento 503, a legislação norte-americana, intitulada Padrões para o uso e disposição do lodo de esgoto publicada pela EPA, merecem destaque os metais pesados (arsênio, cádmio, cobre, chumbo, mercúrio, molibdênio, níquel, selênio e zinco) e os patógenos (coliformes fecais, ovos de helmintos e salmonellas). Além disso, a aplicação do lodo de esgoto deve ser feita de maneira a reduzir a atração de vetores de doenças, tais como ratos, pássaros, etc (Water Environment Federation, 1993, citado em PEGORINI, 2002).

Nos Estados Unidos a EPA propõe uma classificação dos lodos como classe A e B, segundo diferentes critérios de avaliação, especialmente no que se refere ao conteúdo de metais e de agentes patogênicos. Para a Classe A são exigidos: bactérias patogênicas, vírus, protozoários e ovos de helmintos abaixo do nível detectável e densidade de coliformes fecais e estreptococos < 100 por g de sólidos em suspensão ou lodo aquecido a 53ºC por cinco dias ou a 55ºC por três dias ou 70ºC por 0,5 horas. Para lodo Classe B: densidade de bactérias e vírus por grama

de sólidos em suspensão é 100 vezes menor no lodo que no afluente ou densidade de coliformes fecais e estreptococos < 106 por g de sólidos em suspensão. (ESTADOS UNIDOS. Environmental Protection Agency, 1992).

A EPA propõe ainda um critério de classificação quanto à tecnologia de tratamento, classificando em dois níveis de tratamento: o chamado Process to Significantly reduce pathogens (PSRP) (basicamente reduz de duas unidades logo o número de indicadores de microrganismos patogênicos) e o Process to further reduce pathogens (PFRP). O PSRP se refere a compostagem em sistema de reator, leira estática ou sistema windrow, temperatura mínima de 40ºC, e manutenção de 55 ºC por pelo menos quatro horas. O PFRP se refere a compostagem em reator ou leira estática a temperatura superior a 55 ºC por pelo menos três dias, e a compostagem em sistema windrow, com temperatura superior a 55 ºC por pelo menos quinze dias e no mínimo cinco revolvimentos durante o período de temperatura mais elevada (ESTADOS UNIDOS. Environmental Protection Agency, 1992).

Para alguns países europeus e o Japão, é importante o monitoramento da lixiviação do nitrogênio (na forma de nitrato) no ambiente. O Japão apresenta formas de controle da quantidade de nitrogênio adicionadas ao solo (Tabela 11).

TABELA 11 NORMA PARA APLICAÇÃO DE LODO DE ESGOTO EM SOLOS AGRÍCOLAS NO JAPÃO. Aplicação em profundidade Nitrogênio permitido (g m -2)* Solos de excelente qualidade Solos de boa qualidade Solos de baixa qualidade < 10 cm 10-15 30-45 45-60 < 20 cm 20-30 60-90 90-120 < 30 cm 30-45 90-135 135-180

* Os valores numéricos mostrados nessa tabela são dados para peso de nitrogênio total no lodo aplicado

Fonte: LUE-HING et al. (1992) citado em ANDREOLI (1999)

As práticas do manejo da aplicação do lodo no solo devem levar em conta as concentrações de metais pesados presentes no lodo, bem como os níveis cumulativos máximos permitidos no solo, quantidade de acumulação, as condições dos solos a nível regional, condições climáticas e topografia. A Tabela 12 mostra que países como a Dinamarca e a Alemanha tendem a restringir os valores máximos de metais pesados permitidos nos lodos. Por outro lado, os Estados Unidos, possuem os maiores níveis permitidos para todos os elementos, com exceção do chumbo.

Trabalhos indicam que os critérios adotados pelos Estados Unidos, que fixaram as normas através de 14 vias de contaminação (efeitos secundários), podem causar danos ecotoxicológicos a alguns microrganismos do solo importantes na fixação do nitrogênio. Os critérios podem, também, trazer sérios danos ambientais a longo prazo, devido ao acúmulo desses elementos tóxicos no ambiente (McGRATH et al., 1994 apud ANDREOLI, 1999). Os limites estabelecidos pelas Resoluções CONAMA e da SEMA-PR, são mais restritivas que a legislação da USEPA (1993), porém ainda superiores aos estabelecidos na Dinamarca e na Alemanha.

9 Comunidade Européia 1986 20-40 750-1200 1000-1750 1000-1750 16-25 300-400 2500-4000 França 1988 20 800 1000 1000 10 200 3000 Alemanha 1982 20 1200 1200 1200 25 200 3000 1992 10 900 800 900 8 200 2500 Espanha 1990 20 750 1000 1000 16 300 2500 Dinamarca 1990 1,2 120 1000 100 1,2 45 4000 1995 0,8 120 1000 100 0,8 30 4000 Finlândia 1995 1,5 100 600 300 1 100 1500 Noruega 4 100 1000 125 5 80 1500 Suécia 1995 2 100 600 100 2,5 50 800 Estados Unidos 1993 39-85 300-840 1500-4300 1200-3000 17-57 420-420 2800-7500 Nova Zelândia 1992 15 600 1000 1000 10 200 2000 Reino Unido 1989 3,5 300 225 600 1,5 125 500 NSW * 1991 8 300 1200 500 7,5 100 1800 Itália 1992 20 750 1000 --- 10 300 2500 Luxemburgo 1992 40 1200 1750 1750 25 400 4000 Países Baixos 1995 1,25 100 75 75 0,75 30 300 Canadá 1984 20 500 --- --- 5 180 1850 Brasil – CONAMA 375 2006 41 1300 39 300 1500 1000 17 50 2800 100 P4230 – CETESB 1999 75 85 840 4300 57 75 7500 DF 03-07 2006 20 26 500 15 3000 SEMA-PR 001/07 2007 41 1300 39 300 1500 1000 17 300 50 2800 100

* NSW: New Salte Wales (Austrália)