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3.18 DIRETRIZES PARA DISPOSIÇÃO DE LODO NO SOLO

3.18.1 Legislação norte-americana

Segundo Carvalho e Carvalho (2001) e Straus (2000), um país que merece destaque, tanto pelo rigor quanto pela maneira que conduziu a elaboração das suas normas para a disposição final do lodo de esgoto, são os Estados Unidos.

Como o lodo de esgoto já vinha sendo utilizado na agricultura em escala cada vez maior, a necessidade de uma legislação adequada para a proteção ao ambiente era necessária. Desta forma, em 1982, a EPA (Environmental Protection Agency) organizou um grupo de trabalho formado por técnicos da própria agência, publicando, no mesmo ano, um estudo de caso em quarenta cidades para, em 1983, apresentar as suas recomendações e, inclusive, a necessidade de um adequado programa de regulação. A abordagem da norma americana cobre três disposições do lodo:

a) aplicação no solo (agricultura, jardinagem, reflorestamento e em áreas degradadas); b) disposição no solo sem finalidade de fertilização ou correção das características físicas e químicas do solo;

c) incineração.

Ainda de acordo com o trabalho realizado por Carvalho e Carvalho (2001), em 1984 a EPA desenvolveu uma lista de duzentos poluentes, dos quais relacionou cinquenta para estudos detalhados e identificação das vias de exposição, sendo os casos mais prejudiciais estudados até 1985.

Entre 1985 e 1988 foram conduzidos estudos sobre as vias de risco para a proteção dos MEI (More Exposal Individual), incluindo as vias de exposição, o risco individual e agregado, o nível de risco aceitável para os poluentes cancerígenos, os riscos na alimentação humana, o risco potencial no transporte e os conceitos e cenários. Segundo Cunha e Neto (2000), a realização da avaliação das vias de exposição possibilita estimar o tipo e a magnitude da exposição às substâncias sob avaliação, entendendo-se como exposição o contato de um determinado organismo com a substância considerada.

De acordo com os autores, essa avaliação permite descrever o caminho percorrido pelo contaminante, desde a fonte até o organismo exposto, sendo identificados os mecanismos de sua liberação para o ambiente, os meios de transporte ou a retenção a que estão sujeitos, o ponto de contato dos indivíduos com os contaminantes e a via de ingresso dos poluentes nos organismos. Na tabela 3.29 são identificados os cenários de exposição considerados na Avaliação de Risco estabelecida pela EPA (1993).

Tabela 3.29 – Vias de risco, conforme a EPA (1993).

Via de risco Cenário

Lodo de esgoto (LE) –Solo-Planta – Homem

Homem come plantas durante toda a vida

LE-Solo-Homem Crianças ingerem terra com LE

LE-Solo-Planta-Animais-Homem Agricultores se alimentam, sempre, de produtos animais em solo fertilizado com LE

LE-Solo-Planta-Homem-Animais Agricultores consomem animais que ingeriram terra com LE enquanto pastavam

LE-Solo-Planta-Animal Animais ingerem, sempre, produtos produzidos em solos fertilizados com LE

LE-Solo-Animais Animais ingerem LE ao pastarem

LE-Solo-Planta Plantas crescem em solo fertilizado com LE LE-Solo-Biota do solo Biota do solo cresce em local fertilizado com LE LE-Solo-Biota-Predador Animais comem a biota que do solo com LE LE-Solo-Poeira-Homem Operários são expostos à poeira do solo com LE LE-Solo-água superficial-peixe-homem Homem come peixes e bebe água de nascentes

provenientes de solo fertilizado com LE

LE-Solo-Ar-Homem Homem aspira vapores de algum poluente volátil do LE

LE-Solo-Água subterrânea-Homem Homem bebe água de reservatórios rodeados por solos fertilizados por LE

Fonte: adaptado de Carvalho e Carvalho, 2001.

A Agência de Proteção Ambiental Americana (USEPA) lista uma série de técnicas destinadas a remover patógenos, classificando-as quanto à sua efetividade em PFRP (Process to Further Reduce Pathogens e PSRP-Process to Significantly Reduce Pathogens). Assim, a EPA (1992) reconhece sete processos na categoria PFRP, que são: compostagem, secagem por aquecimento, tratamento térmico, digestão aeróbia termófila, irradiação com raios Beta, irradiação com raios Gama e pasteurização.

O lodo resultante de um desses processos de tratamento é classificado pela EPA como lodo classe A, embora não seja um lodo estéril. Ao contrário, ele contém bactérias patogênicas e ovos viáveis de helmintos, mas reduzidos a níveis que se enquadram nos limites apresentados na tabela 3.30. O lodo classe A pode ser aplicado no solo para uso agrícola de forma irrestrita, incluindo gramados e jardins.

Os cinco processos reconhecidos como PSRP pela EPA (1992) são os seguintes: digestão aeróbia, digestão anaeróbia, secagem ao ar, compostagem e caleação. Os lodos tratados por estes processos são classificados como lodos classe B e apresentam restrições de uso, bem como a observância de determinados períodos para que possa ser utilizado.

Tabela 3.30 – Limites de patógenos no lodo.

Micro-organismo Lodo classe A Lodo classe B

Coliformes fecais < 103 NMP/gMS <106/gMS em 7 amostras por duas semanas

Salmonella ssp < 3NMP/4 gMS Não especificado

Ovos viáveis de helmintos

< 0,25 ovos/ gMS Não especificado

Fonte: adaptado de EPA, 1992.

3.18.1.1 Processos preconizados pela EPA para redução de patógenos no lodo

Nesta seção descrevem-se, sumariamente, dois grupos de processos para a redução de patógenos nos lodos, com referência a algumas características destes.

a) Processos para reduzir significativamente patógenos do lodo (PRSP)

Os processos utilizados para reduzir significativamente os patógenos do lodo (CONAMA 375, 2006) são:

 Digestão aeróbia: o lodo é agitado com ar ou oxigênio para manter as condições aeróbias durante o tempo de detenção, variando em 60 dias a 15 ºC ou 40 dias a 20 ºC, com a redução de pelo menos 38% de sólidos voláteis;

 Secagem ao ar: o lodo líquido é drenado e secado sobre leitos de secagem de areia, ou em bacias revestidas ou não, onde é depositado numa camada de aproximadamente 25 cm. É necessário um período mínimo de 3 a 12 meses com temperatura média acima de 0 ºC;

Digestão anaeróbia: a digestão anaeróbia é realizada na ausência de ar, com tempo de detenção variando de 60 dias a 20 ºC e de 15 dias com a temperatura entre 35 e 55 ºC, com redução de sólidos voláteis de pelo menos 38%;

 Compostagem: usando os métodos de compostagem (confinada, leira estática aerada ou leiras), o resíduo sólido é mantido em condições mínimas de operação, de 40 ºC por 5 dias. Por 4 horas deste período, a temperatura deve exceder 55 ºC;

 Estabilização com cal: uma quantidade suficiente de cal é adicionada para produzir um pH igual a 12 após 2 horas de contato;

 Outros métodos: outros métodos ou condições de operação podem ser aceitáveis, se patógenos e a atração de vetores pelos resíduos (sólidos voláteis) forem reduzidos a um grau equivalente à eficiência obtida, por qualquer um dos métodos citados acima.

b) Processos maximizadores da redução de patógenos do lodo (PMRP)

Os processos que apresentam maior capacidade de redução de patógenos (CONAMA 375, 2006) são:

 Compostagem: usando o método de compostagem confinada, o lodo desaguado é mantido em condições operacionais a 55 ºC ou mais, por três dias. Usando o método de compostagem de leira estática aerada, o lodo desaguado deve ser mantido sob a mesma temperatura e pelo menos período de tempo. Usando o método de compostagem em leiras, o resíduo sólido atinge uma temperatura de 55 ºC ou mais, por pelo menos 15 dias, durante o período da compostagem. Também durante o período de alta temperatura, haverá um mínimo de cinco tombamentos das leiras;

 Secagem térmica: a torta de lodo desaguado é seca direta ou indiretamente com gases quentes, e o conteúdo de umidade é reduzido a 10% ou menos. As partículas de lodo alcançam temperaturas maiores que 80 ºC;

 Tratamento térmico: o lodo líquido é aquecido a 180 ºC por 30 minutos;

 Digestão aeróbia termofílica: o lodo líquido é agitado com ar ou oxigênio para manter condições aeróbias em tempo de detenção de 10 dias, a 55-60 ºC, com uma redução de sólidos voláteis de pelo menos 38%;

 Outros métodos: outros métodos ou condições de operação podem ser aceitos, se os patógenos e a atração de vetores pelos resíduos (sólidos voláteis) forem reduzidos a um grau equivalente aos oferecidos por qualquer um dos métodos descritos acima.