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3.18 DIRETRIZES PARA DISPOSIÇÃO DE LODO NO SOLO

3.18.5 Saneamento básico em Moçambique

Após a independência nacional, em 1975, as cidades moçambicanas passaram a depender administrativamente do governo central, no que diz respeito aos recursos financeiros. Muitas das estruturas administrativas ainda existentes são da época da colonização portuguesa. O crescimento das cidades moçambicanas não foi acompanhado pela provisão de infraestrutura e de serviços urbanos, dentre eles os serviços públicos de saneamento básico, concretamente o abastecimento de água potável, a coleta e tratamento de esgoto sanitário, a drenagem urbana e o sistema de gestão e manejo dos resíduos sólidos (BUQUE, 2012).

No ano de 1999 foi introduzida em Moçambique a lei que estabeleceu as autarquias, criando, assim, um novo marco na gestão urbana, com autoridades municipais passando a ter a responsabilidade do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. De acordo com o Recenseamento Geral de População e Habitação, realizado em 2007 e publicado em 2010, 30% da população de Moçambique está concentrada nas cidades e o restante em áreas rurais.

Lá, todos os municípios destinam seus resíduos sólidos à disposição a céu aberto, nas denominadas lixeiras ou lixões (BUQUE, 2012).

Estima-se que pouco mais de 45% da população tenha acesso ao saneamento adequado. Muitas cidades contam com rede de esgoto sanitário com ligações domiciliares, embora o uso de fossas sépticas seja o mais predominante. De acordo com uma pesquisa da UNICEF Moçambique e do MISAU-Ministério da Saúde, a meta para o saneamento rural é atingir 50%, servindo 8,4 milhões de habitantes, e para as regiões urbanas é 80%, servindo 6,1 milhões de habitantes com saneamento de qualidade.

3.18.5.1 Leis que regulam a gestão de resíduos sólidos urbanos em Moçambique

Neste item cabe destacar o Decreto n˚ 13/2006, de junho do mesmo ano, em que o Regulamento sobre Gestão de Resíduos Sólidos é um instrumento que aborda o tema dos resíduos sólidos. Existem, contudo, outros instrumentos legais e normativos relacionados ao tema dos resíduos sólidos, preenchendo o vazio causado pela inexistência de uma política mais abrangente de resíduos sólidos urbanos. São eles:

 Lei n˚ 2/97, de 18 de fevereiro de 1997, a Lei das Autarquias Locais;

 Lei n˚ 11/97, de 31 de maio de 1997, a Lei das Finanças e Patrimônio das autarquias locais;

 Decreto n˚ 8/2003, de 18 de fevereiro de 2003, o Regulamento sobre a Gestão de Lixos Biomédicos;

 Decreto n˚ 45/2004, de 29 de setembro de 2004, o Regulamento sobre o processo de Avaliação de Impacto Ambiental;

 Decreto n˚ 11/2006, de 15 de junho de 2006, o Regulamento sobre Inspeção Ambiental;

 Decreto n˚ 13/2006, de 15 de junho de 2006, o Regulamento sobre a Gestão de Resíduos Sólidos;

 Resolução n˚ 86/AM/2008, de 22 de maio de 2006, a Postura de Limpeza de Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Maputo; e

Moçambique carece de uma política nacional de resíduos sólidos que contemple, de forma ampla, as diversas questões ligadas ao seu gerenciamento. Porém, é importante salientar a criação do Ministério para Coordenação da Ação Ambiental (MICOA), como órgão consultivo e deliberativo responsável por assessorar e propor ao Conselho do Governo políticas governamentais para o meio ambiente e para os recursos naturais. A constituição da República de Moçambique, de 2004, não introduz o meio ambiente em capítulo próprio. Contudo, garante o direito de todos os moçambicanos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida.

Sendo os resíduos sólidos um fator potencialmente determinante de saúde pública e problemas ambientais, não podem, portanto, ser olhados com indiferença. Os instrumentos normativos de planejamento adotados pelos municípios expressam sua autonomia administrativa para organizar e prestar os serviços públicos de interesse local, incluindo a limpeza urbana. Estes englobam: prover limpeza de vias públicas, remoção e destinação final dos resíduos domiciliares, tratamento e distribuição da água, coleta e tratamento de esgotos, obras de drenagem e limpeza de bueiros e córregos, vigilância sanitária, entre outros serviços.

Apenas dois locais em Moçambique são dotados de ETE: a vila de Songo e a Cidade da Beira. A vila de Songo localiza-se na província de Tete, distrito de Cahora Bassa. É lá que se situa a sede da empresa Hidrelétrica de Cahora Bassa, o maior empreendimento energético da África Austral. De acordo com o censo de 2007, o distrito tem 89.956 habitantes e uma área de 10.598 km2.

A ETE da vila de Songo existe desde 1975 e foi concebida para atender uma população estimada em cinco mil habitantes, trabalhadores da Hidrelétrica de Cahora Bassa; atualmente, a ETE atende uma população estimada em mais de dez mil habitantes. Ela tem a capacidade de tratar 500 L/s de esgoto especificamente doméstico, oriundos dos bairros das zonas sul e norte da vila. A ETE é constituída pelas seguintes unidades: tratamento preliminar, aerador (lodo ativado), decantador secundário, leitos de secagem e a parte da desinfecção do efluente tratado para lançamento ao emissário fluvial.

À semelhança de todas as ETE, durante o processo de tratamento de esgoto, ocorre a geração de lodo, sendo esta a etapa mais onerosa de todo o processo. Na ETE de Songo o lodo desidratado é entregue a pequenos agricultores para uso como fertilizante, sem prévio tratamento, propiciando, assim, a contaminação das culturas adubadas com essa biomassa.

A Cidade da Beira é a segunda maior de Moçambique, logo após a capital do país, Maputo, e tem uma população estimada em 450 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2007. A referida ETE é a maior de Moçambique, sendo financiada pela parceria entre a União

Europeia e o governo de Moçambique. Foi dimensionada para atender 100 mil habitantes, com uma vazão de 7000 m3.d-1, recebendo somente esgotos domésticos. A ETE conta com reatores anaeróbios, dois filtros biológicos, dois decantadores, oito leitos de secagem e quatro compartimentos para o armazenamento do lodo desaguado. A previsão de geração de lodo na ETE era de 140 toneladas mensais, a serem destinadas para uso como fertilizante agrícola.

As figuras 3.10 e 3.11 mostram os leitos de secagem e o galpão onde é armazenado o lodo gerado, respectivamente.

Figura 3.10: leito de secagem do lodo de ETE na Cidade da Beira, em Moçambique.

3.19 PRINCIPAIS RESÍDUOS GERADOS NA INDÚSTRIA DE CELULOSE E