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Lei n 10.741 de 1 de outubro de 2003 (estatuto do idoso)

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CAPÍTULO 3 O IDOSO RURAL E O IDOSO URBANO

3.3.7 Lei n 10.741 de 1 de outubro de 2003 (estatuto do idoso)

Esta lei instituiu mais recentemente e em caráter absolutamente direcionado, o Estatuto do Idoso o qual, ainda que posteriormente regulamentado por decretos, não perdeu sua essência de vetor de atualização e agregação das políticas públicas até então vigentes, adequando-as às necessidades e aos anseios da “nova” velhice.

Para (SENA & CHACON, 2006, p.2),

A promulgação da Lei 10.741/2003 vem consagrar a proteção jurídica da terceira idade em nosso Estado Democrático de Direito. Em suas linhas, reitera a obrigação da família, da sociedade e do Poder Público, em assegurar ao idoso, solidariamente, com absoluta prioridade a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, ao respeito e à dignidade, (...) em atendimento aos preceitos constitucionais de respeito à cidadania e dignidade da pessoa humana, com roupagem peculiar, destinada a este contingente populacional.

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Lecionam, ainda, que a proteção do envelhecimento é um direito que cabe ao idoso e deverá ser garantida mediante a implementação de políticas públicas em todos dos setores, mormente na esfera social, permitindo-lhes maiores e melhores condições de vida e dignidade, com acesso à educação, saúde, segurança, cultura, esporte, lazer, justiça, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade, entre outros.

Destarte, o Estatuto tem sido ao longo desses recentemente completados oito anos de vigência, compreendido como um triunfo de milhões de brasileiros que lutaram e se empenharam na concretização de um antigo anseio, contribuindo para que o País desse um importantíssimo passo no sentido de atingir o ideário plantado pela Carta Maior.

Sancionado depois de seis anos de tramitação no Congresso, no dia 1º de outubro de 2003 (Diário Oficial da União do dia 3 de outubro de 2003) com entrada em vigor no dia 1º de janeiro de 2004, em seus 118 artigos, contemplou milhões de idosos brasileiros, o que significa o (re)conhecimento de sua condição humana e

respeito à sua vida, à cidadania e à dignidade, imprescindíveis na construção da desejada sociedade justa, fraterna e igual, estribado que se encontra nos princípios e diretrizes consagradas pelo legislador constitucional.

Não somente em seu texto original, mas através das posteriores regulamentações e alterações sofridas, entre elas o Decreto 5.130/2004, a Resolução n. 1.692/2006 da ANTT, Leis 11.737 e 11.765, ambas de 2008 e as Leis 12.419 e 12.461 de 2011, essa Lei permanece com o mister de assegurar direitos, estatuindo deveres, com a finalidade de regulamentar situações que lhes pertinem, e atribuir maior qualidade de vida para as pessoas com mais de 60 anos,

Sobre seu perfil assinala (MARINS, 2004, p.1)

Seus preceitos, como amplamente divulgado pela mídia, revelam um característico cuidado protetivo no afã de resgatar o direito à cidadania dos brasileiros com mais de 60 anos, cuja situação em nossa tradição cultural é assinalada por um aviltamento maciço, seja na mísera aposentadoria, na falta de moradia, nas dificuldades de transportes e principalmente no atendimento médico-hospitalar.

Isto posto, restou demonstrada a pretensão do Estatuto de atender à vontade constituinte, primando por redobrar a atenção e os cuidados com os interesses da pessoa idosa, partindo da premissa assentada no artigo 8º de que “o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social”(...)”. Soma-se a isso o fato de ser um fato natural, devendo o Estado garantir-lhe proteção à vida e à saúde, “mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade” (art. 9º).

Contudo, (MARINS, 2004, p.1) faz severa crítica que conduz à reflexão sobre o seu corpo normativo, ponderando que

(...) a maior parte das conquistas instituídas pelo novel estatuto são, de fato, diretrizes já consagradas há pelo menos quinze anos pelo legislador constituinte. São preceitos prima facie incontrastáveis do Estatuto Supremo (ou pelo menos deveriam sê-lo) (...)

É preciso que uma lei, com força jurídica inferior à do texto constitucional, seja promulgada para que, somente então, se anime o cidadão ao exercício de direitos que de há muito já estão incorporados ao seu patrimônio jurídico?

Advertência à parte, não há como ignorar os inúmeros benefícios trazidos ao idoso com o advento do Estatuto, sobretudo no que diz respeito ao alerta e à conscientização sobre esse despercebido ator e as exigências dele decorrentes,

precedentes da transformação do comportamento social visando à inevitável adequação à imprevista realidade.

Ocorre que, da análise do fenômeno social que se sucedeu ao advento do festejado Estatuto, surge mais uma grande inquietação, ao se verificar que tanto quanto as demais e por semelhantes motivos, a aplicabilidade desta lei tem deixado a desejar, defluindo uma desorganizada corrida entre os setores públicos correlatos, a fim de se adaptarem à interpretação legal, os quais se confundem e misturam-se na execução de seus misteres, desiderato que acaba por trazer em vez de benefícios, reais traumas à pessoa idosa.

Esta, a inteligência da retrocitada reportagem:

A área de amparo à terceira idade é um dos exemplos que mais chama atenção para a necessidade de uma "intersetorialidade" na ação pública, pois os idosos muitas vezes são "vítimas" de projetos implantados sem qualquer articulação pelos órgãos de educação, de assistência social e de saúde.

A constatação mostra-se legítima, vez que os objetivos e diretrizes consignados nas disposições estatutárias - entre eles, o necessário aparelhamento para a efetivação das políticas estabelecidas e a fiscalização das entidades governamentais e não governamentais que dão assistência ao idoso - não têm sido bastantes para satisfazer a demanda proveniente da problemática urbana, que dirá rural.

Aliás, sendo a invisibilidade do idoso rural um dos eixos do presente trabalho, não se poderia passar adiante sem destacar uma lacuna imperdoável no texto estatutário: tão somente em uma única oportunidade, nos termos da previsão do artigo 15, parágrafo primeiro, inciso quarto que trata de assegurar a atenção integral à sua saúde, foi ele contemplado, sedimentada a recorrência da questão.

Isto continua querendo dizer que, não obstante a elogiada intentio legis, no que respeita aos demais direitos, prerrogativas e benefícios advindos das políticas públicas, deverá valer-se ele, como de costume, das disposições legais endereçadas ao idoso tomado generalizadamente, caracterizando o escamoteamento, a injustiça e a segregação do homem do campo, incompatíveis com um dos mais fundamentais princípios insculpidos na Constituição Federal: a igualdade.

Para que aconteça uma lídima mudança no sentido de ajustar-se à realidade rural nacional, é preciso que as letras deixem o papel e que a teoria transmude-se em prática. A união entre governo e sociedade civil, (re)inventando as políticas e programas sociais inclusivos é medida que se impõe para a superação do preconceito e o enfrentamento das discriminações veladas e arraigadas no seio da sociedade e da família, num pensar comparativo sobre os valores até hoje culturalmente admitidos e repassados de geração em geração.

Em que pese o arcabouço jurídico-normativo brasileiro acompanhar de perto o desenvolvimento e o estabelecimento de preceitos internacionais de regulamentação dos retromencionados direitos, prudente destacar a necessidade da fixação de parâmetros e regras que abracem a causa do idoso rural, somente assim se podendo romper os elos da corrente que o expatria e tolhe os passos na busca pelo reconhecimento e pela aceitação social, em igualdade de condições com o idoso urbano.

Para isso, - parafraseando o Chefe da Nação em discurso proferido à ocasião da edição do Estatuto do Idoso – os estatuídos instrumentos de cidadania deverão contar com a adesão de toda a sociedade para serem respeitados e cumpridos, porque só assim as inovações e as regulamentações trazidas irão se transformar, de fato, em direitos na vida dos idosos brasileiros, quem sabe, desta, feita, vislumbrados os idosos rurais.

Reafirma-se, assim, a proposta de contribuir com o processo de transformação da visão obtusa que a sociedade empresta ao idoso, sobretudo ao rural, vez que ainda presa ao modelo econômico excludente assumido pelo País, tratou de rejeitá-lo, incapacitada para absorver um contingente demográfico, cujas demandas requerem imediatas respostas.

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