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Quando o primeiro Congresso criou as leis para proteger a propriedade intelectual, ele foi colocado diante da mesma incerteza sobre o status da propriedade intelectual que os ingleses confrontaram em 1774. Muitos esta- dos passaram leis protegendo a propriedade intelectual, e alguns acreditaram que essas leis simplesmente suplementariam os direitos de jurisprudência que já protegiam o direito autoral.[125] Isso significava que não havia nenhum

Figura 10.5: Modalidades de Regulamentação após as mudanças na lei

domínio público garantido nos Estados Unidos em 1790. Se os copyrights eram protegidos pela jurisprudência, então não havia nenhuma maneira sim- ples de saber se uma obra publicada nos Estados Unidos era controlada ou livre. Da mesma forma que na Inglaterra, essa incerteza permanente poderia tornar complicado aos distribuidores se apoiar em um domínio público para reimprimir e distribuir obras.

Essa incerteza terminou quando o Congresso passou legislação garantindo os direitos autorais. Como a lei federal sobrepõe qualquer lei estadual con- trária, as proteções federais para obras sob copyright inutilizaram quaisquer proteções dadas por leis estaduais. Da mesma forma que, na Inglaterra, o Estatuto de Anne garantia que o copyright sobre qualquer obra britânica expiraria depois de certo tempo, uma lei federal significava que quaisquer copyright dados pelos estados iriam expirar também.

Em 1790, o Congresso passou a primeira lei do copyright. Ele criou um copyright federal e garantiu esse copyright por catorze anos. Se o autor ainda estivesse vivo no fim desse período, ele poderia optar pela renovação do copyright por mais catorze anos. Se ele não renovasse o copyright, a obra passa então para o domínio público.

Embora houvessem muitas obras criadas nos Estados Unidos nos primei- ros dez anos da República, apenas 5% delas foram realmente registradas

no regime federal do copyright. De todas as obras que foram criadas antes de 1790 e entre 1790 e 1800, 95% passaram imediatamente para o domínio público; o equilíbrio poderia chegar ao domínio público em 28 anos no má- ximo, e normalmente chegava em catorze anos.[126]

Esse sistema de renovação era parte importante do sistema de copyright americano. Ele garantia que os períodos máximos de copyright só seriam dados para os trabalhos que fossem interessantes. Após o período inicial de catorze anos, se não valesse a pena para um autor renovar seu copyright, então também não valia a pena para a sociedade insistir no copyright.

Catorze anos pode não parecer um período muito longo para nós, mas para a grande maioria dos donos de copyright daquele período, eram períodos bem longos: apenas uma pequena minoria desses renovava os seus copyrights após os catorze anos; o equilíbrio permitia que suas obras passassem para o domínio público.[127]

Mesmo atualmente, essa estrutura faria sentido. Muitas obras criativas tem uma vida comercial real de apenas alguns anos. Muitos livros saem das prateleiras em um ano.[128] Quando isso ocorre, os livros usados são comercializados livres da regulamentação do copyright. Portanto os livros não são mais efetivamente controlados pelo copyright. O único uso comercial prático dos livros nesse período é vender os livros como livros usados; esse uso — porque não envolve a publicação — é efetivamente livre.

Nos primeiros cem anos da República, o período de copyright mudou apenas uma vez. Em 1831, o período foi aumentado de um máximo de 28 anos para um máximo de 42 anos ao elevar-se o período inicial de catorze para vinte e oito anos. Nos cinqüenta anos seguintes, o período aumentaria mais uma vez. Em 1909, o Congresso ampliou o período de renovação de catorze para vinte e oito anos, efetivamente configurando um período máximo de 56 anos.

Então, começando em 1962, o Congresso começaria uma prática que definiu a lei de copyright desde então. Por onze vezes nos últimos quarenta anos, o Congresso ampliou o período dos copyright futuros. Inicialmente, as extensões ao copyright eram curtas, apenas um ou dois anos. Em 1976, o Congresso ampliou todos os copyrights existentes em dezenove anos. E em 1998, na Lei de Extensão do Período de Copyright Sonny Bono (Sonny Bono copyright Term Extension Act), o Congresso ampliou os períodos dos copyrights existentes e futuros em vinte anos.

O efeito dessas extensões é simplesmente de impedir ou atrasar a pas- sagem de obras para o domínio público. Essa última extensão significa que o domínio público será tolhido por trinta e nove a até cinqüenta e cinco anos, ou 70% do período desde 1962. Portanto, durante os vinte anos após a Lei Sonny Bono, enquanto um milhão de patentes passarão para o domínio

público, zero obras sobre copyright irão passar para o domínio público graças à extensão do período de copyright.

Os efeitos dessas extensões tornam-se ainda mais danosos por outra mu- dança, essa pouco notada, na lei do copyright. Vocês devem se lembrar que eu disse que os criadores da Constituição estabeleceram um regime de copy- right em duas partes, exigindo do detentor do copyright a renovação do seu copyright após um período inicial. A exigência de uma renovação significa que obras que não precisam mais de proteção de copyright deveriam pas- sar mais rapidamente para o domínio público. As obras que permaneceriam sobre proteção seriam aquelas que tivessem ainda algum valor comercial.

Os Estados Unidos abandonaram esses sistema sensato em 1976. Para todas as obras criadas após 1978, haveria apenas um período de copyright — o máximo. Para autores “naturais”, esse período seria o de sua vida mais cinqüenta anos. Para corporações, o período seria de setenta e cinco anos. Então, em 1992, o Congresso abandonou a exigência de renovação para todas as obras criadas antes de 1978. Todas as obras ainda sob copyright receberiam o período máximo disponível. Após a Lei Sonny Bono, esse período era de noventa e cinco anos.

Essa mudança significa que a lei americana não possui mais um meca- nismo automático que garanta que obras que não são mais exploradas passem para o domínio público. E de fato, após essa mudança, deixou de ser claro se sequer é possível passar obras para o domínio público. O domínio público está órfão graças a tais mudanças na legislação do direito autoral. Apesar da exigência de que os períodos sejam “limitados”, não há evidências de que haja algo limitando-os.

O efeito nessas mudanças na duração média do copyright é dramático. Em 1973, mais de 85% dos donos do copyright falharam em renovar seus copyright. Isso significava que o período médio de copyright em 1973 era de apenas 32,2 anos. Por causa da eliminação da exigência de renovação, o período médio de copyright é agora o período máximo. Em 30 anos, então, o período médio foi triplicado, de 32,2 anos para 95 anos.[129]

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