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O “escopo” de um copyright é composto pela gama de direitos a ele garan- tidos por lei. O escopo do copyright americano mudou dramaticamente. Essas mudanças não são necessariamente ruins. Mas devemos entender a extensão das mudanças se queremos manter esse debate no contexto.

Em 1790, o escopo era muito restrito. O copyright cobria apenas “mapas, gráficos e livros”. Isso quer dizer que ele não cobria, por exemplo, música ou

arquitetura. De forma mais significativa, o direito garantido por um copy- right dava ao autor o direito exclusivo de “publicar” trabalhos sob copyright. Isso significava que uma pessoa violava os direitos de outra apenas se ele republicasse a obra sem permissão do detentor do copyright. Finalmente, o direito garantido pelo copyright era um direito exclusivo sobre aquele livro específico. O direito não se estendia ao que os advogados chamam “obras derivativas”. Ele, portanto, não interferia com o direito de alguém além do autor realizar a tradução de um livro, ou adaptar a história para uma forma diferente de expressão (como, por exemplo, uma peça baseada em um livro). Isso também mudou dramaticamente. Embora seja extremamente difí- cil explicar os contornos do copyright de maneira simples, de modo geral, os direitos cobrem atualmente praticamente todos os trabalhos criativos que podem ser reduzidos a um resultado tangível, cobrindo igualmente de música a arquitetura, de peças teatrais a programas de computador. Ela dá ao de- tentor do copyright vários direitos sobre o trabalho criativo: não apenas o direito exclusivo de “ publicar” a obra, mas também de controle sobre qual- quer “cópia” do trabalho. E mais significativamente para os nossos propósitos aqui, é dado direito ao detentor do copyright não apenas sobre a obra, mas também sobre qualquer “obra derivativa” que venha a surgir do trabalho original. Desse modo, o direito cobre mais trabalhos criativos, protege tais obras de maneira mais ampla, e protege trabalhos que sejam significativa- mente baseados no trabalho original.

Ao mesmo tempo em que o escopo do copyright foi expandido, as limita- ções procedurais sobre os direitos foram relaxadas. Eu já descrevi anterior- mente a completa remoção do requerimento de renovação em 1992. Somando- se ao requerimento de renovação, na maior parte da história da legislação de copyright da América, havia a exigência de que as obras fossem registradas antes de poderem receber a proteção do copyright. Também era obrigatório que qualquer obra sob copyright fosse marcada ou com o famoso símbolo copyright ou com a palavra copyright. E durante a maior parte da história da legislação do copyright na América, havia a exigência de que as obras fossem arquivadas junto ao governo antes que um copyright fosse garantido. A razão para a obrigatoriedade do registro era o entendimento sensato de que para a maioria das obras, não havia a necessidade de copyright. No- vamente, nos primeiros dez anos da República, 95% de todas as obras que podiam ser colocadas sob copyright não o foram. Portanto, essa regra refletia a norma: muitos trabalhos não precisavam de copyright, portanto o registro restringiu a regulamentação da lei para aquelas poucas que exigiam o copy- right. O mesmo raciocínio justificava a obrigatoriedade da identificação da obra como sob copyright — desse modo era mais fácil saber se uma obra tinha seu copyright requerido pelo autor. A obrigatoriedade do depósito das

obras garantia que após o final do período do copyright, haveria uma cópia do trabalho em algum lugar de modo que ela pudesse ser copiada por outros sem localizar o seu autor original.

Todas essas “formalidades” foram abolidas do sistema americano quando decidimos seguir o modelo de lei de direito autoral Europeu. Não havia exigência de que você registrasse um trabalho para conseguir o copyright; o copyright agora é automático; o copyright existe independentemente de você marcar ou não a sua obra com o c ; e o copyright existe independentemente de você tornar ou não uma cópia sua disponível para outros copiarem.

Considere um exemplo prático para entender o escopo dessas diferenças. Se, em 1790, você escrevesse um livro e você fosse um dos 5% que real- mente colocaram seu trabalho sob copyright, então a lei do copyright protegia- o contra qualquer tentativa de outros distribuidores pegarem sua obra e a republicar sem sua permissão. O objetivo da lei era regulamentar os editores de forma a impedir esse tipo de competição desleal. Em 1790, haviam 174 editoras nos Estados Unidos.[130] A lei do copyright era portanto uma regu- lamentação pequena para uma pequena proporção de uma pequena parte do mercado criativo dos Estados Unidos — editoras.

O ato deixou outros criadores completamente sem regulamentação. Se eu copiasse o seu poema a mão, várias vezes, como uma forma de o aprender de cor, meu ato era completamente desregulamentado em 1790. Se eu pegasse seu romance de ficção e criasse uma peça de teatro baseada nela, ou se eu a traduzisse ou fizesse um resumo dela nenhuma dessas atividades era regula- mentada na lei original do copyright. Essas atividades criativas continuavam livre, enquanto as atividades das editoras eram regulamentadas.

Atualmente a história é completamente diferente: se você escreve um livro, seu livro é automaticamente protegida. De fato, não apenas seu livro, mas também seus emails, as notas para sua esposa, seus rascunhos e quaisquer outros atos criativos que possam ser reduzidos a um formato tangível — tudo isso passa automaticamente a ser protegido por copyright. Não há necessidade de registro ou de marcação da obra. A proteção segue a criação, não os passos que você segue para proteger sua criação.

Essa proteção dá a você o direito (sujeito a uma faixa restrita de exceções de uso justo) de controlar como os outros copiarão o trabalho, se eles poderão o copiar para republicá-los ou poderão compartilhar um trecho dele.

Essa é a parte óbvia, já que qualquer sistema de copyright deveria contro- lar a publicação competitiva. Mas existe um outro lado no copyright atual que não é tão óbvio assim. é a proteção dos direitos sobre “trabalhos deriva- tivos”. Se você escreve um livro, ninguém pode fazer um filme dele sem sua permissão. A CliffsNotes não pode fazer um resumo de seu livro a não ser que seja dado permissão. Todos esses usos derivativos de seu trabalho original

são controlados pelo detentor do copyright. O copyright, em outras palavras, é agora não apenas um direito exclusivo sobre seus trabalhos, mas também sobre uma grande proporção dos trabalhos inspirados por eles.

Esses direitos sobre trabalhos derivativos seriam o que pareceria mais bizarro para os criadores de nossa Constituição, embora isso seja uma se- gunda natureza para nós. Inicialmente, essa expansão foi criada para lidar com evasões óbvias de um copyright mais restrito. Se eu escrevo um livro, seria correto você poder alterar uma palavra e então solicitar um copyright em um livro completamente novo e diferente? Obviamente que isso seria uma piada, portanto a lei foi propriamente expandida para incluir tais mo- dificações sutis da mesma forma que cobria a cópia completa dos trabalhos originais.

Ao prevenir tal piada, porém, a lei criou um poder imenso dentro de uma cultura livre — ao menos, é imenso quando você entende que a lei se aplica não apenas ao editor comercial, mas também a qualquer um com um computador. Eu entendo que é errado duplicar e vender o trabalho de outra pessoa. Mas não importa o quão errado isso seja, transformar o trabalho de uma outra pessoa é um erro completamente diferente. Alguns vêem a trans- formação como não sendo errada de maneira nenhuma — eles acreditam que nossa lei, como os criadores de nossa Constituição a imaginou, não deve- ria dar direitos sobre “obras derivativas”.[131] Independente de você ir tão longe ou não, parece claro que qualquer erro envolvido é fundamentalmente diferente do erro da pirataria pura e simples.

No entanto, a lei do copyright trata esses dois erros diferentes da mesma forma. Eu posso ir à corte e conseguir uma ordem judicial para o impedir de piratear meu livro. E eu posso ir à corte e conseguir uma ordem judicial para impedir o seu uso derivativo do meu livro.[132] Essas duas formas diferentes de usar meu trabalho criativo são tratados da mesma forma.

Isso novamente pode parecer correto para você. Se eu escrevo um livro, então por que você deveria ser capaz de escrever um livro que pega minha história e faz dinheiro com ela sem pagar-me ou me creditar? Ou se Disney cria uma criatura chamada “Mickey Mouse”, por que você deveria ser capaz de fazer brinquedos do Mickey Mouse e ser o único a negociar com o que Disney criou originalmente?

Esses são argumentos bons, e, em geral, minha posição não é a de afirmar que os direitos sobre “obras derivativas” não são justificáveis. Meu objetivo agora é muito mais restrito: apenas tornar claro que essa expansão é uma mudança significativa nos direitos dados originalmente.

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