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O Código de Defesa do Consumidor, estabelecido pela Lei nº 8.078 11 de setembro de 1990 publicado no governo do então presidente Fernando Collor de Melo aproxima-se de seu aniversário de quase três décadas, mantendo-se, ainda, extremamente atualizada e de inconteste importância para toda a sociedade brasileira por estabelecer um novo status de segurança comercial à nossa sociedade.

Interessante destacar que, alinhado ao conceito de consumidor que não se limita somente ao adquirente do produto ou serviço, podendo ser, também, toda uma sociedade que é exposta à práticas abusivas, o CDC busca não só garantir a proteção de um indivíduo em uma relação comercial privada, mas visa também proteger toda uma possível coletividade. Reverberando ao exposto, aduz Cláudia Lima Marques que:

A defesa do consumidor, como sujeito-vítima, como sujeito-contratante, como agente econômico nos momentos pré e pós-contratual, como pessoa cujos dados estão contidos em um banco de dados de comerciantes ou de crédito, a defesa do consumidor na relação de consumo, quanto à sua qualidade-adequação, quanto à sua qualidade-segurança, quanto à quantidade prometida, proteção através da senção administrativa e penal daqueles que abusam ou violam os direitos deste consumidor – é esta a linha básica que une matérias tão diversas, no CDC67.

Importante destacar que tais objetivos são o intuito de toda a legislação ora em análise, contudo é possível, analisando o conteúdo das normais, dividir as matérias dos dispositivos entre aquelas normas de direito privado, elencadas entre o artigo 1º até o artigo 54, e as normas administrativas, penais, processuais e as disposições finais sobre direito intertemporal, previstas do artigo 55 até o artigo 119.

Divergindo do padrão de análise até então adotado para as legislações nos tópicos anteriores em virtude da maior complexidade e volume legislativo, o presente trabalho analisando o conjunto legislativo sob uma perspectiva holística, dando destaques pontuais a instrumentos cuja importância mereça maior destaque de aplicação prática.

Dentre os direitos que merecem destaque em prol da defesa do consumidor existem alguns muito famosos cabíveis em qualquer relação consumerista, como a inversão do ônus da prova e a restituição em dobro de valor indevidamente pago, entretanto, existem aqueles que possuem aplicabilidade exclusiva a relações estabelecidas pelo comércio eletrônico, como o direito de arrependimento. Tais direitos, vale frisar, estão perfeitamente alinhados ao conjunto de direitos básicos do consumidor que estão expressamente elencados pelo artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, quais sejam (a) Vida, saúde e segurança; (b) Liberdade de escolha; (c) informação; (d) Transparência e boa-fé; (e) Proteção contratual; (f) Prevenção e reparação de danos (materiais e morais); (g) Acesso à Justiça e inversão do ônus da prova, e (h) Serviços públicos adequados e eficazes.

Conforme exposto, superando a ideia de igualdade absoluta, surgiu uma nova máxima que, apregoando uma intervenção estatal limitadora por sobre o poder creditório, estabeleceu certos limites em favor dos mais fracos. Surgiu então uma nova ideia que foi o início da revolução em que se buscaria identificar grupos de sujeitos de direito consideradas como vulneráveis e os tutelar com normas especiais no intuito de garantir direitos de ordem pública: a máxima favor debilis.

Um desses grupos de sujeitos vulneráveis aos quais se buscou específica e melhor tutela foi o grupo dos Consumidores e essa melhor tutela buscou-se trazer em mais específico pelo Código de Defesa do Consumidor, o CDC. É bem verdade que as relações comerciais, sejam simplesmente cíveis ou consumeristas, evoluíram com o passar do tempo e a legislação tende, naturalmente, a ficar defasada, sendo necessária a sua atualização ou mesmo a sua substituição por uma nova que se adeque, preferencialmente melhor, à nova realidade.

Conforme trabalhado, existem diversas formas de contrato, podendo o mesmo ser expresso em papel, ser verbal ou ser um arquivo digital, onde o adquirente do produto ou do serviço

aceita com alguns simples “clicks” e, dentro do território de competência do ordenamento pátrio brasileiro, não restam dúvidas que todos os contratos consumeristas, físicos ou verbais, eram regulados pelo CDC.

Com o advento e crescimento do comércio eletrônico, contudo, entendeu, o Estado, ser necessária a realização de uma “atualização” da competência do Código de Defesa do Consumidor por meio do Decreto nº 7.962 de 15 de março de 2013, estabelecendo, expressamente, a competência da Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 sobre a contratação no comércio eletrônico, garantir a proteção ao direito do consumidor nessa realidade cada vez mais relevante e deixar expressa um conjunto de regras de proteção aos hipossuficientes que carecem de proteção estatal.

É importante afirmar, contudo, que, embora se trate de uma relação consumerista com a perfeita aplicação do Código de Defesa do Consumidor, trata-se de uma relação especial, com um tratamento diferente, existindo direitos “especiais” para o consumidor. Assim, a máxima favor

debilis, aplicável nos contratos eletrônicos, estabelece uma série de direitos, sejam gerais ou

específicos para o E-commerce, dentre os quais vale destacar, respectivamente, a inversão do ônus da prova e o direito ao arrependimento.

Compreender tais direitos, bem como as consequências em casos de abuso, como danos materiais e danos morais, bem como compreender tais direitos, sejam gerais ou exclusivos a relações consumeristas realizadas em contratos eletrônicos, bem como a sua importância requer, portanto, a compreensão da máxima favor debilis bem como, no século XXI, a sua aplicabilidade em meio aos contratos eletrônicos é de crucial importância não só por se tratar de um grupo que goza de proteção especial da Carta Magna, mas também pelo célere crescimento do comércio eletrônico e pelo crescente número de lesões e golpes perpetrados contra consumidores.

4 A MÁXIMA FAVOR DEBILIS NO SÉCULO XXI E SUA APLICABILIDADE

NOS CONTRATOS ELETRÔNICOS

Depois de todo um suporte teórico que não só preenche o ordenamento de lógica, mas também o legitima e o completa, é importante adentrar na aplicabilidade prática da máxima favor

debilis, pois, conforme pode-se aferir no objetivo de todas as legislações analisadas no presente

trabalho disposta pela Carta Magna, a proteção do consumidor é um intuito do Estado e um dever seu.

No campo prático, alguns direitos específicos do consumidor ganham maior destaque dentro da legislação por serem cruciais na garantia da justiça e proteção do mais fraco, sobretudo no instante de conflito em juízo. Compreendê-los, no campo prático, significa assim compreender a real defesa do consumidor, que é aplicada e discutida todos os dias em um número incontável de querelas jurídicas.

Assim, entre tantos direitos do consumidor aplicáveis nos contratos eletrônicos, merecem destaque (I) a inversão do ônus da prova; (II) a despersonalização da pessoa jurídica; (III) a prevenção e reparação de danos (materiais e morais); (IV) o direito de arrependimento, e (V) a proteção de dados pessoais.