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LEI PARA MELHORIA DOS DIEITOS DOS PACIENTES NO CONTRATO DE TRATAMENTO

LEI PARA MELHORIA DOS DIEITOS DOS PACIENTES NO CONTRATO DE TRATAMENTO

Institui a figura dos contratos de tratamento no ordenamento jurídico brasileiro, disciplinando a relação paciente-médico e dá outras providências na prestação dos serviços médicos.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º. São inseridos os arts. 609-A a 609-G na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, com a seguinte redação:

“Seção II

Do Contrato de Tratamento

Art. 609-A O contrato de tratamento disciplina a prestação de serviços médicos na relação jurídica estabelecida entre paciente e médico, quando em ato terapêutico, diagnóstico, ou específico da atividade médica, realizado de forma personalíssima pelo profissional de saúde.

§1º O contrato de tratamento tem por objeto a promoção do bem-estar biopsicossocial do paciente e não caracteriza relação de consumo.

§2º O contrato de tratamento deve ser executado com base no princípio da vulnerabilidade do paciente e no entendimento intersubjetivo constituído no consentimento informado, livre e esclarecido.

§3º A disciplina jurídica da relação paciente-médico tem como fonte subsidiária a deontologia médica.

Art. 609-B Através do contrato de tratamento, obriga-se o médico a oferecer o tratamento acordado com o paciente, sendo do médico a condução técnica, ocorrendo de acordo com a vontade do paciente, e observando os padrões médicos que são geralmente

reconhecidos no momento do tratamento, salvo nos casos de privilégio terapêutico.

Art. 609-C É vedada a execução mercantilista do contrato de tratamento, sendo proibido ao médico:

I – oferecer ou aceitar remuneração ou vantagens por paciente encaminhado ou recebido, bem como por atendimentos não prestados; II – exercer a profissão com interação ou dependência de qualquer organização destinada à fabricação, manipulação, promoção ou comercialização de medicamentos ou produtos de prescrição médica, qualquer que seja sua natureza;

III – obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes, cuja compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade profissional;

IV – estabelecer vínculo comerciais com empresas que anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou consórcios para procedimentos médicos;

V – exercer publicidade ou propaganda fora dos padrões estabelecidos pela deontologia médica, ou que caracterize mercantilização do contrato de tratamento.

Art. 609-D O médico deve obter consentimento informado, livre e esclarecido do paciente, ou de seu representante legal, após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, garantindo ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, sobre sua pessoa ou seu bem-estar, salvo em caso de risco iminente de morte.

§1º O médico é obrigado a explicar para o doente de um modo compreensível, no início do tratamento e, se necessário, durante o mesmo, todas e quaisquer circunstâncias que são relevantes para o tratamento, em particular, o diagnóstico, o prognóstico e o desenvolvimento do tratamento, a terapia e as medidas que tome por ocasião da terapia e após esta.

§2º O médico deve esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença.

§3º O consentimento, que é processual e composto pelo termo de consentimento a ser construído dialogicamente com o paciente, pelas anotações em prontuário, e pelas informações passadas de forma oral ao longo do tratamento, pode ser revogado a qualquer momento, de qualquer forma, mesmo sem justificativa do paciente.

§4º Para quando o paciente não possua mais autonomia, ou caso nunca a tenha possuído, devem ser observados, de acordo com o caso concreto, os seguintes modelos de decisão substituta, de forma isolada ou em combinação:

I – o modelo da autonomia pura; II – o modelo do julgamento substituto; III – o modelo dos melhores interesses.

Art. 609-E O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente. Art. 609-F O prontuário médico é um documento que pertence ao paciente, mas que permanece sob a guarda do médico ou da unidade de saúde, sendo vedado a estes negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros.

§1º O prontuário deve ser elaborado de forma legível, para cada paciente, contendo os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no Conselho Regional de Medicina.

§2º É vedado ao médico deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta.

Art. 609-G Nos casos do art. 951, é de se presumir que houve erro médico na modalidade culposa, cabendo ao médico fazer prova em contrário, dentre outras possibilidades, quando:

I – um risco geral do tratamento, que poderia ter sido totalmente gerenciável pela equipe, se materializou e levou prejuízo para a vida, a integridade física ou a saúde do paciente;

II – o médico não registrou uma medida importante necessária, assim como o resultado deste procedimento, no prontuário, ou o registrou posteriormente sem mencionar o exato momento superveniente;

III – o médico não estava qualificado formalmente, através de especialização reconhecida pela deontologia médica, para realizar o tratamento que se apresentou;

Parágrafo único: É de se presumir que o profissional tenha agido de forma culposa, em qualquer conduta diagnóstica ou terapêutica do médico, dentro da cadeia de eventos, quando houver verossimilhança de que o ato possa ter levado prejuízo para o paciente, em caso de:

a) negligência grosseira;

b) conduta que não se amolde ao padrão da medicina vigente, ao tempo do fato, para casos semelhantes.”

Art. 2º O título do “CAPÍTULO VII – DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO”, que antecede o art. 593 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é modificado para: “CAPÍTULO VII – Seção I – Da Prestação de Serviços”

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO (vide seção 5.2 supra)

...

APÊNDICE B - Tabela Comparativa entre os Dispositivos do Contrato de Tratamento no BGB e os Dispositivos do Contrato de Tratamento no Atual Ordenamento Jurídico Brasileiro

Artigo do BGB Dispositivo normativo no ordenamento jurídico brasileiro §630a Princípio Fundamental XX do CEM (trata da a natureza

personalíssima da atuação profissional do médico, a qual não caracteriza relação de consumo); art. 2º da Lei 12.842/2013 (define que a saúde do ser humano é o objeto da Medicina e do contrato de tratamento (objeto mediato) a ser celebrado entre o paciente e o médico); art. 951 do Código Civil (estabelece o regime jurídico de responsabilização, pautado na teoria da culpa); Arts do CEM: 1º (também sobre o regime jurídico de responsabilização em eventual erro culposo), 58, 59, 68, 69 e 72 (que trazem a impossibilidade da mercantilização do contrato em função do seu objeto), todos da Resolução CFM 2.217/18 (CEM).

§630b Não há correspondência no ordenamento jurídico brasileiro, mas apenas destaca que a relação entre paciente e médico não se constitui em relação de trabalho.

§630c Tratam dos deveres de informação e da autonomia do paciente. Nesta análise, deve-se começar, sempre, pelo o art. 15 do CC (que traz o princípio da autonomia); e mais os seguintes artigos do Código de Ética Médica: arts. 13, 22 (que trazem a necessidade de esclarecer sobre determinantes da doença pela necessidade da obtenção do consentimento informado em um contrato de tratamento), 24, 31 (que expressam que o médico não pode interferir nas decisões do paciente ou de seu representante legal, deixando-o decidir livremente, salvo nos casos de privilégio terapêutico) e 34 (que esclarece que o médico deve informar o diagnóstico e prognóstico, bem como os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal), todos da Resolução CFM 2.217/18; deve ser analisada também, pelo operador do direito, a Recomendação CFM 01 de 2016 (que dispõe detalhadamente sobre o processo de obtenção de consentimento livre e esclarecido na assistência médica); bem como a Resolução CFM 1.995/2012, que dispõe sobre as diretivas antecipadas de vontade, para tomada de decisão em momentos que o paciente não se encontra autônomo.

§630e, 630d, 630f e 630g Art. 88 do CEM, que esclarece que é vedado ao médico negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando

ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros; o art. 86 do CEM, que traz a obrigatoriedade do médico em fornecer laudo médico sempre que o paciente precise; o art. 87 do CEM, que assevera que o médico deve preencher o prontuário sempre de forma legível e clara; e o art. 87, §§1º e 2º, que esclarecem que o prontuário deve ficar em na guarda do médico, mas que pertence ao paciente, e que deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo sempre preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no Conselho Regional de Medicina.

§630h Sem correspondência no ordenamento pátrio, devendo-se analisar o caso concreto, observando a verossimilhança de culpa grosseira (negligência, imperícia ou imprudência) e proceder a inversão do ônus da prova com base no art. 373, §1º do CPC, que traz a distribuição dinâmica do ônus da prova de forma casuística. Não proceder desta forma é subverter a própria natureza do contrato de tratamento, que se constitui, prima facie, como uma obrigação de meio.

APÊNDICE C - Tabela com as Normas da Deontologia Médica Incompatíveis com o Regime Consumerista e com os Dispositivos do CDC Incompatíveis com a Atividade Médica (ou com o Próprio Ordenamento Jurídico). Quadro sinóptico normativo do ponto 4.2.6.

Normas da deontologia médica incompatíveis com o regime consumerista A natureza personalíssima da atuação profissional do

médico não caracteriza relação de consumo.

Princípio Fundamental nº XX do Código de Ética Médica (CEM -

Resolução 2.217/2018) É vedado ao médico o exercício mercantilista da

medicina.

Art. 58 do CEM É vedado ao médico fazer publicidade de sua

atividade, como qualquer outro comerciante.

Art. 111; 112; e 116 do CEM É vedado ao médico, utilizando qualquer meio de

divulgação leiga, prestar informações, dar entrevistas e publicar artigos versando sobre assuntos médicos de fins estritamente educativos.

Art. 8º da Resolução CFM nº 1.974/2011

É vedado ao médico a autopromoção, entendida como a utilização de entrevistas, informações ao público e publicações de artigos com forma ou intenção de auferir lucros de qualquer espécie.

Art. 9º, §1º, “d”, da Resolução CFM nº 1.974/2011

É vedado ao médico estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou consórcios para procedimentos médicos.

Art. 72 do CEM

É vedado ao médico a utilização das fotografias do “antes e depois”.

Art. 13, §3º c/c do art. 3º, “g”, ambos da Resolução CFM nº 1.974/2011 Até mesmo a publicação nas redes sociais dos

pacientes ou de terceiros, de modo reiterado e/ou sistemático, de imagens mostrando o “antes e depois” ou de elogios a técnicas e resultados de procedimentos nas mídias sociais deve ser investigada pelos Conselhos Regionais de Medicina.

Art. 13, §4º da Resolução CFM nº 1.974/2011

É vedado ao médico anunciar especialidades médicas ainda não reconhecidas pelo CFM

Art. 9º, “b”, da Resolução CFM nº 1.974 e art. 113 da Resolução

2.217/2018 Vedação ao anúncio de especialidades que não tenham

o devido reconhecimento científico Resolução CFM nº 2.149/2016 O médico deve trabalhar até de graça, em

determinados casos, mesmo de forma contrária à sua própria vontade, por imposição do ofício – o que não encontra paralelo em qualquer fornecedor mercantil

Art. 33 do CEM

Dispositivos consumeristas incompatíveis com a atividade médica e com o próprio ordenamento jurídico (Código Penal).

O CDC considera prática abusiva executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor (art. 39, VI, do CDC)

Incompatível com a atividade médica em uma série de situações, podendo,

inclusive, ser enquadrado como crime pelo Código Penal (art. 135- A). Destaque-se que no contrato de tratamento há a figura do privilégio

terapêutico O CDC considera prática abusiva do fornecedor deixar

de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério (art. 39, XII)

Da mesma forma que o dispositivo anterior, é incompatível com a atividade médica em uma série de situações em função do privilégio

terapêutico O CDC considera ilegal permitir o ingresso em

estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo (art. 39, XIV)

Incompatível com a realidade material das emergências dos hospitais públicos (e até mesmo

privados) no Brasil O CDC considera completa nulas cláusulas

contratuais que excluam ou mesmo atenuem o dever de indenizar em caso de dano (art. 51, I,)

Incompatível com a medicina que é necessariamente iatrogênica e que, ontologicamente, já trabalha com um

dano instalado no paciente. O CDC é um diploma lastreado na teoria do risco, que

visa a responsabilização objetiva dos fornecedores, não sendo adequado para a apreciação de atividades eminentemente sujeitas à teoria da culpa, nas quais a conduta do demandado deve ser necessariamente analisada

A atividade médica é incompatível tanto com o risco criado (natureza da

própria medicina), quanto com o risco proveito (pela hierarquia dos

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