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Lei 4024/61 a Primeira LDB, novas mudanças na Cultura Escolar

3. REGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE A CULTURA HISTÓRICA E A

3.1 Diretrizes curriculares brasileiras e a presença do Islã

3.2.5 Lei 4024/61 a Primeira LDB, novas mudanças na Cultura Escolar

A Primeira LDB do Brasil passou a ser discutida desde 1948, quando seu anteprojeto foi apresentado pelo ministro da educação Clemente Mariani (1946 -1950). No entanto, a lei 4024 só entrou em vigor no dia 20 de dezembro de 1961, no governo de João Goulart, quando este substituiu Jânio Quadros, que havia renunciado. A LDB de 1961 levou 13 anos para ser promulgada, o que lhe deu uma conotação de atraso, de tal forma que, em 1968 as leis 5540/68 e em 1971, a 5692/71 pretendiam atualizá-la. A LDB de 1961 representou a vitória dos empresários da educação e dos representantes religiosos da Igreja Católica. A autonomia que as escolas conseguiram levou a um fortalecimento das instituições particulares

Em verdade, com a discussão da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, durante o longo período que se compreende de 1946 a 1961, constata- se uma disputa de duas propostas de LDB, que traduz a relação paradoxal e contraditória no âmbito político-econômico, cujo embate acontece entre o grupo que defendia o nacionalismo desenvolvimentista, o Estado sendo o carro-chefe no planejamento da economia estratégica para o desenvolvimento do mercado nacional, sem a dependência asfixiante do capital externo, e o outro grupo que sustentava a tese da iniciativa privada como mecanismo de gerir a economia e a educação institucionalizada, objetando qualquer intervenção normatizadora e fiscalizadora do Estado tanto na área econômica, como na educacional. A forte influência do grupo que resguarda a ideia da “liberdade de ensino” (ou a justificativa da iniciativa privada) sobrepuja na LDB, o que expressa na defesa absoluta dos direitos que a família encerra e compreende atinentes à escolha da educação que lhe apraz. Esta colocação está exatamente em contraposição à ingerência estatal para projetar e planificar o sistema de ensino, deixando implícita que é uma ação assaz totalitária. Indubitavelmente, tal ação procura circunscrever na LDB a prerrogativa e interesses das instituições privadas de ensino, particularmente as católicas, na obtenção do financiamento do poder público em educação. (SANTOS, 2007.p, 2)

A Lei 4024/61 ficou marcada por esse fortalecimento das instituições particulares, e as leis que a sucederam corroboravam com essa consolidação, mas sem grandes mudanças nesse aspecto.

É neste contexto que em 1961 entrou em vigor a Lei de Diretrizes da Educação a LDB e no ano seguinte o primeiro Plano Nacional de Educação. A LDB de 1961, no seu 1º artigo referente aos “fins da Educação”, dizia que a educação nacional era inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, temos aqui

a influência direta das questões antropológicas no formato das leis e nas produções das narrativas dos manuais:

a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum;

e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio;

f) a preservação e expansão do patrimônio cultural;

g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça (SANTOS, 2007, p.2).

Entre essas finalidades destaca-se a letra A “a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos da comunidade”; na letra B valoriza-se o respeito às liberdades fundamentais do homem, e na letra G, “a condenação de qualquer tratamento desigual por motivos de convicção filosófica, política e religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou raça”. Essas finalidades57construíram parâmetros que os autores deveriam seguir na hora da

elaboração das narrativas dos manuais. Serviam como balizas a serem seguidas.

Quadro 7 Apresentação Lei 4024/61

LEI 4024/61

Divisão das Séries PROGRAMAS DA

DISCIPLINA DE HISTÓRIA Havia nesta lei, a obrigatoriedade do ensino

primário a partir dos sete anos que deveria ser ministrado na língua nacional. Previa que aqueles que iniciassem depois dessa idade poderiam participar de classes especiais ou de cursos supletivos correspondentes ao seu nível de desenvolvimento.

Quanto à Educação de Grau Médio, a LDB determinava que: deveria destinar-se à formação do adolescente e deveria ser ministrada em dois ciclos: o ginasial e colegial; a abrangência da educação de grau médio dos cursos secundários,

A LDB de 1961 seguiu as diretrizes estabelecidas pela Lei 1.359 de 1951, quanto ao ensino de História. Esta lei colocou a História do Brasil nas 1ªs e 4ªs séries do ginásio e nas

2ªs e 3ªs do colegial. A História

Geral foi ministrada na 3ª e 4ª séries do curso ginasial. Segundo Guy de Hollanda a lei 1.359 modificou a seriação,

57A lei 4024/61 e as suas finalidades seguiam o que tinha se estabelecido na lei 1.359 de 1951, nela estava

presente uma concepção do Humanismo na Educação. A História estava ligada a formação do cidadão e seus direitos.

técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré-primário; para o ingresso do estudante no ensino médio, na primeira série do 1º ciclo, era necessária a aprovação no exame de admissão e que este tivesse o mínimo de 11 anos completos ou a ser alcançado no ano a correr; para a matrícula na 1ª série do ciclo colegial era exigida a conclusão do ciclo ginasial ou equivalente58 (LDB,

1961); a duração mínima do período escolar seria de cento e oitenta dias, não incluindo nestes o tempo reservado para exames e provas (art. 38); e que a semana de aula tivesse vinte e quatro horas a serem utilizadas para o ensino de disciplinas e práticas educativas.

MODIFICAÇÕES NA LEI

No 1º e 2º parágrafos do artigo 46 havia a regulamentação da terceira série do ciclo colegial, na qual seria ministrado um currículo com aspectos linguísticos históricos e literários. Este currículo deveria ser diversificado, visando o preparo dos estudantes para os cursos superiores, tendo no mínimo quatro e no máximo seis disciplinas no ano letivo.

estabelecida, pela Reforma Capanema:

a) Curso Ginasial

1ª série: História do Brasil 2ª série: História Geral (História Geral e História da América) 3ª série: História Geral (História Antiga e Medieval)

4ª série: História do Brasil e História Geral (História Moderna e Contemporânea) b) Curso Colegial (Clássico e Científico)

1ª série: História Geral (História Antiga)

2ª série: História do Brasil e História Geral (História Medieval e Moderna)

3ª série: História do Brasil e História Geral (História Contemporânea).

(HOLLANDA, 1957.p. 61)

Ensino Primário O ginasial e colegial

O Ensino

Primário deveria ser ministrado em, no mínimo, quatro anos, mas poderia haver a

extensão por

mais dois anos, para a ampliação dos conhecimentos dos estudantes e iniciando-o em técnicas de arte aplicada, desde que adequadas ao sexo e à idade.

Quanto à Educação de Grau Médio a LDB determinava que: deveria destinar-se à formação do adolescente e deveria ser ministrada em dois ciclos: o ginasial e colegial; a abrangência da educação de grau médio dos cursos secundários, técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré- primário; para o ingresso do estudante no ensino médio, na primeira série do 1º ciclo, era necessária a aprovação no exame de admissão e que este tivesse o mínimo de 11 anos completos ou a ser alcançado no ano a correr; para a matrícula na 1ª série do ciclo colegial era exigida a

58“Art. 99. Aos maiores de dezesseis anos será permitida a obtenção de certificados de conclusão do curso

ginasial, mediante a prestação de exames de madureza, após estudos realizados sem observância do regime escolar.”

conclusão do ciclo ginasial ou equivalente59 (LDB, 1961);

O 1º parágrafo deste artigo dizia que o ciclo ginasial deveria ter a duração de quatro anos e que o ciclo colegial, de três anos.

No ciclo ginasial seriam ministradas nove disciplinas60

e no ciclo colegial, nos dois primeiros anos, seriam ensinadas, segundo o artigo 46, oito disciplinas além das práticas educativas; sendo que dessas oito, duas seriam optativas, de livre escolha do estabelecimento, com no mínimo cinco e no máximo sete disciplinas em cada série.

Fonte: Bertolini, 2018.

Segundo Selva Guimarães Fonseca, o ensino de História na escola brasileira, esteve “desde sua inclusão nos programas escolares (século XIX), fortemente articulado a tradições europeias, sobretudo a francesa” (FONSECA, 2008. p, 49). O quadripartismo francês (História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea) fez parte desde o início da organização da disciplina de História no Brasil por meio dos manuais trazidos da França e adotados por colégios de referência como o Pedro II, no Rio de Janeiro. Essa tradição, segundo Selva Fonseca, permaneceu na LDB de 1961. As orientações do Conselho Federal de Educação recaíam sobre a História do Brasil, História da América e História Geral e isso se refletia na organização proposta pelos manuais da época, tanto para o ciclo do ginásio como para o ciclo do colegial.

A História do Brasil também é influenciada pelo eurocentrismo, pois segundo Fonseca:

59“Art. 99. Aos maiores de dezesseis anos será permitida a obtenção de certificados de conclusão do curso

ginasial, mediante a prestação de exames de madureza, após estudos realizados sem observância do regime escolar.”

60O Art. 45 em seu parágrafo único estabelecendo o número de disciplinas a serem ministradas em cada

série do ciclo ginasial, incluindo as optativas:

“Parágrafo único. Além das práticas educativas, não poderão ser ministradas menos de 5 nem mais de 7 disciplinas em cada série, das quais uma ou duas devem ser optativas e de livre escolha do estabelecimento para cada curso.” (BRASIL, 1961).

(...) a História do Brasil, durante muitos anos, foi tratada nos programas de ensino como pequeno apêndice da História Universal. À medida que o país se europeíza, deixa de ser “bárbaro”, “atrasado” e começa a se organizar “à imagem da Europa”, ele começa a “entrar na História” e consequentemente passa a ser parte mais significativa dos programas de ensino (FONSECA, 2008, p. 51). O modelo quadripartite apresentava problemas quando tratava de outros povos que não fossem europeus. A solução encontrada, segundo o Pierre Chesneaux (1995), foi a incorporação destes povos na História europeia quando esses se relacionaram com os povos europeus, como é o caso dos Turcos Otomanos e dos Árabes.