• Nenhum resultado encontrado

Leitura e discussão da peça: O vôo sobre o oceano

ALFABETIZAÇÃO NA RELAÇÃO COM AS PEÇAS DIDÁTICAS

9. DIALOGANDO COM AS PROFESSORAS: POSSIBILIDADES DE PENSAR O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NA RELAÇÃO COM AS PEÇAS DIDÁTICAS

9.5 Leitura e discussão da peça: O vôo sobre o oceano

Na peça O vôo sobre o oceano, as professoras apontam a necessidade de refletir sobre os objetivos do processo de alfabetização, discutindo as idéias e os modos de fazer que fundamentam esse processo. Alfabetizar para quê? O que é o processo de alfabetização? Como ele se desenvolve? As professoras se questionam e se colocam no cerne da discussão, compreendendo os alunos, suas práticas e elas mesmas como sujeitos desse processo, exercendo o princípio da experimentação e exercício da aprendizagem pelo diálogo com o outro, que é coletivo.

Quais os objetivos da alfabetização? Faz a gente pensar que é importante fazer uso dessa alfabetização, não só com textos prontinhos, mas sim o uso social. Quando eu comecei na alfabetização eu ainda não tinha essa noção, dos textos, hoje eu procuro trabalhar mais com isso, voltar a alfabetização pra textos, reflexões e compreensão do código, juntos, porque os dois são importantes, procuro cada vez mais trabalhar com o todo, não só ensinar o aluno a “ler”. (Ana)

Então o vôo sobre o oceano, determinou o quê? É o resultado do que a gente faz, buscar o objetivo, não esquecer o objetivo. Achei isso interessante. Na alfabetização também é assim, aprender a ler e escrever pra quê? Tem a ver com o nosso trabalho como educador, não esquecer do objetivo e saber a melhor forma de alcançar isso, a gente não pode esquecer que lida com almas, com pessoas. [Olha no texto e lê] “Com a luta esquecemos o nosso nome e o nosso rosto, com a pressa da partida esquecemos nosso objetivo”, quer dizer, muitas vezes o educador esquece que a escola tem um papel. Alfabetizar é inserir a criança no mundo letrado, então eu acho que é ver e respeitar esse indivíduo, ver que cada um tem uma experiência. A formação do leitor, isso acontece junto, esse é o objetivo da alfabetização. Tem que ter o código, lógico, mas tem que entender o porquê do estar usando essa linguagem, para quê, qual a finalidade na vida da criança? Aí entra o trabalho do professor...mostrar mesmo no que aquilo vai ser importante pra ela, trazer essa criança para o mundo letrado. Mas e a paixão? Quando você tem paixão pelo que faz é possível despertar isso no outro, através de vários meios né, a gente tem livros, histórias, peças, poesias...trazer isso pra sala de aula. (...) quando a criança é o sujeito o processo de alfabetização flui, por isso não pode ser abandonado o objetivo da alfabetização. (Solange)

Faz pensar no desafio que ele vai ter em aprender a ler e o meu em conduzir isso. O professor vai perceber também quais os obstáculos que o aluno vai enfrentar para atingir o objetivo da alfabetização, que é aprender as palavras, a leitura, tudo isso vai ter o momento dele. Eu preciso pensar quais são os meus desafios em relação a eles, o que eu quero com cada atividade que eu dou pra eles, pra avançar na sua hipótese da escrita e na leitura. (Maria Nazaré)

Outro aspecto abordado pelas professoras, em suas leituras, refere-se à postura do professor que alfabetiza e as características que lhes são essenciais: o planejar, o superar obstáculos e o empreender-se em buscas constantes de conhecimentos e realizações. Esses apontamentos remetem a um princípio fundamental dessa peça, relacionado ao enfrentamento de barreiras e obstáculos pela coletividade rumo à transformação social, em um processo contínuo, de superação dos limites, e também inconcluso, já que são consideradas as possibilidades de se desenvolver o que ainda não foi alcançado.

Na peça ele não fez assim: Vou agora! E voou. Então lembra o professor que tem que preparar e tem que estudar; o planejamento. Isso me chamou a atenção. A resistência apesar de todos os fatores que vêm contra. (...)

tem hora que o aviador se desestimula, não tem mais jeito, aí acontece alguma coisa que faz com que...com a gente é assim, parece que não está acontecendo nada, que o aluno não vai, e então de repente ele vem e te mostra alguma coisa e te enche de felicidade, aí você vai com ele, esta peça tem muito a ver com a educação. Então é importante o professor também estar motivado, motivado pra viagem, pro vôo. (Ana)

(Procura no texto e lê) Aqui olha, a gente vive em busca constante, “sem deixar de esquecer o que ainda não foi alcançado, a isso é dedicado esse relato”, então quer dizer, valorizar o trabalho só que nunca se dar por satisfeito, saber que pode levar um pouquinho mais, ir buscando, isso é construído no dia-a-dia, com você analisando o aluno, tendo um tipo de relatório, colocando lá o que ele aprendeu, o que falta ainda dentro do objetivo pra alcançar, se ele alcançou, de que forma, o que mais posso desenvolver nisso? O professor não pode esquecer, aqui no texto falou bem, que na caminhada, na pressa da partida não esquecer do objetivo. Na alfabetização é isso mesmo, tem que ter objetivo, ver o que é possível, mas também não deixar de pensar no que ainda pode ser alcançado. Tudo é possível, reconhecer o limite não é limitar, ir desenvolvendo isso, a alfabetização está ligada à vida e a vida a gente reconstrói o tempo inteiro. Eu ainda tenho alunos que não estão lendo, então pra mim ainda é um caminho que eu preciso buscar, é uma coisa que eu ainda estou planejando, vou pesquisando cada um, analisando o trabalho deles, tenho que retomar, não tenho o como ainda, a criança ainda não teve o despertar, às vezes é questão de pouco pra ela despertar, né? (...) meu caminho é construído a todo o momento eu não tenho a fórmula pronta, tenho caminhos, busco novas alternativas. O professor tem que ter mente aberta, estar aberto para o novo. (Solange)

(...) é o momento de decidir, que caminhos abrir, quais possibilidades vem na hora do vôo? Mas também os obstáculos, a tempestade, e é o que a gente encontra na vida. Obstáculos que a gente tem que superar, planejando, tentando. (Maria Nazaré)