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Leitura Estudo do Gênero Rock/pop: a leitura compreensão e a leitura pretexto

4.3 DIÁRIO DA PARTICIPAÇÃO ATIVA

4.3.3 Leitura Estudo do Gênero Rock/pop: a leitura compreensão e a leitura pretexto

Em virtude do entusiasmo dos alunos pelas músicas de apelocomercial (a propaganda veiculada pela música) para leitura e da unanimidade quanto ao gosto pelas músicas de bandas de rock, como Legião Urbana, resolveu-se mudar a seleção de músicas que estava parcialmente preestabelecida no plano de aula.

Assim, iniciou-se a aula com a entrega da letra da músicaQuase sem querer, da banda Legião Urbana, cuja canção foi executada ao vivo, apenas com o violão. Quanto a essa característica e a possibilidade de executar a música ao vivo para os alunos, chamou a atenção a receptividade por parte deles, que realmente leram e acompanharam a letra, ouviram a música e até mesmo se arriscaram a cantá-la com vontade.

Naquele momento, percebeu-se que, quando o texto lido pelo aluno é do interesse dele, o professor muitas vezes não precisa solicitar a sua leitura ou comentar as temáticas que

o envolvem, pois os próprios alunos entram nesse debate espontaneamente, eles dão naturalmente a sua reação resposta face ao texto objeto de leitura.

A1: Nossa! Eu nunca tinha prestado atenção nessa letra... como ela é show, né?

A2: Eu adorei essa parte do... “quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”.

A 3: Ele quis dizer... eu acho pelo menos... que a gente quando quer buscar alguma coisa tem que buscar pela gente mesmo e não pensando nos outros. A1: Eu já prefiro a parte do “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. Pesq.: O que vocês entenderam na leitura geral dessa música, o que ela diz pra vocês?

A4: Eu acho, professor, que ela fala sobre as desvantagens e vantagens de se tornar adulto.

A3: É verdade, é legal, principalmente... lá, quase no final... “mas já não sou tão criança, a ponto de saber tudo”... Muitas vezes, os adultos esquecem que as crianças sabem muito e quando a gente cresce acaba esquecendo disso.

A4: A música fala de amor também.

Outro detalhe que despertou atenção foi o fato de que os alunos, ao final do debate, esperavam que a apresentação da música fosse apenas um pretexto para outros objetivos, que não a leitura:

Pesq.: Bem... agora vamos fazer o seguinte... A1: Já sei... vamos fazer uma redação! (ironia)

Pesq.: Não é nada disso. Vamos ouvir essa próxima música, que eu acho que alguns de vocês vão ficar surpresos!

Surpresos com a leitura da música sem o objetivo de solicitar, como eles esperavam, uma produção textual, ou uma ‘redação’, os alunos entreolharam-se perplexos, pois esse procedimento metodológico era incomum nas aulas de leitura interpretação ou leitura estudo de textos.

pedagógica constante de ler para solicitar ‘redações’ aos alunos, observada nas aulas ministradas pela professora de Língua Portuguesa, além, é claro, de ser prática constante no livro didático: ler para produzir textos ou ler para revisar conteúdos, solicitando a escritura (os exercícios de compreensão escrita) sobre aspectos formais ou de conteúdo do texto. Dessa forma, reitera-se que, apesar de a leitura ser necessidade imprescindível para a produção textual, ao tratar como única função da leitura a produção de textos, na verdade, constitui-se o que se pode chamar de exagero pedagógico. Logo, por que insistir numa metodologia que faz parte de um conjunto de práticas envolvidas no fracasso escolar que é o ensino-aprendizagem de leitura? Não é possível, como questionado, que a leitura como diálogo entre os interlocutores e atitude responsiva ativa sirva de parâmetro para o seu ensino-aprendizagem e sua avaliação?

Esses questionamentos remetem mais uma vez às chamadas estratégias inadequadas de leitura do texto apontadas por Geraldi (1997): o texto usado “como pretexto para a produção de outro texto”, orientado pelo professor, que pretende que o aluno demonstre sempre o seu poder argumentativo, em relação ao que anteriormente foi solicitado como leitura. Também se concorda com as idéias de Silva, E. (1995, p.13), pois se acredita que outros propósitos devem orientar a leitura no contexto escolar: a leitura não pode apenas servir sempre e sempre de pretexto para o exercício da produção textual, para a apresentação de conteúdos formais, “cristalizados ou superficializantes”, como as normas e regras de gramática, por exemplo.

Com a proposta de leitura apresentada até aqui, pretende-se demonstrar que ela deve servir como conexão para o aluno compreender o mundo em que vive, assim como deve ser também um ato de prazer, como no caso dos textos artísticos. O professor deve ser um mediador ‘inquieto’, que busca estratégias e métodos que aproximem o aluno da atividade de leitura e que tenha consciência não apenas do prazer proporcionado pela atividade, mas da

necessidade de seu domínio como forma de o aluno entender o mundo e fazer-se entender nele.

Aliado a tudo o que se afirmou até aqui existe também um aspecto que se considera um direito do aluno leitor: aproximar-se da leitura de textos de todos os gêneros do discurso presentes na sociedade, desde os gêneros considerados de maior prestígio até aqueles que se encontram à margem do que a escola e grupos sociais determinados consideram ‘politicamente correto’ e necessário para estudo e domínio por parte do aluno. O próximo relato trata justamente da leitura de músicas de gêneros de menor prestígio, como é o caso do

funk carioca.