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4 O LAZER EM PERSPECTIVA CIENTÍFICA

4.5 As contribuições do CELAZER para a produção de conhecimentos

4.5.3 Leituras CELAZER

O Leituras CELAZER, propunha ser um espaço de diálogo entre o Centro de Estudos e os Departamentos Regionais e suas Unidade Operacionais, visando a ampliação do domínio de conteúdos técnico-operacionais, para o crescimento das propostas de ação no campo do lazer. Efetivamente, essas publicações mensais se resumiram a apresentação de textos de autoria dos próprios integrantes do CELAZER, classificados em três categorias: resumo de pesquisas, resumo de livros e artigo. Há, contudo, um exemplar, o de nº 7, que propõe uma nova categoria: debates.

Corroborando a metodologia de pesquisa aplicada à análise dos textos que integraram a Série Cadernos de Lazer, adotamos o mesmo procedimentos para descrever os textos do Leituras CELAZER, apresentando de forma sucinta a ideia central dos autores que nela publicaram seus artigos, resenhas e experiências.

Tivemos acesso a dez números, do total de quatorze publicados entre 1980 e 1981. Estes dez primeiros que serão aqui retratados, estão situados no transcorrer de 1980, portanto, muito próximo aos debates travados nas publicações dos periódicos já citados. De forma a empreender maior atenção às especificidades dos números publicados, reproduzimos, a seguir, os títulos dos trabalhos, por ordem de numeração, seguindo-se da classificação dos seus conteúdos de acordo com os critérios: resumo de pesquisas, resumo de livros, artigo e debates. Identificamos, ainda, seus autores e o ano de publicação de cada número, seguido de breve resumo dos textos.

Leituras CELAZER nº 1

Publicado em janeiro/1980. Resumo de Pesquisa 1.

As atividades manuais seriam próprias das categorias de renda mais baixa?

É assinado por Mario Damineli. O texto aborda a relação entre prazer e obrigação, que perpassa as práticas de atividades manuais como jardinagem, culinária, artesanato, bricolagem e confecção em tecidos, tendo como foco de interesse a abordagem direta aos indivíduos que, para complementar o orçamento doméstico, lançam mão das horas de lazer para praticar atividades que seriam consideradas lazer, para produzir itens destinados à venda, na cidade de São Paulo. A questão posta é: atividades de lazer como jardinagem, culinária, artesanato, bricolagem podem se converter em atividades rentáveis, e aí deixarem de ser fruídas como lazer?

Leituras CELAZER nº 2

Publicado em fevereiro/1980. Resumo.

Resumo do livro Cultura de massa e cultura popular. Leituras de operárias, de autoria de Ecléa Bosi, publicado pela Editora Vozes, em 1973.

Tendo como autor Dante Silvestre Neto, o texto retrata os argumentos centrais da obra, que propõe o diálogo sobre o comportamento do público trabalhador feminino de baixa renda em relação às suas vivências de leituras. A partir de enquete realizada, em 1970, junto ao público feminino composto por industriarias (universo de 52 mulheres), foram aferidas as preferências com relação a tipos de leituras, interesses específicos, temas desejados e ainda não contemplados, de forma a verificar, também, as causas que contribuíam para a não-leitura.

Segundo o autor do resumo do livro de Ecléa Bosi, o objetivo pretendido em sua produção textual era aproximar os resultados apresentados pela autora com as questões de interesse do CELAZER, em relação à ampliação dos conhecimentos sobre o tema.

Leituras CELAZER nº 3

Publicado em março/1980. Artigo 1.

Lazer: objeto de reivindicação urbana?

Texto de autoria de Paulo de Salles Oliveira. Questiona o autor, já no início do texto, se haveria possibilidade de pensarmos em uma cidade sem lazer. Em sequência, contra-argumenta que, ao mesmo tempo, é preciso pensar em como fazer se as cidades como São Paulo não dispõem de espaços concebidos para as práticas de lazer. Em justificativa para essa dubiedade, aponta que o cerne da questão está, originalmente, na maneira como foram se configurando as cidades.

Em vista dos interesses econômicos, o urbano preponderou, porque era, também, o espaço destinado à produção. Ressalta, ainda, que os problemas socioculturais suscitados pelas cidades passam a ser vistos como estritamente relacionados à ocupação espacial. Para ele, o lazer representa, neste cenário, a oportunidade de desenvolvimento cultural que deve ser viabilizada através de iniciativas que promovam atividades diversificadas, onde a população possa se engajar de forma atuante e participativa. Assegura que a viabilidade para o início de um procedimento de transformação deve se dar pela animação cultural.

Leituras CELAZER nº 4

Publicado em abril/1980. Resumo de Pesquisa 2.

Seria o tênis um esporte de elite?

Este trabalho, de autoria de Mário Daminelli, faz um questionamento sobre o significado atribuído à prática esportiva do tênis como esporte de elite. Não refutando a ideia de que o custo para a adesão desta modalidade esportiva é alto, se comparado a outros esportes, apresenta o resultado da pesquisa realizada pelo CELAZER, com um universo de 614 entrevistados, sobre as aspirações esportivas e o envolvimento com o tênis.

A primeira informação que a pesquisa revela é que apenas 2% desse total é de praticantes dessa modalidade esportiva. Em sentido contrário, é relatado que 33% dos entrevistados demonstraram interesse pelo tênis, sendo que, deste percentual, as pessoas que por questões salariais encontravam-se nas categorias mais baixas da população, eram aquelas que haviam demonstrado maior interesse em iniciar um contato com o esporte. Frente a tal constatação, sugere o autor que se estude a viabilidade de barateamento do custo dos equipamentos, bem como a escolha de metodologias de ensino que facilitem a compreensão das regras, para que um número maior de pessoas possa aderir ao esporte.

Leituras CELAZER nº 5

Publicado em maio/1980. Resumo de Pesquisa 3.

Artesanato de brinquedos: trabalho ou lazer?

De responsabilidade de Paulo de Salles Oliveira, esse texto divulga o resultado de uma ampla pesquisa realizada pelo CELAZER, sobre o artesanato de brinquedos no Brasil, ao mesmo tempo em que sugestiona o questionamento sobre o posicionamento do artesão frente a atividade produtora em si, argumentando se seria esta produção considerada trabalho ou lazer. Diferentemente das duas publicações anteriores, destinadas a promover o resultado de pesquisas realizadas pelo CELAZER, este nº 5

ainda que admitindo ser resultado de pesquisa, não expõe qualquer dado estatístico sobre a análise.

Ao contrário, o texto é indicativo de preocupações na ordem teórico-conceitual sobre o significado da produção artesanal e a relação de apropriação desta produção pelo mercado consumidor. A preocupação com o aspecto do lazer neste cenário trás a figura do artesão ao centro da questão. Os resultados da pesquisa, segundo o autor, demonstram que a autogestão do tempo livre, através das práticas artesanais, demonstra que a atividade artesanal recuperou seu significado anterior, perdido com a industrialização. 50% dos artesãos entrevistados declararam-se levados à pratica da fabricação de produtos artesanais por razões relacionadas ao lazer, o que significa pensar que trata-se este artesanato de expressão cultural.

Leituras CELAZER nº 6

Publicado em junho/1980. Artigo 2.

Quem é o animador cultural?

Dante Silvestre Neto é o responsável por este artigo Neste texto, é apontada a necessidade de integração de propostas de animação cultural aos projetos que se destinem ao planejamento das áreas de lazer nos espaços urbanos. Enfatiza o autor que o incentivo às práticas de lazer não deve se restringir a construção e ampliação do número de equipamentos de lazer nas cidades.

Ao contrário, mais eficiente é que sejam promovidas ações destinadas a incentivar o lazer e, para isso, há que se pensar no tipo de profissional para estar a frente de tais ações. Esse profissional seria o animador cultural, com ampla formação cultural e efetiva participação na vida cultural do bairro e da cidade. Salienta, contudo, que esta não é uma formação produzida na academia, mas sim adquirida por meio da vivência cultural. Leituras CELAZER nº 7

Publicado em julho/1980. Debates.

É a teoria, na prática, outra?

Este nº 7 é aquele que se apresenta de forma inusitada ao público leitor, porque trás em si a intenção de inaugurar uma seção no bojo da publicação. Trata-se da seção Debates, cuja função seria a de divulgar as opiniões emitidas pelos técnicos do SESC-SP nas reuniões técnicas. Este novo objetivo é divulgado na contracapa, da seguinte maneira:

Está inaugurada a seção “Debates” no Leituras-Celazer. Tem por finalidade agendar, sistematizar e divulgar opiniões emitidas em reuniões técnicas. Os temas geradores dos “Debates” relacionam-se diretamente à prática da animação cultural, e são analisados com base na Sociologia do Lazer. Não

se trata, e nem se poderia esperar tanto, de um estudo pormenorizado e exaustivo sobre um determinado assunto. Objetiva-se anotar, documentar, consignar opiniões que, à falta de um registro adequados e perdem e são preteridas nos textos de projetos de animação sócio-cultural. Assim, essas ideias correm o risco de se diluírem sem que antes tenha sido feito um trabalho de lapidação, capaz de torná-las instrumentos vivos de orientação técnica.

Sob a forma de “Debates”, o texto não terá um autor, e sim um relator com a função de selecionar e sistematizar as ideias discutidas por um conjunto de técnicos. Cada número do Leituras-Celazer será acrescido de um resumo com as ideias básicas, removendo-se, assim, um obstáculo ao acesso dos que têm menos tempo para travar contato com a publicação. (SESC-SP, 1980b, p. 1)

A relação entre teoria e prática foi o tema que emergiu no contexto das discussões do treinamento intitulado Lazer e Desenvolvimento Cultural, ministrado pelo CELAZER, destinado a bibliotecárias e recreadores do SESC-SP. Paulo de Salles Oliveira foi o relator no momento do treinamento, e é quem assina o texto inaugural da seção Debates. O autor inicia os argumentos textuais afirmando que a teoria não existe sem a prática. Cientificamente teoria e prática se complementam e devem se fundir no sentido de dar qualificação às ações institucionais. Dentro da funcionalidade do treinamento ministrado aos dois segmentos profissionais, a discussão estaria centrada na perspectiva da apropriação dos conteúdos ministrados em termos conceituais e de como seria interessante proceder para que os mesmos se tornassem eficazes nas situações práticas.

Leituras CELAZER nº 8

Publicado em agosto/1980. Resumo de Pesquisa 4.

Demanda de exercícios físicos em São Paulo.

É assinado por Mário Daminelli e chama atenção, igualmente, a preocupação com o propósito da avaliação relacionada à dupla questão: conteúdo e aplicabilidade prática. O texto expõe o resultado de pesquisa realizada pelo CELAZER em 1979, sobre a prática de exercícios físicos pela população da cidade de São Paulo. Partindo do pressuposto de que o aumento da prática de exercícios físicos sistemáticos na cidade de São Paulo poderia estar diretamente relacionado ao crescimento das cidades e a automação das atividades profissionais.

Embora não exista no texto indicação do universo de entrevistas realizadas, os dados apresentados retratam o seguinte quadro: mais da metade da população (56%) ou fazem atualmente exercícios físicos (25%) ou já fizeram e deixaram (31%), esclarecendo- se, contudo, não tratar-se exclusivamente de exercícios sistemáticos. Como conclusão, diz o autor que embora a pesquisa não tenha sido de tendência, estabeleceu a

importância dos exercícios físicos sistemáticos em substituição aos exercícios físicos naturais, em vista do atual estágio de desenvolvimento das cidades.

Leituras CELAZER nº 9

Publicado em agosto/1980. Artigo 3.

Turismo: alienação ou desenvolvimento?

De autoria de Paulo de Salles de Oliveira. O texto instiga a pensar nas motivações para a prática da atividade turística e, ao mesmo tempo, questiona o senso comum que acredita ser o turismo uma espécie de distração fútil. Ao mesmo tempo estabelece um diálogo com a corrente de pensamento que considera ser a prática da atividade turística uma oportunidade de lazer significativa para o desenvolvimento sociocultural dos indivíduos. Aponta, também, que o turismo deve ser compreendido no sentido da prática, a partir do reconhecimento da existência de três dimensões que lhes são intrínsecas: a imaginação, a ação, e a recordação.

Esquematicamente, a prática da atividade turística se revela através da viagem, ou deslocamento. E, nesse esquema, as dimensões se sucedem de forma que o primeiro ponto de convergência é a imaginação. Quando o indivíduo pode sonhar com o que está por vir através da viagem. Depois, a ação é a concretização do sonho, ou na prática a viagem acontecendo. Quando o viajante/turista experimenta novas sensações e emoções em contato com culturas variadas. E, por fim, a dimensão da recordação, que nada mais é do que a lembrança de tudo aquilo que foi vivido. Aqui se materializa o sentido da socialização das informações adquiridas no percurso da viagem. E quando ao narrar as aventuras, o indivíduo contagia o ouvinte que passa a querer conhecer o local visitado. O autor finaliza o texto assegurando que o turismo é uma atividade cultural de lazer, e, é também, fonte de conhecimento e de experiências sugestivas.

Leituras CELAZER nº 10

Publicado em outubro/1980. Artigo 4.

Lazeres ativos e passivos: é possível tal classificação?

Finalmente, o último número de que dispomos é o da décima. Neste momento é publicado o artigo 4, de autoria de Dante Silvestre Neto. Seria possível, de fato, estabelecer distinção entre os lazeres, classificando as atividades entre passivas e ativas? E em que medida o passivo deve ser entendido como atitude limitada à assistência e o ativo como sinônimo de prática? A partir de tais questionamentos o autor expressa preocupação quanto ao comportamento das pessoas que têm pouca familiaridade com o tema do lazer, quando se demonstram reticentes a explicações que são contraditórias àquilo que já está estabelecido pelo senso comum.

Chama atenção, ainda, para o fato de que essa classificação é, com frequência, acompanhada de juízos de valor. Propõe que, em contrapartida, a questão em foco seja analisada sob outro prisma: que a interpretação da classificação lazer ativo / lazer passivo possa incidir não sobre a atividade, mas sim sobre o modo como é praticada. Quanto à perspectiva das programações de lazer, diz ele que as escolhas devem se dar não apenas com relação ao “o que fazer” e, sim, ao “como fazer”, pois é a partir daí que o indivíduo será conduzido à reflexão.

Depois de finalizada a análise dos dez números que integraram a Série Leituras

CELAZER, julgamos oportuno descrever de forma sucinta a proposta metodológica oriunda

do CELAZER, para solidificação dos conhecimentos produzidos no âmbito da Administração Regional do SESC-SP, com referência ao campo do lazer. A princípio, tomando como referencial a própria justificativa apresentada pelo CELAZER para o lançamento da publicação, temos exposta na contracapa a seguinte justificativa:

Leituras Celazer é uma publicação mensal do Centro de Estudos do Lazer

da Administração Regional do SESC no Estado de São Paulo, localizado na Avenida paulista, nº 119, Capital. Cada número conterá, ou um resumo de debates técnicos, ou um artigo, ou um resumo de uma pesquisa.

Debates – A sociologia do lazer e da ação sócio-cultural constituem um

vasto domínio de conhecimentos, cujas fronteiras se expandem e tangem os limites de vários outros setores do saber. Forma-se, assim, uma teia complexa de relações nem sempre suficientemente claras, o que dá ensejo à emergência de questões muitas vezes polêmicas, cujo encaminhamento encontra sua melhor estratégia em debates técnicos conduzidos com rigor.

Resumos de pesquisas – Na tentativa de conhecer a especificidade do

fenômeno lazer entre nós, o CELAZER vem desenvolvendo pesquisas, cujos dados são indispensáveis ao planejamento de atividades que correspondam as necessidades, a um só tempo, da democratização do acesso dos beneficiários e da expressão cultural que o agente gerador dos programas deseja propor em suas práticas.

Artigos – a população utiliza seu tempo livre de acordo com as várias

circunstâncias, num duplo movimento. Por um lado, fatores econômico, políticos e sociais provocam continuamente adaptações nas atividades de lazer, por outro, estas mesmas adaptações suscitam novas tendências no uso do tempo livre. O conhecimento dessas transformações tem particular interesse para o planejamento, já que modificam as relações e expectativas entre o beneficiário e a agência promotora. (SESC-SP, 1980, contracapa)

A partir desta colocação, cuja pretensão é situar o leitor quanto às especificidades da organização dos documentos textuais expostos na publicação, é interessante apreciarmos a forma como a Instituição, mais especificamente a Administração Regional do SESC-SP, a partir do pronunciamento do Coordenador da Equipe CELAZER, Professor Luis Octávio de Lima de Camargo, expressa preocupação constante com a causa do lazer, focando, com atenção redobrada, a produção do corpo técnico atuante no campo do lazer.

Nestes dez números analisados, contabilizamos textos de origens e com intenções distintas, o que nos leva a acreditar na expressividade e na força do CELAZER no SESC-SP. Foram publicados, ao longo dos dez meses decorridos de janeiro a outubro de 1980, quatro artigos, quatro resumos de pesquisa, um resumo de livro e iniciada a seção Debates. Essa produção foi de responsabilidade dos próprios integrantes do CELAZER, Mário Damineli, Dante Silvestre Neto e Paulo Salles de Oliveira identificados, nas publicações, como assistentes da Coordenação do CELAZER.

Basicamente, os conteúdos trazidos a público por estes profissionais, técnicos de atividades do SESC-SP, refletem a linha de trabalho adotada pelo Centro de Estudos do Lazer que desde o momento em que foi instituído, por intermédio de Renato Requixa, quando no cargo de Diretor do Departamento Regional do SESC-SP, demonstrou clara preocupação com a produção institucional acerca do tema.

De forma comparativa, em se tomando as três séries de periódicos analisadas –

Cadernos de Lazer, Cadernos de Lazer Documentos e Leituras CELAZER – é possível

perceber que os procedimentos metodológicos adotados, para a publicação desta produção intelectual e científica, privilegiaram o intercâmbio de informações como estratégia de divulgação e promoção institucional, inclusive quanto ao público externo, haja vista que o Cadernos de Lazer foi publicado pela Editora Brasiliense. Entretanto, ficou evidente a preocupação com a promoção de estudos e pesquisas relacionados à cidade de São Paulo. Não é possível afirmar por quais motivações teria o CELAZER agido de forma a incentivar, promover e prestigiar a produção de conhecimentos no âmbito de sua atuação local. Contudo, existe a hipótese de que, em consequência da concepção de Dumazedier sobre a ocorrência histórica do fenômeno lazer associada ao processo de industrialização das cidades em adiantado processo de industrialização, tenha Requixa adotado uma postura de relacionar a produção sobre o lazer à cidade de São Paulo.