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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.2. Refletindo as dimensões de análise nos Referenciais de Qualidade para a Educação

4.2.2 Letramento Digital e práticas no ambiente virtual

O fomento das novas tecnologias de comunicação, no século XX, contribuiu para o surgimento de novos comportamentos e modos de agir na sociedade. Estilos de vida, formas de interação, pensamentos foram modificados com a intermediação tecnológica. Irremediavelmente, as repercussões dessa transição alcançam o cenário educacional que passa a ter as tecnologias como importantes auxiliares. Steyer (2012) defende que

As novas tecnologias, o computador, em especial, e tudo o que dele deriva, fornecem-nos ferramentas e dispositivos que oferecem uma gama de possibilidades de interação, apreensão, leitura como nunca antes imaginado na história da humanidade. Os meios de expressão, a partir dessas tecnologias todas, estão cada vez mais em frequente interação. O ser humano, sempre em constante mutação, teria agora uma tecnologia que lhe permitiria extravasar ainda mais e de maneira mais fácil essa sua condição de ser camaleônico. (STEYER, 2012, p.187)

As mudanças tecnológicas peculiares à sociedade da informação e comunicação atribuem um novo significado às noções de tempo, espaço, lugar e vivenciam paradigmas antes impensáveis no que se refere à comunicação e, sobretudo, no processamento de informações. A velocidade e o fluxo das informações impulsionadas pelas tecnologias delineiam um “novo tempo” e redimensiona o modo de viver e conviver. Outrossim, criam- se novas dimensões para o acesso educacional que, por sua vez, necessita de uma reestruturação e o desenvolvimento de modelos de ensino mais democráticos.

A Educação a Distância, portanto, de algum modo, responde às demandas da contemporaneidade na medida em que o processamento de informações se dá de modo flexível e contínuo mediante a utilização de diferentes ferramentas assíncronas. Ademais, possibilita a interação entre todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem em diferentes dimensões de tempo e espaço e, consequentemente, motiva a democratização do acesso ao conhecimento. Formiga (2009) considera que

O papel exercido pelas TICs e a valorização cada vez maior da inovação extrapolam em muito o que se vem observando no processo de aprendizagem e no uso progressivo EaD, denominada no novo paradigma de aprendizagem flexível. A multipresença da inovação, ou sua ubiquidade, já permite antever nesse limiar do século XXI, em sequência ou consequência das sociedades da aprendizagem e da informação e do conhecimento, o pleno processo de gestação tecnológica de uma nova sociedade, que poderia vir a ser denominada, em curto espaço de tempo, ‘sociedade da inovação’. (FORMIGA, 2009, p. 43).

Consoante ao exposto, a utilização dos diferentes suportes tecnológicos também é contemplada e discutida nos Referenciais de Qualidade. Com a preocupação central de compreender as categorias que envolvem o universo complexo da EaD, o documento discorre, entre os principais tópicos de análise, sobre o Sistema de Comunicação e, em uma seção circunscrita, versa a respeito do uso das TDIC. Nesse item, valoriza-se a aprendizagem cooperativa e a potencialização do conhecimento através da tecnologia na qual o estudante passa a ser o foco do processo pedagógico e o professor assume uma postura mediadora, auxiliando-o e motivando-o a compartilhar saberes.

Nesse cenário, institui-se que “o desenvolvimento da educação a distância em todo o mundo está associado à popularização e democratização do acesso às tecnologias de informação e de comunicação” (BRASIL, 2007 p. 10), o que justifica a inserção das tecnologias digitais de comunicação e informação, sobretudo o computador e o acesso à internet, em maior proporção no contexto brasileiro. Com efeito, amplia-se as possibilidades educativas que ultrapassam as barreiras rígidas da sala de aula convencional e cria inovadoras e imprevisíveis formas de adquirir o conhecimento. De acordo com Kenski (2012),

Com o acesso às redes, multiplicam-se as possibilidades educativas. Ampliam-se os espaços das escolas não apenas para acessar informações, mas também para comunicar, divulgar e oferecer informações, serviços e atividades realizadas no âmbito da instituição por seus professores, alunos e funcionários. (KENSKI, 2012, p. 70).

Não obstante, os Referenciais de Qualidade chamam a atenção para o uso atual da tecnologia. Defende que o processo educativo somente se desenvolverá de maneira significativa com a utilização inovadora dos recursos tecnológicos. Isto é, deve estar pautado em uma filosofia de aprendizagem em que se priorizem os princípios da interação e

da interatividade. Acrescenta, ainda, que esses princípios são de fundamental importância para o processo de comunicação e, em hipótese alguma, devem ser preteridos.

O uso inovador da tecnologia aplicada à educação deve estar apoiado em uma filosofia de aprendizagem que proporcione aos estudantes efetiva interação no processo de ensino aprendizagem, comunicação no sistema com garantia de oportunidades para o desenvolvimento de projetos compartilhados e o reconhecimento e respeito em relação às diferentes culturas e de construir o conhecimento. (BRASIL, 2007, p. 9).

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Dessa compreensão, depreende-se que há uma preocupação por parte das diretrizes com a viabilização das condições de acesso das tecnologias que perpassam desde questões inerentes à infraestrutura tecnológica ao letramento digital dos sujeitos envolvidos. Kenski (2012) ressalta que a popularização do acesso ao conhecimento e ao uso das tecnologias perpassa pela necessidade de se dispor de condições de se oferecer com qualidade essas possibilidades tecnológicas aos alunos.

Adiciono a essa discussão, a necessidade de entendimento desse “uso inovador das tecnologias”. Isto implica em afirmar que a EaD vai muito além da simples utilização de recursos tecnológicos. Além de ressignificar as noções de espaço e tempo, possibilita uma comunicação multidirecional ao estabelecer relações dialogais e interativas entre os sujeitos participantes através de uma prática mediada e mediatizada. Em outras palavras,

As tecnologias de informação e comunicação não embutem em si a dominação e/ou emancipação. Elas são instrumentos que são “conformados” pela concepção pedagógica do curso “desenhado” pela equipe ou da disciplina por um professor. São tecnologias que estão “a serviço de” uma determinada concepção de sociedade, de educação, de comunicação, de aprendizagem, de avaliação. (PRETI, 2009, p. 61).

A partir dessa perspectiva, faz-se também necessário e significativo refletir acerca da figura do professor nesse cenário, uma vez que a ele lhe é atribuída a função de proporcionar a efetiva interação entre estudantes, tutores e demais envolvidos por meio de atividades coletivas e incentivar a comunicação no processo de ensino e aprendizagem.

Em face desta relevância, os Referenciais de Qualidade, por sua vez, concedem às instituições que ofertam os cursos EaD a responsabilidade de uma qualificação contínua, quando ao discorrer sobre os sistemas de comunicação outorga que cabe à instituição dispor de forma clara no seu PPP o planejamento da formação, supervisão e avaliação de todos os profissionais envolvidos no processo a fim de garantir um atendimento de qualidade aos

estudantes. Em função disso, é válido ressaltar que no momento em que essa incumbência passa a ser gerida pela instituição, que tem interesses, necessidades e demandas próprias, revela-se uma diversidade de modelos e, por conseguinte, possibilidades diferenciadas de formação.

Assim sendo, desponta-se um grande desafio para os docentes: o fato de o ensino a distância ser conduzido por intermédio de uma tecnologia e nem sempre ter experiência e/ou habilidades para lidar com esses meios, suscitando uma formação específica em aspectos como os multiletramentos e o letramento digital.

A base de conhecimento para o ensino consiste de um corpo de compreensões, conhecimentos, habilidades e disposições que são necessárias para que o professor possa propiciar processos de ensinar e aprender, em diferentes áreas do conhecimento, níveis, contextos e modalidades de ensino. Essa base envolve conhecimentos de diferentes naturezas, todas necessárias e indispensáveis para a atuação profissional. (MIZUKAMI, 2004, p. 4).

Dessa forma, para garantir a interação entre (professor/estudante/tutor/colega) proposta nos Referenciais, o professor, por certo, deverá reconhecer as singularidades inerentes ao contexto da EaD. E, para tanto, a formação continuada no universo da EaD e as TDIC tornam-se essenciais. Igualmente, engendrar uma maior atenção ao planejamento do seu trabalho didático e pedagógico é condição sine qua non para o desenvolvimento de uma educação de qualidade, na qual ele seja capaz de aplicar a tecnologia de forma eficaz e adequada para manipular, avaliar, organizar e comunicar informações.