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2. LETRAMENTO: CONTEXTUALIZAÇÃO DOS LETRAMENTOS DIGITAIS

2.2. Letramento em Hipertexto

Na esfera tecnológica, ler e escrever requerem fazer uso de uma coleção de recurso tecnológico do meio digital. Para se comunicar na web, é preciso muito mais que somente as técnicas de codificação e decodificação da escrita, a linguagem verbal e não verbal também passou a ser primordial para este fim.

A internet tem possibilitado a milhares de usuários fazer uso da escrita numa frequência cada vez maior nas publicações, nas redes sociais, em comentários nos sites de notícias ou entretenimento. Os textos são cada vez mais enriquecidos por imagens ilustrativas fixas ou em movimento, ou até mesmo imagens que vêm acompanhadas de textos esclarecedores. Esta nova realidade na construção de textos, com caraterísticas mais dinâmicas, permeia o ambiente escolar através dos alunos internautas, que muitas vezes vêm acompanhados de uma coleção enorme de gêneros textuais e de letramentos digitais adquiridos na web.

Entretanto, a maioria das escolas se encontra ainda formatada para trabalhar textos impressos. É preciso que os professores estejam preparados em letramento digital, juntamente com esses alunos internautas, que superem este desafio, podendo levar a comunidade escolar a engajar nesse meio digital de forma preparada, consciente e critica.

A conectividade existente na web sugere que os textos também sejam conectados, e com isso, entra em cena o grande protagonista desta conexão entre os textos: os links que serão fundamentais no assunto hipertexto.

Gomes (2013) faz uma definição explicita do hipertexto da seguinte maneira:

O hipertexto pode ser entendido como uma modalidade de escrita que procura maneiras alternativas de construção textual que ajudem a contornar as dificuldades impostas à leitura do texto na tela e também a explorar os

recursos oferecidos pelo meio digital, como os links e a inserção de imagens, por exemplo. (GOMES, 2013, p.43)

O hipertexto, definido como um texto quase que totalmente restrito ao ambiente digital, move-se por este ambiente através dos links, proporcionando ao autor levar os leitores a lugares que contribuirão na construção de novos sentidos, ou simplesmente para dar continuidade ao texto.

A web atualmente é um grande exemplo de hipertexto aberto, onde todas as informações estão interconectadas, documentos podem ser acessado de todos os lados e ainda pode haver acréscimo de informações, e tudo isto de forma não linear, isto é, descentralizado (GOMES, 2013, p.21).

Historicamente a ideia do hipertexto vem da dificuldade da localização nas bibliotecas de documentos, rolos, papiros, códex etc., indexados por números, letra, dividindo em classes e subclasses, para facilitar o acesso aos textos mais rápido pelos frequentadores das bibliotecas. Até as enciclopédias eram usadas para organizar as informações também por volumes, e tudo isto a partir do século XII.

As quantidades de livros aumentaram no século seguinte, que mesmo com métodos de indexação, a localização e a obtenção de informações ainda era difícil e lenta.

Surge no século XIX, apresentado por Melvil Dewey em sua obra publicada, a ideia de indexar os livros e revistas por um método chamado CDD – Classificação Decimal de Dewey, que consiste em uma forma hierárquica de classificação, dividindo as áreas de conhecimento em dez partes, segundo Gomes (2013, p.15). O crescimento de livros publicados continuava acelerado, e ainda por este método existia o desafio por partes dos bibliotecários na localização das informações indexadas linearmente e impressas.

Em 1945 o físico e matemático Vannevar Bush publica um artigo intitulado “Do modo como pensamos” (no original – As we may think), direcionado à inteligência americana na intenção de protesto, em que seu objetivo era mostrar que pensamos não linearmente, mas por meio de associações. Esta afirmação de Bush desencadeia uma estratégia de organizar as informações com o foco no usuário, no pesquisador. Isto foi possível graças a um dispositivo mecânico criado por Bush, utilizando de microfilme e célula fotoelétrica. Com este recurso, os livros, imagens e mensagens podiam ser armazenadas e consultadas com facilidade e rapidez.

Não bastasse este grande avanço, o Memex, como foi chamado este dispositivo mecânico, era de uso individual. O usuário do Memex podia armazenar, pesquisar, alterar o conteúdo dos arquivos conforme suas necessidades, atribuir comentários e principalmente associar os documentos interconectando as informações, isto é, criar seus próprios links. Desmorona assim a forma hierárquica e linear de indexação de Dewey, inovando para uma indexação pensada no pesquisador, e de forma não linear.

Gomes (2013, p.17) descreve que, por mais que Vannevar Bush recebesse os créditos das potencialidades do hipertexto, ainda a indexação era feita através de microfilmes. Somente por volta de 1960, através de Theodoro Nelson, se desenvolve o hipertexto baseado em algoritmos, na era do computador.

Outro que colaborou com o desenvolvimento da potencialização do hipertexto foi Douglas Engelbert, com larga experiência em computadores e depois intencionalmente, com propósito de usá-los para resolver problemas, aumentando assim o intelecto humano, dando origem ao mouse e às múltiplas janelas, sendo mais tarde essa a ideia original do Windows (janelas).

No surgimento da web 2.0, as ideias do hipertexto tomam dimensões gigantescas, ao ponto de a própria web ser considerada uma rede interconectada de informações, podendo ser acessada de todas as direções, com agilidade, flexibilidade e eficiência.

O hipertexto, no âmbito tecnológico, vem contribuir como um arquivo em que pode se pensar acerca do tamanho, velocidade, armazenamento e maneiras de acesso, portanto, na educação na área das linguagens, o hipertexto reflete na leitura e na produção de texto, em que as possibilidades de associações a outros textos são enormes, proporcionando inúmeras maneiras de uso no ensino.

Ao se referir aos textos associados a outros textos, formando uma teia de informações, o elemento principal que caracteriza o hipertexto é chamado de link, que tem por definição ser a área localizada dentro de um texto que, ao ser clicado, direcionará a uma outra parte do texto do mesmo documento (interno), ou a outro texto de outro documento (externo), qualquer outro documento existente na web.

Usualmente os links são palavras ou conjunto de palavras destacadas, de fácil visibilidade no texto, ou até mesmo nas páginas representadas por símbolos especiais, ícones e até palavras.

Um ponto importante dos links é que o leitor pode ou não clicar, trazendo ao leitor a decisão de obter novos entendimentos ou sentidos na sua leitura, que podem contribuir ou não imediatamente, mas que trarão possibilidades de reflexão. É isto que difere o hipertexto do texto simplesmente digital ou digitalizado.

Entender o link somente como uma ferramenta de conexão é tirar toda essência do conjunto da obra, por estar ligado à estrutura cognitiva do hipertexto, à contribuição do link devido às variedades e às quantidades de textos, figuras, vídeos, áudios e imagens, ampliando a construção de sentidos do texto pelo leitor.

Gomes (2013, p.29) menciona diversos links que podem ser tipificados: localização no texto; ligações que articulam, acrescentam, incitam ou restringem sentidos ao texto principal. O autor faz referência à existência de no mínimo 75 tipos de links, e será feito o apontamento de alguns tipos de links neste trabalho, citados por ele.

Os dois primeiros tipos são citados como links semânticos e links estruturais. Esta divisão se dá por conta das macro funções que ambos têm: os semânticos trazem ao hipertexto relações de novos sentidos denotativos ou conotativos, os estruturais funcionam como facilitadores de navegação. Pode-se observar na figura 12, a página de uma enciclopédia online, que em seu texto principal apresenta vários links semânticos e o destacado no quadrado abaixo da palavra pesquisada (Letramento), estão os links estruturais.

Figura 12 – Exemplo de links semânticos e estruturais

Na sequência, tem-se os links textuais e os links gráficos, que são tipificados pela sua forma e visual. Os textuais em geral têm cor, tamanho da fonte e tipos da fonte diferentes do texto onde estão localizados, ao passo que os gráficos têm formas de ícones, botões, imagens e etc.

Na figura 13 os links estruturais textuais e os links estruturais gráficos são destacados pelas setas.

Figura 13 – Exemplo de links textuais e gráficos

Fonte: Google (28/10/2019)

Os links podem ser classificados a partir da conexão que eles proporcionam ao hipertexto. Se, ao clicar, o seu destino for para o mesmo documento e ou no mesmo site (página), ele é chamado de link interno. Este tipo de link normalmente é utilizado para textos muito grandes e que não cabem na tela, precisando usar a barra de rolagem. Com isso, o link assume a ideia de continuidade do texto (extensão). Já se, ao clicar, for direcionado a um documento em outra página e/ou outro servidor, ele é denominado link externo.

O percurso que é oferecido ao leitor também caracteriza o link. No primeiro caso, o link linear proporciona uma leitura em sequência do texto, utilizado normalmente em impressões, mas que se encontra disponível na web. No segundo caso, o link não linear, que é de uso exclusivo na web, o leitor pode percorrer qualquer

parte do documento, de forma não sequencial, o que permite buscar a informação que mais interessa e necessita, daí a relevância do hipertexto.

Figura 14 – Exemplo de hipertexto

Fonte: Link: https://kamargo.com.br/2018/11/12/o-papel-do-texto-impresso-e-do-hipertexto-na- educacao/ (28/10/2019)

Ainda se pode citar mais alguns links dos tipos: links superpostos – que aparecem em forma de mapas, índices e menus; links implicados – fazem parte do texto, são colocados de maneira diferenciada no próprio texto; links de substituição – o texto destinatário substitui o texto principal; links de superposição – o texto destinatário é aberto em outra janela, e os dois textos ficam disponíveis na tela. Os links superpostos e implicados são assim definidos segundo sua localização no documento, e os links de substituição e superposição se referem à característica de troca de páginas ou documentos na internet.

Escrever um hipertexto vai além da organização textual e da linearidade de conceitos de um texto comum. Gomes (2013, p.43) trata mais como construção do hipertexto, pois é preciso pensar a estrutura e quais textos serão conectados e de que maneira isto vai ocorrer.

Devido à sua estrutura e flexibilidade de navegação, o hipertexto pode se apresentar de quatro maneiras diferentes: modelo sequencial – característica similar do texto impresso, uma leitura linear; modelo hierárquico – um texto principal, no qual a partir dele se faz conexão a outros textos de mesmo nível hierárquico; modelo reticulado – tem uma margem de liberdade de acesso maior, entretanto não se conecta a todos documentos disponibilizados na web; modelo em rede – é totalmente diferente ao reticulado e hierárquico, todos os textos são conectados e podendo ser acessado por qualquer ponto da web.

Figura 15 – Modelos de Hipertextos

Fonte: Livro Hipertexto no cotidiano escolar (GOMES, 2013, p.51)

O idealizador do hipertexto, Vannevar Bush, jámais poderia imaginar que através do Memex – Memory Index desse o ponta-pé inicial para aquilo que revolucionaria, nos dias de hoje, a informação e comunicação, trazendo enormes contribuições nesta era digital no que se trata de leitura e escrita.

Parente (1999, p. 80) afirma:

Em ciência da informação, o hipertexto é, antes de mais nada, um complexo sistema de estruturação e recuperação da informação em forma

multissensorial, dinâmica e interativa. Dentro desta perspectiva, o hipertexto representa o último capítulo da história da escrita e do livro, o livro interativo, audiovisual, multimídia”.

O hipertexto contém três princípios, e que o torna fundamental na web, que são: princípio da conexão; princípio da heterogeneidade; princípio da multiplicidade, apresentado por Parente (1999, p. 94-98) da seguinte maneira:

i) conexão: qualquer ponto de um rizoma4 pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo. [...] as conexões se fazem por proximidade, por vizinhança. A rede hipertextual é uma galáxia de conexões acentradas, [...]; ii) heterogeneidade: [...] A rede hipertextual provoca uma hibridização entre as diversas mídias utilizadas. [...] contendo textos, imagens e sons, é chamado, hoje, de multimídia ou hipermídia; iii) multiplicidade: Em termos da rede hipertextual, diríamos que o hipertexto é fractal, ou seja, cada nó da rede hipertextual é apenas uma atualização possível entre outras, cada nó é potencialmente uma outra rede, ao infinito.

Segundo Levy (1995, p. 20) o hipertexto tecnicamente é uma rede de nós ligados entre si por conexões, em que os nós podem ser imagens, palavras, páginas, gráficos e até o próprio hipertexto. Navegar pelo hipertexto pode ser tão complexo quanto possível, porque cada nó pode conter todo um infinito de nós, uma rede inteira. Levy (1995) define que o hipertexto funcionalmente é um tipo de programa para organização de dados e obtenção de informações e a própria comunicação.

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