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2 3 A LEXANDRE B ERZIN , ENTRE INTELECTUAL E FLÂNEUR , O PROFESSOR , OU ENTRE FLÂNEUR E PROFESSOR , O

FOTÓGRAFO

O

empenho do fotógrafo Alexandre Guilherme Berzin, possuidor de uma enorme

sensibilidade e acurácia, tanto como técnico quanto nas atividades e organização do Foto Cine Clube do Recife, assim como na manutenção, persistência e propagação dos ideais fotoclubistas no Recife, pelos seus três Salões, é notório. É tanto que, nos depoimentos que colhemos, em algum momento, a imagem de Berzin se confunde com a própria imagem do FCCR: um fundador, o “velho Berzin”, “o professor”. Aquele que sempre foi “um amador”, porque não se importava em dar suas fotografias, fato que teria contribuído para

Salta, laurear-se através da concorrente Zuila Medeiros Lins, sendo esta a primeira vez que uma dama do FCCR consegue classificar-se em salão internacional. Além de Zuila, concorreram os seguintes membros do FCCR: Alexandre Berzin, Karl G. Behrsing, José Fonseca Aguiar, Johannes Friese e Ajax Pereira./ É de lamentar, entretanto, que uma entidade como essa, que tanto tem contribuido para elevar o padrão artístico de Pernambuco, no Brasil e no mundo, viva relegada a plano de 'luxo' pelos círculos oficiais, não obstante já ser considerada como de utilidade pública por decreto-lei estadual de autoria do deputado Augusto Lucena, publicado no Diário Oficial de 5 de outubro de 1956./ Êsse decreto que autoriza o Estado a subvencionar aquela entidade com 100 mil cruzeiros anuais, até hoje sua ação não passou do papel, pois a verba liberada continua nos cofres do Estado, sem que seja tomada uma iniciativa por parte do DDC./ Por êsse motivo, o cogitado 1º Salão Internacional de Arte Fotográfica a ser realizado no Recife, que deveria ter sido inaugurado desde este ano, não foi possível aos mentores do FCCR levar a efeito tal iniciativa, por motivo da carência de verba na entidade. Êsse Salão que já recebeu trabalhos de várias congêneres do mundo está suspenso e, segundo esperam os membros do FCCR, deverá ser levado a efeito no próximo ano. EXPOSIÇÃO INTERNA/ No momento a entidade dos amantes da câmara do Recife, está recebendo trabalhos dos seus associados para realizar a Exposição Interna do Foto Cine Clube. Essa exposição que é vivamente concorrida deverá ser inaugurada no próximo dia 28 e os trabalhos deverão ser remetidos até o dia 26 para ser procedido o jougamento(sic). Diário da Noite, quinta-feira, 26 de dezembro de 1957, 1ª p.

cont. na p. 5.

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Fotografias de Alexandre Berzin. 1ª: no dia de seu aniversário, em 31 de janeiro de 1949; 2ª: fotografado à bordo do navio “Matimbó”, em 27 de agosto de 1949; 3ª: em 1951. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

que não tivesse tido na velhice, dias tranqüilos financeiramente426. Não podemos considerar que temos uma biografia de Alexandre Berzin e sim um somatório de relatos, fragmentos de sua história de vida, notas em jornais e fotografias, muitas fotografias, que pertencem à Coleção AB/FCCR da FJN. Estes fragmentos relacionados como numa montagem, ressaltam, principalmente, sua dedicação quase em tempo exclusivo à fotografia profissional e amadora.

A presente reflexão tenta compreender como Alexandre Berzin se situou naquilo que podemos chamar de os “problemas da vida cultural” da cidade do Recife, à luz das análises de Antonio Gramsci sobre a “formação dos intelectuais” 427. Para tanto, fazemos nossos os questionamentos de Gramsci sobre se os intelectuais, os artistas, são ou podem ser independentes. Consideramos, como primeira lição, que as possíveis respostas a este questionamento podem ser visualizadas das práticas que emergem: é preciso, diz Gramsci, ao invés de fazer um juízo genérico, considerarmos o contexto existencial concreto e tradicional e não (gostaríamos de dizer e no mínimo) democrático, onde o trabalho criador, especializado e técnico pode garantir a homogeneidade e a consciência do grupo do qual

faz parte428. Acompanhamos as atividades de Berzin através da percepção de seus

interesses e práticas registradas fotograficamente. A tarefa pode mostrar a complexidade de sua passagem (de Berzin) pela cidade do Recife e sua atuação como um fotógrafo, um técnico, que pensava fotografia e que fazia “arte fotográfica” e que, veremos, questionou a própria idéia da arte fotográfica, apesar de ensinar regras de composição e do esmero laboratorial; seja como fundador de um fotoclube de artistas amadores onde havia uma expectativa de criar imagens – e imagens novas - da cidade, menos paisagem, mais recorte; seja como um professor de fotografia.

426

Entrevista com Edmond Dansot, em 17 e 21 de julho de 2003; Ajax Pereira e Alcir Lacerda, em 9 e 10 de fevereiro de 2004; Didi Berzin, em 27 de outubro de 2004.

427

GRAMSCI, Antonio. Problemas Culturais. In: Obras Escolhidas. São Paulo, Martins Fontes, 1978.

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Gramsci ainda acentua que é a percepção de seu próprio espírito de corpo, como uma ininterrupta continuidade histórica, e a sua qualificação que faz com que os intelectuais se ponham a si mesmos como autônomos ou independentes. GRAMSCI, Antonio. Problemas Culturais. Op. cit., p. 345; contrapor à visão de CASTORIADIS, Cornelius. Dimensão social da autonomia. Op. cit.

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Alexandre Guilherme Berzin, nasceu em 31 de janeiro de 1903, na cidade de Riga, Letônia, no norte da Europa. Chegou ao Brasil em 1927, desembarcando do navio “Attika” no porto de Belém do Pará e no Recife, em 1928, onde permaneceu até 19 de fevereiro de 1979, quando de sua morte. No ano de 1963, numa nota do Diário de Pernambuco assinada por Jota Soares, a jornada de Berzin é narrada em comemoração aos seus trinta e cinco anos de Recife430. É onde confirmamos sua formação em Engenharia Industrial ainda na Europa, como o mesmo que aconteceu com outros profissionais que depois se tornaram fotógrafos, a exemplo de Philippe Halsmann (1906 – 1979), também de Riga, que se tornou célebre pela parceria com Salvador Dali, mestre do surrealismo431. Inspirando-se no artigo sobre Berzin da revista Correo Fotográfico Sudamericano de 1950, diz Jota Soares432:

Nascido em Livônia (Letônia), em 1903, as características do solo pátrio o inclinaram, desde menino, para as cercanias da fotografia, tal a revelação de uma maneira particularíssima de interpretar as emoções que lhe(sic) pareciam surgir em cada casa, cada paisagem, cada ser que o rodeavam(sic). Já engenheiro industrial, sua paixão primeira foi obter o reforço para uma oportunidade de conhecer a Alemanha, berço de renomadas técnicas em fotografia. Daí a se tornar um fotógrafo profissional foi um

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“Ex-libris Alexander Baersing”. Caderno de recordações de Alexandre Berzin. Riga, 9 V 1923. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

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Mestre Berzin, de Jota Soares para o D.P. Recife, (2º Caderno), domingo, 24 de fevereiro de 1963, p.3.

Recortes de jornal, Coleção AB/FCCR, FJN – Recife – PE. Ver também a revista Correo Fotografico Sudamericano. Buenos Aires - Argentina, Ano XXIX, nº 632, marzo 15 de 1950. Coleção AB/FCCR, FJN – Recife – PE. Jota Soares, sergipano, um dos pioneiros do “Ciclo do Recife”, na década de vinte, autodidata, produtor de rádio e televisão, comentarista de esportes e no cinema foi ator, diretor, roteirista e argumentista. In: MEDEIROS, Ruth de Miranda Henriques. (org.) Op. cit., p. 83 – 84.

431

MIEELBECK, Reinhold. Fotografia do Século XX. Köln/Museum Ludwig: TASCHEN, 2001.

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Correo Fotografico Sudamericano. Una revista quincenal consagrada a la fotografia y sus aplicaciones

Director - Alejandro C. del Conte – Editor Buenos Aires - Republica Argentina, AÑO XXIX - nº 632. AÑO DEL LIBERTADOR GENERAL SAN MARTIN, Marzo 15 de 1950.

átimo, numa realização dos seus sonhos de jovem amante da natureza. No país das indústrias, trabalhando vários anos sob os ensinamentos robustos de famosos fotógrafos como Kaufeldt e Auza de Dresden e obtendo desses mestres os melhores frutos no campo da técnica de retratar, Berzin decidiu que o Brasil seria o seu país preferido para o desenvolvimento definitivo de sua arte, aquela nascida em Livônia e robustecida graças à perícia dos mestres germânicos e à sua própria inteligência. Chegando a Belém do Pará, no dia 26 de junho de 1927, convidado pela Casa Matriz de Fidanza, Berzin revelou extraordinária capacidade profissional, sendo transferido para a filial do Recife onde Max Maux o acolheria com patente satisfação, já que acabava de obter a cooperação de um novo mestre na difícil profissão de trasladar à gelatina reproduções fiéis e artísticas de pessoas e coisas que a vida encerra. Sua chegada no Recife data de 18 de janeiro de 1928, tendo vivido entre nós durante trinta e cinco anos como experiente observador e possuindo aquele espírito tão pronunciado como homem de câmara.433

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Alexandre Berzin não encontrou dificuldade em se transformar num autêntico profissional em aspectos sociais. Entretanto a natureza o chamara como em sua terra natal, puxando o rapazola de Livônia a se dedicar a pesquisa de novos ângulos na paisagem nordestina, no folclore, nas suas grandezas históricas do Leão do Norte. Sua permanência na Fidanza não foi além de cinco anos pois, inquieto, Berzin determinou sua liberdade definitiva fundando, no dia 13 de fevereiro de 1933, o seu próprio atelier, dando-lhe o vitorioso título de "FOTO AB", homenageando a si próprio, aos seus próprios esforços, à sua arte particular, colocando na razão social do seu estabelecimento as iniciais do seu grande nome no mundo da fotografia. Daí por diante, o desenrolar da vida artística de mestre Berzin fala por si só, quando o encontramos em atividade intensa não só a serviço da sociedade, onde suas virtudes como homem de extremo gosto o tecnico(sic) preferido mas também como profissional escolhido e contratado por instituições oficiais, para efetuar colheita de motivos nordestinos,

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“Mestre Berzin”, de Jota Soares para o Diário de Pernambuco. D.P. Recife, (2º Caderno), domingo, 24 de fevereiro de 1963, p. 3. Coleção AB/FCCR, FJN – Recife – PE.

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“Photografia tirada em 20 de Abril de 1931 ASSIGNATURA DO PORTADOR A.G. Berzin REGISTRADO Livro nº__ fls.__ na ficha nº 1 Caderneta expedida a Alexandre G. Berzin em 20 de Abril de 1931 filho de Emil Berzin e Elsa Berzin Nascido a 31 de 1 de 1903 Logar do nascimento Lettonia Nome do estabelecimento Photo Fidança Cidade Recife Estado Pernambuco Rua da Imperatriz 139 Especie de estabelecimento Photographia Nome do empregado Alexandre G Berzin Data de admissão 17 de janeiro de 1928 Estado civil Solteiro Natureza do cargo Photographo Remuneração (especificada) Setecentos mil reis Porcentagens Residência R. Soares de Azevedo OBSERVAÇÕES”. Documento da Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

documentar fases e costumes populares do Recife, eternizar, em ricos e oportunos flagrantes os atos que irão à posteridade.435

A dedicação à fotografia e o espírito gregário (arbóreo) de Berzin que depois vai se fazer valer na experiência do FCCR pode muito bem estar relacionado com sua origem letoniana, terra de muitas árvores – da “floresta real de Bialowieza” – onde habitava o bisão, animal que figura como uma “relíquia dos povos pré-históricos”, de um mundo

tribal e arbóreo, de caçadores e colhedores, assustador e admirável ao mesmo tempo436. Símbolo de resistência, dizia-se que o animal e a floresta, enquanto existissem, garantiriam a existência da nação, a última pagã a converter-se ao cristianismo, no século XIX. A época do entre-guerras, momento em que Berzin chega ao Brasil, é quando há grandes danos à floresta, causados por inúmeras madeireiras, como é o caso da inglesa Century, e, o bisão, dizimado na primeira guerra, só pôde ser salvo por conta daqueles que haviam sido repatriados de Berlim, de Hamburgo e Estocolmo. Para completar, o inverno de 1928- 29, quando AB já estava no Recife, foi considerado extremamente rigoroso, pondo em risco os carvalhos e as faias seculares da floresta. Em 1930, são tomadas medidas para proteger a floresta, mas o povo da Letônia, Lituânia e Polônia é que se encontra sob ameaça: a nacionalista – nazista e depois stalinista437.

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Se o Correo Fotografico Sudamericano insistia nas influências do ambiente na modelação do espírito do artista, a nota de Jota Soares vai reforçar a prática fotográfica de Alexandre Berzin no Recife, onde foi profissional reconhecido tanto como professor na Sociedade de Arte Moderna desde 1948, fazendo escola - 25 cursos de fotografia até 1963, formando cento e trinta fotógrafos amadores e profissionais na cidade -, quanto como fotógrafo profissional, oficialmente contratado pela antiga Diretoria de Estatística, 435

“Mestre Berzin”, de Jota Soares para o Diário de Pernambuco. D.P. Recife, (2º Caderno), domingo, 24 de fevereiro de 1963, p.3. Acervo AB/FCCR, FJN – Recife – PE.

436

Ver Mata e Água. In: SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 47 e p. 261.

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Idem, p. 77.

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Silhuetas. Uma bandinha, Riga, 30 de dezembro de 1924 e um caçador, Riga, 02 de Maio de 1923. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

Propaganda e Turismo, desde sua fundação, onde permaneceu até o momento da mudança, no final do Estado Novo (1937 – 1945), para Diretoria de Documentação e Cultura e ainda como prestador de serviços ao Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura do Recife439. O “Photo Fidança”, onde Berzin trabalhou nos primeiros anos de Recife, ficava na rua da Imperatriz, nº 139, a mesma rua onde montou o seu próprio studio, o “Foto AB”, que foi também sua residência - na Rua da Imperatriz, nº 246, mesmo endereço que depois vai sediar o FCCR. São desta época as suas fotografias publicadas em catálogos comemorativos das administrações Novaes Filho (1937 – 1943), intitulado “Seis Anos de Administração Municipal (1944), e de Barbosa Lima Sobrinho, intitulado: “Exposição. Documentário de uma Administração”440.

É possível que Berzin – que falava oito idiomas: leto, polonês, alemão, russo, inglês, francês, espanhol e português441 - tenha conhecido no DDC, Hélio Feijó, desenhista – que ilustrou publicações daquele Departamento –, e através deste, Abelardo da Hora, escultor, ambos fundadores da Sociedade de Arte Moderna do Recife. Nesta mesma época teria conhecido também José Césio Regueira Costa, Diretor do DDC, geógrafo, que se sensibilizava com a situação da Letônia, enviando a Berzin recortes de jornais que informavam os últimos acontecimentos que abatiam o povo letoniano442. Por estes recortes pudemos saber do “martírio” daquele povo, deflagrado pelo “imperialismo soviético” da era de Joseph Stálin (1879 – 1953)443.

439

Na Folha da Manhã, sábado, 3 de março de 1945, p.1 é noticiado: “Morreu o DIP”. “... será transformado num órgão cultural”.

440

Sobre a administração Novais Filho ver PONTUAL, Virginia. Uma cidade e dois Prefeitos: narrativas do Recife das décadas de 1930 a 1950. Recife: UFPE, 2001.

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Entrevista com Didi Berzin, em 27 de outubro de 2004.

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Escrito por um jesuíta, ordem que educou parte daquele povo, o recorte mostra a Letônia como um pequeno país no Mar Báltico com dois milhões de habitantes, católico, como a Polônia - também ocupada pela URSS – e cujo padrão de vida era então incomparavelmente superior ao da Rússia. Diz o artigo que

Quem transpõe a fronteira da Letônia para entrar em território russo tem a impressão de passar de um pais altamente civilizado para outro que ainda não saiu da primeira fase de seu desenvolvimento. Comparando

ainda mais a Letônia à Rússia, considera os índices de consumo de alimentos em 1938 per capita (kg) e a produção de rádios e bicicletas por habitante nos dois países. Para o primeiro índice destaca que, do consumo de 566 litros de leite na Letônia foram consumidos 170 litros na Rússia. Na Letônia se produzia uma bicicleta para 40 habitantes, enquanto que uma seria fabricada para 410 habitantes, na Rússia. E de um rádio para cem pessoas na Letônia, na Rússia, 810 pessoas disputariam um rádio. Estes índices demonstram o quanto os “países bálticos”, além da cobiçada floresta e do pré-histórico animal, eram alvo do interesse de outras nações no período entre as duas Grandes Guerras, período de muitas migrações. “Martírio de Letônia”. Escrito pelo P. Arlindo Vieira, S.J., relaciona a situação da Polônia e dos “países bálticos”, católicos, ocupados pelo “exército vermelho”. Folha da Manhã, quarta-feira, 17 de junho de 1940, p. 3. Recortes de jornal. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

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É, portanto, exatamente quando o poder de Stálin cresce sobre a URSS que Alexandre Berzin chega ao Recife, deixando sua família – o pai Emil Behrsing, a mãe Elza e a irmã Gerda - na sua terra para onde não retorna. Estes, de acordo com as informações que obtivemos de Didi Berzin, segunda esposa de AB - paraibana de Caicó, com quem se casou em 15 de outubro de 1960, e tiveram cinco filhos: Junior, André, Artur, Anne Marie

e Augusto 445 - não saem vivos da enorme explosão que foi a empreitada nazista pela

Europa. O irmão Karl Gerhard, que Alexandre ajuda a trazer da zona ocupada pelos franceses na Áustria, após a Segunda Guerra, declarando-se responsável por sua conduta e trabalho, migra para o Brasil em 11 de junho de 1946, com a esposa Dagmar e as filhas Christel e Monika446. Estes, que atualmente moram no Rio de Janeiro, mantiveram o nome original Behrsing, não fazendo a corruptela que, simpaticamente, tornou aquele nome mais assimilável entre os brasileiros: BERZIN. No Recife, Karl, também fotógrafo amador associado ao FCCR, trabalhou como Gerente de Vendas na VVD Wolksvagen Serviço de Seguros S.A. e foi patrono de algumas das obras empreendidas por Dom Helder Câmara, então Arcebispo de Olinda e Recife, como a “Operação Esperança”, para ajudar as vítimas da enchente de junho de 1966447. Berzin era protestante luterano, grupo religioso menos perseguido, outrora, pelo “furor e selvageria bolchevista”448.

444

Desenho de 1927. “Caderno de Recordações”. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

445

Entrevista com Didi Berzin, em 27 de outubro de 2004.

446“Declaração ao Presidente do Conselho da Imigração e Colonisação (sic). Rio de Janeiro. Recife, 11 de

junho de 1946. nº 11195”. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife –PE.

447

A VVD Volkswagen Serviço de Seguros doa um cheque de um milhão de cruzeiros, através de Gerhard Behrsing. Jornal do Commercio, domingo, 24 de julho de 1966, p. 7. Recortes de Jornal da Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

448

A maioria do povo letoniano era de protestantes luteranos, em 1950. “Martírio de Letônia”. Escrito pelo P. Arlindo Vieira, S.J., relaciona a situação da Polônia e dos “países bálticos”, católicos, ocupados pelo “exército vermelho”. Folha da Manhã, quarta-feira, 17 de junho de 1940, p. 3. Recortes de jornal. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

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Em nosso primeiro contato com a Coleção AB/FCCR, tivemos em mãos uma caixinha, bem forrada com um tecido bordado, já envelhecida pelo manuseio e pelo tempo. Nela, alguns documentos de Alexandre Berzin, muitas fotografias de família em formato pequeno (boa parte no padrão 6X6), algumas 3X4 ainda em carteiras de couro; páginas de pequenos livros em leto e alemão, cartões postais e de mensagens, carteirinhas da Associação Profissional de Fotógrafos de Pernambuco – APFEP – e do “Clube Náutico Capibaribe” do Recife do qual AB era torcedor e associado; cujas cores da bandeira são as

mesmas da Letônia: vermelho e branco450. Dentre tantas preciosidades, chamou-nos a

atenção um caderno de recordações com desenhos que, de acordo com Didi Berzin, são de autoria do próprio AB451. No período em que viajava para o Brasil, a década de 1920, entre 1921 e 1931 mais precisamente, Berzin desenhava impressões de sua terra, de sua família, de seus amigos com quem trocava brincadeiras e elogios, de um mundo novo que para ele se descortinava ao sair de Riga, numa Europa em reconstrução e diante das novas paisagens tropicais que vislumbrava.

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A mãe de Alexandre Berzin, Elza; Gerda e Alexandre; Emil Behrsing. Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

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Ver documentos avulsos da Coleção AB/FCCR, FJN – Recife – PE. A carteirinha da APFEP, por exemplo, diz o seguinte: “[símbolo da APFEP]. ASSOCIAÇÃO DOS FOTÓGRAFOS PROFISSIONAIS DE PERNAMBUCO FUNDADA EM 20 - 4 - 1952 - REGISTRADA SOB Nº 11120 RECIFE – PERNAMBUCO Cart. Nº 37. Expedido em 16/02/68. Nome Alexandre Guilherme Berzin Cart. Ident. Civil Nº Passa Porte(sic) nº 3727 Recife, 16 de Fevereiro de 1968 (a) Dormerindo Ribeiro Secretário (a) Jaime Apolonio Ximenes [foto 3X4 de AB] (a) Alexandre Guilherme Berzin - Ass. Portador. [verso]: "A ASSOCIAÇÃO DOS FOTOGRAFOS PROFISSIONAIS DE PERNAMBUCO, solicita das autoridades Civís e Militares, facilitar no possível o desempenho das funções do portador desta. Agradece A DIRETORIA". Coleção AB/FCCR – FJN, Recife – PE.

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É possível que o rumo escolhido por Berzin, ao sair de Hamburgo em direção ao Pará, tenha sido a cidade de Santos, em São Paulo, por conta do único endereço que encontramos naquele caderno, de um certo Kauffmann, que pode ser o mesmo que envia vários postais em datas diversas ao amigo do Recife. Kauffmann também conseguiu intermediar a publicação de fotografias de AB no Correo Fotográfico Sudamericano, revista de Buenos Aires – Argentina, em 1950. Em 1954, expõe uma de suas fotografias no 1º Salão Nacional de Arte Fotográfica, com o seguinte comentário de Célio de Carli, para a foto de nº 202, intitulada

RESUMO DE UM LINDO ROSTO: Mais uma vez a simplicidade é a nota dominante de um quadro. O trabalho do sr. Kauffmann nos revela um artista de inegaveis(sic)