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Lexicografia bilingue: breves notas

No documento QUIBONGUE Tese -19-12-2013.pdf (páginas 139-143)

LEXICOGRAFIA BILINGUE DE APRENDIZAGEM PORTUGUÊS KIKONGO

4. Lexicografia bilingue: breves notas

A Lexicografia é a ciência que tem como objecto as teorias e as metodologias sobre a elaboração de dicionários monolingues, bilingues ou plurilingues.

A vertente contrastiva da Lexicografia é uma perspectiva que se inspira dos princípios da Linguística contrastiva que surgiu nos Estados Unidos, em 1950. A Lexicografia contrastiva tem por objecto a elaboração de dicionários bilingues ou plurilingues, comparando duas ou mais línguas, lexical, morfológica e semânticamente, sublinhando as suas diferenças.

O mundo globalizado dos nossos dias e o mercado de trabalho, hoje, exigem cidadãos profissionais com uma pluralidade de conhecimentos e domínio de uma qualidade e quantidade cada vez maior de informações relevantes e a adequação de comportamento a situações diversas. Assim, o profissional precisa de falar línguas estrangeiras, ser capaz de participar em diferentes projectos para se inserir na globalização cada vez mais exigente.

Um indivíduo aprende uma língua estrangeira, muitas vezes para ingressar no mercado de trabalho. Esta aprendizagem pode reforçar a sua consciência metalinguística: “Um factor revelante é o grau de consciência metalinguística que geralmente é reforçado pelo confronto entre duas línguas” L. F. Barbeiro (2005: 06).

Paralelamente à Lexicografia, diciplina científica, a Dicionarística tem por objecto a elaboração concreta de dicionários, tendo em conta um público-alvo e as exigências da editora (número de volumes e de páginas, número de entradas).

140 Um dicionário pode ter uma organização semasiológica, isto é, uma compilação de unidades lexicais quase sempre dispostas por ordem alfabética e com a respectiva significação; mas pode também ter uma organização onomasiológica, isto é, pode apresentar uma organização conceptual.

Os dicionários unilingues, bilingues ou multilingues remontam aos tempos antigos. Acredita-se que o dicionário tenha tido a sua origem na Mesopotâmia, por volta de 2.600 a.C., feito em tabletes com escrita cuneiforme, contendo repertórios de signos, nomes de profissões, divindades e objetos usuais. Mas existem também dicionários na Antiguidade chinesa.

Os gregos, no século I, criaram os lexicons para catalogar os usos das palavras da Língua Grega. Os gregos e os romanos utilizavam esses lexicons para esclarecimentos de dúvidas sobre determinadas unidades lexicais. Todavia, não eram organizados por ordem alfabética; alguns dicionários limitavam-se às definições de termos literários.

Foi somente no fim da Idade Média que surgiram os glossários (embriões dos dicionários actuais) organizados alfabeticamente. Quando as glosas dos manuscritos latinos eram numerosas, os monges começaram a efectuar uma ordenação alfabética para facilitar a localização. Surgiram, assim, as primeiras tentativas de dicionários bilingues latim – vernáculo, em vários países europeus.

No século XVI, surgem os primeiros gramáticos da Língua Portuguesa: Fernão de Oliveira, João de Barros, Duarte Nunes de Leão que são simultaneamente os primeiros Filólogos da Língua Portuguesa.

Fernão de Oliveira escreveu, em 1536, a primeira gramática da Língua Portuguesa. Em 1540, João de Barros apresenta, também, a sua gramática. Um pouco mais tarde, em 1576, Duarte Nunes de Leão escreveu a primeira obra sobre a ortografia e apresenta-nos a definição de gramática, segundo o conceito da filosofia grega que a caracteriza como a ‘Ciência das Letras’ (cf. F. I. Fonseca, 1994).

141 O dicionário bilingue Português-Latim, com o título Dictionarium ex Lusitanico in

Latinum Sermonem é considerado o primeiro dicionário da Língua Portuguesa e é da

autoria de Jerónimo Cardoso; foi publicado em 1553, com 12.064 entradas e reeditado em 1569 com mais 728 entradas. No entanto, existe notícia de documentos anteriores a esta data, os quais se considerem perdidos, são eles o Vocabulário Portuguez muy

Copioso com declaração da origem de cada vocábulo e de que língua emanou de Duarte

Nunes de Leão e o Dictionarium Lusitanum et Latinum atribuído a Francisco Sanches de Castilho.

Os dicionários ou léxicos da Antiguidade chinesa ou da Antiguidade do Médio Oriente são quase sempre bilingues ou multilingues de modo a responderem a objectivos de comunicação entre povos com línguas diferentes que necessitavam de efectuar trocas comerciais ou de comunicar por outras razões culturais.

Na lexicografia das línguas africanas também predominam os dicionários bilingues ou plurilingues, alguns necessitam de serem actualizados. No entanto, há uma grande necessidade de elaboração de novos dicionários que descrevam as línguas africanas neste momento sincrónico de modo a fixarem o léxico e as grafias.

No capítulo 5. Apresentaremos os princípios lexicográficos subjacentes ao dicionário bilingue Português-Kikongo.

4.2. Tipologia de Dicionários: Monolingues, Bilingues, Plurilingues

Em primeiro lugar é preciso sublinhar que, ao considerarmos o léxico de uma língua como um património sociocultural de uma comunidade, acreditamos que o prestígio internacional dessa língua e, por conseguinte, da própria sociedade que fala essa língua, possa ser de facto mensurado com base na quantidade e na qualidade de dicionários que essa sociedade produz.

142 Passemos, então, à análise de dicionários, observando alguns imperativos e decisões que permeiam essa actividade. Quem produz um dicionário pode ser um lexicógrafo, um dicionarista, um linguista. O dicionarista é um profissional que executa um projecto, concebido pelo lexicógrafo.

Há também editoras ou institutos de investigação que têm equipas de especialistas, não necessariamente lexicógrafos, que se ocupam da elaboração de projectos internos de carácter dicionarístico.

O lexicógrafo não é apenas um técnico, tem uma formação teórica em Lexicografia; um “fazedor” de dicionários é muitas vezes designado de dicionarista.

O lexicógrafo elabora dicionários, seja de que tipo for, mas o produto que apresenta ao público, é substancialmente enriquecido com estudos lexicológicos e metalexicográficos; o lexicógrafo elabora um dicionário, após ter estabelecido, com critérios científicos, os tipos de unidades lexicais que vai seleccionar para integrar a nomenclatura; antes de iniciar o trabalho, tem de definir com rigor a macro e microestrutura desta obra; a macroestrutura é a organização geral do dicionário que compreende a selecção e o número das unidades lexicais e das unidades funcionais que vão integrar o dicionário; a microestrutura tem por objecto a definição lexicográfica e as suas características: concepção polissémica ou homonímica da entrada; apresentação de sinónimos ou de variantes, de contextos, de outros dados linguísticos.

São esses princípios lexicológicos e metalexicográficos que devem constar na introdução, embora geralmente de uma forma abreviada, por exigências editoriais, e de modo a serem entendidas por um público que não é linguista.

Em Lexicografia, se observarmos a tipologia de obras lexicográficas, de facto, podemos inventariar uma lista bastante significativa, cuja classificação em tipos e subtipos dependerá do enfoque adoptado pelo lexicógrafo.

143 Assim, temos os seguintes tipos:

1. Considerando o número de entradas, o dicionário “tesouro” (thesaurus) procura ser exaustivo e representar todo o léxico de uma língua;

2. Considerando a faixa etária do público a que se destina, temos por exemplo, os dicionários para crianças, adolescentes, jovens e adultos; e em relação ao nível de aprendizagem temos os dicionários escolares;

3. Considerando o tipo de informação da microestrutura, teremos dicionários comuns ou gerais, dicionários de usos ou dicionários pedagógicos;

4. Considerando as línguas envolvidas, temos os monolingues, os bilingues e

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