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4.3 O discurso ambiental centrado nas mudanças climáticas nas páginas de O

4.3.1 O Liberal

Castro e Seixas (2013) ponderam que apesar das décadas de existência e uma extensa história na imprensa paraense, o jornal O Liberal ainda necessita de referenciais teóricos que ampliem parte de sua história. A análise discursiva do jornal O Liberal, portanto, auxiliará para ampliar o escopo teórico acerca das estratégias discursivas sobre mudanças climáticas, no que concerne aos estudos da imprensa amazônica.

O jornal O Liberal foi criado em 15 de novembro de 1946 com pretensões políticas, por nomes como Moura Carvalho38. De acordo com Luft (2009, p.21), “as estreitas relações que sempre nortearam a imprensa e a política no Pará ao longo da história são fundamentais para situarmos o papel do jornal O Liberal no contexto amazônico”. Ao ser adquirido por Rômulo Maiorana em 1966, passou a integrar as Organizações Rômulo Maiorana (ORM), que atualmente são um dos maiores grupos de comunicação do Brasil. Sua tiragem atual é de 38.42539 exemplares durante a semana e 65.210 aos domingos. Silva (2012) sublinha que a Vale, maior mineradora na ativa no Brasil, é uma das maiores patrocinadoras do jornal O

Liberal.

Luft (2005) ressalta que o primeiro jornal no estado do Pará foi O Paraense, criado em 182240, sendo esse meio de comunicação produzido em Lisboa, capital de Portugal. O

Paraense, segundo a autora, foi um jornal utilizado pelo ex-aliado da Coroa Portuguesa,

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Eleito duas vezes Governador do Pará, nos períodos de 1946- 1949 e 1959-1961. Também foi prefeito de Belém entre 1961 e 1964. Mais informações em: <http://www.oparanasondasdoradio.ufpa.br/con50moura.htm>. Acesso em: 6 mar. 2018.

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Mais informações em: <http://portfoliodemidia.meioemensagem.com.br/portfolio/midia/O+LIBERAL/14823/ home>. Acesso em: 29 jun. 2018.

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Sendo o Correio Braziliense, segundo Luft (2009), o primeiro jornal impresso no Brasil, no ano de 1808. O jornal O Paraense, pioneiro no estado do Pará, chegou oito anos depois.

Felipe Patroni, como um veículo para ensaiar a independência do então Grão-Pará41. Portanto, o jornal O Liberal continuou um legado que permanece na imprensa paraense, de alcunha política e partidarismo, em sua criação e consolidação enquanto veículo de comunicação. O próprio nome do jornal é uma referência ao Partido Liberal42 (LUFT, 2005).

Luft (2005) ressalta que a ideologia presente nos primórdios de O Liberal tornou-o alvo de perseguição, culminando com o assassinato do então editor do jornal, Paulo Eleutério Filho, em 1950, por Humberto de Vasconcelos, Capitão do Exército. Segundo a autora, ainda na década de 1950, ocorreu um incêndio de proporções consideráveis que destruiu parte dos instrumentos de trabalho do jornal, fazendo com que o periódico fosse rodado na gráfica de outro jornal, O Estado do Pará, no intento de que as atividades do veículo não se encerrassem.

Uma mudança significativa no impresso ocorreu em 1966 quando foi comprado pelo empresário Romulo Maiorana. Recebeu mais investimentos e teve a linha editorial ampliada, ganhando mais espaço, como, por exemplo, colunas sociais e seção policial (CASTRO; SEIXAS, 2013). Após o falecimento de Maiorana, em 1986, o filho Romulo Maiorana Junior assumiu a presidência do jornal, “o mais antigo jornal impresso diário em funcionamento no Estado do Pará” (CASTRO; SEIXAS, 2013, p. 1). Já em 2017, Romulo Maiorana deixou a presidência das ORM, envolto em polêmicas referentes à sua administração43, sendo substituído pelo seu irmão, Ronaldo Maiorana.

Castro e Seixas (2013) sublinham ainda, que ao ser comprado por Romulo Maiorana, em 1966, anunciou-se que o jornal seria mais imparcial, não pendendo para o lado de nenhum partido político específico. Contudo, as autoras afirmam que alguns meses após a compra do jornal, no mesmo ano, o partidarismo no jornal se mostrou latente, com o veículo, inclusive, tentando angariar votos para o candidato a Senador Jarbas Passarinho.

Contudo, Castro e Seixas (2013) argumentam que após esses episódios, na fase inicial do jornal sob o comando de Maiorana, durante duas décadas, não foi constatada nenhuma ofensa direta no veículo. Mas após a morte do empresário, em 1986, o primogênito, Romulo Maiorana Junior, assumiu a direção do jornal e os ataques diretos à família Barbalho,

41 Felipe Patroni foi preso e deportado em 1821 (LUFT, 2005). 42

Como era chamado na época o Partido Social Democrático (PSD). 43

Mais informações em: <http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-455941-jornal-o-liberal- confirma-afastamento-de-romulo-maiorana-jr-e-dois-diretores.html>. Acesso em: 2 ago. 2018.

concorrente do jornal, por serem donos do impresso Diário do Pará44, tornaram-se costumeiros.

Castro e Seixas (2013) ponderam que o discurso contemporâneo de O Liberal, com ataques aos adversários, remete à memória dos seus primórdios. As autoras ressaltam que, no seu início os ataques eram direcionados à família Maranhão, proprietária da Folha do Norte e, atualmente, são endereçados à família Barbalho, que é responsável pelo Diário do Pará.

No site do jornal O Liberal45 os assinantes podem acessar a edição impressa em versão digitalizada, inclusive há um aplicativo no celular que contempla essa plataforma digital do jornal. Se acessado por computador há jornais digitalizados desde 2008; pelo celular só é possível acessar os impressos de 2016 em diante.

No site da ANJ (Associação Nacional de Jornais) sobre os jornais de maior circulação,

O Liberal não foi encontrado na procura do ano de 2015 (o site só contempla os 50 mais),

nem na versão digital e nem no referente ao impresso. Todavia, o jornal Diário do Pará ocupava a 34º colocação na versão impressa, ainda no ano de 2015, apesar de não constar no ranking da versão digital. A escolha de O Liberal como objeto permaneceu, mesmo com essa informação durante a pesquisa, devido à popularidade do jornal em solos paraenses e pelo fato de ser o mais antigo no estado e na Região Norte, como vimos anteriormente.

Há uma possível explicação para essa exclusão. O jornal O Liberal durante três décadas, até meados dos anos 2000, foi o mais consumido no estado do Pará (LUFT, 2005; CASTRO; SEIXAS, 2013), contudo, em 2005, uma auditoria realizada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) constatou que os números não correspondiam ao divulgado pelo jornal, ocasionando a retirada do jornal do IVC, a pedido do próprio Liberal (CASTRO; SEIXAS, 2013).

Nas páginas de O Liberal em 2015 não foi encontrado nenhum caderno específico sobre meio ambiente. Os textos se espalharam em cadernos e seções como: Cidades (Atualidades) com 12 dos textos, Poder (Mundo) que contempla 6 textos, Poder (Política) que detém 3 textos, Atualidades (Opinião) que detém 2, onde se encontra o Editorial e outro texto não editorial (“Ciência estuda formação de nuvens na Amazônia”), mas que lá está fixado. Também aparecem textos no caderno Poder (sem designação específica) que contempla um

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O Diário do Pará, por sua vez, foi criado em 1982 e, como dito anteriormente, é o principal concorrente de O

Liberal. Ele foi criado pelo então deputado estadual Jader Barbalho (LUFT, 2009; CASTRO; SEIXAS, 2013),

que no mesmo ano, foi eleito governador do Pará. Luft (2009) reforça que o jornal inclusive atuou no esforço de defender o político de graves acusações, como a de fraude na SUDAM (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia). A acusação levou à cassação do mandato de Jader Barbalho em 2001, contudo, em 2003, ele foi eleito como deputado federal, com recorde de votos no Pará (LUFT, 2005).

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dos textos e Polícia (Mundo) que também contém um único texto. Existe também a revista “Amazônia Viva”46

, publicada mensalmente junto com o jornal desde 2011, mas que não foi incorporada ao corpus desse trabalho que optou pelas matérias da cobertura diária.

O site da ORM (http://www.ormnews.com.br/noticias) não possui também nenhuma seção com temática ambiental. Existe uma seção designada “Amazônia”, mas ao acessá-la, percebemos que não se trata de um nicho de meio ambiente. São notícias gerais ocorridas na localidade, como crimes, e em que aparecem temas como o desmatamento. Mas nada que traga particularidades do meio ambiente, nem quando se acessa mais opções.