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O Relatório Brundtland foi responsável por consolidar o conceito de desenvolvimento sustentável que conhecemos hoje (BANERJEE, 2003; COSTA, 2006b; SILVA, 2015). O Relatório, de 1987, é oriundo de contribuições da médica norueguesa Bro Harlem Brundtland, que também é mestra em saúde pública, convidada em 1983 para assumir a presidência da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

O documento, considerado inovador por diversos grupos e denominado Nosso Futuro Comum (Our Common Future) trouxe à tona a ideia de que é preciso atender as necessidades da geração atual, sem comprometer as gerações futuras. Banerjee (2003, p. 82), no entanto, afirma que “os discursos sobre sustentabilidade estão se tornando crescentemente corporativos”, enfatizando que a os discursos em torno da sustentabilidade são manipulados na imprensa e nas leituras acadêmicas, no anseio de legitimar um discurso corporativista como pretensamente universal. Isso ocorre quando, por exemplo, falamos em Biotecnologia ou reservas de carbono.

Desenvolvimento sustentável, conforme Silva (2015, p. 42), é “a apropriação ideológica de uma forma de desenvolvimento que projeta uma sociedade preocupada com os limites da biosfera e com a própria sobrevivência do desenvolvimento econômico no modo de produção capitalista”. Banerjee (2003) afirma que o Desenvolvimento Sustentável, pretensamente, teria como objetivo, em teoria, unir os díspares interesses econômico e ambiental, o que por si já seria problemático o bastante. O autor sublinha que após mais de meio século, tal modelo não conseguiu atingir esse objetivo proposto, pelo contrário, a pobreza que esse modelo de

desenvolvimento prometia extinguir continua presente em várias

partes do globo, principalmente no chamado Terceiro Mundo.

O autor (2003) problematiza ainda que o discurso racionalista, de que os avanços tecnológicos e científicos poderiam solucionar a pobreza e outros graves problemas sociais, fracassou, especialmente em países subdesenvolvidos. O painel atual é de instabilidade

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Mais informações em: <https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/dilma-anuncia-metas-do- brasil-para-o-clima-em-assembleia-da-onu>. Acesso em: 1 ago. 2018.

climática23, desastres naturais de proporções épicas e previsões nada animadoras no que tange ao futuro climático.

Um dos pontos cruciais da problemática do Desenvolvimento Sustentável, segundo ainda Banerjee (2003), está no fato do modelo desenvolvimentista sempre enfatizar o quanto os danos ambientais podem ser malefícios ao crescimento econômico, mas não costumeiramente realçar o caminho inverso, do quanto o modelo prejudica o meio ambiente.

Fernandes (2006) considera que o desenvolvimento sustentável é uma forma de dominação ao mesmo tempo agressiva e suave. A autora sustenta tal afirmação embasada no fato de que o discurso possui um tom conciliador e pretensamente global, enquanto na prática é segregador e impositivo. Ela questiona o modelo de desenvolvimento e a perspectiva de solidariedade intergeracional. A autora argumenta que se no presente os recursos naturais não são disponíveis a todos, é inevitável constatar que a problemática seguirá para as gerações futuras.

Banerjee (2003) também enfatiza outro problema para o referido modelo, ao sublinhar que muitas pessoas em perspectiva mundial são excluídas do sistema capitalista, como os índios. Logo, esse modelo não abarca a sociedade em sua totalidade, excluindo populações locais, por exemplo. Contudo, possui um discurso que almeja soar como global.

De acordo com Fernandes (2006), os países do Norte e do Sul tendem a partilhar problemas semelhantes. Entretanto, para a autora, os problemas enfrentados pelos países do Norte, costumam ser oriundos do excesso de consumo, enquanto que os países do Sul padecem de problemas normalmente decorrentes da escassez e da desigualdade social. Deste modo, a real preocupação da política ambiental da contemporaneidade, ancorada no discurso do desenvolvimento sustentável, é a gestão dos recursos naturais em perspectiva global, para satisfazer, especialmente, os países mais ricos.

Rodrigues (2013) pontua que esse modelo vem trazendo impactos negativos, sendo imprescindível o papel da Amazônia brasileira e dos meios de comunicação para informar, de forma concisa à população, as prováveis consequências de manter a situação na mesma inércia.

Amaral Filho (2016, p. 36) discorre acerca de uma publicização das temáticas do meio ambiente. O autor ressalta que “a publicização da temática ambiental na mídia hegemônica equipara-se à publicização de qualquer produto de consumo, simbólico ou tangível”. O que justifica ações sustentáveis cada vez mais presentes nas empresas e na mídia, constatando que

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Mais informações em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/07/europa-sofre-com-incendios-e- seca.shtml>. Acesso em: 3 jul. 2018.

o meio ambiente está em simbiose com ações mercadológicas de fato. O marketing ambiental, portanto, é uma realidade mercadológica contemporânea. Ter medidas de mercado pensadas em um “consumo consciente”, dessa forma, é ter visão de negócio. Implicando que o capital está diretamente relacionado com o aspecto ambiental.

Amaral Filho (2016) exemplifica a sustentabilidade aplicada à Amazônia, ao afirmar que existe uma perspectiva contemporânea de naturalização do capitalismo. O autor sublinha que se fala em sustentabilidade ao possibilitar empregos e prometer melhorias na qualidade de vida, contudo, tudo isso é concomitante às práticas de apropriação da natureza e usadas na forma mais capitalista tradicional possível. O que implica a depredação da natureza, a exaustão dos recursos naturais, entre as mais arcaicas formas de lucrar com o meio ambiente. A noção de sustentabilidade, então pode ser considerada essa tentativa de tornar a exploração algo corriqueiro e necessário para o desenvolvimento.

A Biotecnologia também surge neste contexto como um elemento importante na atualidade. Entende-se por Biotecnologia um agrupado de técnicas que permitem à indústria farmacêutica o cultivo de microrganismos a serem cultivados e industrializados posteriormente. Banerjee (2003) considera que a Biotecnologia reproduz uma gama de produtos a serem comercializados, entretanto, isso uniformiza a vida e invisibiliza populações como os indígenas e os camponeses, que não têm espaço nessa conjuntura, evidenciando ainda mais o aspecto capitalista do Desenvolvimento Sustentável. Banerjee (2003) também acredita que a Biotecnologia fortalece a noção da natureza como valor mercadológico.

Redclift (2006) argumenta que a falsa sensação de negociação global e o consequente consentimento, garantem a hegemonia dos mais poderosos nessa teia de interesses que circundam as questões ambientais. Conforme a percepção do autor, podemos explanar uma das características intrínsecas ao conceito de desenvolvimento sustentável, que é o colonialismo24. Tal característica sempre existiu, mas com o advento da sustentabilidade vem disfarçado por um consenso global e acordos que pretensamente se dizem universais.

Portanto, com forte viés mercadológico e perpetuando o desequilíbrio entre os países mais ricos e os em desenvolvimento, temos o meio ambiente como uma mercadoria. E hoje, com várias empresas e marcas incorporando esse discurso, busca-se ainda mais lucrar com a pretensa sustentabilidade. O marketing ambiental, atualmente, não é dissociado de qualquer

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A característica principal do colonialismo é a dominação de uma cultura em detrimento à outra, uma imposição de poder. Mais informações em: <https://www.infoescola.com/historia/colonialismo/>. Acesso em: 22 jun. 2018.

outro tipo de marketing mercadológico, faz parte cotidianamente dos planos empresariais, midiáticos e de outras esferas.

Amaral Filho (2016) explica que isso ocorre porque um dos fatores predominantes para a configuração de um escopo ambiental nas ações mercadológicas é o fato do Código de Defesa do Consumidor prever ações ecologicamente mais corretas por parte das empresas. Configurando que além de ser mal vista do ponto de vista politicamente correto, já que ser sustentável é requisito para investimentos, também é ilegal não propor ações sustentáveis nos marketings de qualquer espécie.

O tópico seguinte tratará das mudanças climáticas no contexto amazônico, perpassando pelo Brasil de uma forma mais ampla. O panorama nacional nos ajudará a compreender o aspecto regional do assunto.