• Nenhum resultado encontrado

Para o propósito desta dissertação será tido em conta o que muitos académicos sugerem, isto é, que conceitos como espiritualidade e liderança espiritual se encontram relacionadas quando em contexto organizacional (Fry, 2003; Giacalone & Jurkiewicz, 2003). Tal afirmação pode ser explicada porque uma liderança espiritual permite um contexto onde se desenvolve um crescimento individual, onde estão destacadas as cinco dimensões da espiritualidade – vida interior, trabalho com significado, sentido de comunidade e conexão, alegria no trabalho e alinhamento do indivíduo com os valores da organização (Weinberg & Locander, 2014).

Evidências empíricas que relacionem a liderança espiritual e a felicidade são escassas na literatura. A falta de literatura sobre a ligação dos conceitos tem, essencialmente, duas justificações. Primeiro, discutem-se temas contemporâneos e bastante controversos, onde ainda a própria definição dos conceitos é muitas vezes discutida. Tenha-se como exemplo o caso da liderança espiritual que ainda se debate com o facto de continuar a ser associada à religião em muitas investigações. Segundo, porque falamos de temas que pertencem a áreas diferentes. A felicidade é um construto mais holístico e que está ligada a vários estudos das ciências sociais, enquanto a liderança pertence mais ao campo da gestão e dos recursos humanos.

Fry fez referência, em vários dos seus trabalhos, à ligação existente entre a liderança espiritual e o bem-estar espiritual dos trabalhadores dizendo que este tipo de liderança implicava um conjunto de valores, comportamentos e atitudes específicos, que conduziam a um aumento da motivação intrínseca dos indivíduos e consequentemente a uma sensação de bem-estar espiritual (Fry, 2003, 2005). Segundo o autor, o grande objetivo da liderança espiritual é promover o desenvolvimento do bem-estar espiritual, tanto dos seus líderes como dos seguidores, através do sentido de filiação e chamamento definido como um sentimento de pertença a uma comunidade e uma crença de que o trabalho que está a ser realizado tem um significado que coincide com o próprio indivíduo (Fry & Matherly, 2006). Ainda noutro estudo, conclusões semelhantes são retiradas quando se verifica que a espiritualidade nas organizações, a psicologia positiva, o caráter ético e a liderança espiritual parecem melhorar os resultados associados ao bem-estar e saúde mental dos trabalhadores (Fry & Nisiewicz, 2012).

44

Relacionado mais com a espiritualidade e não tanto a liderança espiritual, existem também alguns estudos que demonstram a sua relação com a felicidade. Fahri Karakas, em 2010, demonstrou no seu trabalho a relação existente entre as duas variáveis anteriormente referidas através da análise da espiritualidade e performance segundo três perspetivas:

• “Perspetiva dos recursos humanos: a espiritualidade melhora o bem-estar8 e a qualidade de vida

dos trabalhadores;

• Perspetiva filosófica: a espiritualidade fornece aos trabalhadores um sentido de propósito e significado no trabalho;

• Perspetiva interpessoal: a espiritualidade fornece um sentido de interconexão e comunidade aos trabalhadores” (Karakas, 2010).

Se nos focarmos na perspetiva dos recursos humanos, a qual foca o nível individual, está intimamente ligada à felicidade dos trabalhadores. Mas como é que isto acontece? A implementação de práticas espirituais aumenta a felicidade dos indivíduos pois, tal como já foi explicado anteriormente, a felicidade é influenciada negativamente por fatores de stress, e positivamente por variáveis tais como o comprometimento, a virtude dos empregados e a produtividade individual (Karakas, 2010).

Badrinarayan Pawar foi mais além no seu artigo intitulado “Workplace Spirituality and Employee Well- Being: An Empirical Examination”, publicado em 2016. Neste estudo, o autor considerava que o bem- estar dos trabalhadores é crucial para uma organização e, nesta sequência, propõe a existência de quatro tipos de bem-estar: emocional, psicológico, social e espiritual. Neste artigo o objetivo era perceber se existia uma relação entre os quatro tipos de bem-estar anteriormente designados, e um local de trabalho espiritual. Esta correlação, tal como prevista, foi comprovada, tendo sido encontradas evidências de que um local de trabalho espiritual gerava comportamentos mais positivos por parte dos trabalhadores, por exemplo, maior satisfação no trabalho. Este artigo veio reforçar estudos anteriormente realizados que assumem que o bem-estar de cada trabalhador melhora, não só em contexto organizacional, mas também na vida pessoal de cada um. Isto significa que a presença da espiritualidade nas organizações, ou de práticas espirituais, gera resultados quer a nível da felicidade em contexto organizacional, quer a nível de felicidade global com a vida (Milliman et al., 2003; Pawar, 2016).

Uma contribuição um pouco diferente encontra-se presente no artigo intitulado “Spiritual leadership and organizational citizenship behavior: Exploring the conditional effects of self-determination and confucian mindset” de Hunsaker. Segundo este artigo, os comportamentos dos líderes ou a

45

espiritualidade no local de trabalho têm uma relação positiva com os comportamentos de cidadania organizacional efetuados pelos trabalhadores. Isto acontece através da promoção do bem-estar espiritual dos colaboradores que gera uma harmonização da organização e pelo suporte e transmissão de valores altruístas por parte dos líderes (Hunsaker, 2016; Yang & Fry, 2018). Conclui-se, então, que a autodeterminação tem um papel importante na relação entre os comportamentos de cidadania organizacional e a liderança espiritual. Mais se acrescenta, dizendo que os colaboradores procuram também controlo e autonomia no seu trabalho para além de um trabalho com significado e que estes incrementam os comportamentos de cidadania (Hunsaker, 2017).

Como já mencionado várias vezes, o papel exercido pelo líder tem uma grande influência nos seus seguidores e na sua felicidade. Os valores espirituais e a própria espiritualidade já não estão apenas associados à religião de cada indivíduo, mas às próprias organizações, sendo inclusive um veículo para a melhoria dos resultados organizacionais (Chen et al., 2013). Como tal, é preciso enfatizar e melhorar os valores espirituais presentes nos líderes, como é o caso dos seus comportamentos enquanto líderes, dos seus sentimentos e emoções, dos seus valores, crenças e ideologias, da capacidade de estimular intelectualmente os seguidores e da atenção individualizada prestada a cada trabalhador. Valores como estes aumentam a lealdade dos seguidores, promovem a sustentabilidade organizacional e melhoram a eficiência e as capacidades presentes nos trabalhadores. Consequentemente, verifica-se também um crescimento no bem-estar psicológico dos mesmos. Líderes que se guiam tendo por base estes valores espirituais tendem a lidar com as situações com confiança, amor, altruísmo, humildade e empowerment (Chen et al., 2013).

Uma das grandes conclusões que se pode retirar é que as organizações ainda têm falta de sensibilidade para questões relacionadas tanto com a espiritualidade como com a felicidade dos seus colaboradores. É preciso enfatizar o facto de as características do líder serem essenciais para a implementação de mais práticas que promovam tanto a espiritualidade como a felicidade nas organizações. Quando os trabalhadores sentem que realizam um trabalho que lhes promove um significado têm tendência a ser mais felizes e mais saudáveis (Gavin & Mason, 2004). Os trabalhadores que conseguem atingir níveis mais elevados de saúde e felicidade normalmente também são mais produtivos a longo prazo, bem como, melhoram as suas interações com outros indivíduos. Como mencionado por Gavin e Mason (2004), estas são as três características chave para conseguir ter boas sociedades.

46