• Nenhum resultado encontrado

A limitação da aplicação das conclusões dos testes do custo da dívida

A teoria de Value Relevance indica que quanto maior a transparência menor será o custo de capital, por outro lado, a Teoria dos Custos de Transação aponta que os custos de transação resultam da percepção dos agentes sobre o risco de eventuais perdas de seus direitos contratuais.

Dessa forma, era possível esperar que os custos da dívida bancária fossem inversos à transparência. A transparência utilizada neste trabalho assumiu que, sendo as empresas avaliadas já maduras, a proporção de Ativos Biológicos marcados ao valor justo não deveria variar significativamente com grandes distorções ao longo dos períodos.

Nesse sentido a varatibio (variação da proporção do Ativo Biológico e o ativo total em dois exercícios subsequentes) manifestou relação positiva ao custo da dívida, aumento do custo da dívida quando ocorre o aumento em varatbio, o que faz todo o sentido, dentro do contexto em que a variável foi construída.

Todavia, ao avaliar os 15 trimestres de reporte integral dos Ativos Biológicos das empresas, não foi possível determinar relação entre a variação da proporção do resultado da mensuração ao valor entre períodos e o custo da dívida. Ou seja, variação do valor justo no resultado, de efeito não caixa, pura estimativa não reflete no custo da dívida no mercado de crédito corporativo brasileiro.

Tal conclusão encontra respaldo na manifestação dos analistas. Primeiro, há indicação de que os analistas percebem o crédito como mais acessível às empresas que apresentarem maior segurança mediante divulgações mais transparentes e também mais confiáveis ao longo do tempo de relacionamento. Vide manifestações do Analista 1:

Com certeza, isso é uma ligação direta, transparência, confiabilidade no negócio, transparência em divulgação de informações e pareceres através de grandes auditorias e relatórios de administração completos, feitos pelas empresas, ou seja que ela vai além do que o CPC manda, ela é mais transparente ainda do que o CPC, ela entende o mercado, entende a informação que o mercado precisa e, de primeira, já divulga aquilo como padrão, ela tem uma competitividade de bancos que querem emprestar crédito para elas, e faz com que esse crédito fique muito barato.

Quando indagado a respeito da influência da dúvida sobre o cálculo obscuro do valor justo e, sobre a taxa de juros, o analista respondeu:

Então, depende, porque se você tem uma empresa que... [falha de áudio] tem, se não tem, mas vem se mostrando confiável na operação dela no tempo, o mercado acaba confiando na empresa nesse

aspecto, e às vezes um tipo de abertura como esse, se ele não é aberto, não implica que vá ou não ter uma mudança, uma relação direta com a taxa, até porque o mercado brasileiro é muito competitivo e se a empresa for boa, porque quando você roda uma nota interna no banco, um rating interno, o que as agências de rating rodam, elas consideram uma série de fatores, se, por exemplo, a liquidez da empresa ou a alavancagem da empresa compensa, tipo, se for um índice super bom, a nota dela já vai ser boa por esse aspecto, ou seja, que ela tem um colchão de caixa, que ela nunca vai ter um problema de crédito no curto prazo, então mesmo se ela não divulgar com transparência o Ativo Biológico dela, mas ela se mostra uma empresa confiável e tem outros índices que compensam esse risco, o risco da falta da informação, o crédito vai estar disponível mesmo assim, de forma barata.

Há, até mesmo, nas conversas não gravadas, menções a empresas de grande porte que atuam no mercado de capitais e que possuem tanta facilidade para obter recursos que, mediante as diversas opções que lhe estão disponíveis, quando o analista solicita informações adicionais, aos responsáveis por essas empresas, sobre aberturas não encontradas nas Demonstrações, a resposta muitas vezes costuma ser a de que as informações disponíveis são aquelas disponibilizadas ao público na base de dados do regulador.

Esse mesmo analista, indagado se a falta de qualidade da informação contábil refletiria na opinião dele, respondeu: “Então também tem isso, então daí passa a ter uma certa

desconfiança de que aquele contador ou aquele gerente financeiro é capaz de entender o que ele tá fazendo, de forma correta, entendeu? O de avaliar a sensibilidade daquela informação, às vezes eles não entendem por que a gente pede uma informação, isso já é um sinal para o analista de crédito de que aquela pessoa já não é tão preparada quanto ela deveria ser”. Daí,

se essa impressão refletiria na taxa de juros:

Não a taxa, mas é definitivo para se dizer sim ou não para uma linha de crédito. Tem muito banco, é porque assim, a taxa, eu olho muito do ponto de vista de risco, de risco de crédito. Eu não estou pensando na taxa que eu vou cobrar do cliente, quem pensa nisso é o comercial, o cara que está lá na frente do cliente, eu que estou no backoffice, eu vou pensar, peraí, independente da taxa, independente dos juros, eu quero emprestar dinheiro meu para essa empresa? Você acha que ela vai pagar? Eu nem estou pensando tanto em juros, eu penso em principal, o risco do meu principal está com aquele cara. É claro que tem um balanço entre risco e retorno, mas a gente pensa muito no principal, do banco não perder dinheiro no principal.

Os analistas6.1. e 6.2 vinculados à instituição financeira de uma Trader, se manifestaram na mesma direção, Analista 6.2: “eu acho que não tem tanto a ver, ou vamos dizer assim, tem um

pouco a ver com o crédito”. E o Analista 6.1: “é que tem a ver, mas por questão da bancabilidade, se a gente ver que o cliente tem crédito muito bom, existe muitos bancos dentro dele, existe uma bancabilidade, óbvio que o spread diminui”.

Além disso, existe todo um relacionamento do consolidado, o vínculo que o proponente possui com sua controladora e esta com a instituição financeira até mesmo em outros países, conforme indicado pelo Analista 6.2:

A gente, por ser cliente que tem um relacionamento com a Trader, a gente fala de decisões institucionais, mas não é questão do risco não ser bom, não é nada disso, é que as vezes existe um apelo comercial a mais na operação. E isso é normal. É normal até em outros bancos. Tem clientes do Santander, que são clientes globais, por exemplo, que às vezes uma perícia aqui no Brasil, não te levaria aprovar tanto. Porém tem um interesse global no cliente que o lado comercial fala mais alto. Isso é levado em consideração no comitê de crédito, levado em consideração pelos diretores, né?

Além disso, o Analista 1 destacou que a área comercial é capaz de perceber as oportunidades e, dessa forma ampliar as condições de resultado da Instituição:

A partir daí o cara da ponta, o cara que faz o comercial vai usar todas essas informações que o banco fornece, essas notas, então vai sair lá: no mínimo você vai ter que pedir um spread de 2% em cima do custo da sua linha. O que o gerente faz? Então, a partir do relacionamento que ele tem com aquela empresa e do desespero, também tem o desespero da empresa, se a empresa não é tão boa e você é o único banco que quer emprestar para ela então você pode cobrar muito mais. Mas se você tem uma empresa que é média, que não é uma empresa super boa, que tem uma nota boa no sistema do banco, mas tem cinco bancos querendo emprestar aquela linha, você tem que diminuir de qualquer jeito, senão você não vai nem tirar, não consegue nem ganhar aquela parceria com aquela empresa. Então, depende de uma série de fatores, não só do..., é uma série de fatores, mas é claro que a nota do balanço também impacta isso.

Em respaldo a uma das conclusões desta investigação, o Analista 2 indicou o efeito de o porte da empresa impactar nas suas condições de tomada de crédito, acredita se basicamente pelo seu potencial de negociação:

Ah, na prática, influencia. Na verdade eu acho que o processo é um pouco o inverso. Quando as empresas disponibilizam mais informação e de forma estruturada, normalmente é porque são empresas melhores e, logo, não só em termos de serem empresas melhores, mas de serem melhores em seu setor. Então elas terão maior poder de barganha, naturalmente, o mercado acaba oferecendo melhores condições para elas. [...] então, no caso, já são empresas que estão na bolsa, ou se não estão na bolsa, normalmente já têm título público de dívida, debêntures e tal. Então são empresas com muitas opções de captação. Então essas empresas acabam recebendo condições melhores para poder concorrer com o mercado de capitais.

Logo, a conclusão encontrada sobre a variável de controle, de o porte maior proporcionar um custo da dívida menor, encontra respaldo na opinião dos analistas que percebem o elevado poder de negociação dos grandes clientes, ou seja, mediante o seu volume o efeito escala parece ser determinante também para a venda do crédito.