• Nenhum resultado encontrado

1.5 Procedimentos de Pesquisa

1.5.4 Limitações da pesquisa

Para finalizar esta secção é importante comentar algumas limitações que se impõe a esta pesquisa, não obstantes, inerentes à própria natureza complexa da questão sócio-espacial, à abordagem qualitativa, à condição muito mais prognóstica do que diagnóstica dos processos sociais e das relações de força analisadas, as dificuldades de acesso aos atores do setor imobiliário e, por último, o contato prévio com o objeto de estudo.

Em se tratando de um estudo que se propôs pesquisar a produção do espaço engendrada pela atividade econômica do turismo, qualquer resultado, ainda que pelo método do estudo de caso, mostrou-se limitado, considerando a complexidade não apenas da realidade, das relações sociais e de seu caráter dinâmico e inapreensível que não permite obter nem os fragmentos nem muito menos a totalidade. Sem mencionar a complexidade inerente ao próprio fenômeno do turismo.

Como um estudo integralmente qualitativo se faz necessário afirmar que os achados desta pesquisa não são passíveis de serem generalizados para outras realidades, sendo aplicáveis exclusivamente a realidade sócio-espacial do turismo de Natal no Rio Grande do Norte. Ademais, os depoimentos orais e suas interpretações que carregam consigo a carga subjetiva dos pesquisados e da pesquisadora devem ser mencionados.

Não obstante, o fato da maioria dos processos sociais abordados nessa pesquisa estar em andamento, às análises se tornam muito mais um prognóstico do que um diagnóstico. Pela mesma razão, estando grande parte desses acontecimentos em plena efervescência e por estarem alguns dos atores do mercado imobiliário e da Câmara Municipal de Natal, envolvidos em investigações, que vêm sendo realizadas pelo Ministério Público, muitas informações necessárias não foram disponibilizadas e os agentes imobiliários, considerados

fundamentais, não puderam ser investigados em profundidade. A dificuldade de acesso ao cartório responsável pelo local pesquisado, além do fator tempo, inviabilizaram a proposta inicial de identificação dos tipos de rendas fundiárias presentes no bairro, sugerida durante a defesa do projeto. No entanto o referencial de rendas fundiárias permaneceu porque explicou outros aspectos relevantes encontrados na investigação empírica.

A ausência dos turistas nesse estudo também se torna um fator limitante visto que estes são atores que devem ser considerados na produção do espaço urbano moldado pela atividade turística. Entretanto, nessa pesquisa, optou-se por não incluí-los no intento de evitar achados enviesados concernentes a maneira como eles se posicionam e influenciam nesse processo mediante a diversidade que abrange o ator "turista", não obstante, entende-se que a inclusão deste demandaria um tempo maior para excursão da pesquisa. Por outro lado, cabe a reflexão que, embora o turista não seja um ser passível de pleno controle, sua atuação sobre o espaço visitado está em grande parte condicionada pelas estratégias dos atores públicos e privados e principalmente pela mídia.

Por fim, outro fator que parece ser um limitante desse estudo diz respeito à condição de moradora do bairro da pesquisadora, que embora não seja uma ativista e nem tão pouco tenha participado sequer de uma única reunião de entidades de bairro anteriormente a essa pesquisa, a convivência lhe conferiu um contato prévio com o objeto de estudo que não lhe permitiu ir a campo sem idéias pré-concebidas.

2 TURISMO EM NATAL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA COM ÊNFASE NO ESPAÇO REPRESENTATIVO DA URBANIZAÇÃO TURÍSTICA – PONTA NEGRA

Neste capítulo pretende-se contextualizar historicamente a atividade econômica do turismo em Natal, considerando principalmente o bairro de Ponta Negra onde ela é representativa. Para tanto, buscou-se inicialmente dar uma panorâmica da produção do espaço urbano da cidade caracterizando-se determinados momentos julgados relevantes para situar o leitor sobre o processo urbano de Natal e como o bairro se insere nesse contexto. Em seguida, discorre-se sobre os principais eventos e atores que impulsionaram a estruturação do turismo na cidade.

Na seqüência, observou-se com base na literatura que versa sobre a temática e o recorte espacial em análise (CAVALCANTI, 1993; CRUZ, 1995; CRUZ, 2002; LOPES Jr., 1997; FONSECA, 2005; FURTADO, 2005), alguns marcos fundamentais na história do turismo que possibilitaram dividi-lo em quatro recortes temporais, são eles: o turismo em Natal antes da Via Costeira (1939-1979); do Projeto Parque das Dunas/Via Costeira ao primeiro "boom" do turismo nacional (1979 - 1990); a internacionalização do turismo em Natal (1991-2000) e do primeiro “boom” ao “declínio” do turismo internacional (2001-2009). “É necessário frisar que a periodização não é absoluta. Todo recorte de tempo histórico em períodos distintos é relativo” (LEFEBVRE, 2008, p. 81).

Contudo esse processo de historiar facilita a compreensão do turismo e a reflexão sobre o seu crescimento na cidade, não obstante, inextricavelmente associada à estruturação da atividade no âmbito sócio-espacial. Nessa direção, a análise processual consiste em identificar, através da categoria tempo, eventos e atores, que representam ou representaram mudança e/ou continuidade na sua evolução histórica e no processo de produção do espaço da cidade, com a finalidade de resgatar aquilo que há de específico em Ponta Negra em relação ao quadro mais geral do Município de Natal.

Cabe ressaltar que a perspectiva histórica é flexível quanto aos limites intra-urbanos de concentração desta pesquisa, portanto, alguns fatos em escalas estadual, regional, nacional e até internacional são suscitados quando pertinentes, visto que a cidade de Natal e o bairro de Ponta Negra não podem ser compreendidos fora destas escalas espaciais.

Por fim, apresenta-se Ponta Negra, historiando sua evolução desde quando era Vila de pescadores até o início da sua transformação em destino turístico internacional.