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2.4 Críticas às Fórmulas

2.4.2 Limitações das Fórmulas

A utilização de testes de legibilidade no processo da linguagem é um tópico contro- verso. Hoje em dia, os resultados são fáceis de obter através da utilização da gramática computadorizada e através de software de verificação.

O aumento do número de fórmulas de legibilidade facilitou de alguma forma a sua utilização para determinar o grau de dificuldade dos textos. Simultaneamente, contribuiu também para que as pessoas as utilizassem como uma forma de modificação de textos com o objectivo de os situar em níveis pré-determinados de legibilidade, uma prática que tem sido criticada por diversos investigadores [20].

Os criadores das fórmulas de legibilidade têm sido acusados de tratar a questão da legibilidade como se se tratasse de um fenómeno relativamente simples e de acordo com o qual o quão fácil um texto é de ler se baseia em geral nos critérios de que é mensurável por uma fórmula estatística e que é redutível a uma pontuação devolvida por essa fórmula (e.g.

2.4. Críticas às Fórmulas Isabel Sampaio [12]). Contudo, como se viu na secção 2.4.1 tem-se verificado que não há uma medida única e simples de legibilidade. O quão fácil é um texto para cada pessoa ler é o resultado da interacção de um número de diferentes factores. É um fenómeno multifacetado, refletindo propriedades de textos, de leitores e da interação entre eles [12].

As fórmulas de legibilidade seguem a ideia, de certo modo intuitiva, de que a dificul- dade que um texto apresenta para a sua leitura, parece estar relacionado com o facto de as palavras do texto serem facilmente entendíveis, e de as palavras estarem agrupadas de uma forma que seja fácil de seguir pelo leitor [12].

O grau em que um texto contém, ou não, palavras que não são familiares e/ou que são difíceis de entender refere-se à dificuldade do vocabulário e o grau em que as frases num texto possuem estruturas gramaticais complicadas refere-se à complexidade sintác- tica. Tradicionalmente, estes atributos são considerados como tendo um grande impacto na legibilidade [257]. No entanto, trata-se de dois conceitos da linguística relativamente complicados e a sua relação com a leitura não é nada simples, como possa transparecer pelas fórmulas de legibilidade, e que por isso foram analisadas detalhadamente em [12]. Os dois conceitos são explicados de forma mais breve em seguida.

Dificuldade do vocabulário [12, p.286]:

É um critério usado na maioria das fórmulas de legibilidade. É medida pela presença ou ausência de uma palavra numa lista de palavras usadas frequentemente (Thorndike1921, Kucera&Francis1967), e pelo tamanho da palavra, como determinado pela contagem de sílabas (Anderson&Davidson1988).

Segundo [12, 13], as listas de palavras são usadas em várias fórmulas de legibilidade (Dale&Chall1948, Spache1953). A lista de palavras é usada para medir a dificuldade do vocabulário: quanto mais usadas são as palavras, mais familiares são, e consequentemente mais fáceis de entender. Este pressuposto tem dois problemas:

1. a heterogeneidade;

2. a polissemia (certas palavras têm mais do que um significado).

Uma lista de palavras tem de incluir diferentes tipos de palavras, quer palavras fami- liares, quer palavras difíceis de entender. Para isso é de pressupor que a lista de pala-

vras de uma língua permaneça relativamente estável. No entanto, o vocabulário tende a modificar-se, nomeadamente, nas sociedades em que as mudanças ocorrem rapidamente [12].

Também na sociedade moderna, certas expressões que agora fazem parte do seu quo- tidiano não existiam anteriormente. Também grupos sócio-culturais diferentes têm voca- bulários diferentes. Por último, as listas de palavras não indicam o significado comum, se é familiar, nem o contexto, uma vez que dependendo do contexto a mesma palavra poderá ter significados diferentes [12].

O tamanho da palavra é visto como uma forma de medir a complexidade da pala- vra. Em muitas fórmulas de legibilidade, quanto maior for a palavra mais difícil será de compreendê-la. Na fórmula de Flesch e na fórmula de Fry, o critério-chave é o número de sílabas por 100 palavras num dado segmento de texto. Para o gráfico de Mugford e para a fórmula de Gunning Fog, o critério-chave é o número de palavras polissilábicas.

A complexidade das palavras evita algumas das limitações encontradas na lista de palavras. Pode-se medir a dificuldade da palavra sem ter de a identificar. No entanto, certas palavras simples, podem levar prefixo e sufixo e continuam a ser palavras simples que se percebem por intuição. Ao mesmo tempo, outras palavras que não sejam compos- tas, são mais pequenas e contrariamente ao indicado pela fórmula serão mais difíceis de compreender.

Assim, é razoável e concebível que palavras morfologicamente complexas possam real- mente ajudar na compreensão fornecendo ao leitor ferramentas que poderão ajudar a desenvolver um ideia plausível quanto ao significado de uma palavra. Isto é possível mesmo não conhecendo o significado da raiz da palavra.

Para além disso, em 1988, Randall realizou experiências sobre a relação entre a compre- ensão e complexidade morfológica. Testou crianças com idades entre 3 e 7 anos quanto à sua compreensão relativamente a agentes morfologicamente complexos (nomes derivados de verbos). Os resultados sugerem que a compreensão dos agentes complexos não estão directamente relacionados com a extensão da palavra ou a frequência de ocorrência, como seria previsto pelas fórmulas de legibilidade [12].

Em conclusão, as listas de palavras e o tamanho das palavras são critérios questioná- veis para a medição da legibilidade.

2.4. Críticas às Fórmulas Isabel Sampaio

Complexidade sintáctica:

Grande parte das fórmulas de legibilidade baseiam-se no pressuposto de existir uma correlação entre o comprimento médio das palavras no texto e a dificuldade desse texto, ao considerarem o tamanho da frase na complexidade sintáctica [12].

A forma como determinam a média do comprimento da frase varia, mas como explica Bailin, o maior tamanho de uma frase pode por vezes facilitar a sua compreensão. Por exemplo, através da utilização de conjunções e operadores lógicos que fazem aumentar o tamanho das frases mas podem torná-las mais compreensíveis.

Embora parece intuitivamente plausível que as propriedades sintácticas das frases afec- tem a compreensão, medir a complexidade sintáctica através do comprimento da frase não é nem um critério útil nem um critério preciso para medir a legibilidade e por isso importa desenvolver outras formas de medir a complexidade sintáctica [12].

Em conclusão, a complexidade sintáctica e a dificuldade do vocabulário são reconhe- cidos tradicionalmente como tendo um efeito significativo na legibilidade, mas a análise destes dois atributos mostrou que a sua medição não é assim tão simples. Por outro lado, existem outros factores que devem ser considerados e os textos não são apenas fáceis ou difíceis em si, mas dependendo de quem os lê e do contexto dessa mesma leitura [257].

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