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2.2 Evolução do Estudo da Legibilidade

2.2.1 Literacia

A literacia define-se como a competência de ler e escrever. A literacia funcional tam- bém se relaciona com a capacidade para ler e escrever, mas para além disso inclui a capacidade de actuar com base no nível em que a pessoa possui a primeira [7]. No âmbito deste trabalho a preocupação é com a leitura. Considerando apenas a leitura, a literacia funcional pode ser definida como se segue generalizando-se a definição em [7] relativa à área da saúde e adaptada da OCDE [237].

Definição 2 (Literacia Funcional). Literacia funcional é a competência de ler e compre- ender o material escrito e actuar com base neste.

Utiliza-se aqui o termo competência para tornar claro que envolve aprendizagem, por- tanto, uma capacidade adquirida, ou desenvolvida, como utilizado em [98, p.11].

A literacia relaciona-se naturalmente com a legibilidade, mas medir o nível de literacia de alguém e o nível de legibilidade de um material escrito pode produzir (mas não tem de produzir) valores não coincidentes [64]. O estudo da literacia recorre frequentemente a fórmulas de legibilidade [203]. A medição da legibilidade indica geralmente o nível de ensino requerido. A literacia funcional pretende medir o que foi aprendido durante os anos de escolaridade do indivíduo e a capacidade de ler e compreender informação nova [7, p.2].

Com base na definição de literacia funcional, pode-se afirmar que a legibilidade será uma parte da literacia e, sendo assim, que a literacia tem um carácter mais abrangente. Também, os níveis de literacia, definidos de acordo com padrões existentes, indicam com- petências necessárias independentemente da idade, o que não acontece com várias fórmulas de legibilidade que dependem da idade do leitor. Em rigor, sabe-se que os idosos apre- sentam piores níveis de literacia funcional porque as suas capacidades de leitura também se degradam [15, p.368].

Logo, o nível de legibilidade também deve ter em conta os leitores mais velhos. Seja como for, estas diferenças devem ser interpretadas como meramente indicativas pois sabe- -se que existe alguma falta de consenso nas definições que têm sido propostas para literacia funcional [14].

O estudo da literacia aqui abordado tem por base o exposto em [79] relativamente aos Estados Unidos da América. Através destes estudos, descobriu-se que existem grandes diferenças nos adultos em termos de competências de leitura e as suas implicações na sociedade.

Antes dos meados do século XIX, os alunos aprendiam essencialmente a partir de livros que as suas famílias tinham, em particular da própria Bíblia e de cartilhas. Foi apenas em 1847 que surgiu a primeira escola primária, em Boston, com vários livros de acordo com os graus de leitura dos seus alunos [79]. Aí, os professores verificaram que a aprendizagem da leitura era gradual e que melhorava quando os livros se adequavam ao seu nível. De tal forma, que os alunos passaram a ser agrupados de acordo com o seu nível de leitura em cada um dos anos até ao final do ensino secundário.

2.2. Evolução do Estudo da Legibilidade Isabel Sampaio Ao longo do tempo foram realizados vários estudos sobre literacia [79], tendo sido definidos níveis de literacia.

Em 1926, foram criados testes de leitura normalizados (Standardized Reading Test) para medir a capacidade de leitura por parte dos alunos nos Estados Unidos. Através do uso destes testes, os professores definiram objectivos de leitura para as suas turmas. Os testes publicados em 1926 foram revistos posteriormente em 1950, 1961 e 1979. Tornaram- -se uma medida importante da capacidade de leitura dos alunos nos Estados Unidos.

No caso dos adultos, o primeiro teste sistemático para avaliação do seu nível de li- teracia realizou-se em 1917 no exército norte-americano. Desde os anos 50, do século passado, que para entrar nas forças armadas, tem de se obter aproveitamento a um teste de literacia. Através dos testes elaborados pelo exército é possível obter muita informação acerca das aptidões, competências cognitivas e a capacidade de executar uma tarefa da pessoa avaliada. As principais descobertas de investigação militar foram que as medidas de literacia estão muito relacionadas com [20, p.5-6]:

• A medida de inteligência e aptidão para as tarefas; • O nível de conhecimentos de cada indivíduo;

• O desempenho no trabalho; foram realizados centenas de estudos que mostraram não haver separação entre o nível de literacia e o desempenho dos indivíduos; • Os programas de literacia no local de trabalho são muito eficazes, e rapidamente, a

produzir melhorias significativas na capacidade de leitura sobre temas relacionados com o trabalho;

• Os leitores mais avançados possuem mais conhecimentos e executam bem tarefas em muitos domínios do conhecimento. No caso de leitores com poucas competências ao nível da leitura, estes executam pior os seus trabalhos.

A marinha norte-americana também se interessou pelo problema de compreensão de material técnico por parte do pessoal militar [143, 20]. O interesse surgiu após um estudo, elaborado pela Força Aérea Americana, indicar que o nível de dificuldade de leitura das instruções dos manuais utilizados conduzia a muitos erros: quanto mais difícil de ler era

o material, mais erros eram cometidos. Uma das formas de resolver o problema foi tornar o material mais legível. Para tal usaram as fórmulas de legibilidade como método de estimativa de leitura.

Relativamente à literacia de civis, os testes a adultos começaram em 1937 em Chicago com a realização de dois estudos, que são descritos em seguida, segundo o exposto em [79].

Em 1937, a Universidade de Chicago realizou um inquérito em que foram inquiridos mil adultos com diferentes níveis de educação. Foram medidas as suas competências na leitura de diferentes tipos de textos tais como anúncios de alimentação, anúncios de filmes e listas de telefones, e, ainda usaram testes mais tradicionais de compreensão de parágrafos e vocabulário. O estudo confirmou a existência de uma relação entre as competências de leitura e os anos de educação completados. Mais concretamente, que as competências de leitura aumentam com o aumento da educação. O estudo sugeriu que a educação deve levar as pessoas a lerem mais e que se lerem mais, isso aumentará as suas competências de leitura.

O segundo estudo, foi realizado entre os anos de 1970 e 1971 pela National Assessment

of Educational Progress (NAEP) e testou jovens estudantes e adultos. Os alunos tinham

9, 13 e 17 anos e os adultos idades dos 26 aos 35. A ambos foi solicitada a execução de 21 tarefas distintas. O resultado do estudo revelou que a literacia aumenta progressivamente ao longo do percurso escolar, ao longo das várias idades, desde crianças, até se tornarem adultos.

Mais tarde, foram realizados outros dois estudos importantes, o primeiro a jovens e o segundo a adultos. O primeiro estudo foi realizado em 1985 e foi intitulado de Young Adult

Literacy Survey (YALS), aplicado a jovens dos 17 aos 25 anos, e em 1992 foi realizado o

outro estudo para adultos, intitulado de National Adult Literacy Surveys (NALS). Ambos os estudos mediram da mesma forma a literacia. Mediram em três áreas específicas e usaram a mesma escala de pontuação com valores entre 1 e 500 e ambos usaram os níveis de competência definidos pela NAEP em 1985. As áreas de medição foram as seguintes:

• Literacia da prosa - significado dos textos;

2.2. Evolução do Estudo da Legibilidade Isabel Sampaio • Literacia quantitativa - tarefas matemáticas e espaciais.

A tabela seguinte, retirada de [79], mostra a correspondência entre os níveis de NAEP e o grau de leitura [79].

Tabela 2.2: Níveis de Literacia.

Nível NAEP Pontuação Literacia Grau

I Rudimentar 150 1.5

II Básico 200 3.6

III Intermédio 250 7.2

IV Perito 300 12

V Avançado 350 16+

A investigação acerca da literacia, não só com militares, mas também com civis, mos- trou que os programas de literacia no local de trabalho produziam resultados positivos, duradouros e com baixo custo [79, p.9]. Uma análise de 75 anos de estudos de literacia pode ser encontrada em [265].

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